domingo, 31 de agosto de 2014

Do Milton Ostetto


"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero"
(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Rabo de foguete

   Por Leal Roubão*

   Desconfiam os entendidos que o avião em que estava Eduardo Campos pertencia aos usineiros do PFL. Neste caso, Marina Silva está em apuros, pois precisará de outras fontes para viabilizar uma nova avioneta. Afora a documentação da aeronave, Marina dispara como um foguete neste início de campanha. Tentam colocá-la em cheque com a questão do Banco Central atrelado ou independente do governo. Marina não brinca em serviço, pois sabe que o BACEN não emite talão de cheques. Logo...
   Não há duvidas de que ela conseguiu quebrar mais um paradigma. Acabou com a dualidade doentia entre PT e PSDB, dois partidos-governos que não tocaram na questão dos juros da dívida interna, cujo montante chega a R$ 250 bilhões anuais e que sangra a nação brasileira.
   Bancos não vendem bananas ou toalhas. Vendem dinheiro. E quando o governo passa a ser o maior comprador, os juros vão à estratosfera.
   Dívidas (interna ou externa), pobreza e degradação ambiental fazem parte de um mesmo diagnóstico. Quem deve não pode se desenvolver, não pode estancar a pobreza e não tem recursos para cuidar de seus jardins ou florestas. O patrimônio ambiental e humano é colocado a serviço do pagamento das dívidas. É assim numa família de agricultores, é assim numa sociedade endividada.
   Parece que Marina está conseguindo mostrar ao povo brasileiro a tênue ligação entre economia e ecologia. Não sabemos como agiria numa eventual vitória, mas sabemos que ela conhece (ainda que intuitivamente) as consequências da submissão da ecologia à economia.
   Aristóteles, em A POLÍTICA, ensina textualmente: Sempre que houver superpopulação haverá pobreza. E as consequências da pobreza são dissensão cívica e violência de todas as formas.
   Quando imaginava o conceito de superpopulação, evidentemente não pensava nos atuais sete bilhões de humanos no planeta. Mas, um excesso de gente em qualquer espaço natural incapaz de acomodar as pessoas com harmonia, habitação, alimentação, trabalho, educação e lazer.
   Parte da direita brasileira que apostou em Eduardo Campos, continua com Marina da Silva porque precisa dela para o segundo turno. Imaginavam que daria Aécio e Dilma na final.
   O problema é que o caroço ficou maior do que o abacate, como diria o Doutel de Andrade.    Agora, a coisa pode complicar. Marina da Silva adquiriu personalidade política própria e robusta.
   Vamos ver no que vai dar...


A DEGOLA

O GIGANTE TREME
RBS DEMITE 145 SÓ EM AGOSTO












Cortes foram anunciados pelo presidente do grupo, Eduardo Sirotsky Melzer, 48 horas antes da degola. Funcionários viveram dois dias de terror até sair o listão dos demitidos

   Agosto foi um mês para ficar na história da RBS. No dia 6, uma quarta-feira, o grupo gaúcho demitiu em massa 130 funcionários de suas empresas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Poucos dias depois, fez uma limpa no portal Terra e mandou pra rua mais 15 trabalhadores. E em novembro deve repetir a dose: mais 120 integrantes da “família RBS” recebem o cartão vermelho.

   A demissão de mais de 250 trabalhadores só no segundo semestre deste ano é um forte indício de que a maior empresa de comunicação do Sul do país já não navega em mar de almirante. A RBS precisa reduzir despesas, fazer caixa para enfrentar a queda de tiragem nos vários jornais do grupo.

   Como a palavra de ordem é cortar custos, a degola ceifou as cabeças que tinham os maiores salários. Em Santa Catarina, foram mandados embora os editor-chefe do Diário Catarinense, Ricardo Stefanelli, e a editora de Geral, Sicilia Vechi; o editor-chefe do Hora de Santa Catarina, Sérgio Negrão, que estava no grupo há 7 anos e 5 meses, e o editor assistente André Pinheiro; o gerente executivo das rádios no Estado, Gabriel Fiori, além de demissões na reportagem e arte nos jornais A Notícia, de Joinville, e Jornal de Santa Catarina, de Blumenau.

