segunda-feira, 30 de junho de 2014

NÁUFRAGO


   Por Marcio Silva
Aos meus avós Herondina, Cantídio, Ana e José

   A vida é uma carta. Conhecido o destinatário, a dúvida é o tempo de chegada. Se o remetente é econômico ou perdulário. Por isso, só depois de adulto descobri porque meu avô criava pombos. Foi assim que acreditei numa história de guerra, da mistura de barro vermelho com trigo para preparar o pão para não passar fome. Era ingênuo ainda quando a ouvi pela primeira vez, justo em minha estreia no cozido da ave.

   Meu avô era vivo e construiu sua casa em madeira de lei. No século de meu avô morrer era um evento. Não fosse a prematura surpresa o de papai não traria desalento. Não tenho irmãos. Não tive filhos. Sou saudade em vida, da falecida.

   Meu avô era vivo e o sótão de sua casa tinha um baú. Meu avô morreu e ninguém quis abrir seus guardados. Do contrário, anos em retalhos agruparam-se a todos os flancos do baú.

   Meu pai morreu, todos ficaram com cara de não sei e o sótão da casa de meu avô ainda tem um baú. No século do meu avô as fotos eram como folhas esmaecidas. No século de meu pai vírus de computador tornavam imagens desaparecidas.

   Na mesma época entendi porque meu avô saía toda semana à noite para caçar rãs. Luzia meticulosamente cada vão do brejo que serpenteava nossa casa. Escolhia as mais gordas e sempre trazia a conta dos comensais:

- Amanhã é outro dia!, com sua voz de touro dizia.

   Meu avô é ainda mais imponente ao lado de vovó. Vê-lo no amarelado da foto causa-me dó. Resta o baú. É uma caixa de história. O depósito do que se quer inesquecível. Perene e concreto, intraduzível, o fugidio nos escombros da memória. Se não abri-lo - essa é a ideia! - a casa em madeira de lei e seu sótão com baú e bugigangas vão enterrar-me ao natural. Seus segredos de abelha já são colmeia.

   A velha tranca do baú insiste em fazer do sigilo aleivosia. Uma martelada é lenitivo à teimosia. O filme em recortes e fotografias: Um soldadinho de chumbo, moedas, mechas de cabelo, dentes de leite, cordão umbilical, aliança de ouro, frascos de perfume, avental, folhas e folhas e folhas, escritos entre capa dura, flores e flores e flores, secas. Ao meio de cada folha pura.

   Vovô legou-me versos em seu baú encantado. Uma pequena folha do que deixou guardado é o que lhes apresento agora de sua cápsula do tempo: “ Sementes de ontem / no fértil de hoje / germinam amanhãs”. Vasculhar o baú deu-me convicção sem queixa - Não importa o que tem, o homem é o que é e o ser compreende o que faz e o que deixa.

   Muito além, soube que vovó por parte de pai vendeu fato durante décadas. Meu contato com ela era raro mas de dobradinha sempre tive asco. Questão de gosto porque pombos e rãs eram de meu perfume apenas o frasco.

   Em sua inocência de filha de escravo com índia, vovó duvidou que um dos pratos principais da dieta de seus arredores acabasse descartado. O trabalho das facas no abatedouro logo revelou a realidade e pôde encher o carrinho de mão do mais puro e perfumado mundongo de seis bois.

   Chegou ao rio pondo os bofes para fora, descansou um bocadinho e iniciou a mais repugnante tarefa, fazer brilhar aqueles valiosos estômagos. As mãos de pele carcomida encontraram gêmeas univitelinas ali mesmo, diante dos olhos, nos desvãos dos miúdos.

   Sutil como uma flecha, também limpou o carrinho e lhe devolveu a carga, range que range na direção de casa. A cozinha estava um pandemônio, mania de formar fila na pia para lavar de uma só vez as quatro estações. Abriu espaço para seus quitutes e pôs-se a nova faxina, lavando meticulosamente e cortando as peças em partes mais ou menos equivalentes.

- Um cruzeiro cada. – Imaginou a compra de nova fatiota, extravagância a que jamais se permitira, sempre vestida por doações.

- Fique lá no canto e não atrapalhe os pica-paus. – Ela ouvia todo dia o dono do abatedouro, que se considerava o único açougueiro de fato e fazia questão de deixar bem claro.
-Aproveite a semana que o bucho vai para o refugo.
   Só depois de adulto atinei porque ao primeiro sinal de salário meu pai trazia maçãs. Ele abria a caixa argentina, pegava uma faca e comia os pedaços com sofreguidão. Era a imagem da opulência que nunca teve sendo finalmente satisfeita. Só agora aos 50 e uns comecei a criar meus pombos, caçar rãs e plantar árvores frutíferas. A idade dói , abstrata demais, imutável sob nosso estúpido concreto.

   Os pombos do século XXI voam com as asas do lúdico assim como as memórias e as memoráveis rãs. Das árvores obtenho frutos - pitangas, limões, bananas, amoras, mamões, goiabas, jabuticabas - apenas as macieiras permanecem mirradas.

   A maçã é do frio e faz muito calor aqui, nesta ilha que me cerca de um mar de reminiscências.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

IBAMA lacra obras do "Edifício Mussi"

Hantei e a Terrasul demoliram o edifício às pressas, em um fim de semana, sem a autorização dos órgãos competentes. O prédio, localizado no centro da capital, era vizinho de vários bens tombados. Construído em 1957 pela Moellmann & Rau, o prédio tinha alto valor cultural por ser um dos raros exemplares da corrente arquitetônica modernista de Florianópolis
  
    Para cumprir ordem judicial em ação civil pública do Ministério Público Federal, foi lacrada a obra que estava sendo realizada no terreno localizado na rua Nereu Ramos, nº 146, no centro da Capital, onde antes se encontrava o histórico Edifício Mussi. O lacre foi efetuado pelo IBAMA, no último dia 20de junho, a fim de garantir a execução da sentença e da medida liminar determinadas pela 6ª Vara Federal de Florianópolis. O impedimento do acessos à obra, assim como às máquinas utilizadas, deve ser mantido até que o Estudo de Impacto de Vizinhança seja aprovado pelos órgãos municipais competentes. O MPF requereu a medida após constatar que o empreeendedor não estava acatando as decisões judiciais.

