sábado, 11 de abril de 2009

OS DEZ DIAS QUE NÃO MUDARAM NADA

Por: Olsen Jr.

Podem crucificar-me depois, mas não agora. O título aí em cima é uma alusão ao livro “Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo”, do jornalista John Reed... Ele foi à Rússia em 1917 e percebeu que estava no “olho do furacão”, aquele momento político e o conflito ideológico daí resultante que tão bem captou (antes que ocorresse o seu desfecho) com a vitória bolchevique e o triunfo de Lênin e que resultou no seu livro.

Calma leitor, que já vou explicar tudo. Com a morte do ex-presidente da Argentina, Raul Alfonsín, no dia 31 de março, lembrei:

Em outubro de 1982, no auge da ditadura militar naquele país, estava em La Plata participando do Iº Congresso Internacional de Filosofia do Direito. Desembarque no aeroporto de Ezeiza e de táxi naquele trajeto até Buenos Aires, onde os militares tinham o hábito de “desovar” os corpos de jornalistas e outros que desafiavam o regime. Entre esses outros estava um músico brasileiro que fora acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho, descera para comprar cigarros nas proximidades do hotel e nunca mais foi visto, provavelmente confundido com alguém. Os barbudos se parecem.

Chegar à Estacion Constitucion às 03h da madrugada e ouvir o poetinha cantando naqueles autofalantes, era de arrepiar qualquer um. Uma vontade de gritar “essa música é nossa”. Depois, uma viagem de trem, mais de três horas até La Plata.

Na Universidade estavam as maiores “cabeças” da Filosofia do Direito do mundo, o nº 1, naturalmente, Carlos Cossio (criador da teoria egológica que considera a ciência do direito como a ciência da experiência com base na cultura. Apóia-se na tríada: fato, valor e norma para apresentar o direito) também alguns brasileiros, destaque para Miguel Reale e o baiano Villa Nova, de Santa Catarina, Luis Fernando Coelho.

Estudantes brasileiros, apenas dois, o outro era um paranaense, que apareceu vestido com uma “jardineira” (esses macacões jeans que se vê em filmes americanos, usados por pessoas responsáveis por paisagismo e jardinagem) um violão nas costas e naturalmente disposto a mostrar a nossa música lá, com uma “canjinha para o “sweet baby James”, James Taylor e a interpretação de seu maior sucesso “You`ve got a Friend” (letra e música de Carole King).

As palestras eram com tradução simultânea, pela manhã e à tarde. Como os “opostos” se atraem, logo tínhamos formado o “bloco da boemia”, somados mais dois estudantes argentinos, o Gustavo acabou se tornando um grande amigo, era de Bahia Blanca, e um admirador do Sartre, logo, parecia que nos conhecíamos há 20 anos.

No terceiro dia do Congresso confessei para o Gustavo que, na condição de jornalista, eu estava muito “afim” de entrevistar o escritor Ricardo Rojo (ele tinha feito o livro “Meu Amigo Che”, biografia/reportagem sobre o médico revolucionário argentino e que fora proibido no Brasil, mas que eu tinha lido na clandestinidade). O Gustavo bem que insistiu, durante dois dias, em contato com a Associação Argentina de Escritores, e as inúteis tentativas de localizar o escritor. Sabia-se que estava no país, mas muito bem escondido por ser um “desafeto” da repressão argentina.

Well, não seria eu, um free-lancer a “entregar o ouro” para o inimigo. Para me consolar, na época, o candidato da União Cívica Radical, Raul Alfonsín estava em La Plata, em plena campanha para a indicação do partido, e contava com o apoio maciço dos universitários. O Gustavo me garantiu que a entrevista seria possível, mas ao invés disso, sugeri, depois de agradecer o seu empenho, que deveríamos visitar os sebos da cidade atrás das obras do Sartre que eu não tinha lido e que não se encontravam no Brasil, foi o que fizemos...

Alfonsín ganhou a indicação do partido em cima de Fernando de La Rua e a eleição, do Ítalo Luder, tomando posse no dia 10 de dezembro de 1983...

Sorry pela entrevista que não fiz, mas o livro “A Última Oportunidade”, do Sartre, só eu que tenho nesse País!

3 comentários:

  1. 'Meu Amigo Che', do R. Rojas foi-me presenteado por um amigo recém chegado da Argentina , à época.
    Realmente um livro raro.
    Mas gostaria mesmo é de poder folhear este seu exemplar único do Monsier Jean-Paul.

    Abraços ao Sérgio e ao Olsen.

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  2. Lengo D`Noronha, salve!

    Onde tu andas rapaz? Essa empostação "D`Noronha" me lembra do Balzac, que passou a vida inteira tentando parecer um nobre e assinando Honoré De Balzac... Bobagens da cultura inútil...

    Mas só para lembrar o nome do escritor é Ricardo Rojo...

    Quanto ao livro de Monsier Sartre, "A Última Oportunidade" está aqui, belo e formoso em formato 10,5 cm X 18 cm, e que foi traduzindo com o nome de "Extraña Amistad" o que não corresponde ao propósito do autor, afinal ele estava falando em se tomar posição na vida, em fazer uma escolha (quem leu "Os Caminhos da Liberdade", sabe)e não somente em assumir um homossexualismo... É um dos personagens, cada um deles deve fazer uma escolha para dar um sentido a existência... Por achar o final muito óbvio, Sartre não terminou o que seria o quarto volume, mas vários capítulos foram publicados e coligidos na Argentina, reunidos nesse livro, talvez por isso, tenham mudado o título... Enfim, mera curiosidade...

    Mr. Lengo, bom saber que o amigo/primo continua atento...

    Abração a você e ao Sérgio Rubim

    Olsen Jr.

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  3. Sérgio Rubim, salve!

    Consultando o Certificado que recebi referente ao 1º Congresso Internacional de Filosofia do Direito, realizado na Argentina e sobre o quel me refiro na crônica, bem, aí no terceiro parágrafo, para estar de acordo com a história, foi em outubro de 1982 e não em 1981 como está aí, favor retificar...

    Grato, e um abração do poeta!

    Olsen Jr.

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