segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Ilha tem solução. O Alcaide e os Edis é que não querem.

Laudelino José Sardá

O alcaide vai a Seul. Tomara que aprenda os princípios do desenvolvimento humano de uma cidade e que não queira retornar com um projeto de viaduto.

O colunista do DC, Cacau Meneses, em sua coluna desta segunda-feira, 08,02, revela que há um movimento para liberar a construção de prédios de seis andares na Lagoa da Conceição. Não tenho dúvida de que há vereadores neste esforço de atender à cobiça do empresário da construção, cuja maioria não está preocupada com o futuro da Ilha, mas, sobretudo, com o que o presente pode lhe dar de lucro. Na mesma coluna, Cacau observa: “Bastou a cantora Beyoncé deixar Santa Catarina para todas as grandes redes de televisão noticiarem a sua estada no Brasil………”

Eu diria a Cacau que o dia em que a imprensa nacional se preocupar com esta Ilha, com certeza terá motivos de sobras para revelar seus equívocos e graves problemas, e mostrar a realidade de uma cidade que quer ser turística apenas pela fama de ser uma ilha com 42 praias.

Este paradoxo – fama e pobreza – é que amplia a dificuldade de Florianópolis superar suas deficiências. Pela ansiedade da fama, os dirigentes investem no curto prazo. Por exemplo, o único trecho de rodovias estaduais e municipais da Ilha com um acostamento decente é o que dá acesso ao novo kartódromo. Não se leva em conta a área urbana de Ingleses, é claro. O restante, principalmente o da estrada que liga Ingleses à Barra da Lagoa, é uma vergonha. O alcaide alienígena precisou agradar Felipe Massa e, por isso, apenas aquele trecho de 500 metros de Canasvieiras é que mereceu um acostamento à altura de uma cidade turística.

Uma cidade com recursos naturais singulares não pode mais viver de ações e atitudes circunstanciais. Chega! O governo municipal deveria esquecer todos os seus projetos e tomar a seguinte atitude

O que a queremos para a nossa cidade? Que ela seja uma referência turística em nível internacional?

Tudo bem. Vamos, então, promover um diagnóstico sério da realidade urbana e dos balneários, sob a ótica da preservação ambiental.

O centro urbano, num raio de 10 quilômetros, abrangendo, inclusive, o campus da UFSC, precisa ser repensado urgentemente, proibir a construção de novos prédios em áreas de risco social, como Itacorubi, aproveitar as áreas disponíveis para criar parques, áreas de preservação, recuperação da reserva de mangues, de rios e córregos, enfim, humanizar a cidade. Entre as medidas drásticas, lacrar todas as saídas de esgoto no mangue. Todas! Que implodam tubulações de excrementos e seus derivados na penitenciária, hospital, conjuntos residenciais, etc.etc. Todos terão de encontrar outros buracos, menos o mangue. O planejamento deve fixar um prazo para a cidade estar com 100% de rede de esgoto. Jogue a Casan no ralo e crie uma empresa municipal. A Casan age há 30 anos de forma predatória, relegou o saneamento básico e desprezando os mananciais de água.

A Câmara Municipal não pode ficar à mercê dos interesses de seus vereadores. Necessita criar leis severas, de forma a garantir um futuro para Florianópolis. Dentro deste raio de 10 quilômetros, o diagnóstico deve enaltecer os patrimônios, centros culturais e a questão da mobilidade. Doa a quem doer: os córregos precisam ser revitalizados a qualquer custo e as áreas públicas ampliadas com a fixação de áreas de preservação da qualidade de vida e do meio ambiente.

O centro urbano precisa voltar a ser o coração da cidade. Assim como o Mercado Público, a Alfândega e o Miramar formavam, até final dos anos 60, o point da Ilha, hoje é possível transformar uma área bem maior em uma referência cultural. Imagine, em um raio de dois quilômetros temos mercado, três teatros, museus, etc.etc. Porto Alegre, Curitiba e Recife, principalmente, revitalizaram seus centros urbanos, recuperaram seus monumentos e hoje são cidades aprazíveis. Por que Florianópolis não pode ser?

Por outro lado, cada balneário necessita de um plano diretor severo, capaz de permitir a sua organização e, sobretudo, humanização. O problema da mobilidade na cidade decorre da desordem do crescimento e, em razão disso, a prefeitura prefere improvisar soluções a reorganizar o desenvolvimento. Olhe a situação do Sul da Ilha! É um crime permitir que essa região continue se desenvolvendo aleatoriamente. O arquiteto Luiz Felipe Gama D’éça já havia advertido no final dos anos 70: o Sul da ilha vai virar favela se não tiver um plano diretor que organize o seu crescimento. Não deu outra. O plano de Gama D’Éça era implantar o aeroporto no norte da Ilha e deixar o sul para concentração de moradias e lazer.