   Diário gaúcho

   No Rio Grande do Sul foram demitidos Alexandre Bach, editor-chefe do Diário Gaúcho, e André Feltes, editor de Fotografia do jornal. Em Caxias do Sul, caiu o editor de Cidades do Pioneiro, Clever Moreira. Em Brasília, o editor-chefe da sucursal, Klécio Santos. A RBS demitiu ainda 45 jornaleiros e pessoal da área administrativa em todas as cidades onde o grupo tem jornais. No Zero Hora, jornal que é a vitrine nacional da RBS, os cortes já vinham acontecendo em dose homeopática há vários meses, com demissões toda semana.     

   Também foram desligados o diretor comercial Eduardo Gerchmann; o diretor gerente executivo da Tvcom, Marcos Gomes, e o coordenador de produto José Pedro Villalobos; e outros profissionais como Karina Chaves, Maysa Bonissoni e Daniela Azeredo. O portal Terra, também do grupo, demitiu toda a redação de Porto Alegre poucos dias depois da grande degola, e juntou mais 15 jornalistas aos 130 funcionários dispensados.

   Foi a primeira vez que a RBS praticou o que está sendo chamando pelos corredores da empresa de “morte anunciada”, porque os 6 mil funcionários ficaram sabendo que 130 seriam demitidos com 48 horas de antecedência (dia 4/8), pelo próprio presidente do grupo, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, que enviou carta a todos os funcionários. O presidente da RBS proporcionou aos seus empregados dois dias de agonia, até sair o listão dos degolados (dia 6/8).

   Vejam o que o Duda disse na carta, logo numa segunda-feira: “Teremos uma semana intensa pela frente, pois na quarta-feira faremos cerca de 130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas, com o objetivo de buscar produtividade e maior eficiência. São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação dos jornais”.

   Mas a empresa nega que as demissões sejam o prenúncio de uma grave crise na RBS. “É importante destacar que a RBS não passa por uma crise financeira. Ao contrário. Estamos investindo e redesenhando a nossa operação, buscando velocidade e desprendimento que são vitais para a preservação do nosso projeto empresarial”, disse Duda.

   Tem mais, muito mais. Leia reportagem completa no Bom Dia Floripa.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Leal Roubão é inocente, diz TRE/SC.

A Corte de Justiça eleitoral de Santa Catarina decidiu por unanimidade não acatar acusações de anonimato, ofensa, calúnia e difamação feita pelos políticos Eduardo Pinho Moreira (atual vice governador) e Dário Elias Berger, candidato ao senado pelo PMDB ao jornalista Leal Roubão, contratado pelo Cangablog para cobrir as eleições de 2014 em SC e no Brasil.

 Leal Roubão: "eu existo, sim"
   Segundo o Juiz relator do processo, Fernando Vieira Luiz, "O uso de pseudônimo associado ao nome do autor da publicação na internet não caracteriza o anonimato.
   As críticas ácidas e em tom jocoso sobre candidatos, publicadas na internet, constituem propaganda eleitoral negativa. Todavia, não havendo ofensas, injúrias, calúnias ou difamações - elementos que não são tolerados pela legislação eleitoral - , não cabe a essa justiça especializada censurar jornalistas e internautas no exercício de sua livre expressão, durante o período autorizado para a veiculação dessa modalidade de propaganda.
   Não se pode pressupor a existência de um pleito eleitoral harmonioso, em ambiente completamente asséptico, caracterizado por linguagem elegante, com troca de gentilezas entre os adversários e no qual os candidatos possam apresentar suas ideias e propostas completamente imunes a qualquer crítica.
   "É preciso prestigiar a liberdade de crítica, dosando adequadamente a intervenção da Justiça Eleitoral a cada caso judicializado, para manter o pleito livre de influências que efetivamente possam ocasionar o desequilíbrio entre os candidatos. É tênue a linha do equilíbrio entre a intervenção judicial e a censura nas eleições, que pode ser nociva à democracia na exata medida em que se corre o risco de cercear o livre exercício da crítica válida, espécie do gênero liberdade de expressão, garantia individual e coletiva amplamente consagrada na Constituição Federal de 1988". 

   Para ler a matéria que suscitou o processo dos políticos contra o Cangablog e seu jornalista contratado clic no link abaixo:

Imprensa européia comemora decisão do TRE/SC no caso Leal Roubão.

Humphrey Bogart grava mensagem de apoio ao jornalista Leal Roubão.



Escola prepara samba em homenagem a Leal Roubão. 





TRUCO !
















Para cobrir as eleições presidenciais, a Agência Pública preparou o projeto Truco!, que se dedica a checar as informações veiculadas pelos candidatos no horário eleitoral da TV. Três vezes por semana, após os programas irem ao ar, publicaremos nossas checagens.

