sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Laxante pra curar tosse comprida?

   Por Jaison Barreto
   O texto nada tem a ver com o Drauzio Varella.
   Todo pós-eleição provoca um certo atordoamento, que atinge vencedores e perdedores.
   Os menos experientes acabam confundindo as coisas, é natural.
   A moda agora é ficar repetindo palavras, expressões, frases, como verdadeiros mantras, que pouco tem a ver com as necessidades reais.
   Plebiscito, referendo, voto distrital, financiamento público, voto facultativo, candidatura avulsa, não reeleição, ecoam por todos os lados.
   Talvez fosse necessário um pouco mais de atenção, cuidado, com o que pregam.
   Fim da reeleição, por exemplo, é uma bobagem.
   Perguntem a um alemão alfabetizado, e eles são, porque elegeram pela terceira vez a chanceler Angela Merkel para administrar a Alemanha, e receberá um olhar de espanto, que vai deixar o perguntador com cara de retardado.
   Alternância de poder é o recomendável, mas não obrigatório, limitado a curtos períodos.
   Os defeitos, anomalias, absurdos do nosso processo eleitoral não devem impedir repetição de governos competentes e sábios.
   Governos incompetentes, lenientes com a corrupção e de características autoritárias, como no caso o presidencialismo brasileiro, merece correção.
   Utilização escandalosa da máquina pública, aparelhamento partidário do governo que alcança até o judiciário, publicidade vergonhosa chamada de institucional, que enriquece inclusive espertalhões, são inadmissíveis em país medianamente civilizado.
   Na Alemanha daria cadeia.
   Esses abusos merecem tratamento específico, necessário e objetivo. Eles existem.
   Renovação obrigatória a cada quatro ou cinco anos de governantes, é bobagem, que querem estender inclusive, á todos os cargos eletivos.
   Esperto e respeitável político catarinense, criativo como ninguém, inventou uma “Corrente da Felicidade” bem engenhosa.
   Nove meses antes da sua reeleição, renunciou ao mandato, deixando o cargo para o vice-governador, Presidente de Partidos, beneficiando-o com pensão vitalícia por tão pouco tempo de mandato.
   Concorrendo a eleição tendo como vice um Presidente de outro Partido, repetiu a manobra garantindo outra pensão vitalícia por seis, sete meses de mandato.
   Estes acôrdos incluíam cargos em estatais, garantias de apoios eleitorais e outros favores.
   O Brasil tá cheio de Mecenas com o dinheiro público.
   O que se tem que acabar é com esses tipos de comportamento e não com a reeleição em sí mesmo.
   Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
   Bom-senso, razoabilidade são auto-explicáveis.
   Correndo o risco de ser grosseiro, isso está parecendo conselho de assessor da Maria Machadão, dona do Bataclan, que ouvindo a clientela, quer sempre renovar o plantel. Até mesmo aí, dizem os entendidos que é importante manter a média.
   Exercício da vida pública exige qualidades e responsabilidades, experiência acumulada, que não cai do céu todo dia, exige tempo de maturação.
   Um estágio na Cadeira de Terapêutica, numa Faculdade de Medicina ou Farmácia seria interessante, recomendável.
   Querer tratar “TOSSE COMPRIDA COM LAXANTE” pode ser uma boa piada, mas acaba com o paciente.

Saudações medicinais.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Só sabe o que é paladar quem um dia o perdeu

   Certa vez na Kibelândia, o amigo Janer Cristaldo me relatou uma passagem do livro A Fisiologia do Gosto, do gatrônomo Brillat-Savarin. Profundo conhecedor de culinária e dos bons vinhos, Janer gostava de falar da boa mesa:

"O gastrônomo conta ter encontrado em Amsterdã um “pobre diabo” ao qual os argelianos haviam cortado a língua, com o qual se comunicou por escrito. Tendo visto que lhe haviam cortado toda sua parte anterior, perguntou-lhe se ainda encontrava alguma sabor no que comia. Respondeu-lhe o argeliano que ainda sentia o gosto daquilo que era um pouco sápido. Mas que as coisas fortemente ácidas ou amargas lhe causavam dores insuportáveis". 

Ter que comer apenas para não morrer, sem o prazer da degustação, segundo Janer, seria o supremo castigo para qualquer vivente.

Em seus últimos dias, em São Paulo, em uma conversa por mensagens, me dizia que desta vez a coisa estava preta. Vinhos nunca mais. Tinha problemas de fala devido às aplicações de radiação para curar, pela sexta vez, um câncer de garganta. Não resistiu. Foi a última vez que nos falamos.

No texto abaixo, Janer descreve o seu sofrimento por ter perdido um dos sentidos que mais lhe era caro. Um texto primoroso: 

SAUDADES DA OSMAZOMA

Há palavras que desaparecem da língua como por encanto. Osmazoma é uma delas. Você pode procurá-la no Houaiss ou Aurélio ou demais dicionários contemporâneos. Não vai encontrar. Se quiser encontrá-la, terá de voltar no tempo, ao dicionário de Candido de Figueiredo. Ou ao Caldas Aulete. Apesar da origem francesa, não consta nem mesmo do Petit Robert.

Em meus dias de Paris, para inveja de meus leitores gourmands, morei na Rue Brillat-Savarin. Nome indissociável da cultura francesa, Jean Anthelme Brillat-Savarin é autor de um clássico da gastronomia, La Physiologie du Goût. Mas inveja sem nenhuma razão de ser. A rua onde vivi meus dias, apesar de sugerir festança e bona-chira, não tinha sequer um restaurante. Foi rua insípida, que sempre evitava, saindo pelos fundos de meu prédio para cair em uma outra, sem a fama do gastrônomo, mas cheia de vida e odores, a Amiral Mouchez. Minha relação com Brillat-Savarin é outra. Foi nele que encontrei, pela primeira vez, a osmazona. Que tanta falta me fez nos últimos meses. Quem nunca teve um carcinoma, jamais terá idéia do que seja sentir falta da osmazoma.

Em A Fisiologia do Gosto, Brillat-Savarin considera – e apropriadamente – ter a língua uma grande função no mecanismo da degustação. Devido às suas numerosas papilas, ela se impregna das partículas sápidas e solúveis dos corpos com os quais tem contato. Mas não só a língua é responsável pelo paladar. Também participam da degustação as bochechas, o palato e as fossas nasais. As bochechas – segundo o autor – fornecem a saliva, igualmente necessária à mastigação e à formação do bolo alimentar. Sem a odorização que se opera no fundo da boca, a sensação do gosto seria obtusa e totalmente imperfeita.

O gastrônomo conta ter encontrado em Amsterdã um “pobre diabo” ao qual os argelianos haviam cortado a língua, com o qual se comunicou por escrito. Tendo visto que lhe haviam cortado toda sua parte anterior, perguntou-lhe se ainda encontrava alguma sabor no que comia. Respondeu-lhe o argeliano que ainda sentia o gosto daquilo que era um pouco sápido. Mas que as coisas fortemente ácidas ou amargas lhe causavam dores insuportáveis.

Vivi um pouco a condição do pobre diabo de Amsterdã nos últimos meses. Mais que um pouco, diria. Com o tratamento radioativo, a salivação desapareceu. Saliva parece ser algo desagradável, mas desagradável mesmo se torna quando some. A mastigação se torna inviável e dolorosa. Por outro lado, fora a sensação do doce, cujas papilas respectivas se encontram na ponta da língua, perdi toda e qualquer sensação de sabor. Para os glutões, Dante reserva o terceiro círculo do inferno, onde ficam atolados na lama e são fustigados por uma chuva fortíssima com granizo, ouvindo sempre os latidos de Cérbero, o cão de três cabeças e cabelo de serpentes que guardava as portas do Inferno.