O sistema de transporte exige que a prefeitura tenha a coragem de dar um basta ao vergonhoso modelo de exploração. Nenhum prefeito teve denodo para desbancar os grupos que detêm a concessão do transporte público por décadas e décadas e de péssima qualidade. O amarelinho, que se denomina o ônibus com ar condicionado, surgiu para privilegiar a classe média. Absurdo. Em qualquer cidade decente – o que, infelizmente, não exige no Brasil – não há discriminação. O povo tem direito de deslocar-se em ônibus confortável, com ar condicionado ou calefação, independente do seu poder aquisitivo.

A Ilha já poderia dispor de um metrô a céu aberto. Em São Paulo, a malha do metrô tem 323 quilômetros e ainda é insipiente diante da necessidade de uma cidade carente de transporte. Florianópolis necessitaria de uma rede de 220 quilômetros para atender a toda a região, fora ramais para a conexão com outras cidades da região metropolitana. Só se ouve que “é inviável”. Claro, porque na visão do homem público não prevalece a solução, mas a viabilidade econômica, porque só enxerga o investidor privado como alternativa. Acho que o que se gastou de tapete preto nos últimos cinco anos teria dado para fazer 30% das obras de um metrô de superfície, sem dúvida. Vamos sonhar, porque sonhar é bom e reduz nossa irritação com o alcaide alienígena. Imagine, leitor, você morando em um balneário, no bairro do Estreito ou na Trindade, pegar um transporte decente e ir para o trabalho ou ao lazer no centro da cidade? Quem iria preferir deslocar-se em seu próprio carro?

Mas, vamos continuar em nossa visão de planejamento. Uma vez definidas as estratégias e planos de desenvolvimento da cidade, bastaria à prefeitura investir em projetos destinados a começar a solucionar os problemas do geral para o particular. O meio ambiente, a ocupação urbana e das áreas periféricas, a recuperação e preservação dos patrimônios históricos e culturais, o estímulo às artes visando a resgatar identidades culturais da cidade, entre as quais a música, cinema, teatro, a pintura, etc., a humanização de toda a cidade, através da construção de passeios, sinalizações, substituição de todas as lombadas (há lei que proíbe) por sinais de controle de velocidade, áreas de lazer, e leis extremamente severas que impeçam e punam a desordem da construção civil, enfim, tudo isso constituiria as estratégias destinadas a viabilizar o desenvolvimento harmonioso, integrado e controlável. A Ilha passaria a valorizar a sua integração com o mar, tornando seus rios, lagos e mangues fatores imprescindíveis à sua humanização. Em torno dos córregos, rios e lagos áreas de lazer, de entretenimento para as famílias.

Infelizmente, para isso, precisaríamos de prefeito e vereadores éticos e comprometidos com a cidade. Mas, há um alcaide alienígena e muitos edis desaforados, que só pensam em vantagens pessoais.

Ah, o alcaide alienígena vai, no próximo dia 20, visitar Seul, capital da Coréia do Sul. Ótimo! Mas ele precisa conhecer, com detalhes, duas grandes virtudes de Seul: o engarrafamento foi drasticamente reduzido a partir de 2002 porque o sistema de transporte coletivo passou a ser ótimo e o povo não quer mais saber de andar de carro; os córregos, principalmente, foram todos recuperados e alguns chegam a ser piscosos. O rio Cheonggyecheon é límpido e corta a cidade. E para humanizar Seul, a sua prefeitura derrubou 626 mil toneladas de concreto, entre viadutos, edifícios, etc. Hoje. Seul é repleta de verdes, rios limpos, transportes decentes, enfim, uma cidade exemplar de 11 milhões de pessoas vivendo numa área de 605 quilômetros quadrados, 200 a mais que Florianópolis.

Vamos torcer para o alcaide alienígena não retorne com a planta arquitetônica de um viaduto. Ele precisa, isto sim, conhecer as razões que levaram Seul a ser um modelo de desenvolvimento humano.

Ah, é bom avisar ao alcaide que Seul não tem tapete preto. É verde!

Inté..

Laudelino José Sardá

Jornalista, professor.
Acreditando que Florianópolis ainda
terá um prefeito identificado com o
espírito humano da sua população.

Luiz Carlos Pauli
deixou um novo comentário sobre a sua postagem "A Ilha tem solução. O Alcaide e os Edis é que não ...": Sardá,
isso é tudo que a cidade precisa, aliás, a solução só pode passar por essas medidas, que devem ser drásticas e implacáveis, mas não vejo saída se a população não defenestrar essa elite doentia e a classe política que a representa.


2 comentários:

  1. Sardá,

    isso é tudo que a cidade precisa, aliás, a solução só pode passar por essas medidas, que devem ser drásticas e implacáveis, mas não vejo saída se a população não defenestrar essa elite doentia e a classe política que a representa.

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  2. ESTOU COM O JORNALISTA E PROFESSOR LAUDELINO SARDÁ.
    PRECISAMOS ACABAR COM OS ABSURDOS QUE ACONTESSE NESTA ILHA
    PAULO DUTRA

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