   Em janeiro de 2013 a Justiça Federal determinou, em ação civil pública de autoria da Procuradoria da República em Santa Catarina, a imediata suspensão das obras realizadas no terreno que abrigava o Edifício Mussi, construção de 1957, marco da arquitetura moderna na Capital e que foi demolida sem a autorização dos órgãos ambientais.


   A ação foi ajuizada em outubro de 2011 contra a Hantei Construções e Incorporações, a família Mussi, proprietária do imóvel, a Terrasul Prestação de Serviços de Terraplanagem, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Fundação Catarinense de Cultura (FCC), o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) e o Município de Florianópolis pela prática de ilícitos ambientais nos procedimentos adotados para a derrubada do imóvel.

   Conforme a ação, no dia 23 de outubro de 2010, a Hantei e a Terrasul demoliram o edifício às pressas, em um fim de semana, sem a autorização dos órgãos competentes. O prédio, localizado no centro da capital, era vizinho de vários bens tombados. Construído em 1957 pela Moellmann & Rau, o prédio tinha alto valor cultural por ser um dos raros exemplares da corrente arquitetônica modernista de Florianópolis. Inclusive, o Edifício Mussi foi tema de teses de doutorado em Arquitetura na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que apontam a edificação como um símbolo do começo da verticalização da cidade.

   Em novembro de 2011, o Juiz Federal Júlio Schattschneider, da Vara Ambiental de Florianópolis, indeferiu a liminar requerida pelo MPF, alegando que "ao Edifício Mussi não se vinculam quaisquer fatos memoráveis sequer da história do Município de Florianópolis. E, sem qualquer desmerecimento, não há nele valor artístico, cultural ou arquitetônico tão notável, evidente ou excepcional". Diante disso, o Procurador da República Eduardo Barragan requereu a reconsideração da decisão dada o Juiz Federal da Vara Ambiental Marcelo Krás Borges determinou, além da suspensão das obras, a realização de prova pericial para verificar o valor histórico do Edifício Mussi e o impacto existente na vizinhança. De acordo com a nova decisão, "o valor histórico e paisagístico de um imóvel não é uma constatação simples, verificável a olho nu, por qualquer pessoa, tal como um magistrado, a menos que possua especialização em Patrimônio Histórico ou Paisagismo".

   O objetivo dos empreendedores é construir, no local, em conjunto com os proprietários do terreno (a família Mussi), um edifício executivo de 14 andares. A ação do MPF busca responsabilizar as empresas Hantei e Terrasul, a família Mussi e o Município de Florianópolis pela demolição do prédio, e o IPHAN, a FCC e o IPUF por não terem adotado medidas de proteção, bem como por não terem exigido dos empreendedores a elaboração de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). Para o MPF, a legislação urbanística municipal proíbe a construção de um prédio no local que tenha altura maior do que a dos prédios tombados do entorno, razão pela qual entende inviável a execução do projeto da Hantei.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

"CONTESTADO: A Guerra Desconhecida"


                                                                                   
    O documentário “Contestado: A Guerra Desconhecida”, produzido em Santa Catarina na década de 80 e que ganhou o Prêmio Especial do Júri no 1º Festival Vídeo da Terra Unicamp/Mirad 1987, agora faz parte da Memória Inapagável do Acervo Videobrasil, o mais importante e duradouro festival de vídeo brasileiro.
   Para a produção catarinense de vídeo a escolha é representativa, pois apenas 18 trabalhos, de um acervo de 1.300 vídeos, foram escolhidos para fazer parte da Memória Inapagável dos 30 anos do Videobrasil. O documentário catarinense foi exibido na terceira edição do Festival, em 1985.
   “Contestado: A Guerra Desconhecida” foi produzido em 1984 e 1985 pela Irani Produções Ltda., produtora dos jornalistas Sérgio Rubim, Jurandir Camargo e Dario Prado Jr, equipe que foi acrescida de Enio Staub e Augusto Maria Sisson, experientes em cinema e vídeo. 
   Foram dois anos intensos de trabalho na região do Contestado, onde a equipe localizou e gravou depoimentos de sobreviventes da guerra que sacudiu o Sul do Brasil de 1912 a 1916, e causou mais de 20 mil mortes. 
   A produção também incluiu pesquisas em acervos particulares, fundações culturais, jornais da época, em bibliotecas do Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro; e na sede da antiga Lumber, em Três Barras, onde foram resgatados documentos orginais da maior madeireira da América Latina e principal estopim da Guerra do Contestato.
   O vídeo foi finalizado na BV Produtora, em São Paulo, e a trilha sonora produzida por consagrados músicos catarinenses como Luiz Meira, Jorge Ataíde, Masquinha, e Kaw Régis. 
   Agora, “Contestado: a Guerra Desconhecida” fará parte de projeto especial que integrará o circuito de exposições da 31 Bienal de São Paulo, de agosto a dezembro, e viajará em mostras itinerantes por vários países em 2015.
   Memória Inapagável Em 2013 o Videobrasil comemorou três décadas de história com a realização do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil.
   Nesses 30 anos reuniu um precioso acervo, uma ferramenta viva da trajetória do próprio Festival como da produção de artistas de diversas partes do mundo. Por esse motivo, este ano dá inicio a um projeto que acontecerá nos intervalos entre as edições do Festival, tendo como ponto de partida este grande universo de obras que compõem o Acervo Videobrasil.
   Este projeto consiste na realização de uma exposição especial a partir de uma nova proposta curatorial tendo como base o Acervo Videobrasil, convidando um curador de renome internacional e transformando-a em um projeto paralelo que integra o circuito de exposições ao redor da 31ª Bienal de São Paulo.
   Para essa ocasião, o curador convidado é o espanhol residente em Nova Iorque, Agustin Pérez Rubio, historiador, crítico de arte e curador. Diretor Artístico do Malba - Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires, também foi diretor do Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León (MUSAC) até fevereiro de 2013. Graduado em História da Arte pela Universidade de Valência, Rubio, depois de uma longa investigação no acervo Videobrasil, propôs uma curadoria onde coloca em evidência os compromissos derivados dos estudos pós-coloniais na criação contemporânea. Faz uma primeira indagação sobre os aspectos relativos às ações oriundas do descobrimento da América e os conflitos que têm gerado em tantas regiões, tanto no Brasil como em outras. Toma a ideia do descobrimento como essa ação inicial aonde a violência do homem foi auto imposta para reger, governar e escravizar.
   A exposição, provisoriamente intitulada “Memórias Inapagáveis”, contará com 18 obras, entre vídeos e videoinstalações, que participaram da trajetória do festival. 
   O vídeo “Contestado, A Guerra Desconhecida”, produzido nos anos 1984 e 1985 por Irani Produções Ltda, de Florianópolis, foi selecionado como parte desta curadoria devido à sua pertinência ao tema e a sua relação com as demais obras participantes.
   Além da própria exposição montada no Galpão do SESC Pompéia, de agosto até dezembro de 2014, o projeto tem outra finalidade clara de ampliação do alcance e da difusão da produção artística em vídeo, e seguirá em itinerância para diversos países durante todo o ano de 2015, como Alemanha, Nigéria, Argentina, Senegal, entre outros.