Faltou imaginação ao vate. Mais cruel teria sido se privasse de saliva e de paladar os que gostam de comer. Pois comer sem sentir o gosto do que se come me parece castigo mais que adequado ao mais infame dos condenados.

Criado no campo, os sabores básicos de minha infância foram arroz, feijão e charque. Osmazoma, só em dias de carneação. Dia seguinte, a carne virava charque. Vivi depois em cidades do interior gaúcho, cuja culinária é um breve contra o paladar. Sabores mesmo, comecei a curti-los em Porto Alegre, onde já havia alternativas de uma cozinha italiana, alemã, árabe, japonesa ou chinesa. Mas diversidade de sabores, festa para o palato, só encontramos viajando. Culinária é coisa do terrunho. Acho muito estranho quando alguém me fala de cozinha internacional. Toda cozinha depende de geografia. Cozinha internacional, para mim, deve ser um prato cozido em um vôo entre um país e outro.

Gastronomia foi algo que não curti em minha juventude. Só bem mais tarde entrei neste universo. Passei então a dar valor à restauração. Restaurantes, a meu ver, são um dos mais geniais achados do Ocidente. Chego a uma cidade estranha na qual nunca estive e lá está, à minha espera, uma equipe de profissionais que irão brindar-me com o que de melhor seu país oferece. Cardápio é outro grande avanço. Numa mesma mesa, quatro pessoas podem degustar quatro cozinhas distintas.

Sabores são relativos. Não consegui até hoje convencer a Primeira-Namorada a comer ostras ou camembert. Andouilletes ou tête de veau, ni pensar. Não a recrimino. Ano passado ainda, em Paris, ofereci a uma amiga um tequinho do prato que busco correndo tão logo chego a Paris, as andouilletes, um embutido de tripa com tripas dentro. Mal o pôs na boca, teve de fazer força para não vomitar. Era marinheira de primeira viagem e gostar de andouilletes exige certa quilometragem.

O primeiro homem a comer uma ostra deve ter sido pessoa de grande coragem intelectual. Quanto a camembert, sempre que compro algum, recebo um alerta de minha faxineira: “Professor, tem algo podre na geladeira”. Podre nada, Cristina. É queijo dos melhores. Gastronomia exige um certo destemor ante o desconhecido. Exige também idade, diria. Jovem não é muito afeito a emoções fortes.

Mas falava da osmazoma. Nestes meus dias de inferno astral, em que perdi praticamente todos os sabores, o que mais me faltava era o sabor dela. Degustar uma picanha e sentir gosto de borracha é tortura que não desejo a ninguém. Mas minhas sensações palatais ressuscitaram. Voltei ao mundo dos vivos. Antes que me esqueça: osmazoma, para Brillat-Savarin, é a molécula odorante das carnes. Em verdade, se enganava. Hoje se sabe que o gosto das carnes resulta da presença de numerosas moléculas e não decorre de um princípio único.

Só sabe o que é paladar quem um dia o perdeu. Foi nestes dias que lembrei Fierro:

Solo queda al desgracio,
lamentar el bien perdido.


Se saí do inferno, ainda não voltei ao Éden. Se já lambuzo o que me restou de bigodes com uma picanha, falta ainda o sangue das uvas, proibido pelos homens de branco. Mais dia menos dia vou à forra.

Emanuel Medeiros Viera agredido na Bahia


   O escritor Emanuel Medeiros Vieira, colunista do Daqui na Rede, foi agredido verbalmente e escapou de ser atingido por uma paulada pelas costas, na manhã deste domingo (26.10), no Corredor da Vitória, Salvador-BA. Irritado com o assédio agressivo de cabos eleitorais do PT, ele chamou a atenção e discutiu com alguns. Logo se viu cercado por entre 10 e 15 homens, a maioria jovens, escapando por pouco de sofrer agressão física.

"Nem consigo escrever o que aconteceu", disse o escritor nascido em Florianópolis, perto de completar 70 anos de idade, radicado em Brasília e passando alguns meses na capital baiana com a companheira Célia de Souza, presente no momento da agressão. "Estou profundamente assustado com essa polarização", onde surgem "milicianos stalinistas ou fascistas" com esse tipo de conduta.

- "Decerto é pago pelo Aécio", disse um dos agressores. "Não estou mais nas lutas político-partidárias, atuo voltado à poesia e à natureza, mas não me tornei um sujeito de direita", desabafou por telefone no final deste domingo. Militante de esquerda durante a ditadura, preso e turrado pelo DOPS paulista nos anos 1970, Emanuel sentiu-se mal com esta e outras colocações dos sujeitos. "Ficou tudo preto, tiveram que me acudir, deram água".

Emanuel voltou para casa e continuou abalado, assustado e "muito triste", uma "tristeza profunda", encontrando na música um pouco de relaxamento. Depois telefonou para o Daqui na Rede informando sobre os fatos. "Estamos chegando a um ponto assustador. Isso me deixou sem condições de escrever qualquer coisa", resumiu o escritor.

Mais tarde Emanuel conseguiu se recuperar e produziu o texto abaixo.

Hoje, dia 26 de outubro, quando fui justificar o meu voto em Salvador (voto em Brasília), vendo uma deslavada boca-de-urna, proibida pela legislação, sofri tentativa de agressão por parte de um grupo de militantes do PT - Partido dos Trabalhadores - certamente pagos e semi-analfabetos, que lembravam os "Camisas Pretas", milicianos de Mussolini, da Itália fascista.

Já enfrentei lutas maiores. Mas o curto relato era preciso ser feito.

Não por lamentação, mas para ver - pelo menos no Nordeste - o nível de fanatismo, de sectarismo e de ignorância a que chegou a miserável e indecorosa política brasileira.

Como o nível de debates foi desqualificado!

Andei pelo Nordeste profundo e assisti (não me contaram) ao terrorismo eleitoral praticado pelos "Camisas Pretas", aliás, vermelhas.

Lembram que Tancredo chamava a ARENA de "o partidos dos grotões"? A coisa anda muito pior. É de assustar. Ameaças de perda do programa Bolsa-Família, de afastamento do "Minha casa, Minha Vida"e outros terrorismos.

Foi uma lavagem cerebral de assustar!

Alguns dirão: dor de uma derrota? Não. O país está dividido e dignos ex-membros e fundadores do Partido dos Trabalhadores - que perceberam onde ele foi parar -, condenam suas práticas, como Chico de Oliveira, Hélio Bicudo e Sandra Starling.

É preciso acabar com essa história idiotizante e dogmática de afirmar de que quem não vota no PT é de "direita".

Esquerda? Com quem? Sarney, Collor, Jáder, Temer, Renan etc.?

Haverá uma nostalgia do Muro de Berlim?

Pobre Nordeste, e pobre Bahia - que gerou pessoas da fibra de Castro Alves, Anísio Teixeira, Gláuber Rocha etc.

Não os dogmáticos fascistas que tentaram me agredir na manhã de hoje.

Muitos têm muitas "bocas" e não querem perder.

Eles acham que a história começou com eles.

Quem ajudou a desencadear a campanha de violentíssimo ódio foi o "guru deles" (não preciso dizer o nome), cria do Golbery para dividir a esquerda brasileira, que poderia ter estudado nos 15 anos de sindicalismo.

E prefere dizer que "ler dá azia".

O que ele falava com Romeu Tuma, ex-delegado geral do DOPS? Não posso crer que essa figura dedurava companheiros!

Não?

Perdoem o lugar-comum: o Humanismo não é favorecido pela omissão. 
Emanuel Medeiros Vieira

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A morte do Janer Cristaldo

Perdi ontem um dos meus grandes amigos. Estou triste. Não lembro de ter ficado tão triste assim em outra ocasião na vida.

