domingo, 2 de maio de 2010

Mao, Bonson e Dario de Almeida Prado

    Resolvi, neste domingo, fazer um 5S (faxina geral) em alguns armários onde guardo papéis, papéis e papéis. Namorava a coisa há dias. Mas não é fácil tomar a decisão de mexer em tudo. Abrir envelopes, ler documentos, cartas, projeto e fotografias e decidir o que jogar no lixo.
    Acabo sempre me detendo em "achados" especiais e perdendo tanto tempo que o 5S fica lá pelos 2S.
    Pois foi o que conteceu hoje. Durante a faxina encontrei três desenhos que representam três momentos diferentes do meu passado.

    O primeiro desenho é este de Mao Tsé Tung feito por mim em junho de 1977.  Técnica "revolucionária" (sem dúvida) de Faber Castell 2 com esfumaçamento. Na época, me inspirava nos grandes líderes "libertadores de povos". Pura piada. Hoje, conhecendo a história vejo como um idealista jovem é capaz de venerar um assassino de massas acreditando ser um timoneiro da liberdade. Harrrg!!!!
    Mas como Borges, sou um esteta. Não interessa quem é o personagem e sim a qualidade gráfica da obra. Vale, hoje, uma fortuna. Está à venda.

Lengo D'Noronha deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Mao, Bonson e Dario de Almeida Prado": Dou o primeiro lance pro Mao: 50!

Paulão deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Mao, Bonson e Dario de Almeida Prado": 75 pelo MAO. Paulao


    O segundo desenho, este bem mais valioso, vem assinado pelo grande artista plástico Sérgio Bonson. Foi o seu primeiro desenho a carvão sobre Florianópolis. Bonson nos seus últimos tempos se dedicou a retratar a cidade com seus prédios antigos, modernos, fios e postes poluindo o nosso cotidiano.
    Naquele 31 de agosto de 1998 estávamos, a turma antiga, na Kibelândia quando o Bonson chegou com o trabalho. Me mostrou. Fiquei encantado. Queria para mim. Ele, relutante, ria e dizia que não me daria seu primeiro trabalho a carvão.
    Decidi, então, partir para uma negociação. Havia chegado recentemente de uma viagem de navio e tinha no bolso um cartão de viagem com o meu nome, acho que era de milhagem ou coisa parecida.    
    Ofereci o cartão em troca do trabalho. Bonson estava de viagem marcada para a França e eu falei que com aquele cartão teria descontos em qualquer lugar onde fosse. Bares, restaurantes e hotéis.
    A negociação, em meio a muita cerveja, pegou fogo e como em uma peça de teatro exerci meus melhores dotes burlesco na tentativa de adquirir a obra.
    Quando convencido de que o cartão servia, Bonson disse:

- Mas e o nome?
     Respondi rapidamente que isso era de menor importância, que só olhavam o primeiro nome e nós dois éramos Sérgio. Negócio fechado!
     Nas inúmera vezes que nos encontramos depois nunca tocamos no assunto. Mas pelo que sei o Bonzon nunca usou o tal cartão.


    Bem, esta paisagem talvez seja a mais valiosa de todas. Deve ter os seus 20 anos e foi feito pela minha filha Isadora lá pelos seus 4 ou 5 anos.
    A moça não seguiu as artes plástica. Tinha futuro, acho.
    Mas o interessante do desenho é a dedicatória:

"Dario gosto muito de você, nunca tive um amigo tão bonito. Ass. Isa".

    O trabalho com aquarela foi dedicado ao grande amigo Dario de Almeida Prado Jr. que frequentemente aparecia em casa pois, na época, realizávamos o documentário sobre a Guerra do Contestado.

    Não está à venda.

4 comentários:

  1. Caro Canga,
    Sem mínima pretensão, vejo apesar de manco, surdo e cegueta que nossa incursão por Buenos Aires e as 'discussões' sobre estética, conteúdo artístico e opinião política em Borges ajudaram a 'destravar' alguma engrenagem presa desde os tempos de corajosa militância, não abandonada no jornalismo combativo empregado pelo amigo nesse tempo de mídias urgentes. O lápis é um prestimoso companheiro tal-e-qual uma viola ou as teclas de uma Remington. Inté, Paulão

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  2. Eu adoro as coincidências da vida. Estava eu aqui, trabalhando na minha dissertação e analisando as charges do Bonson quando resolvi digitar no google: ponte Bonson. Não sei porque o google me trouxe aqui, de novo!Mas encontrei mais um desenho lindo do Bonson, q se vc me permitir, vou colocar no trabalho com essa história tão bem humorada quanto ele - e, ao que parece, vc. Abraços!

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  3. Parabéns pelo post, q deixa a minha saudade um pouco mais calma. Bonson foi um de meus melhores amigos, e só guardo coisas boas sobre ele em minhas lembranças. Tens notícias do Dario?

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