   Leia mais sobre a A Guerra do Contestado AQUI. e no Jornal Bom Dia



quarta-feira, 18 de junho de 2014

No dia do meu aniversário...

   Sempre gostei de fazer aniversário. Quando chegava perto da data vinha aquela expectativa de festejar e, durante muitos anos, eu iniciava a festa um mês antes e terminava um mês depois do 17 de junho.
   Com o passar do tempo o período de festas passou para uma semana antes e outra depois. Mas sempre festa. Avisava os amigos com antecedência que estávamos no mês de junho, e quase que os intimava a comemorar comigo. Sempre gostei dos telefonemas desejando só coisas boas.
  Ficava sempre atento para ver de quem seria o primeiro telefonema de parabéns. Sabedores da importância que dava para o "meu dia", meus irmãos e minhas irmãs disputavam a madrugada para me ligar. A mãe, bem, a mãe sempre ganhava de mão. Como sabe que sou notívago e estaria acordado à noite toda do 17, ligava à meia-noite e 1 minuto.
   Lembro que quando era criança, a mãe, no dia do meu aniversário, me fazia lustrar os sapatos, me arrumava todo, penteava meu cabelo, e me mandava na casa da "Tia" Zunga, que se chamava Altiva, sua prima-irmã, parteira e aparadora de todos os seus filhos, eu inclusive. A Tia Zunga morava na rua Dr. Acauã, atrás da nossa casa em Quaraí. Saia de casa, decia até a Duque e zarpava como uma flexa. Lá ia eu, todo lambido, em direção a casa da Zunga, feliz e na expectativa de chegar logo para ser paparicado e participar de um maravilhoso ritual que se repetia ano a ano.
   A Zunga já me esperava com bolo e Mandarina uruguaia. Depois de beijos e felicitações me encaminhava para o quarto onde o "Tio" Rozinha, seu marido, sentado em uma cadeira de balanço, me esperava de braços aberto. Me colocava sentado na cama alta ao seu lado e falava um monte de coisas engraçadas. Mestre de obras de mão cheia, o Tio Rozinha era um homem grande com um bigode preto e espesso. Quando levantava da cadeira ficava gigante, me segurava pela mão e me levava ao galpão que tinha no quintal em meio às árvores. Ali estava a jóia da cora: uma moto BSA 250cc, que ele me permitia montar e pilotar por alguns minutos que eu sempre achava que eram poucos.
   Montar naquela moto era algo fantástico. Assim que assumia o comando, deitado sobre o tanque
de gasolina e com as duas mãos no guidão, como que em um passe de mágica a realidade se distorcia e eu viajava imediatamente para um lugar que não encontrei ainda. Tinha até vento no cabelo! Um luxo!
   Depois da moto eu já sabia os passos seguintes. Como que seguindo um script repetíamos aquele ritual ano a ano. Voltávamos para dentro da casa e fechávamos a porta dos fundos sem olhar para trás. A tia Zunga já me esperava com o bolo cortado, alguns caramelos uruguaios em um pires e a pequena garrafa de Mandarina, delicioso refrigerante uruguaio que foi sufocado pela Fanta anos depois.
   Bem, estávamos a meio script, ainda teria a sessão de música e perfumarias. Depois do bolo levantava da mesa e acompanhava a tia Zunga até a pequena cozinha de teto baixo onde ela lavava o pires do bolo e o copo da Mandarina. Eu secava e guardava.
   O Tio Rozinha, sentado na cadeira de balanço já me esperava com o violão apoiado na perna. A Tia Zunga me colocava sentado na cama alta ao seu lado e, ele, atacava imediatamente com uma marcha militar daquelas tocadas pelas bandas dos fuzileiros americanos. Com a rudeza de um construtor, batia forte com o seu dedo grosso no bordão o que dava um peso enorme na música e que a tornava mais, digamos, militar.
   Fazia um intervalo e, sem levantar da cadeira, abria uma meia porta do guarda-roupas ao seu lado onde deixava à mostra um arsenal de minúsculos vidros de extratos de perfumes franceses. Essa parte do ritual era uma das que eu gostava bastante. Escolhia a esmo um daqueles vidrinhos, afastáva-o dos olhos, como que admirando uma raridade e tirava a tampa de rolha enrolada em uma fina fita de cetim.
   O cheiro forte do perfume era rapidamente sentido no ambiente. Colocava o dedo no bico do vidro e o virava de cabeça para baixo. Com a ponta do dedo embebida daquele perfume francês me fazia aproximar a cabeça da cadeira e passava atras dos lóbulos das minhas orelhas. Fechava e colocava o vidrinho no final da fila. Provavelmente para não repetir perfume no próximo ano. Eu acho!