   Éramos amigos ao longe. Pessoalmente nos encontramos poucas vezes, sempre na Kibelândia. Quando morou em Florianópolis - foi professor na UFSC - e quando quando, já em São Paulo, vinha visitar a cidade.

   Mesmo sem encontros presenciais, conseguimos desenvolver uma amizade profunda e duradoura. O que fez desses encontros uma grande amizades foi uma das coisas que mais prezo no ser humano: a confiança.

   Janer participou e colaborou com todos os projetos jornalísticos que tive. Foram cinco jornais, sempre de oposição ao poder instalado e de denúncias de corrupção. Tê-lo como colaborador em minhas publicações era uma honra e também sentia como se fosse um apoio aos meus projetos. Sempre esteve presente. Mesmo quando eu e o jornalista Jurandir Pires de Camargo, durante três anos, tivemos um jornal no Uruguay, Janer nos encontrou e nos mandava seus artigos ácidos por correio. Infalível!

   Jornalista, escritor e intelectual primoroso não transigia com a ignorância. Era implacável com as religões e tecia suas críticas sempre calçado em um profundo conhecimento das "sagradas" escrituras que havia devorado em todos as suas edições e idiomas com sua visão crítica e independente.

   Gaúcho do Ponche Verde (Dom Pedrito), era acusado pela esquerda de direitista e pela direita de comunista. Respondia às tentativas de classificações com seu texto poderoso, crítico, claro e mordaz. Tinha desprezo pelo classificadores.

   Não era nada, só detinha todo o conhecimento do mundo!

   Paraíso Sexual Democrático, seu primeiro livro, sobre o mito sexual por excelência das "adoráveis loiras nórdicas", foi meu primeiro livro também. Jamais imaginei que o autor daqueles escritos que embalaram e estimularam a minha produção de testosterona juvenil fosse um dia meu parceiro e amigo por tantos anos.

Estou triste! Perdi um amigo que realmente valia à pena!


Abaixo um texto de Janer Cristaldo sobre seu primeiro livro. Uma delícia de texto:

ONDE ME DESCOBRI TRADUTOR

A vida é uma caixinha de surpresas. Em meus dias de piá no Ponche Verde, jamais imaginaria que um dia seria tradutor. E muito menos que minha primeira tradução seria do sueco. (As traduções do francês e do espanhol viriam mais adiante). Aliás, naqueles dias, nem imaginava que a Suécia existia. E que iria me atrair poderosamente, a ponto de um outro dia, bem mais tarde, fazer minhas malas e ir morar no paraíso dos Sveas.

Só mesmo sendo jovem para fazer a loucura que fiz. Deixei em Madri, chorando, a mulher que adorava, e rumei ao norte. Ela, também chorando, rumava ao sul. Tenho certeza que hoje não teria forças para repetir tal insanidade. Eu conhecera Estocolmo há uns vinte dias. Caí lá em dezembro, em plena noite nórdica. Quatro horas da tarde, noite profunda. Me senti em Plutão e era em Plutão que queria aterrissar. Eu fugia do Brasil e do Terceiro Mundo, do carnaval e do futebol, da miséria e do subdesenvolvimento. Henry Miller dizia que os verdadeiros problemas humanos só surgem depois de resolvidos os problemas do estômago. Queria conhecer aquela sociedade onde os problemas do estômago já haviam sido resolvidos.

Fui para não voltar. Estava irritado com o Brasil e desejoso de paraíso. Não que pretendesse abandonar a mulher que adorava. Pensava em levá-la para lá mais tarde, onde viveríamos juntos os verdadeiros problemas da condição humana. Mal cheguei, minha primeira providência foi encontrar um curso de sueco. Verdade que todo sueco fala inglês. Mas meu inglês era escasso. E eu queria falar a língua local.

Mas as razões que nos impelem a viajar nem sempre são as que alegamos como motivo de partida. Conscientemente, eu fugia de um continente militarizado, do Brasil, do samba e da miséria. As gaúchas recém começavam a libertar-se dos preconceitos de Roma, e eu tinha pressa. Sem falar que, na época, o mito sexual por excelência eram as “adoráveis louras nórdicas”. Quando o sol cai por trás dos fiordes, dizia uma atriz, só nos resta ir para casa e fazer amor. É para lá que eu vou, pensou este ingênuo que vos escreve.

Sim, ingênuo. Pois as suecas eram bem mais inacessíveis do que insinuavam os pacotes turísticos. Tanto que minha primeira “sueca”, de sueca nada tinha. Era uma brava cidadã soviética, de Ashkhabad, no Turcomenistão.

Tinha pômulos asiáticos e deles muito se orgulhava. Como língua comum tínhamos o sueco, do qual conhecíamos umas dez palavras. “Jag, vacker” — me confessava Gysel, indicando seu rosto. “Eu, bonita”. Acontece que eu partira em busca das louras vikings. “Du vacker i Ashkhabad”, respondi. “Tu bonita em Ashkhabad”. “Jag, mycket exotisk”, insistia a camarada. “Eu, muito exótica”. Em suma, acabei partilhando do gosto dos Sveas — que assim se chama aquela tribo que erigiu a Suécia — pelos rostos orientais. Gysel casou-se com um sueco. Não que lhe agradassem os branquelas do Norte. Ocorre que faria qualquer sacrifício para jamais voltar a seu universo soviético.

A adorável loura nórdica surgiu bem mais tarde, afinal elas não dão em cachos à beira da estrada, como imaginam os latinos. Encontrei-a em uma festa, num daqueles verões em que o sol jamais se põe e os suecos correm desvairados pelos florestas. A noite não caía, o dia não amanhecia e o vinho jamais findava. Olhando de hoje, vejo tudo como sonho. Naquela noite, corri nu atrás de uma sueca nua, numa noite branca como o dia, pelos bosques dos hiperbóreos. Deve ter sido sonho mesmo. Ou não. Afinal a ela está dedicado este livro.

Se bem me lembro, naquela noite que não era noite, ensinei os nórdicos a dançar samba, logo eu que detesto samba, o que deve dar uma vaga idéia de meu estado etílico. Summa av kardemuma, como dizem os suecos: acabamos coincidindo na mesma cama. Amor? Nada disso, era puro porre. Em todo caso, daquela coincidência — como direi? — quase geográfica, resultou uma cálida amizade que embalou meus dias junto ao Ártico. Lena, a quem eu chamava de Lena Lena — lena significa doce em sueco — iniciou-me nos melhores autores suecos, e a ela devo minha descoberta de Karin Boye e a tradução deKalocain ao brasileiro.

Há viagens e viagens. Conheço não pouca gente que gosta de conhecer culturas primitivas, bugres em estado selvagem. São em geral pessoas que vivem em países civilizados, ou que imitam as que vivem em países civilizados. De minha parte, prefiro a civilização. Não vejo maior encanto em tais viagens. Até já fiz uma. Em dezembro de 1975, estive no Saara argelino, mais precisamente em El Hoggar, onde vaguei por quinze dias pelo deserto, guiado por tuaregues e harratines.

Foi uma viagem fascinante, devo confessar. Nas noites ao relento nas montanhas, tomei um porre de estrelas e quase fiquei surdo com o zumbido estridente do silêncio. Ouvir os tuaregues contando histórias em torno à fogueira, em meio a uma noite gélida, é também algo que não se esquece. Diria que as viagens que mais me encantaram foram esta e mais duas navegando pelos fiordes noruegueses. Mas do Assekrem só me restaram o silêncio das noites geladas, os vultos embuçados dos tuaregues e as silhuetas das montanhas. Nada trouxe da cultura tuaregue, muito menos de sua língua, o tamahak, que já nem a falam.