Truco!
“(Somos) O país que vem realizando um dos maiores conjuntos de obras de infraestrutura do mundo, e o maior de sua história” – programa de Dilma.

Perguntamos à campanha de Dilma Rousseff:- Quais dados foram utilizados como base para essa afirmação?
- Como foi feita a comparação com investimentos em infraestrutura em outros períodos da história brasileira?
- E com outros países?

A campanha da candidata Dilma respondeu ao nosso truco no dia 21 de agosto. 
"Todas as informações divulgadas no Programa Eleitoral de TV da candidata Dilma Rousseff foram levantas junto a órgãos oficiais, institutos de pesquisa e organismos internacionais. Sobre as ações e obras realizadas no governo Dilma, você pode obter informações no Programa de Governo disponível no site www.dilma.com.br"
Consideramos a resposta vaga e pedimos Seis!, ou seja, novamente pedimos que o comitê da campanha diga de onde tirou os dados do programa eleitoral.
   
Blefe!

  “Os empregos começam a desaparecer” – Aécio Neves

Ao contrário do que o candidato Aécio Neves (PSDB) afirmou em seu programa eleitoral, os empregos não estão desaparecendo no país.

Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a taxa de desemprego total em 2013 foi de 10,3%, ante 10,4%, em 2012, e 10,3%, em 2011. Ou seja, não houve oscilação significativa nos números de desemprego do Brasil.

O que há, de fato, é queda na geração de novos empregos. No primeiro semestre de 2011, primeiro ano do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), foram gerados 1,4 milhão de postos de trabalho enquanto apenas 588,6 mil vagas foram criadas no mesmo período de 2014. Os dados são do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego.


   Leia o confronto dos discursos com a realidade na Pública.

   Entenda o Truco!: http://apublica.org/truco

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eleições! Ah eleições!


   Por Armando José d’Acampora *
   Muito interessante essa época aonde ocorrem as eleições.

   O país terá o maior canteiro de obras do mundo. Isto já não nos foi dito antes, há 12 anos passados?

   Faz doze anos que espero a transposição do Rio São Francisco, a maior obra do mundo.

   É impressionante. Tudo aqui é o maior do mundo. Mas não vejo o maior desenvolvimento do mundo, num país onde os cérebros privilegiados vão trabalhar na América do Norte ou na Europa.

   Eu vou trabalhar pela segurança. Isto não nos é dito em todas as eleições? Assim como, eu vou trabalhar pela saúde e pela educação?

   Hoje temos no país 75% de analfabetos funcionais, uma fila para atendimentos médicos infinda, e uma segurança virtual e duvidosa, com uma taxa de homicídios que em países desenvolvidos seria considerada uma epidemia.

   Pelo visto todos irão trabalhar pelo que já prometeram trabalhar em eleições anteriores, mas a saúde, a educação e a segurança, continuam piores do que estavam nos 12 anos anteriores. As crianças não conseguem creches, os pacientes não tem acesso aos médicos e os furtos, roubos e a violência de modo geral, aumentou.

   Vou lutar contra a corrupção? Ótimo, mas corrupção de quem? Pois isso parece a praga dos 20%. Acho que estão baseados na Corôa Portuguesa que cobrava o quinto, os 20% de todo o ouro que era produzido aqui e que, obrigatoriamente, deveria ser enviado para a Corôa. Dai surgiu o jeitinho brasileiro, como o santo do pau ôco, ou o que era para inglês ver. Agora o quinto é enviado para contas fora do país, portanto continuamos exportando o quinto.

   Quem mesmo disse que ia trabalhar para diminuir tudo isso?

   Os mesmos que agora se comprometem no horário eleitoral a refazer o que já prometeram e não cumpriram. Não houve melhora de nada. Continuamos corruptos, analfabetos, sem saúde e vulneráveis aos bandidos.

   Sou oposição e falo mal de tudo que ai está. Ótimo. Mas e nos últimos quatro anos, aonde estava esta oposição que só aparece agora? Quais os posicionamentos desta fantasiosa oposição que frutificaram nos últimos quatro anos?

   Por que, nos últimos quatro anos, não realizaram o que já prometeram e agora estão de novo a prometer, exatamente as mesmas atitudes de promessa de antes e que agora se repetem?

   Como sou adepto da alternância de poder e não concordo com a reeleição, sugiro que se mude tudo. Do maior ao menor. Nenhum daqueles que lá já estão, devem permanecer na mesma posição, e que, do meu ponto de vista, não deveriam ser reeleitos. Com uma ressalva: o mérito.