- Tem uma música que vou tocar agora que é da Revolução Mexicana. Me dizia. Eu não tinha noção ainda de o que seria uma revolução e aí ele falou:

- O teu avô, jornalista Estevão Flores, pode visitar os Monte Urais na Rússia. Ele é do Partido comunista.

  Atacou de Adelita e com essa música "revolucionária" me dispensou. Beijei os dois e voltei correndo para casa para contar para a mãe como havia sido a minha visita de aniversário na casa da Zunga e do Rozinha.
  Parece que foi ontem...e já se passaram mais de 50 anos.
  Todo dia do meu aniversário eu canto Adelita...

domingo, 15 de junho de 2014

Vaias, Xingamentos e Pronunciamentos nos “Tapumes” da Copa


   Por Eduardo Guerini
   Em sua ilha de obscenidades
descobrindo a “moral” do uso
 de palavras de baixo calão
 no cotidiano brasileiro.
   
  Quem nunca desferiu um palavrão, que fique calado!!!
   No convívio cotidiano, nos deparamos com cenas que assustam pela sua selvageria e violência simbólica. As palavras atiradas são flechas com destino certeiro. O brasileiro médio que convive com a “patuleia”, sabe muito bem que o uso e consumo de palavrões é recorrente como meio simbólico para expressar alegria, decepção ou raiva.

   No episódio recente, a figura simbólica da governante do Planalto Central, foi alvo de uma fúria coletiva na arena de futebol que inaugurava um megaevento questionável, em todos os seus quesitos. Seja na prioridade, nos gastos desmensurados ou nas obras inacabadas. Eis que, uma cena de um xingamento em coro, contra a figura que representou o divórcio do interesse de quem governa e seus governados - a presidente Dilma e a FIFA, sofreu um sonoro repúdio com uso de palavras de baixo calão. Moleques mal-educados!!!

   Um episódio lamentável!!! Um bando de coxinhas !!! Um classe média mal agradecida!!! Rebeldia juvenil de uma elite que não pode ser contrariada!!! Proto-fascistas!!! Neoconservadores da moda!!!  Moleques !!!  Mal-Educados!!!  Derrotados e pessimistas!!!

   A polarização do discurso governista diante da Copa de 2014, elevou as tensões entre oposição e governo, muitas vezes pelo tom dos discursos presidenciais e seus fiéis militantes. Nesta sanha para manter sua versão para todos os fatos da narrativa política e social, se divorciaram da realidade, encastelados nos discursos burocráticos e diplomáticos (límpidos e oficialescos). Todos sabem em privado dos ataques e impropérios que uma autoridade desfere contra a população, quando é incompreendida. Assistimos a cena do ministro “toc-toc”, que simbolicamente traduz um palavra decifrável para qualquer moleque que frequenta as escolas – públicas e privadas.

   Nossa governanta do Planalto Central e a FIFA, no evento de abertura da Copa de 2014, no Brasil, foram vítimas do falso enredo daquilo que protagonizaram. A prioridade da população brasileira já foi entoada em prosa e verso, desde os Manifestos de Junho de 2013. Os brasileiros querem serviços públicos PADRÃO FIFA. Não bastasse os tapumes de obras inacabadas, querem nos impor os “tapumes morais”. Não sou frequentador de estádios de futebol. Porém, todos que um dia, assistiram à partida de futebol sabem que a figura do árbitro e seus auxiliares não é poupada. E mente peremptoriamente aquele que nunca escutou um palavrão em bares ou restaurantes, na rua ou transporte coletivo. Em casa quem nunca elevou o tom, com palavras nada elogiosas.

   Como muitas vezes, nossos colonizados governantes se afastam dos desejos da população em geral, nada melhor que um grito de alerta para coloca-los no mundo real. Daí que, para os moralistas de primeira ordem ou militantes alucinados, sugiro que peguem um dicionário de “vulgatas brasilianas” para descobrirem o significado real!!!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Tem dinheiro público, sim, senhor

A Arena Pantanal será inteira bancada  com dinheiro
 público: o governo do MT  fez um empréstimo
 de R$ 337,9 milhões com o BNDES e, além disso,
 já pagou R$ 286,3 milhões.  (Foto: Portal da Copa)
  Por Bruno Fonseca, Ciro Barros, Giulia Afiune, Jessica Mota

   Pelo menos R$ 4,8 bilhões de dinheiro público foram gastos pelos governos estaduais com as arenas da Copa do Mundo, valor que não inclui pagamentos milionários dos estados a empreiteiras em PPPs
   
   Governos estaduais usaram dinheiro público nas obras de 10 dos 12 estádios da Copa do Mundo. O gasto público estadual usado na construção das arenas soma pelo menos R$ 4,8 bilhões, segundo informações levantadas pela Pública entre o fim de maio e o início de junho no Portal da Transparência da Copa, de responsabilidade da Controladoria-Geral da União (CGU), nos contratos, diários oficiais, relatórios dos Tribunais de Contas Estaduais e acórdãos do Tribunal de Contas da União. A conta inclui as despesas relacionadas a empréstimos e investimentos diretos.
  