Quando viajamos à civilização, o legado é outro. Da Suécia, junto om as paisagens nevadas e as noites brancas, trouxe uma língua, trouxe uma cultura distinta, mais um pouco da literatura dos Sveas. Lá, me descobri como escritor. Eu havia lido pelo menos uns quinze livros sobre o país antes de partir. Mal comecei a juntar palavra com palavra com palavra, fui descobrindo um país que não me fora mostrado pelos autores que havia lido.

São estranhos os fatores que nos levam para lá ou para cá. Meus desejos de deserto começaram lá perto do Círculo Polar Ártico. Em um exercício de vocabulário de uma aula de sueco, soube que tinha como colega uma författarina. Isto é, uma escritora. Era uma suissesse elegante e charmosa, e chamava-se Federica de Cesco. (Em 2008, saiu um filme sobre sua vida, Der rote Seidenschal). Quantos livros havia escrito? Ah — me respondeu com certo enfado — mais de cinqüenta.

Fiquei com um pé atrás. Era bastante jovem, mais de cinqüenta livros me parecia um exagero. Nunca havia visto umaförfattarina de perto, muito menos uma que tivesse escrito meia centena de livros. Passei no apartamento dela. Em uns dois metros de estante, ela tinha algumas das traduções de alguns de seus cinqüenta livros. Meu ceticismo caiu por terra. Perguntei qual considerava o mais importante deles.

— Ah! Só escrevo best-sellers. Nada de importante. Mas gosto muito deste aqui.

Passou-me um livro sobre El Hoggar, o país dos homens azuis. Falava da geografia dos tuaregues e harratines que habitam o extremo sul da Argélia. Havia na obra um certo deslumbramento de europeu em visita ao Terceiro Mundo. Mesmo assim, o livro incitava à viagem. O que me espantou naquele momento foi encontrar alguém que vivia de escrever, escrevia muito e não dava importância alguma ao que escrevia. Estava em Estocolmo paga por sua editora, para criar uma novela ambientada em aeroportos internacionais. Federica me deixava pasmo. A ela devo minha opção pela escritura. Se esta moça — pensei com meus botões — escreveu mais de cinqüenta livros e acha que só escreve bobagens, vou escrever pelo menos um, que não considero bobagem. Assim surgiu O Paraíso Sexual Democrata.

Assim surgiu também o tradutor. Para preservar — e testar — meu sueco, mergulhei na tradução de Kallocain, editada pela eBooksBrasil, do infatigável difusor da boa literatura, o Teotonio Simões. O livro havia sido publicado em papel em 74, no Rio de Janeiro, pela Cia. Editora Americana. Mas a edição esgotou rapidamente e hoje a obra de Boye só pode ser encontrada em sebos, e olhe lá! Naquela tarde em que me despedi de Lena Lena em Arlanda, mais uma vez chorando, ela nem desconfiava que estava exportando Karin Boye para o Brasil.

O Paraíso decorre de uma estada em Estocolmo nos anos 71 e 72. Ou seja: do alto deste livro, quatro décadas vos contemplam. A Suécia é um país pequeno, mas dinâmico. Muda rapidamente. Quando lá vivi, as prostitutas eram vistas como uma espécie de assistente social e beber álcool nos bares era proibido. Hoje, quem busca uma prostituta pode ser preso. E o álcool, embora permaneça proibido nos supermercados, é servido em qualquer bar. Estocolmo ficou mais alegre.

O Brasil também mudou. Naqueles anos, até livrinho sueco dava cana cá entre nós. Daí minha insistência em mostrar a pornografia, que era livre na Suécia, e a nonchalance com que os jornais tratavam a temática sexual. Hoje, nestes dias de Internet, até a pornografia decaiu no Brasil.

O livro envelheceu. Mas permanece como uma foto do passado daquela nação boreal.


Janer Cristaldo

Agosto, 2012

  Para ler O Paraiso Sexual Democrático clique!

sábado, 25 de outubro de 2014

Aconteça o que acontecer no domingo

Por Jaison Barreto
Aconteça o que acontecer no domingo, é importante saber que nós teremos que reconstruir os partidos políticos no Brasil.

Isso passa por um doloroso processo de autocrítica. Não basta apenas maquiagem, mais Botox, mais meias medidas, mas participações que procurem restaurar condições de sobrevivência à democracia representativa, que está em jogo neste momento.

A postagem, do que fizemos ainda nos idos de 1979, é um bom exemplo de como colaborar na formação de partidos com um mínimo de homogeneidade, ideologias definidas, para poderem merecer o respeito da opinião pública.

Pouco importa o exemplo lamentável de muitos que se perderam pelos caminhos da indignidade, da corrupção.

Realizamos quatro ou cinco encontros desse tipo, não só em Lages, como em Blumenau, Araranguá etc, construindo um partido que imaginávamos fosse definitivo, o MDB.

Prestem atenção na qualidade dos participantes especiais.

Que cada um faça a sua análise e reconheça que nem sempre os que plantam, conseguem colher, mas é tarefa digna de quem se considera gente de bem.

Fizemos isso sem financiamento público de campanha, fizemos isso sem as mãos no dinheiro da Petrobrás, sem Youssef e debaixo de um regime autoritário, deseducador.

Temos padrão moral para fazermos críticas, cousa que poucos têm condições de fazer.

Trouxemos do exilio, Miguel Arraes, Brizola e tantos outros.

Ajudamos Lula a formatar o seu partido o PT.

Trouxemos o Partido Comunista pra legalidade.

A construção da democracia exige coragem, visão crítica, desprendimento.

Não nos vendemos, não tiramos vantagens nas mudanças, não enriquecemos no dinheiro público.

Temos sempre o mesmo tamanho, o da nossa honradez, e a firmeza das nossas convicções.

Por isso é que vamos votar no Aécio Neves e no Aloysio Nunes Ferreira.

Saudações.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Doleiro entrega os ladrões grandes


Doleiro Yousseff promete entregar à Justiça números de contas secretas do PT em paraísos fiscais
O Planalto sabia de tudo
Por Ricardo Noblat

Os trechos mais quentes da reportagem de VEJA deste fim de semana sobre as confissões à Justiça do doleiro Alberto Youssef, um dos cabeças do esquema de corrupção na Petrobras:

— O Planalto sabia de tudo!
Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado.
Lula e Dilma — respondeu o doleiro.

• Na semana passada ele aumentou de cerca de trinta para cinquenta o número de políticos e autoridades que se valiam da corrupção na Petrobras para financiar suas campanhas eleitorais. Aos investigadores Youssef detalhou seu papel de caixa do esquema, sua rotina de visitas aos gabinetes poderosos no Executivo e no Legislativo para tratar, em bom português, das operações de lavagem de dinheiro sujo obtido em transações tenebrosas na estatal. Cabia a ele expatriar e trazer de volta o dinheiro quando os envolvidos precisassem.

• Entre as muitas outras histórias consideradas convincentes pelos investigadores e que ajudam a determinar a alta posição do doleiro no esquema — e, consequentemente, sua relevância pa­ra a investigação —, estão lembranças de discussões telefônicas entre Lula e Paulo Roberto Costa sobre a ampliação dos “serviços”, antes prestados apenas ao PP, também em benefício do PT e do PMDB.

• “O Vaccari está enterrado”, comentou um dos interrogadores, referindo-se ao que o do­leiro já narrou sobre sua parceria com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. O doleiro se comprometeu a mostrar documentos que comprovam pelo menos dois pagamentos a Vaccari. O dinheiro, desviado dos cofres da Petrobras, teria sido repassado a partir de transações simuladas entre clientes do banco clandestino de Youssef e uma empresa de fachada criada por Vaccari.