   Devemos optar por aqueles que realmente, embora derrotados, lutaram por nós, por esse povo que paga 40% do PIB de imposto, mas que muitos dos nossos políticos não estão preocupados com esse absurdo que é a cobrança de imposto em nosso pais, no nosso Estado e município. Vide ICMS, IPTU, ISS e uma sopa de letrinhas tão grande que eu não tenho capacidade de memorização para replicar.

   Hoje todos se referem a diminuição dos impostos. O que fizeram para que isso diminuísse nos últimos 12 anos? Agora temos 40%, pactuado pelo Congresso Nacional, portanto os políticos estão gastando mais do que gastavam antes. Em que? Não é na melhoria de vida da população.

   Hoje, e alguém já disse isso, portanto não é de minha autoria, pagamos impostos da Suíça, e temos os serviços da África.

   Num país rico como o nosso, isto não é compreensível para qualquer cidadão que consiga pensar.

* Médico, Cirurgião, Professor Universitário

O inverno vai chegando ao Fim...

Do Milton Ostetto


Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidade

E é como se agora este pobre, este único, este efêmero instante do mundo
Estivesse pintado numa tela,
Sempre...

Mario Quintana

Carimbando...

"Marina é a Dilma com baixo teor de calorias"

   Do cantor, compositor, escritor, colunista político e algoz dos petralhas, Lobão.

   

sábado, 23 de agosto de 2014

Os candidatos de frente, de costas e na estrada


   Por Leal Roubão*

   O Paulo Bauer continua enfrentando os problemas de frente. Declarou, novamente, hoje em seu programa. Continua assim Paulo Bauer... enfrenta de frente que é melhor.
  
   O Colombo enfrentou os problemas de trás e olha no que deu: o maior canteiro de obras paradas da história de SC. Parou a obra da Ponte Hercílio Luz, parou a SC - 403 nos Ingleses, parou o novo caminho ao Aeroporto Hercílio Luz. Parou tudo. Até o Colombo vai parar. Entregará o governo ao presidente do Poder Judiciário. E a mentira continua:    

  Colombo diz que não governou no início porque as receitas despencaram em razão da crise mundial. Antes, ele dizia que estava aprendendo a mexer na máquina pública. Passou a vida nela e não havia aprendido ainda? Diz que foi mais de 40 vezes até Brasília, ao Japão e a Coréia. 

   Correu o mundo Raimundo e ao final fez um empréstimo de R$ 7 bilhões de reais com a Dilma. 

   Quem vai pagar? O Celso Ramos?
   
   O Vignatti continua passeando por todos os municípios de SC. Vai começar a campanha quando?


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Amigos e Pescada Branca


 Por Márcio Dison                     (Para Ambrósio Marques)

  Sempre fui um amigo perfeito. Daqueles chiclete, de despertar ódio em namoradas. De sair de casa com chuva, caminhar dois quilômetros, comprar a carne e a cerveja para fazer um churrasco sob um guarda-sol em residência alheia. Tão mão aberta quanto impertinente e por vezes, desleixado com os presentes recebidos dos amigos.

   Aos 25, ganhei o álbum branco dos Beatles mas, como nunca fui fã dos rapazes de Liverpool, deixei o mimo num canto da casa e, a menor falta de dinheiro, empurrei-o à loja de usados do amigo que tinha dado o presente.

   Aos 40, a vingança - recebi o álbum de volta com uma dedicatória com gosto de espinafre. Para não cometer nova gafe, mumifiquei os Beatles no fundo do guarda-roupas. Presentes são marcos que às vezes ficam cravados na memória , partes de histórias que nunca esquecemos.

   Quando ganhei meu primeiro relógio, já em idade adulta , jamais imaginei que um objeto que sempre detestei ficaria tão literalmente gravado em meus pensamentos. Marca Cartier fazia saltar aos olhos a falta de verdade. Usei-o por meses até que, belo dia, um par de mãos operárias entrou em minha casa para usar o banheiro e acabou por surrupiar o presente paterno.

   Há lembrancinhas que se eternizam até o final de nossos dias. Aprender a escrever, por exemplo, envolve presença de cada um de nossos mestres. Devo a uma charmosa mulher chamada Tanira Piacentini e ao gaúcho de Ibirubá Ayrton Kanitz o prazer da escrita. E ao manezinho Cabrinha Brito minha primeira oportunidade para demonstrar uma capacidade latente.