   Em sete arenas, os governos estaduais assumiram dívidas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Juntos, Amazonas, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco e Rio de Janeiro pegaram R$ 2,3 bilhões em empréstimos com o banco, que serão quitados somente entre 2025 e 2027. A quantia será paga com recursos desses governos. O Rio de Janeiro também tomou um empréstimo com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) no valor de R$ 250 milhões e usou uma porcentagem de um empréstimo de R$ 1,2 bilhão com a Caixa Econômica Federal para bancar a reforma do Maracanã.

   Seis estados também firmaram parcerias público-privadas (PPPs) com empresas responsáveis pela construção e administração dos estádios, que serão remuneradas para isso. Estes contratos preveem pagamentos milionários feitos pelo poder público nos próximos anos.

   Apesar dos sucessivos contatos da Pública com as secretarias estaduais responsáveis pelas obras e com os tribunais de contas estaduais (TCEs), em apenas seis casos foi confirmado o volume de recursos que o estado injetou diretamente nas arenas. Estas informações foram divulgadas pelos estados Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso e Paraná. Leia reportagem completa na Pública.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O mito do marqueteiro vencedor


   Por Eduardo Guerini

   Em seu laboratório de imagens
 e sons para criar personagens
 políticos enganadores na grande
 peça eleitoral de 2014.

   As eleições brasileiras sofreram mutações emblemáticas desde o movimento popular em prol da emenda das “Diretas Já” no ano 1984, com seus meus megacomícios, participação popular efetiva e apoio de intelectuais e artistas de todas as clivagens ideológicas. O Brasil real aparecia nas redes de rádio e televisão sem ensaios ou teatralização.

   A Constituição de 1988, por força de uma pressão popular implementou as eleições diretas em todos os níveis após uma transição gradual, lenta e pacífica, nos marcos institucionais, sem ruptura da velha ordem e suas elites funcionais – a política de conciliação de classes e interesses, produziu uma nova ordem com novas lideranças despontando em todas regiões da federação brasileira.

   O processo eleitoral com partidos ideologicamente definidos, evidenciava para os eleitores qual a posição relativa de cada agremiação partidária em relação ao apoio do sistema vigente (situação) ou contrária ao sistema (oposição), do bipartidarismo – visão monocromática da realidade brasileira, passamos para o multipartidarismo, com inúmeras associações ideológicas e riqueza de propostas para sociedade que respirava liberdade, um padrão multicolorido para nossa republiqueta tropical.

   Na esteira das mudanças políticas, sociais e econômicas no Brasil e no mundo, as novas formulações instrumentais e práticas da vida produzem suas representações ideológicas, culturais, seja no cotidiano ou no mundo virtual. Eis que surge o marketing como ferramenta para resolver todas as debilidades da vida, com todos os recursos tecnológicos e midiáticos. O articulador político das velhas campanhas cede lugar gradualmente para o marqueteiro, com todo seu aparato para garantir aos políticos e agremiações partidárias o acesso ao poder e nele se manter.

   A instrumentalização das campanhas – com a visão utilitarista dos marqueteiros , corroborou na definição da pobreza política das propostas de candidatos e alianças no processo eleitoral , resultando na prática corriqueira de luta encarniçada por “tempo de exposição em rádio e televisão” para união de siglas partidárias ideologicamente opostas. Afinal, nas pesquisas de comportamento do eleitor/consumidor , o que se quer vender é um produto – o candidato.

   No momento em que se trava uma luta entre governistas e oposicionistas, o mito do marqueteiro vencedor continua a convulsionar a prática política de partidos políticos e possíveis alianças eleitorais, transformando o ambiente multipartidário – rico em propostas diversas para realidade regional e nacional, em ambiente bipartidário – os que apoiam e aqueles que não apoiam - melhor seria tratar - os que consomem e os que consomem tal produto ou cesta de produtos ofertado.

   Assim, o enredo eleitoral empobrece alavancado pela transformação do eleitor-consumidor em eleitor-servidor, mero meio para se chegar a um fim - o poder incumbente temporário. Na estratégia racional-utilitarista das campanhas eleitorais atuais – partidos e eleitores concorrem no mercado de votos com o auxílio de magos marqueteiros que transformam a realidade brasileira na grande Disneylândia Macdonaldizada.

   Nunca na história dessa republiqueta se produziu tanta propaganda de governos e governantes, tão fantástica e maravilhosa, com realidade tão escabrosa – um verdadeiro “drink no inferno”. Quem assiste/assistiu as propagandas dos partidos e dos governos (federal e estadual) encontra o “nirvana existencial” saboreando imagens elaboradas nos laboratórios de imagem e som , lançadas sobre a realidade que rapidamente desaparece quando abrimos a janela ou abrimos a porta. Daí, rapidamente passamos do frenesi para a depressão...

   Alguém dúvida que devemos fazer um “recall político” com a devida superação do mito que marqueteiros vencem eleições???

   Que venham os transformistas!!

sábado, 7 de junho de 2014

“A Liberdade – um mito. A Democracia – uma fraude”

Higino João Pio
   Por Jaison Barreto

Há sempre uma “besta” dentro das pessoas, que aflora quando quebrado o Estado de Direito.   


   Assisti a reunião da Comissão da Verdade Estadual com a exposição do laudo proferido pelos médicos legistas, através da TVAL. Era uma hora e meia da madrugada mais ou menos. Não consegui dormir depois.

   Confirmou o que a família já sabia, todos sabíamos, cousa de 45 anos atrás.

   Sendo sintético, a revolução aconteceu em 1964, trinta e um de março ou primeiro de abril.

