quinta-feira, 11 de julho de 2013

Juca Kfouri: “Se não houver respostas, manifestações serão maiores em 2014”

 Em entrevista à Pública, jornalista faz um balanço dos protestos ocorridos na Copa das Confederações e diz que “suntuosidade” de estádios “agrediu as pessoas” 
   
   Por Ciro Barros, Bruno Fonseca, Renato Leite Ribeiro
   Na chegada, Juca Kfouri já foi tranquilizando a equipe da Pública, dizendo que estava bem, e que o problema de saúde que sofreu no dia da semifinal entre Brasil e Uruguai, em Belo Horizonte, não era nada do que saiu na imprensa. “Fui vítima do sensacionalismo de alguns coleguinhas”, comentou, explicando que ficou pouquíssimo tempo sem trabalhar e que teve o apoio de ninguém menos que Tostão, tricampeão do mundo em 1970, que também é médico.

   Workaholic assumido - ele é colunista da Folha de São Paulo, da rádio CBN e do UOL e apresentador e comentarista na ESPN -, Juca nos recebeu numa sexta-feira ensolarada em seu escritório, em Higienópolis, depois de gravar uma entrevista com o filósofo Vladimir Safatle justamente sobre a “Copa das Manifestações”, diz, em referência aos protestos que ocorreram durante a Copa das Confederações.

   O papo também foi além do futebol: em mais de uma hora de conversa ele falou sobre manifestações – incluindo a cobertura da imprensa – e sobre a reação dos poderosos do futebol ao que aconteceu nas ruas. E fez sua previsão para a Copa 2014: “Se não houver respostas, [a reação popular] vai ser maior do que foi”.

   Como você avalia as manifestações pautadas na Copa do Mundo? Por que no Brasil elas tomaram esta proporção?   Acho que as manifestações vão continuar porque infelizmente estão fechando as primeiras portas mais óbvias para as saídas que dêem solução. A mini-constituinte, que era uma ótima ideia, estranhamente a própria presidenta recuou dela. A ideia foi mal recebida pela mídia, mas isso não deve ser motivo para se desistir, ao contrário. Se a mídia está olhando de cara feia é bom insistir nisso. Tem uma solução criativa ali e acho que, na verdade, se mostra um medo brutal das soluções criativas que o povo eventualmente seja capaz de dar. Uma coisa que me chamou muita atenção: conversando com jornalistas estrangeiros, vi que todos eles estavam surpresos, não faziam ideia de que o Brasil fosse capaz disso. Há uma imagem distorcida do que seja o povo brasileiro. A começar pela má compreensão da ideia do homem cordial, que não é o homem cordato que baixa a cabeça para tudo. Não se está levando em conta as manifestações mais recentes da história do Brasil. Em que outro país mais de um milhão de pessoas foram às ruas pedir Diretas Já? Ou fizeram um processo de impeachment de um presidente recém-eleito, como o Collor? Além de todas as nossas revoltas regionais, que caracterizam a história do Brasil. Então acho que nesse sentido a Copa das Confederações, em alguns lugares, foi a gota d’água. A suntuosidade faraônica dos estádios padrão FIFA agrediu as pessoas. Nós não estamos conseguindo dar respostas para transporte coletivo e estamos fazendo um estádio como esse em Brasília? Ou somos capazes de fazer um estádio como o Maracanã, que custa R$ 1,2 bi, e por R$ 480 milhões damos para uma empreiteira e para um mega-empresário pagarem em 30 anos, em módicas prestações, aquilo que foi feito com dinheiro público? Então acho que isso teve um caráter de despertar a indignação. Daí termos como “escola padrão FIFA”, “saúde pública padrão FIFA”, que ainda haverá quem critique dizendo: “pera aí, padrão FIFA não porque ele exclui os pobres”. Mas as reivindicações são de escolas padrão FIFA e acessíveis a todo mundo. Então acho que não há uma razão só [para os protestos], acho que são diversas. Havia um copo cheio de reivindicações “quero que fique melhor, experimentei, sei que é possível”. Foi surpreendente? Foi. Aliás, eu acho gozado que se critique o governo que foi pego de surpresa, mas nenhum analista se autocritica dizendo que ele também não percebeu nada. E havia sinais. Greves que acontecem há anos em tudo quanto é setor nesse país, manifestações desde os evangélicos até aos que defendem o casamento igualitário, todas essas coisas estão nas ruas. Basicamente essas manifestações demonstram que as pessoas querem tudo de bom e do melhor e elas têm o direito de querer tudo do bom e do melhor. Houve uma repressão estúpida aqui em São Paulo naquele dia na avenida Paulista e aí então, aquilo que já estava efervescente, explodiu de vez.
   Leia  entrevista completa. Beba na fonte.

Um comentário:

  1. Em Florianópolis, além das manifestações de rua que ocorreram no mês de junho, durante a apresentação do documentário "Dossiê Jango", no evento Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), no mesmo horário em que o Brasil enfrentava o Japão, pela Copa das Confederações. O produtor Paulo Henrique Fontenelle esteve presente, assim como o filho do ex-presidente, João Vicente Goulart. E ele disse estar surpreendido com a boa adesão do público, até pelo fato da exibição do documentário estar coincidindo com um jogo do Brasil em torneio internacional, e ressaltou que o próximo ano não será apenas da Copa do Mundo no Brasil, mas também de uma grande reflexão, por estarmos lembrando os 50 anos do golpe militar, que instaurou a ditadura no país, citando a criação das comissões da verdade na Argentina e no Uruguai, que já puniram os criminosos daquele período nefasto, enquanto aqui apenas algumas mortes vem seguem vivos, incólumes na impunidade.

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