   Sempre fui de poucos amigos. É mesmo complicado tê-los e mantê-los depois que se entra no rol dos homens sérios , quando a família retira teu tempo e é mais urgente ser amigo de uma filha. Os raros amigos que mantenho são medidos em importância pelos presentes que são capazes de dar, contrariando seus medos e ódios, sua idiossincrasias. Fiquei exultante quando recebi uma camisa do Avaí de um amigo Figueirense verde de raiva. Não há maior demonstração de compreensão do que é ser amigo.

   Mas o mais marcante mimo destes anos de vida foi com efeito um peixe. Isto mesmo! Não é brincadeira. Uma pescada branca. Estava na festa junina de uma casa pobre mas cheia de vida na Barra da Sambaqui. Nunca tinha sido algo além de um colega distante, quem sabe um parente às avessas do dono da casa. Mas naquela noite conversamos como nunca. Foram horas em que estreitamos todos os laços que jamais tínhamos conseguido aproximar em muitos anos.

   Num arroubo, ele deixou-me de queixo caído ao voltar do freezer com uma pescada branca de pouco mais de dois quilos na mão. Fiquei boquiaberto. Ensinou-me a ensopá-la. E conversamos por mais algumas horas e nos encontramos por mais algumas vezes até que o coração - esta bomba-relógio que administra nossas vidas - levou meu amigo para um lugar que não sei aonde fica mas tomara seja mais fértil em novos amigos.

   Nunca me despeço dos amigos e, claro, não me despedi dele. Prefiro os encontros que, por raros, precisam ser saboreados como pescadas brancas.

O efeito Marina


   Por Leal Roubão*

   A entrada de Marina Silva no cenário garante duas coisas, de cara: Os Silva continuam representados na política nacional: Luiz Inácio da Silva, Arthur da Costa e Silva e a Marina Silva.
   Silva pode ser relativo a silvestre. As primeiras "encrencas" da nova composição da chapa do PSB são aceitáveis. Mudou a candidata, mudam os assessores mais próximos. Questão de confiança, apenas. Também, no fundo, o agronegócio, base da economia brasileira e fundamental para a alimentação dos sete bilhões de humanos. O que vamos assistir, se a Marina for bem sucedida nos debates é a plataforma alimentar que queremos no Brasil. Transformar florestas em campos de soja e milho para fazer a ração dos suínos, aves e bovinos e assim produzir as carnes (proteína animal) ou diversificar a produção de comida.    Queremos mais agro-tóxicos ou mais orgânicos? Queremos energia solar no Nordeste?     Queremos mais etanol ou gasolina na frota nacional de veículos?
   Estas questões seriam enfrentadas também com o Eduardo Campos. Só que mais à frente. Numa análise local, vejo dois senhores representando este dilema.
   Num lado o candidato ao senado, Paulinho Bornhausen do PSB e no outro o candidato a deputado estadual, Mauro Beal do Partido Ecológico Nacional e possível futuro embaixador do Brasil em Roma.


Cangablog visita o "cofre" de SC

          Gavazzoni, o toca-discos e ao fundo, o "cofre" de SC.
   Depois de pegar o telefone do secretário da Fazenda, Antonio Gavazoni, publicado na coluna do Cacau Menezes (DC), resolvi ligar para cumprimentá-lo pelo seu aniversário. Afinal não é todo dia que se faz 40 anos.
   Alegre no seu dia, Gavazzoni agradeceu os parabéns e insistiu para que eu fosse tomar um café com ele "em palácio". Fazia tempos que não nos encontrávamos. A última vez foi na Celesc, quando presidia a empresa. Eu andava por lá xeretando sobre o Escândalo Monreal, aquele que envolve o ex-presidente da Celesc e hoje candidato a vice governador, Eduardo Pinho Moreira.

   Quem não aceitaria um convite para um café com o homem que detém a chave do cofre o Estado? Estive "em palácio" ao meio-dia de ontem. Horário de almoço. Antonio Gavazzoni, lépido em sua juventude, me recebeu com um abraço e me encaminhou para seu gabinete.

   Logo na entrada, duas coisas me chamaram a atenção: um toca-discos, de verdade, aqueles que toca bolachão de vinil e uma porta de metal com um grande cadeado eletrônico. 

- É ali!!!!!, pensei. É ali que o Gavazzoni guarda equele papagaio milionário (R$ 7 bilhões) que e o governador Colombo pendurou na conta dos catarinenses.

