quinta-feira, 22 de abril de 2010

DIÁRIO DA PROVYNCIA XIV



CRÍTICA DA RAZÃO CANALHA

Por Olsen Jr.

(olsenjr@matrix.com.br)

Estou pensando na “Crítica da Razão Tupiniquim”, livro do escritor Roberto Gomes, catarinense (de Blumenau) radicado em Curitiba. Ele se inspirou na “Crítica da Razão Pura”, de Immanuel Kant, para nomear o seu. Aliás, foi nesse também que Jean-Paul Sartre bebeu para escrever a sua “Crítica da Razão Dialética”... Ah! Também o do Millôr Fernandes “Crítica da Razão Impura”...

Dado os créditos com suas origens, o livro de Roberto Gomes trata do “jeitinho” brasileiro e suas implicações, é uma crítica, lógico e foi um furor na década de 1970, uma leitura obrigatória; enquanto que os outros dois, Kant e Sartre, são de filosofia mesmo, uma metafísica do primeiro sendo confrontada com a metafísica do segundo (que dizia odiar a metafísica), tem quem goste; já o Millôr faz pouco das obras de dois ex-presidentes do Brasil que também são escritores, José Sarney e o “Brejal dos Guajás” e Fernando Henrique Cardoso com “Dependência e Desenvolvimento na América Latina”...

Também vou falar desse “jeitinho” brasileiro, razão pela qual evitei a palavra “ética”, também o termo “moral” e até o “direito” para procurar entender um tipo de comportamento que está longe de ser exemplar em nosso meio.

A honestidade faz parte da civilização, dois exemplos na área esportiva:

Cerca de quinze anos atrás, o atacante Robert Fowler, do Liverpool, caiu na área e o árbitro marcou pênalti contra o Arsenal. Fowler disse para o juiz que não fora pênalti, ele apenas tropeçara. A decisão foi mantida e o próprio Fowler decidiu chutar fraco para que o goleiro Seaman defendesse. Virou celebridade.

Faz pouco tempo, um jogo remarcado pela Copa da Liga Inglesa, os jogadores do Leicester abriram espaço para que o Nottinghan marcasse o gol (feito pelo goleiro com direito a cumprimentos do goleiro adversário) porque a partida fora interrompida em decorrência de duas paradas cardíacas do zagueiro Clive Clarke. Na ocasião o Nottinghan vencia por 1 X 0. A Liga Inglesa determinou nova partida e que se reiniciasse em 0 X 0. Os jogadores do Leicester sentiram-se na obrigação moral de restituir a vantagem ao adversário. No fim acabaram virando o jogo que terminou em 3 X 2. “Estou orgulhoso dos meus jogadores” afirmou depois, Milan Mandaric, presidente do clube.

Recentemente em Porto Alegre, num jogo entre o Grêmio e o Avaí, um jogador gremista (não vou citar o nome dele) no ataque, errou um drible contra o zagueiro avaiano e acabou jogando a bola para fora, seria um tiro de meta, mas o bandeirinha assinalou um escanteio (o que foi confirmado pelo árbitro). Na sequencia, um jogador do Avaí foi expulso por discordar daquela marcação. A cobrança originou o primeiro gol da equipe da casa...

Se houvesse decência, brio, honestidade e, sobretudo o famoso fair- play no qual os ingleses parecem ser imbatíveis, o jogador gremista teria ido ao encontro do bandeirinha e dito que havia errado o drible e posto a bola para fora e que o correto seria a cobrança do tiro de meta e não do escanteio, e tudo seria resolvido de maneira a aperfeiçoar a disputa e o comportamento e não se cometeria a dupla sacanagem: da falta indevida e da expulsão imerecida prejudicando um dos lados e que em nada enriqueceu o esporte.

Talvez o clube beneficiado tenha se regozijado com o “feito”, mas amanhã poderá acontecer o contrário, então não haverá argumentos para sopesar o equívoco.

Estamos habituados em apontar a “trave no olho dos outros” (a expressão é bíblica) ignorando aquela que nos obnubila, porque é mais fácil, enquanto se olha para o outro, esquecem de nós.

Deveríamos ser implacáveis com qualquer espécie de canalhice, e isso começa em casa. Respeito é algo que se aprende, sem o exemplo, entretanto, fica difícil, lembrei do velho Bernard Shaw “De quanto mais coisas um homem se envergonha, mais respeitável ele se torna”, e isso vale para tudo!

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