• O doleiro preso disse que as provas desses e de outros pagamentos estão guardadas em um arquivo com mais de 10 000 notas fiscais que serão apresentadas por ele como evidências. Nesse tesouro do crime organizado, segundo Youssef, está a prova de uma das revelações mais extraordinárias prometidas por ele, sobre a qual já falou aos investigadores: o número das contas secretas do PT que ele operava em nome do partido em paraísos fiscais. Youssef se comprometeu a dar à PF a localização, o número e os valores das operações que teria feito por instrução da cúpula do PT.

• Youssef dirá que um integrante da ­coor­denação da campanha presidencial do PT que ele conhecia pelo nome de “Felipe” lhe telefonou para marcar um encontro pessoal e adiantou o assunto: repatriar 20 milhões de reais que seriam usados na cam­panha presidencial de Dilma Rousseff. Depois de verificar a origem do telefonema, Youssef marcou o encontro que nunca se concretizou por ele ter se tornado hóspede da Polícia Federal em Curitiba.

domingo, 19 de outubro de 2014

Está na hora de trocar os ladrões


Petistas e tucanos trocam acusações e levam o debate eleitoral a um nível de baixaria só visto na campanha eleitoral de 1989 entre os, hoje aliados, Fernando Collor e Lula da Silva. É o roto falando do descozido.

Impressiona a virulência dos ataques e a baixaria usada pela militância "internética" dos petistas neste final de campanha eleitoral entre Dilma e Aécio Neves.

Mais do que baixaria ou "ódi0 de classe", a forma inusitada de fazer campanha da cumpanheirada mostra um certo desespero frente à possibilidade de perder o poder que tanto tem beneficiado seus áulicos e líderes do núcleo duro, a maioria hoje no presídio da Papuda.


É claro que os tucanos também cometem seus crimes disseminando boatos e repercutindo a virulência. Disfarçam a baixaria com mais classe. Mais educados, com nível cultural mais elevado que o "povo" do PT, a tucanada consegue embeleza os ataques com palavreado empolado, evitando chegar ao rastaquera vocabulário como o usado pelo chefe Lula da Silva no último último comício em Belo Horizonte. Coisa de bagaceira.

Drogados de álcool e outras farinhas todos eles já se apresentaram em manifestações públicas. O "Barba" - como Lula era chamado pelo chefe do Dops paulista com quem colaborava nos tempos da ditadura - vai da cachaça ao Romani Conti e já foi fotografado cambalhante e falando suas idiotices sem travas ou com trava na língua, em vários lugares públicos.

A Dilma teve sua manifestação pública de descontrole com a bebida no exterior, quando foi fotografada aos tombos em uma escapadela clandestina em um restaurante de Portugal, tudo pago com dinheiro público.

Aécio apresenta o melhor prato: estilo playboy da zona sul carioca, o mineiro já foi fotografado várias vezes em situação de embriaguez além de ter sido preso em uma blitz de trânsito e se negado a fazer o teste do bafômetro.

Já tivemos uma troca de ladrões quando Lula substitui Fernando Collor. Foi bom, a grande gama de militantes petistas foi beneficiada com bolsas, empregos fantasmas, aparelhamento do estado e corrupção. Já faz 12 anos que estão mamando. Agora chega a vez do povo tucano e seus apoiadores.

O discurssinho de que "melhorou o social" fica para os militantes fanatizados e tarefeiros a serviço dos dissiminadores de ideologia de porão. Aqui, se discute um outro estame da política. O que realmente faz as mudanças...de gerentes do poder. 

Se discute os que vão gerenciar um cenário já montado e estabelecido pelo capital financeiro internacional. Os que financiam Dilma são os mesmos que financiam Aécio. Aos crentes, o ódio, a defesa impensada e fanática dos privilégios alcançados. Aos tarefeiros internéticos, os mantras receitados pelos Franklin Martins e Gilberto Carvalho.

 Sobre a roubalheira não diferem em nada. Roubar muito ou roubar pouco não torna ninguém menos ladrão. Ladrão de dinheiro público tem que ir para a cadeia e nisso eles se diferencia do povo. O ladrão de galinha, esse, o pequeno, vai em cana, eles não. Eles disputam as presidências.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cuidado com os traíras

“Mensagem Psicografada”.


Por Jaison Barreto

“Aécio,
Estamos aqui, eu Ulysses, teu avô Tancredo e o Miguel Arraes, conversando sobre os problemas que afligem o Brasil.

Estamos acompanhando a tua campanha. Parabéns! Continue assim.

Nós três, com posições políticas aparentemente diferentes, entendemos da necessidade de alguém, que possa, dialogando, encontrar um caminho melhor para o Brasil do que essa vergonheira, que desacreditou as instituições, a democracia representativa, frustrou as esperanças da maioria da nossa gente, nos apequena perante o mundo e nega tudo aquilo que foi escrito por gente da maior categoria moral e ética.

Você esta preparado pra representar esse papel!

Tenha a grandeza, já que está representando àqueles que realmente foram oposição a esse governo. Tenha respeito também nesse segundo turno àqueles que embora discordando no primeiro, se convenceram da necessidade das mudanças verdadeiras, da recuperação da política brasileira, da democracia representativa, do papel do político, do papel da participação popular, das mudanças que o Brasil exige.

Seja generoso com aqueles que com dignidade e respeito estão a mudar de posição, por reconhecerem no teu recado, na tua mensagem, a tua sinceridade de propósitos.

Assim que se prática democracia, diálogo inteligente e entendimento correto, digno, decente, de homens de bem.

Permita-me fazer um alerta.

Cuidado com as ratazanas que abandonam o barco logo que pressentem o naufrágio, em especial traíras reincidentes.

Quando candidato à Presidente da Republica em 89, fui vítima deles, fui o sétimo colocado. Me abandonaram, em especial aí em Santa Catarina.

Muitos usam até hoje o meu nome, de maneira indevida.

Não guardei mágoas, mas tenho a obrigação de te alertar.

Eles têm caráter de Judas.

Respeite os corretos, eles existem.

Se tiver dúvidas quanto ao que fizeram comigo em 1989, pergunte ao Serra como o trataram no segundo turno da eleição contra o Lula. Doze dias antes do final, mudaram de lado com argumentos ridículos.

São traíras reincidentes. Encontram sempre razões, as mais diversas pra justificar a traição.

Não se esqueça de fazer um agradecimento especial ao povo Catarinense, que detonou o monstrengo de uma tal de “TRIPLICE ALIANÇA” que contaminava até gente do teu partido, o PSDB.

Esta eleição vai ajudar Santa Catarina a se livrar destas alianças esdrúxulas.

Saiba que estamos falando também com o Brizola, com o Franco Montoro, com Marcos Freire, com Alencar Furtado, com o Mario Covas, com o pessoal todo do antigo MDB, com os antigos e verdadeiros peemedebistas para ajudarem a mudar o Brasil de hoje.

Um abraço.

Ulysses Guimarães”

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A reunião secreta dos Dilmistas em Lages

   Um encontro de prefeitos da Serra Catarinense convocado pelo governador Raimundo Colombo, sexta-feira passada em Lages, teve um acontecimento inusitado: os convidados, ao chegarem na portaria, eram obrigados a deixar seus telefones celulares em um saco plástico, que depois foi grampeado com toda a segurança.

   A reunião que tinha como objetivo aparente motivar a "indiada" a buscar votos para a candidata Dilma do PT, acabou transpirando suspeita de que a motivação seria outra. Secreta e escondida da população. 

