sábado, 19 de junho de 2010

“O RESTO PODE!”


Por Edison da Silva Jardim Filho
No dia 14/06/10, segunda-feira passada, Eduardo Pinho Moreira renunciou à candidatura a governador pelo PMDB e aceitou compor, como candidato a vice-governador, a chapa do DEMO encabeçada pelo senador Raimundo Colombo. Essa decisão, anotou a imprensa, surpreendeu o meio político de Santa Catarina e de Brasília, nesta fase ainda de pré-campanha eleitoral. Eduardo Moreira assim agiu depois de derrotar o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, em um processo de prévias no PMDB, e de ter recebido de seus correligionários políticos, na ocasião, a estrita incumbência de encetar tratativas com os demais partidos visando o preenchimento, na chapa, do cargo de vice-governador e de uma vaga para senador, já que a outra está reservada ao ex-governador Luiz Henrique da Silveira. Foram tantas as vezes em que ele jurou, de pés juntos, que jamais desistiria do seu projeto de ser candidato a governador nas próximas eleições, que é impossível que haja um único eleitor catarinense atento que possa, sinceramente, ainda respeitá-lo. Eduardo Moreira sagrou-se vitorioso nas prévias “vendendo o peixe”- muito fácil, diga-se de passagem- de que os dois governos de Luiz Henrique desprestigiaram o PMDB, alavancando, em contrapartida, os aliados DEMO e PSDB, ao ponto de Raimundo Colombo se eleger senador com uma votação inédita. No caso do DEMO, os governos de Luiz Henrique fizeram muito mais do que simplesmente alavancá-lo: na literalidade, ressuscitaram-no do túmulo, fazendo lembrar a passagem dos Evangelhos protagonizada por Jesus Cristo e Lázaro. O afilhado político predileto do ex-governador Jorge Bornhausen, que a vida toda vem fazendo um esforço impressionante para se parecer, mais do que já é, física e politicamente, com o chefe, mesmo com extensa carreira pública, ainda era um nome desconhecido do eleitorado catarinense. O título pomposo de “senador da República” deu-lhe visibilidade, inobstante a mediocridade acachapante de sua atuação nesses quatro anos de exercício do mandato. Nas prévias, Eduardo Moreira recebeu o apoio do ex-governador Paulo Afonso Vieira, que, como corre nas internas do PMDB, foi alijado pelo então governador Luiz Henrique por pura inveja do prestígio que desfruta junto às bases partidárias e de sua oratória muito mais vibrante. Mas a trairagem dele não poderia ter ficado circunscrita ao plano estadual, em eleições gerais verticalizadas pela disputa presidencial. Em 11 de junho, portanto, três dias antes de sua decisão, Eduardo Moreira esteve em Brasília onde se reuniu com os candidatos à presidência e vice-presidência da República, Dilma Roussef e Michel Temer, tendo conversado, também, com a senadora Ideli Salvatti, que se encontrava internada no hospital Sarah Kubistcheck por problemas crônicos na coluna. Ao retornar, ele anunciou que tinha fechado acordo com o PT e o PMDB nacional, consistente na manutenção de sua candidatura ao governo do Estado e no apoio a Dilma Roussef e Michel Temer. O que aconteceu depois foi classificado pelo sempre parcimonioso Michel Temer como “molecagem”. E olha que essa palavra saiu da boca de um político que é um dos líderes mais notórios do “baixo clero” moral do Brasil!

A verdade é que a “molecagem” do Eduardo Moreira só constituiu-se no ápice de uma imensa fieira delas que, nesta fase de pré-campanha eleitoral em Santa Catarina, foram expostas, sem melindres, diante dos olhos da parcela do eleitorado que ainda consegue se estupeficar com os pináculos de desfaçatez que os políticos são capazes de galgar. Todos os candidatos a governador e seus partidos políticos procurando os outros, para apresentar-lhes os seus projetos personalíssimos e propostas impublicáveis, como as que, seguramente, motivaram a decisão de Eduardo Moreira. Para enganar o incauto eleitorado catarinense, e armar a farsa política e democrática que assistimos à cada eleição, os únicos partidos que estão proibidos de se aproximar, embora completamente iguais entre si e aos demais, são o PMDB e o PP. É bem como diz o animado refrão da música de Tim Maia: “Pode, pode tudo, só não pode dançar homem com homem, e mulher com mulher; o resto pode!”

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