   Casei no dia 4 em Brusque. Meu padrinho de casamento, sob protesto de muitos, meu amigão, foi o Doutor Francisco Roberto Dall’Igna, médico, deputado estadual pelo PTB, depois Vice-Governador cassado pela revolução.

   Foram dias terríveis aqueles, prenderam muitos amigos meus. Dia 6 ou 7 fui de fusca para Santos pegar um navio para o porto de Gênova na Itália, Eugênio C. Uma estranha lua de mel.

   Meu destino foi o Instituto Barraquer em Barcelona para um curso de Oftalmologia.

   Saía de uma ditadura em instalação para outra já consolidada, a do General Franco, na Espanha.

   Voltei em fins de 1965 e em 1966, com o pai do “Marcão”, hoje Vice-Presidente da OAB/SC, Dr. Luiz Antônio da Silva, fundamos o Movimento Democrático Brasileiro – MDB.

   Ele advogado e eu médico, ambos do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Brusque.

   Não me perguntem onde andavam algumas figuras da politica catarinense naquela época, se no DOPS ou no partido da revolução, a ARENA. Isso não importa.

   Fomos candidatos em Brusque a Deputado Estadual em 1966 pelo “MDB”. Não nos elegemos, mas plantamos uma semente contra a revolução.

   Abri meu consultório médico em Blumenau e ajudamos a eleger o Lazinho – Evelásio Vieira – Prefeito Municipal pelo “MDB”.

   O Ato Institucional Nº. 5 (AI-5) mostrou a face verdadeira do regime em que vivíamos, com a cassação de mandatos e o recrudescer da violência contra nós todos da oposição.

   Higino João Pio foi uma das vítimas dessa violência. Não foi cassado por nenhuma sigla partidária. Não foi vítima das ideias que defendia, não foi vítima por nenhuma desonestidade cometida.

   Nunca ofereceu risco à prática da democracia.

   Há sempre uma “besta” dentro das pessoas, que aflora quando quebrado o Estado de Direito.

   À sombra das ditaduras militares, quaisquer ditaduras, muitos abutres civis, constroem suas riquezas, fazem crescer seus patrimônios, seus privilégios, mudam as Constituições e plantam seu prestígio político, distribuindo benesses, favores.

   A homenagem ao Higino Pio, nós já fizemos no passado, que era o máximo que nos permitiram fazer com as nossas candidaturas em 1970, a Deputado Federal.

   A lembrança de hoje desses dias e do trabalho respeitável da Comissão da Verdade deve ser uma advertência dura contra os que em plena democracia não sabem respeitar seu sacrifício, envergonham a representação popular, desmoralizam os costumes políticos, desencantam a nossa gente e põe em risco a democracia brasileira.

   Os miasmas do autoritarismo andam por aí muito evidentes.

   Trágico seria eu relembrar o título de um discurso meu de muitos anos atrás: “A Liberdade – um mito. A Democracia – uma fraude”.

   Saudações Democráticas.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Jornalismo atual

Capital da Desesperança

A saga do Mané Garrincha, o estádio mais caro da Copa (R$ 1,4 bilhão de dinheiro público), também significa a frustração de reivindicações por moradia em Brasília

Estádio Nacional de Brasília, um dos mais caros da história do futebol, já custou
 R$ 1,4 bi aos cofres públicos. Foto: Wikimedia Commons
      Por Felipe Seligman (Pública)
   Se, de uma maneira geral, a Copa do Mundo no Brasil ficará marcada por recursos mal gastos, superfaturamento de obras e oportunidades de legado desperdiçadas, a cidade de Brasília pode ser considerada a capital do país também sob esses pontos de vista. Em números absolutos o Mané Garrincha, como é mais conhecido, foi o mais caro estádio da Copa e um dos mais custosos entre todos já construídos na história do futebol.

   Gastou-se até agora cerca de R$ 1,4 bilhão, integralmente pagos com dinheiro público. Para complicar, sua construção foi permeada por decisões equivocadas do governo local com consequências no mínimo questionáveis para os cidadãos e para o patrimônio do Distrito Federal.

   Para entender essa história, precisa-se voltar à gestão do então governador José Roberto Arruda, que chegou a ser preso e teve de sair do cargo antes do fim de seu mandato, após a revelação de um esquema de pagamentos ilegais a parlamentares de sua base de apoio, o que ficou nacionalmente conhecido como o Mensalão do DEM. Antes disso acontecer, no entanto, o governador Arruda teve uma ideia que, anunciada à época, até parecia fazer sentido.
   

   Escolhida como cidade-sede da Copa, Brasília deveria construir um novo estádio, no
lugar do antigo e acanhado Mané Garrincha. Para que não precisasse recorrer a financiamentos bancários ou deixar a arena nas mãos de empresas privadas, o então governador decidiu levantar recursos através da venda de uma grande área verde da Terracap, empresa pública responsável por administrar as terras do Distrito Federal. O dinheiro do negócio iria para o estádio e essa área verde, localizada entre o Estádio e um dos principais shopping centers da cidade, seria utilizada na ampliação da rede hoteleira da cidade, necessária para receber um evento de grande porte.

   Mas logo os problemas começaram a aparecer. Brasília é uma cidade planejada e tombada pela Unesco, com um Plano Diretor extremamente rigoroso. E, segundo esse plano, a área em negociação, cujo endereço é a quadra 901 Norte, não poderia receber empreendimentos comerciais. Manifestações públicas contra a venda do terreno começaram a ser organizadas, encabeçadas pelo movimento “Urbanistas por Brasilia”. Eles produziram um manifesto com mais de 130 assinaturas de profissionais da área, criticando duramente a negociação. No fim de 2011, o Iphan (Instituto do Patrimônio Hitórico e Artístico Nacional) emitiu parecer contrário à venda do terreno.