   Ao proibir a entrada de celulares na dita reunião, os organizadores parece que estavam se precavendo contra futuros vazamento (gravações), ao estilo Petrolão, de gravações que poderiam denunciar o real motivo do encontro.

   O que de tão secreto escondiam os Dilmistas em Lages?

Informação original do blog do Edson Varela.

domingo, 12 de outubro de 2014

O oportunismo de Luiz Henrique

   O colunista Moacir Pereira publicou hoje que o senador Luiz Henrique da Silveira não vai mais apoiar a candidatas Dilma do PT neste segundo turno.
   Segundo Moacir Pereira, em sua coluna no DC, LHS "recolheu-se depois das eleições de primeiro turno para avaliar o resultado e definir a campanha presidencial no Estado. Pelas informações que transmite a correligionários e assessores, Luiz Henrique não apoiará a presidente Dilma Rousseff".
   Luiz Henrique, como fazem sempre os peemedebistas, justifica a decisão com o "apelo!" das bases e ideranças do partido que segundo ele sõ adversários históricos em Joinville e outros municípios de SC, do PT de Dilma.
   No primeiros turno este argumento sequer foi levantado. O senador não ouviu as bases no primeiro turno e poiou Dilma. Agora jogou a "presidenta" na bacia das almas.
   O comportamento oportunista de Luiz Henrique da Silveira indica que ele teria informações previlegiadas que dariam vitória a Aécio Neves neste segundo turno.
   LHS justifica a mudança de candidato com o "apelo" das bases partidárias que, convenientemente no primeiro turno não ouviu!
Carinha...

Passeio literário


   Luiz Octavio Gallotti, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, "ciceroneado" pelo editor Nelson Rolim em andanças por livrarias do centro de Florianópolis.

   Cliente assíduo da Editora Insular, Gallotti é estudioso da Guerra do Contestado, considerada um dos três maiores conflitos sociais da história da humanidade.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Convite à insubmissão...

 
Recebo, agora, em primeira mão, Discípulos de Ninguém - um convite à insubmissão. Último trabalho do poeta, escritor e viking imortal, Olsen Jr.
   
   Foi seu primeiro romance, escrito em 1982, e último a ser publicado. Segundo Olsen, o trabalho versa sobre as escolhas que os homens fazem na vida, e define o livro como "o preço da liberdade".

Chico Mu Mu surfa sua última onda!

   Lamentável a morte do empresário e surfista Chico Mu Mu, do Campeche, esta manhã. Chico teve um mal súbito enquanto surfava uma onda no Caldeirão, praia do Morro das Pedras.

  Figura humana formidável, querido e atuante na comunidade, Chico Mu Mu era um grande incentivador do esporte, tinha 53 anos.

   Apaixonado pelo mar e pelo esporte, Chico surfou hoje a sua última grande onda. Deixa saudades. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Escândalo da Petrobrás: OUÇA O ÁUDIO DO DEPOIMENTO DE COSTA À JUSTIÇA FEDERAL

Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa revela que dinheiro dos contratos de produção, gás e energia ‘iam diretamente para o PT’ por meio do tesoureiro João Vaccari

Por Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, afirmou à Justiça Federal que o PT ficava com 3% sobre o valor dos contratos da estatal. “Todos sabiam que tinha um porcentual dos contratos da área de abastecimento. Dos 3%, 2% eram para atender ao PT através da diretoria de Serviços.”
“Outras diretorias como gás e energia e produção também eram PT”, declarou o ex-diretor da Petrobrás. “Então, tinha PT na diretoria de produção, gás e energia e na área de serviços. O comentário que pautava a companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT.”
“O que rezava dentro da companhia era que esse valor integral (3%) ia para o PT”, afirmou Costa. Ele acusou diretamente o tesoureiro do PT, João Vaccari, ao ser questionado sobre quem fazia a entrega ou a distribuição da propina ao partido do governo. “Dentro do PT (o contato) do diretor de serviços era com o tesoureiro do PT, sr. João Vaccari, a ligação era diretamente com ele.”
Ele disse que a diretoria Internacional tinha indicação do PMDB. “Então, tinha indicação do PMDB, então tinha também recursos que eram repassados para o PMDB na diretoria Internacional.”
Questionado se recebia parte desses valores da corrupção, Costa confessou. “Sim, em valores médios o que acontecia. Do 1% para o PP, em média 60% ia para o partido, 20% para despesas às vezes de emissão de nota fiscal e para envio e 20% restantes eram repassados assim, 70% para mim e 30% para o Janene ou Alberto Youssef.”
“Eu recebia em espécie normalmente na minha casa, ou no shopping ou no escritório, depois que abri a minha companhia de consultoria”, declarou. Segundo ele, quem fazia a entrega do dinheiro era Janene ou Youssef.
Sobre a propina para o PMDB. “O PMDB era da diretoria Internacional, o nome é Fernando Soares, o Fernando Baiano, ele fazia a articulação.”
Costa afirmou ainda que recebeu R$ 500 mil em dinheiro vivo das mãos do presidente da Transpetro, Sergio Machado. ”Na Transpetro houve alguns casos de repasses para políticos, sim. Eu recebi uma parcela da Transpetro, se não me engano R$ 500 mil.”
“Quem pagou?”, perguntou o juiz Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Lava Jato.
“O presidente Sergio Machado.”
“Quando?”
“Datas talvez eu tenha dificuldade de lembrar. São muitas, 2009 ou 2010, acho eu por aí. Recebi em uma única oportunidade.”
“Qual o motivo?”
“Foi devido à contratação de alguns navios. Essa contratação tinha que passar pela diretoria de Abastecimento, contratação de navios pela Transpetro. Esse valor foi entregue diretamente por ele no apartamento dele (Machado) no Rio.”
OUÇA O ÁUDIO DO DEPOIMENTO DE COSTA À JUSTIÇA FEDERAL (A PEDIDO DOS ADVOGADOS, COSTA NÃO FOI FILMADO)





Indicações.  Paulo Roberto Costa afirmou que todas as diretorias da Petrobrás são ocupadas por indicações políticas. Ele disse que foi indicado, em 2004, pelo então deputado José Janene, do PP – Janene, réu do mensalão do PT, morreu em 2010.
Segundo Costa, desde o governo José Sarney (1985/1989) as indicações políticas são rotineiras na Petrobrás. Ele confirmou ainda que todos os diretores da estatal, bem como os presidentes da empresa José Eduardo Dutra, na época em que ele entrou na diretoria de Abastecimento (2004), e José Sergio Gabrielli, que assumiu a presidência da estatal em 2005, sabiam de sua indicação política.
COM A PALAVRA, A DEFESA:
Em nota divulgada na quarta-feira, 8, a Transpetro rechaçou as acusações feitas por Paulo Roberto Costa. Veja abaixo a íntegra da nota:
“O presidente da Transpetro, Sergio Machado, nega com veemência as afirmações atribuídas ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Trata-se de uma afirmação absurda e falsa. Machado está indignado com a divulgação do suposto conteúdo de um depoimento dado a portas fechadas e sobre o qual não se tem nenhuma informação oficial. Tomará todas as providências cabíveis para restabelecer a verdade e defender sua honra, processando judicialmente quem quer que seja na defesa da Transpetro. Ressalta ainda a sua estranheza com o fato desse vazamento ter ocorrido no meio do processo eleitoral.
Sergio Machado jamais foi processado pelo Ministério Público ou por qualquer outra autoridade brasileira em decorrência de seus atos ao longo de 30 anos de vida pública.”

O Brasil é um país de ladrões, aparentemente


   Por Leal Roubão

   Na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, o preço do voto era de R$ 50,00.
   
