quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cartas Baianas

CARTA ABERTA A UM AMIGO (E COMPADRE) QUERIDO

Por Emanuel Medeiros Vieira

Dileto Paulão
Não somos “mornos”. Não somos sepulcros-caiados. Eu sei: sempre damos a cara ao tapa. Isso tem um preço. Muitos se omitiram (claro, outros combateram) a ditadura brasileira. Mais cedo, quantos se abstiveram de combater o ovo na serpente que era o nazismo? Ou o fascismo?
“Não, não te mete, vai dar problema”, diziam. E a sombra do medo entrava nos corações e mentes.
No tempo tão finito de nossas vidas – com todas as pedreiras do caminho – é possível deixar algo além da poeira do tempo. Por que escrevo assim? Redigi um texto que intitulei de “A nova direita brasileira”, e um blog o postou. O ser humano se engrandece pelo contraditório, pelo combate através do diálogo. Não sou onipotente. Poderiam combatê-lo, contestando tudo o que disse.
Não. A nação petista que o leu ficou irritada e exasperada. Mas não escreveu algo que o contraditasse. Alguém o classificou de “lastimável”. Lastimável? Em vez do adjetivo, não era melhor contestá-lo? São mentiras o que eu disse?
Exemplos: Eu escrevi disse (ou melhor, eu “lembrei”) que a executiva do PT, que age com mão de ferro contra os dissidentes, dissolveu o diretório regional do Maranhão, obrigando o apoio do partido à “socialista” e “impoluta” Roseana Sarney, candidata ao governo daquele Estado.
Mentira?
Lastimável não é o meu texto. Mas o que o partido está fazendo. Lógico: a verdade mesmo libertando, incomoda quem não a quer ver. O PT não está aliado à elite escravocrata nordestina?
É mentira?
Quem são Fernando Collor e Renan Calheiros? Aqui na velha Bahia, o governo que foi eleito combatendo o carlismo, trouxe crias de ACM para sua chapa, e alijou da maneira mais cruel um político honrado como Waldir Pires.
É mentira?
Num estado com tantas carências e tanto sofrimento, o governador petista gasta em propaganda muito mais do que em saúde, educação e segurança juntos. É demais! Sinceramente: eu nunca vi tanta propaganda na vida. É um delírio narcísico! É um mundo virtual. É só andar por Salvador para ver que ele não existe na realidade. E “mentem”. Sim, mentem. Parece que aprenderam como um ministro de um chanceler austríaco que fez rápida
carreira na Alemanha nos anos 30. (À História cabe revelar o que aconteceu.) Ele dizia que uma mentira repetida dez vezes vira uma verdade. Eu disse que o programa eleitoral do PT não estima a reflexão, mas foi criado a peso de ouro para manipular as emoções mais primárias, como se fosse uma novela.
Pagam rios de dinheiro a marqueteiros, que formam uma nova casta nacional na arte de enganar e de mentir. Não querem politizar o debate. Vão ganhar as eleições? E daí? A gente não entra numa batalha só para ganhar. Imagino, na partilha do poder, o que vai acontecer com essa aliança franciscana e edificante: PT e PMDB.
O partido que foi de Ulysses, não é guloso, mas idealista; não luta só por cargos. Não é um balcão de negócios, mas aspira à transformação da sociedade brasileira. Tem estadistas do porte de Geddel Vieira Lima, de Jáder Barbalho, de Romero Jucá, de José Sarney e de outros. (Além dos supra-citados Collor e Renan.)
É mentira?
É o meu texto que é “lastimável”? Ou esse tipo de aliança? Eu sei o que vão dizer. “E as outras alianças?”, indagarão. Será que o mesmo álibi será repetido a vida inteira? Eu? Só tenho duas mãos e o sentimento do mundo, como dizia Drummond.
Não vou me alongar. Não tenho outro poder, senão o de buscar dizer a verdade diariamente naquilo que escrevo. Pode parecer romântico e espiritualista, mas desde que optei pelo ofício, creio que a literatura é um caminho de transcendência. (E no meu coração, espero que o Espírito um dia prevaleça.)
Toda a escrita é também uma oblação, algo que se oferta aos outros. Eu sei: muita gente muda, e a maior parte dos que mudam é da esquerda para direita. Afinal, é mais confortável ser a favor dos fortes que dos fracos. É preciso conservar a fidelidade a si mesmo. Como alguém lembrou, no dia do Calvário, a massa aplaudia a causa triunfante dos crucificadores, mas o Cristo, solitário e vencido, era a causa de Deus.
Com a sincera estima do Emanuel – escrevendo da terra de Castro Alves, de Anísio Teixeira, de Glauber Rocha, de Raul Seixas e de outros iluminados, “possuídos” pela ira sagrada da Justiça.
Salvador, 25 de agosto de 2010

3 comentários:

  1. É Canga. Podem até tentar matar o idealista, mas não o ideal.

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  2. Sinceeramente, moro em Salvador e não estou gostando nada dos rumos que a Bahia está tomando! Falta educação e sobra violência! Esse governo do PT-BA em nada contribuiu, só destruiu!

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  3. Que texto maravilhoso! Parabéns

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