   No ano seguinte, no entanto, já no governo do petista Agnelo Queiroz, tentou-se novamente negociar a área, incluindo no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico elaborado naquele ano a possibilidade de construção de hotéis na área. Em maio de 2012, porém, a Vara do Meio Ambiente e Assuntos Fundiários do DF decidiu que o governo do DF e a Terracap não poderiam fazer obras que alterassem os parâmetros urbanísticos de uso ou de gabarito da quadra 901.

   Comprometido em construir o estádio e disposto a torná-lo palco da abertura da Copa do Mundo (o que acabou não acontecendo), o governo não poderia voltar atrás. A construção do novo Mané Garrincha já estava sob a responsabilidade da Terracap, proprietária do estádio desde março de 2011, que precisou abrir o cofre e se desfazer de patrimônio para garantir o término da obra. Um documento do Conselho Fiscal da Terracap (veja abaixo) relativo ao primeiro trimestre do ano passado apontou “forte redução de disponibilidade de caixa na ordem de 80% relativo ao mesmo período de 2012. Em março de 2013, a empresa possuía apenas R$ 45 milhões de disponibilidade frente a um passivo de R$ 929 milhões”.


   Também registrou as vendas de terrenos para bancar o estádio: “Em março de 2013, a Terracap apurou um lucro líquido de R$ 335 milhões, enquanto que no mesmo período de 2012 tinha apurado um prejuízo de R$ 55 milhões. Este lucro em 2013 é fruto da fonte de venda de imóveis, ressalta-se que esses recursos estão sendo aplicados totalmente nas obras do Estádio Nacional de Brasília — Mané Garrincha”.
“Entretanto, como o Estádio está sendo cedido gratuitamente para exploração pelo Governo’do Distrito Federal, não está sendo gerada receita para recuperação deste investimento. Neste sentido, de acordo com as práticas contáveis de avaliação a ‘valor justo’ este estádio deverá ser baixado como perda, o que provocará um prejuízo considerável para a Terracap”, diz o documento.
   Movimentos sociais de Brasília afirmam que isso teve impacto direto na política habitacional do DF. Reportagem da BBC Brasil publicada no dia 29 de maio apresentou críticas do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) em relação à venda dos terrenos, por contribuir para a especulação imobiliária local.

   De acordo com a Fundação João Pinheiro, que estuda problemas de moradia no país, o deficit habitacional no Distrito Federal atinge 16% dos domicílios, enquanto no país como um todo a taxa é de 9%.

   “Nós não somos contra a Copa, somos contra a utilização do evento para realizar uma verdadeira transferência de renda às avessas. O DF possui hoje um déficit habitacional de mais de 200 mil famílias, mas, em vez de usar terras públicas para isso, o governo preferiu vendê-las para a construção do Estádio”, disse à Agência Pública Raphael Sebba, membro do Comitê Popular da Copa, grupo que vem realizando uma série de manifestações, em todo o Brasil, contra o desperdício de recursos públicos.

   Além de administrar as terras do Distrito Federal, cabe também à Terracap promover melhorias sociais e econômicas para a capital do Brasil. Seu dinheiro, em última análise, deve, inclusive, ser destinado à construção de escolas, conforme ponto destacado no próprio site da instituição: “a Terracap repassa ao GDF os recursos financeiros necessários para a construção de escolas públicas nas diversas regiões administrativas do Distrito Federal”.


   SUPERFATURAMENTO
Tribunal de Contas do DF encontrou indícios
de superfaturamento multimilionário
na construção do Mané Garrincha.
   Mas a polêmica sobre os gastos públicos não termina por aí em Brasília. Não bastasse o financiamento 100% público do Estádio, o TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) encontrou indícios de um superfaturamento de R$ 431 milhões.    
   As comparações também impressionam. A Arena Grêmio, por exemplo, estádio do time gaúcho construído com capital totalmente privado com capacidade para 60 mil pessoas, custou pouco menos de R$ 500 milhões, quase três vezes menos que o Mané Garrincha, onde cabem 72 mil espectadores.

   A Agência Pública procurou a Terracap para saber quais são os planos de recuperar os recursos investidos no Estádio. De acordo com a assessoria de imprensa, “a Terracap ainda não recebeu a obra “Estádio Nacional de Mané Garrincha”, por essa razão, a construção está registrada no Balanço Patrimonial na conta “Ativo Imobilizado”. Tão logo a obra seja entregue à Terracap, esta será registrada no Balanço Patrimonial à conta‘Investimento’”. Em outras palavras, a Estatal diz que assim que isso acontecer, o Estádio não será mais contabilizado como prejuízo.

   A estatal explica que o estádio está cedido ao GDF, mas não de forma gratuita. “Pelo prazo de quatorze meses de cessão, o GDF repassará à Terracap a importância de R$ 28 milhões”. Argumenta também que“iniciou um estudo para identificar um modelo de negócio que melhor se adeque ao Estádio Nacional Mané Garrincha”.

   Esse desafio não é dos mais fáceis. Sem nenhum time expressivo, até agora o estádio recebeu partidas de clubes de outros Estados, além da promoção de eventos musicais com atrações internacionais.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Presidente do TCSC denunciado por nepotismo

Ministério Público de SC acolhe denúncia contra Salomão Ribas Junior por empregar o filho como seu chefe de gabinete na presidência do Tribunal da Contas de SC


   O Ministério Público acolheu denúncia do servidor Paulo Garcia de nepotismo no TCE/SC praticado pelo atual presidente, Conselheiro Salomão Ribas Junior, que emprega seu filho como chefe de gabinete da presidência, em flagrante desrespeito à súmula 13 do STF.
   O Presidente tentou disfarçar não nomeando o filho para a função, a qual ficou sendo exercida por ele de fato. Mesmo assim, o MP entendeu haver irregularidade e irá tomar providências como fica claro na decisão abaixo.
   O MP investiga como é feita e a remuneração de chefe de gabinete que, segundo funcionários da casa, é paga via gratificação por comissões (de lei orgânica, de estudos de lei da ficha limpa) que o filho era designado para participar.