   Havia comprador para quem quisesse vender. Nesse cálculo, para chegar aos 30 mil votos e tentar uma cadeira na Assembléia Legislativa, era preciso R$ 1.500.000,00.
   Como nunca se sabe se o vendedor vai "honrar" o contrato de compra e venda, os interessados compram 60 mil votos, esperando chegar nos 30 mil. Neste caso a conta vai para R$ 3.000.000,00. Foi por isto, talvez, que o deputado Andrino desistiu de uma reeleição e declarou aos jornais que era preciso entre R$ 2 e R$ 3 milhões para uma campanha bem sucedida.
   Se o candidato tem uma boa imagem junto à opinião pública, um curriculum vitae sólido, serviços prestados e um bom discurso, pode conseguir 15 mil votos e entrar.
   Depende da sua coligação. E gasta apenas o material de gráfica e alguns litros de gasolina.
   Agora, o candidato que faz mais de 100 mil votos, isolado na frente, sem grandes serviços prestados, sem conteúdo, sem talentos e sem méritos; só se for no "esquemão" e com R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais).
   É preciso ter muito amor à pátria para gastar essa grana em prol do povo

Tragédia anunciada!


  Há três semanas um caminhão puxou o cabo de fibra óptica pendurado nos postes da CELESC no Balneário dos Açores, Pântano do Sul, na Avenida Central do bairro.
   Moradores ligaram para o 190, 198, Plantão Celesc e NetTV. Um empurra para o outro. 

   Todos registram a ocorrência e informam o protocolo. A PM 190 diz só pode sinalizar e não põe a mão no fio pois não é da sua competência. A Polícia Rodoviária Estadual 198 diz que não é com ela. A CELESC também. A NetTV só faz a ocorrência.
   Hoje o fio caiu, bateu no chão. Está pronto para causar o acidente fatal. Vai derrubar postes e mais algumas coisas. Todas as conversas foram gravadas "para sua segurança". 

  Ninguém, ainda, fez nada. Este é o Brasil.

ANALFABETISMO


   Por Emanuel Medeiros Vieira

   A Bahia – entre outras– gerou figuras da estirpe de um Castro Alves, de um Anísio Teixeira, de um Gláuber Rocha.

   Foi vítima, no passado, de um coronelismo à base do chicote. Agora, é vitima de outro.

   Os métodos? Manipulação das carências materiais e de conhecimento, da falta de informação, da ignorância, da miséria e de outros fatores.

   E da derrama de dinheiro no dia das eleições (em todo o Nordeste).

   Informa-se que 50% da população baiana recebe o Bolsa-Família.

   O número de eleitores baianos analfabetos ou analfabetos funcionais, aqueles que apenas lêem e escrevem o mínimo possível – conforme matéria de jornal baiano –, pode ser bem maior do que se pensa.

   Numa amostra feita pelo referido jornal com dados de 6 das 30 cidades em que houve recadastramento no ano passado, o percentual dos eleitores com baixíssimo ou nenhum grau de instrução cresceu substancialmente em todos eles.

   O que isso significa?

   Cairei no lugar-comum: que a educação (não a da propaganda eleitoral) não interessa aos poderosos de plantão, mesmo com jargões ideológicos diferentes.

   A crueldade é a mesma. As pessoas de má-fé poderão falar de preconceito. Não é.

   Foi a luta de minha geração por um país melhor. A ignorância nunca foi sinônimo de avanço. Mas de treva.

   O poder pelo poder não é sinônimo de melhoria. É mera cobiça. E de obscurantismo.


(Salvador, outubro de 2014)

MPF processa pousada em Jurerê


Pousada dos Sonhos foi construída sobre área de preservação permanente
   
O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública (ACP) contra a Pousada dos Sonhos, em Jurerê, por dano ambiental à vegetação de restinga local, causado por construções irregulares. As dependências da pousada, que avançam até o início da faixa de areia, situam-se em Área de Preservação Permanente (APP), Área Verde de Lazer (AVL) e terreno de marinha - locais que, por lei, estão protegidas de exploração para fins comerciais. Por omissões na fiscalização e na tomada de medidas para recuperar a área de preservação, a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) e a Prefeitura de Florianópolis também são réus na ação.

   Através da ACP, o MPF cobra a recuperação integral da vegetação nativa na área de preservação, além da demolição das construções que ocupam área verde de lazer. Em caso de descumprimento, será fixada multa diária de no mínimo R$ 1.000 a ser revertida ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.

   O hotel, localizado na Rua Jornalista Haroldo Callado, 25, Jurerê, teve deque de madeira - estendido até o início da faixa de areia -, piscina e praça de alimentação e recreação constrúidos sobre vegetação de restinga, cobrindo e degradando o ecossistema. Casas no entorno obedecem o recuo necessário para preservação, sendo que em uma delas inclusive é feito projeto de recuperação ambiental.

   Uma vistoria do Floram realizada após reclamação popular e inquérito civil público do MPF resultou na emissão, contra a pousada, do Auto de Infração Ambiental n° 9891, em janeiro de 2010. Foi constatada a ocupação de Área de Preservação Permanente, Área Verde de Lazer e terreno de marinha - por estar a menos de 33 metros da faixa da praia -, e a sanção administrativa seria a demolição das obras. Em abrir de 2012, a Fundação Municipal do Meio Ambiente informou que não havia concluído o julgamento do auto de infração e que se comprometia a comunicar o MPF quando o fizesse. O que não aconteceu e indica, no entendimento da Procuradoria, omissão e negligência na resolução da questão e "na tutela do bem coletivo que deveria prezar".

   Áreas com vegetação natural de restinga - seja fixadora de dunas, como é o caso, ou estabilizadora de mangues - são de preservação permanente segundo leis federais e municipais, como o Código Florestal e o Plano Diretor dos Balneários. Construções para fins privados também não são permitidas em Áreas Verde de Lazer e terrenos de marinha, que fazem parte do espaço da pousada.

   A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, n° 6.938/81, responsabiliza por danos causados ao meio ambiente todos os agentes que, direta ou indiretamente, por suas ações ou omissões, criaram, multiplicaram, aumentaram ou potencializaram um dano ambiental.



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Preservação da memória da Aéropostale no Campeche

PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA AÉROPOSTALE NO CAMPECHE-FLORIANÓPOLIS
                                                                                                         
Para: Prefeito César Souza Jr.

O antigo campo de aviação do Campeche (Florianópolis) é um local de memória. A Comunidade do Campeche vem lutando há mais de 30 anos para preservá-lo e transformá-lo num parque cultural temático sobre os primórdios da aviação, da amizade franco-brasileira e daquele que foi seu maior ícone e passava por ali: Antoine de Saint-Exupéry, conhecido em Florianópolis como "Zeperri". Toda a história do bairro e a memória de sua gente gira em torno desse grande episódio. O terreno está ameaçado de repartição aleatória com a inserção, pela Prefeitura de Florianópolis, de um centro de saúde desnecessário porque seria o quarto estabelecimento do tipo num perímetro de 4km.E compromete a realização do sonho de parque cultural da Comunidade. Esta petição é pela preservação da área, passível de tombamento pela UNESCO como patrimônio universal, sem a construção do centro de saúde naquele local.

L'ancien terrain d'aviation du Campeche (Florianópolis) est un lieu de mémoire de l'Aéropostale. La Communauté du Campeche lutte pour sa préservation depuis plus de 30 ans ; on veut le préserver et le transformer en parc culturel thématique sur les pionniers de l'aviaiton, de l'amitié franco-brésilienne et de son plus grand îcone: Antoine de Saint-Exupéry, connu comme "Zeperri" chez les îliens. Toute l'histoire du quartier et la mémoire des habitans est autour de cette grande aventure. Le terrain est ménacé d'être divisé et la Mairie de Florianópolis veut y installer un centre de santé qui touche son intégrité. Cette construction n'est pas necéssaire, il y a 3 centres de santé dans la région, dans 4 km. Il faut sauver le rêve de la Communauté et son parc culturel. Cette pétition est pour la préservation de l'ancien aérodrome.