   Gavazzoni, amável, convidou-me a sentar e logo enseguida me mostrou uma coleção de discos de músicos sertanejos. Mas eu não conseguia tirar os olhos do "cofre".  Queria ver a dinheirama! 

   O secretário falava da sua infância no campo com os pais, sobre as dificuldades da vida, sem vitimização, parece que tira tudo de letra. Passa a impressão de que, para ele, não tem tempo ruim. Melhor assim.
   Eu já estava incomodado com o "segredo". Não resiti e perguntei: - Secretário, o que tem atras daquela porta?  É a grana do papagaio, aquele?

Rindo, respondeu: 
- Não, ali não tem nada.

Eu insisti, queria ver, sou pior que sarna.
- É o cofre do Estado de Santa Catarina aqui, bem no seu gabinete? perguntei.

   Ele soltou uma gargalhada e percebendo o tamanho da minha curiosidade, levantou e me convidou a entrar no "cofre". Chegamos juntos à porta blindada. Gavazzoni apertou alguns botões, pequenas luzes vermelhas e verde piscaram, um som de máquina e...voilà! Estava aberta a porta que tanto aguçava a minha curiosidade.

   Ao entrar no "cofre", fiquei decepcionado. Material de limpeza, sacos de lixo e alguns baldes de plástico. Diante da minha decepção, ele explicou que quando chegou ao gabinete essa porta com o cadeado eletrônico já estava lá. Coisas do ex-governador Luiz Henrique, provavelmente.

   Bem, sanada a minha curiosidade, voltamos à conversa amena e Gavazzoni me brindou
Bolachões de vinil
com uma pleiade de artistas sertanejos como Duduco e Dalvan, João Mineiro e Marciano e até Antonio Marcos. Todos tocados executado em um flamante toca-discos que o secretário havia ganho de presente de aniversário dos funcionários da casa e antigos colegas da Celesc.


   Estava feliz e eu constatava, agora, que Antonio Gavazzoni é figura proeminente do grupo político dominante hoje, em Santa Catarina, os "Sertanejos Universitários". Nome cunhado por este blog para políticos do Oeste catarinense que estão no poder estadual.

   Sobre o futuro político desconversou. Disse que está focado em fazer um bom trabalho no governo Colombo, ajudar no desenvolvimento de SantaCatarina e que "o futuro a Deus pertence". 

 ...a Deus e aos sertanejos, acredito. 





Quadrinhos

Marvel é acusada de machismo por sensualizar Mulher-Aranha

Heroína aparece se arrastando sobre o telhado de um prédio, com uniforme colado ao corpo, em capa alternativa assinada pelo artista erótico Milo Manara

   Capa da revista da Mulher-Aranha em duas versões: a oficial, assinada pelo ilustrador Greg Land (esqueda), e a alternativa, criada pelo artista italiano Milo Manara (Divulgação/VEJA)
   A gigante dos quadrinhos Marvel está sendo duramente criticada por encomendar uma versão alternativa -- e altamente sexy -- para a capa do novo gibi da Mulher-Aranha. A ilustração é assinada por Milo Manara, artista italiano conhecido por seu trabalho erótico, e mostra a heroína se arrastando sobre o telhado de um prédio, com uma roupa bastante colada ao corpo. A revista abre uma nova série de quadrinhos sobre a personagem, que leva seu nome. 
   Saiba mais. Beba na fonte.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Horário dos candidatos em SC


   Por Leal Roubão*

   A produção do programa eleitoral de TV do governador Raimundo Colombo é a melhor de todas. É a mais mentirosa também. Caso de estelionato histórico. Apropria-se do legado de Celso Ramos, do velho PSD, e compara-se a ele. Esquece de dizer que o governador Celso Ramos era cercado de jovens da melhor qualidade intelectual, gente proba e vocacionada para a causa pública. 


   Celso Ramos construía escolas, Colombo as reforma quando é compelido pelo Ministério Público. 

   Celso Ramos consolida a CELESC em seu governo. O vice de Colombo a eletrocuta com a Monreal. Assessores de Colombo criam cargos na ALESC para empregar filha. 

   Celso Ramos encaminhava projetos de lei. Celso Ramos trabalhava muito. Acordava cedo. Celso Ramos foi um governador operante. Celso Ramos era cercado por gente de proa. Viva Celso Ramos que criou um banco para o estado de Santa Catarina, o BESC. Que criou a extensão rural, crédito para a agricultura e tantas outras novidades.