   Consultando, 
na internet, o contracheque de Ricardo Ribas é possível verificar que ele ganha além dos vencimentos normais, gratificação de atividade espeical por atuar no gabinete do pai presidente, no valor de R$ 1.557,55, e gratificação por atuar em comissões, as quais ele somente é designado por ser chefe do gabinete do pai, no valor de R$ 502,80.
    Isso é nepotismo disfarçado. Mas muito mal disfarçado. Pela teor da decisão, o Ministério Público não sabe disso. Deve ter sido enganado pelo presidente, que disse em ofício que ele não ganhava nada pela chefia do gabinete. 
   Abaixo a prova do ganho:


   Transparência
   Os valores, na verdade, são bem maiores que isso. Ricardo Ribas recebeu apenas R$ 502.80 reais em maio porque o funcionamento da comissão foi parcial. Ele recebia mais de mil reais por mês por cada uma das comissões que participava. E não eram poucas.
   Infelizmente não é possível verificar isso por quê na adiministração do atual presidente Salomão, o TCE passou a publicar apenas os contra-cheques do último mês. Uma artimanha que diminui a transparência e serve para encobrir este tipo de "mal feito".
   
   Documentos
   Existem vários documentos, na casa, assinados e carimbados por Ricardo Ribas como Chefe de Gabinete da Presidência. Além de ser apresentado nos muitos eventos como tal. De uns tempos para cá, depois da denúncia ao MP, passou a suprimir o Chefe e constar apenas Ricardo Ribas - Gabinête da Presidência. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

COPA E GRAFITI

A três semanas do início da Copa do Mundo no Brasil, o artista plástico paulista Paulo Ito cria uma imagem realacionando a pobreza com os gastos bilionários do governo em estádios de futebol e acaba gerando a primeira imagem viral da "Copa das Copas".

   No dia 10 de maio um grande mural pintado às portas de uma escola na Pompéia, bairro de classe média da capital paulista, chamou à atenção de alunos, professores, populares e da imprensa internacional.
   A criação do artista plástico Paulo Ito, retrata uma criança chorando de fome à frente de um prato com uma bola de futebol. A imagem se expalhou rapidamente pelas redes socias mundiais e se transformou na primeira imagem viral da Copa do Mundo no Brasil.    Segundo a revista americana  'Slate', em menos de uma semana a pintura de Paulo Ito já havia sido compartilhada mais de 40.000 vezes no facebook.
   A imagem retrata a atual situação social do país onde uma série de movimentos sociais protestam diariamente contra os bilionários investimentos em estádios de futebol feitos pelo governo federal em detrimento a investimento em saúde, educação e segurança.
   Murais com críticas à Copa do Mundo realizada no Brasil estão espalhadas pelas principais capitais do país.

Grafitti pintado na parede da estação de metrô próximo ao Maracanã, Rio de Janeiro, mostra o tatubola, mascote do Mundial, em conlúio com um porco que representaria os mafiosos da FIFA com as mãos no maior estádio brasileiro. (Foto: AFP / Yasuyoshi Chiba)

Um homem passa por graffiti pintado na parede, em referência à Copa do Mundo no Rio de Janeiro 14 de maio, 2014 2014. (Reuters / Sergio Moraes)

Ryan, 9 anos, come na frente de graffiti pintado em referência à Copa do Mundo de 2014, na favela Vila Flavia de São Paulo 28 de maio de 2014. (Reuters / Nacho Doce)

Mulher com o filho nos ombros em frente de graffiti contra as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 na favela Metrô Mangueira, perto do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro 10 de abril, 2013. (Reuters / Sergio Moraes)

   Estudantes passam por graffiti vandalizado que retrata o jogador Neymar com um capuz usado pelo grupo conhecido como Black Bloc que é contra do Mundo da FIFA. (Foto: AFP / Yasuyoshi Chiba)

Pedestre olha para graffiti em protesto contra a Copa do Mundo de 2014, que mostra a bandeira brasileira pintada em torno de um buraco em uma parede, em Manaus, uma das cidades-sede, 23 de maio de 2014. (Reuters / de Bruno Kelly)


domingo, 1 de junho de 2014

Dispensa de Licitação no TJSC

Tribunal da Justiça de Santa Catarina contrata empresa de consultoria no valor de R$ 241.900,00 com dispensa de licitação. Contratada não tem nenhuma referência na internet, e na consulta dos dados no CNPJ sua criação é recente, de 07/2011.

Da AITJ

"INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO" NO TJSC CAUSA SURPRESA NO VALOR

   Graças a um de nossos "anonymous", pudemos identificar duas compras por inexibilidade de licitação no TJSC, com a mesma empresa e com o mesmo objeto, porém com valores estranhamente distintos.
   A primeira, em novembro de 2013, apresenta o valor total de R$ 33.600,00 (trinta e três mil, seiscentos reais), já a segunda, de maio de 2014, apresenta a cifra de R$ 241.900,00 (duzentos e quarenta e um mil, novecentos reais), impressionante não?
   Trata-se do mesmo curso: "Comunicação institucional com foco na comunicação interna", sendo fornecedora a mesma empresa "Daniel Costa Consultoria e Participações"



   O mais curioso também é o fato de que não se encontra nenhuma referência da empresa na internet, e na consulta dos dados no CNPJ, vê-se que sua criação é recente ,07/2011.
   Ambos os processos tiveram uma tramitação na Diretoria de pouco mais de 1 (um) mês, o que é um prazo extremamente célere, considerando-se os demais processos que envolvem quantias em dinheiro.