sábado, 10 de março de 2012

FOLHA INAUGURA O DIA DA NEOMULHER

Por Janer Cristaldo

 Neologismos são um recurso interessante para dar um novo brilho a palavras já gastas. Quem lembra dos maremotos? Só gente de idade. Maremoto é obsoletismo. A moda é tsunami. A palavrinha se tornou abrangente e agora transita até na economia internacional. Tsunami financeiro soa bem melhor que maremoto financeiro.

    Ou homossexual. Parece que o conceito anda meio desbotado. Ano passado, o Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade, com as fanfarras da imprensa, o reconhecimento da tal de união homoafetiva. A nova palavrinha designa o que antes chamávamos de homossexual. E ainda trouxe outra em seu bojo. O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, pretendeu ter criado, por analogia, o neologismo heteroafetivo. Assim sendo, atenção à linguagem, leitor. Homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.

    Neste Dia Internacional da Mulher, a Folha de São Paulo, que adora criar novas conceituações – quem não lembra da “arquitetura anti-mendigos”, do "prédio-verdade"? – lançou hoje uma trouvaille que tem futuro: neomulher. Parece que travesti já não soa bem no mercado. O jornal entrevista três travestis – como se dizia ainda ontem – e lança o Dia das Neomulheres.

    “Além de comemoração, o dia 8 de março marca a luta e manifestação pelos direitos femininos. Cristiane Gonçalves da Silva, professora e doutora da Unifesp/Santos, afirma que "é absolutamente justo que todas (a entrevistada refere-se aos antigos travestis) usem também essa data por reivindicações que permitam que elas sejam tão cidadãs quanto qualquer pessoa.”

    Em defesa de sua tese, o jornal lança mão de um argumento que empestou o feminismo durante décadas:

    “Em 1949, a escritora Simone de Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher. E, segundo antropólogos e sociólogos, assim realmente é. "Para a antropologia e a teoria de gênero, ser mulher ou homem é um aprendizado social, cultural e histórico", explica Heloísa Buarque de Almeida, professora de antropologia da USP. A própria transexualidade é uma radicalização dessa idéia: não basta simplesmente nascer com o corpo do gênero feminino. O que basta é sentir-se mulher." Leia o artigo completo. Beba na fonte.

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