   O Vignatti é de todos. Parece que é cidadão honorário de todos os municípios. Diz que vai fazer tudo. É o cara...
   O Dário não mostrou uma imagem da Coxilha Rica, nenhuma.
   O Paulinho, quase chorando, explicou a relação dele com o Eduardo. Difícil de entender, mas tentou.
   O Paulo Bauer apresentou o Ponticelli. Até a mãe e o pai do Ponticelli apareceram no programa. Contou tudo sobre sua vida agrária. Só esqueceu de dizer que queria ser senador na chapa do Colombo.

   Agora, em termos de moda, o melhor penteado é o da Bartira Ferreira - 22022.


AZALÉIAS DE AGOSTO *


   Por Janer Cristaldo

   Era agosto. Elas se abriam em meu jardim com essa obscenidade com que sempre se abrem as flores, cumprindo sua missão natural de flores. Quanto mais floresciam, mais fenecias. Todos as manhãs eu atravessava aquele festival orgíaco de vermelho, rosa, branco e roxo, rumo ao amarelo ictérico que começava a envelopar tua pele, essa pele que por tantas décadas acarinhei.

   "Onde estiver, vou sentir tua falta" - me disseste, com voz que jamais senti tão grave. Querendo afagar-me, suspeitando que pela última vez, te enganavas. Não estarás em parte alguma. Partiste para o grande nada, onde nada existe e ninguém sente falta de ninguém.

   Quem vai sentir tua falta, todos os dias até o último deles, é este que fica e que em algum lugar sempre estará. Pelo menos até o dia em que não mais estiver. Quem parte descansa. Sofre quem fica. O que até me consola um pouco. Quem está sofrendo, pelo menos não és tu.

   De novo é agosto e elas retomaram seu ritual exibicionista. Paranóicas, escondem-se nas primaveras e agora torturam meus invernos. Não apenas os meus, mas os de tantos outros cujos seres amados escolheram agosto para partir. Certa noite de setembro, eu conversava com jovens já contaminados pela resfeber, enfermidade nórdica que significa febre de viagens. Sedentos de vida, perguntaram a este ser tantas vezes acometido pela doença: qual é a mulher mais linda do mundo? Em que geografias pode ser encontrada?

   Caí em prantos. A mulher mais linda do mundo, eu a conheci. E a tive. E agora não mais a tinha. Não a encontrara em distantes longitudes nem em países exóticos. Encontrei-a a meu lado, neste prosaico país, e nunca mais a abandonei. Quis a vida - ou talvez tenha quisto eu - que tivesse centenas de mulheres, algumas muitas queridas, outras nem tanto mas também desejadas, mais uma multidão de rostos mais ou menos anônimos, corpos sempre lembrados. Mentira da vida, mentira minha. Em verdade, tive só uma. Tu, que partiste no auge das azaléias.

   "Eu não tenho medo da morte" - me disseste ainda, um pouco antes da passagem rumo ao nada. Mesmo desbotada pelo palor da vida que foge, estavas linda como nunca estiveste. Em tuas quase seis décadas, conservavas ainda aquele eterno rostinho de criança, que a passagem dos anos jamais conseguiu te roubar.

   Sedada, já no torpor da morte, chamaste tuas últimas energias, te ergueste no leito. Levantando o dedinho, didática qual professora falando a seus pupilos, sussurraste com o que te restava de voz: "E se fizéssemos assim: eu assino um documento: eu, TKM, em pleno uso de minhas faculdades mentais, declaro que quero ter meus restos cremados no cemitério da Vila Alpina". Reuni minhas forças e consegui balbuciar: não te preocupa, Baixinha adorada, isto há muito está combinado, verme algum sentirá o gosto de tuas carnes. Tuas cinzas, vou jogá-las de alguma ponte em Paris, uma daquelas pontes que tanto amaste, para que saias navegando mares afora.

   Passada a mensagem, te reclinaste em paz. Mas descumpri o trato. Não as joguei em Paris. Ficarias muito longe de mim, navegarias talvez por mares gelados e hostis, encalharias em geleiras e te perderias em fiordes, longe de meu calor. Com carinho, te plantei entre os rododendros e todas as manhãs passo entre ti e murmuro: adorada. É bom te cumprimentar. Mas como dói.