ASSINAR Abaixo-Assinado

Comentário: 
Canga, 
Não sei por que não caberiam edifícios de interesse comunitário naquela grande área. 
Se veres que no Central Park tem o Metropolitan Museum e outros edifícios de interesse, no Ibirapuera tem o Edifício das Bienais e mais dois espaços (a Oca e o outro edifício do museu em forma trapezoidal) e em diversos outros parques existem edifícios que não interferem, muito pelo contrário, atraem gente (vida) para a região. 
Aquela área, pela grandeza dimensional, pode e deve ter outros atrativos além dos ligados a aviação e receber serviços que a comunidade merece e que sem isso será mais difícil obter terrenos (como se estivesse sobrando dinheiro para o parque e para os centros de saúde e creche) e se conseguirem será distante do "centro" do Campeche. 
Haja tema de aviação para encher aquela área enorme.
Essa é a minha opinião (e tenho certeza, de muitos)
Um abraço 

Gato

ATROPELADOS

Ilustração cangablog
  Por José Casado (O Glogo)

   Um sentimento de perplexidade prevalece na cúpula do Partido dos Trabalhadores desde a noite de domingo. Em Brasília, por exemplo, os convidados para a celebração do triunfo de Dilma Rousseff (com 43,2 milhões de votos) acabaram figurantes de um pálido festejo.

Rouca, a presidente-candidata anunciou o plano de campanha para os próximos 20 dias: “O povo dirá que não quer os fantasmas do passado, como recessão, arrocho, desemprego (...) Não queremos de volta os que trouxeram o racionamento de energia, que tentaram incluir no processo de privatização a Petrobras, as empresas do setor elétrico, como Furnas, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica.”
É a renovada aposta num antigo receituário da política: qualquer coisa pode virar uma verdade, desde que mais de uma pessoa acredite.

Reflete a drástica mudança no humor petista depois de 12 anos no poder. Dissipou-se o tom de leveza e autojúbilo, permeado pela soberba da crença de que só ao PT cabe o papel de condutor da “mudança do Brasil”.

A raiz dessa comoção vai além da recuperação de Aécio Neves (34,9 milhões de votos), num esforço tão exuberante quanto solitário. Ou mesmo da resiliência de Marina Silva (22,1 milhões de votos) em sete semanas com dois minutos de propaganda no rádio e televisão, sob forte bombardeio em outros 15 minutos. O abalo petista tem mais a ver com o comportamento do eleitorado no Sudeste, especialmente em São Paulo, onde Lula surgiu, criou e consolidou o mais organizado partido político brasileiro.

Um mês atrás, na madrugada de sábado 6 de setembro, Lula mandou acordar dirigentes do PT. Na reunião improvisada, Lula desabafou seu “desentendimento” sobre o rumo da eleição. Fora a um comício em São José dos Campos, na hora de saída dos trabalhadores, e só encontrou meia praça cheia. Em outro, na porta 35 da Ford, em São Bernardo do Campo, a plateia não somou uma centena de pessoas.

“As pessoas podem, e devemos admitir, que não concordem com a gente ideologicamente”, disse. “O que não podemos aceitar é sermos tratados como segunda classe. Porque foi a partir do nosso partido que começou a mudar a história da administração pública nesse país.”
Acrescentou: “Vamos ter que fazer procissão, suar a camisa e discutir com aquelas pessoas que ousam duvidar da gente.” Wagner Freitas, presidente da CUT, emendou: “Não é possível, depois de 12 anos de trabalho exitoso, não ter resposta a essa direita ultrapassada.”

O mapa de votação de Dilma Rousseff mostra que o PT acabou atropelado no seu núcleo, o “cinturão” operário. Perdeu na capital (com 20,6% dos votos), em Santo André (27,6%), São Bernardo (32,7%), São Caetano (14,9%), São José (21,4%), Santos (20,1%), Campinas (25,7%) e Ribeirão Preto (20,7%).

Lula, Dilma e o PT assustaram-se porque 57 milhões “ousaram duvidar” de suas propostas, preferindo as de Aécio e Marina. Porém, o eleitorado que dizimou a bancada petista em Pernambuco, os premiou com os governos de Minas e Bahia, maioria de até 70% no Nordeste e a liderança na chegada ao segundo turno.

Agora, na encruzilhada, precisam optar entre a reinvenção da presidente-candidata e o velho receituário, que estabelece como missão a reforma do país sob critérios exclusivos do PT, não importando os desejos do eleitorado. 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Os resultados das eleições em SC

Por Leal Roubão*   

Aécio Neves é o grande vitorioso neste estado catarina. Virou o jogo de forma surpreendente. Ou já estava virado e as pesquisas dissimulavam os números.
Dário Berger, com apoio da máquina do PMDB, é outro vitorioso. Tem um caminhão de votos e outro de processos.
Esperidião Amin, sem mídia e isolado venceu os obstáculos e saiu em primeiro lugar na lista de deputados federais. É o líder da oposição.
Colombo, sem opositor, levou no primeiro turno com aquela cara de João Bonachão. Ele ri, ele chora, ele engana e o povo gosta. Agora vamos ver o Colombo e o PMDB apoiando a Dilma do PT. Ou não?

Merísio teve a campanha mais bem estruturada financeiramente. Entendem?

Em Joinville, o Paulo Bornhausen venceu o Dário Berger por 26 mil votos. O LHS apostou nos dois candidatos.


O que mostrou o resultado das eleições

Por Armando José d’Acampora *

Numa democracia, o que vale é a vontade do povo. Em última análise, o voto. É a grande responsabilidade do povo como conjunto: escolher com serenidade seus representantes.
Alguns não levam a sério o voto e votam em qualquer um que lhes acene com alguma promessa, mesmo que seja vã. E eleição tem mais promessa que dia de Santo Antonio, aquele que o povo diz casadoiro.
Aos esperançosos de que as promessas sejam rigorosamente cumpridas, os meus parabéns, pois por mais otimista que eu seja, o ano vindouro, 2015, independentemente de quem seja o governante, federal, estadual ou municipal, será um ano amargo. A conta da energia já está mostrando, após uma primeira alteração, que ajustes não realizados serão necessários, assim como na gasolina, álcool e diesel abrindo a cascata dos reajustes dos transportes e consequentemente, dos alimentos e tudo o mais. Há uma demanda de preços reprimida durante todo esse ano eleitoral. Agora virá a cobrança, com os juros de mora e a óbvia correção da inflação que continua avançando, e quem paga são os democratas, na decorrência de um ato praticado pelo voto de quatro anos antes.
O povo catarinense espera, certamente, que no natal do ano que vem, surja no Senado Federal uma grande árvore de Natal. Só não sabe ainda, quem será contratado para cantar. Quem sabe o amigo italiano volte para, finalmente, encantar por aqui.
O candidato ao governo foi mais experto que o povo. Acho que há ali, no governador, alguma ancestralidade mineira. Ficou mocosado e assim permaneceu. Em lugar de se aproximar do governo federal, se afastou, sabedor que esta legenda não se cria com muita facilidade neste estado. Tanto é assim que a bancada do Partido dos vermelhos, diminuiu de tamanho.
A maior parte da nossa população é azul, do Amin e do Aécio e as urnas demonstram que cor queremos.
  

* Médico, Cirurgião, Professor Universitário