   A vida nos foi pródiga, e isso é talvez o que mais machuque. Nestes últimos meses, tenho sentido uma secreta inveja de homens que casam com megeras horrendas. Quando elas partem, começa a felicidade. Se morrer feliz é o almejo de todo homem, esta graça não mais está reservada a quem um dia foi feliz. É duro conjugar certos verbos no passado. Dizia Pessoa:

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...

   Bobagens de poeta, que tanto influenciaram meus dias de jovem. Verdade que sem ti correrá tudo sem ti. Mas isto vale para as azaléias - seres insensíveis que sequer perceberam a ausência de quem as adorava tanto - e para o resto da humanidade. Para quem perdeu o ser mais lindo da vida, é mero jogo de palavras.

   As azaléias em breve irão perdendo seu sorriso orgíaco, suas cores fenecerão e agosto que vem estarão de novo florescendo, despudoradas. Tuas cores feneceram agosto passado e pelo resto de meus agostos não mais te verei florir.

* in memoriam 20 de agosto de 2003

Horário eleitoral presidencial


   Por Leal Roubão

   No primeiro programa gratuito do horário eleitoral, a grande estrela foi a Dilma. Uma mulher brasileira comum, diz o locutor. Esticada, maquiada, acorda em palácio, coloca as jóias, lê e escreve muito. Cozinha massas e corta tomates, sempre elegante. Dizem que cuida do jardim e do cachorro preto. Ela afirma que é preciso matar um leão por dia. Quando a Marina souber disso, surgirão os problemas com o IBAMA.

   Aécio, também esticado, fala em tom único. Monocórdio. Ora de terno, ora de camisa, faz o de sempre: visitas, abraços, críticas, propostas e nenhuma grande novidade, ainda.

   Os cenários são no padrão da TV Tupi.

   Juros, dívida interna, inflação, isonomia no serviço público, economia de mercado, tributos, legislação eleitoral, partidos políticos e financiamentos de campanha, nada. Por enquanto só jogam para a geral.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

A morte do monstro Bicho da Fome

   Por Marcio Silva

   A ampulheta viu um tempo em que fazia tanto frio que os pastos da terra de sol e lama ficavam branquinhos no extremo da madrugada. Aquecimento global era tamanha figura de linguagem quanto pão e leite, vendidos em carroças chamadas galeotas. Estrada asfaltada, um luxo .

   Peixe se comprava de pescadores que traziam o produto em carrinhos de mão. Quem queria carne dirigia-se ao abatedouro sem preocupar-se com a vaca louca. Caldo de cana saía fresquinho nas garapeiras sem chance para Mal de Chagas e outros palavrões, leptospirose, hantavirose.

   Não está assim tão velho mas se não lhe falha a memória é desta época de frio e comida de qualidade que criou o hábito de beber sucos. Desde logo, apaixonou-se pelo de graviola.

   Agora soube que a fruta tem propriedades medicinais no combate a 12 tipos de câncer, entre os quais os de próstata e pulmão. Até raízes e folhas da graviola são usadas para curar doenças como diabetes. Há inclusive cápsulas com o princípio ativo à venda no mercado norte-americano.

   Quando está ansioso e insone, apela ao suco de maracujá. Assim que acorda, embriaga-se com néctar de goiaba. Sempre que o dinheiro deixa, compra nêsperas e as traça uma a uma, em intervalos regulares.

   Carambolas, butiás , abacaxis , melões e mamões fazem parte do cotidiano e não há vivente que condene o consumo regular de frutas, embora algumas, se consumidas em profusão, como a jabuticaba, causem dissabores intestinais.

   Pois naquela manhã de segunda com cara de domingo o suco de laranja deu-lhe uma porrada no estômago, bateu um suador de arregalar a ponto de levá-lo de volta ao leito.

   Fazia a própria comida, lavava roupa e louça, pouquíssimo dinheiro, não podia permanecer ali. De um pulo, espantou o mal-estar. Da janela dos fundos, divisou a plantação de aipim e milho, as barbas ruivas das espigas, brilhando sob o sol.

- Será que o dinheiro sai até sexta? – Ele pergunta a Olavo enquanto retira mais algumas ramas do tubérculo. Alguém falou numa promoção de vinhos no único armazém. Além do preço irrisório, aceitavam troca: cinco garrafas vazias por uma cheia.

- Se não sair a gente dá jeito. – Retrucou Olavo com a simplicidade de sua primeira série não concluída.

   Eles não tinham ideia de que o motor da Revolução Industrial foi a transformação das energias química em mecânica através da máquina a vapor. Havia luz mas dormia-se cedo para um despertar antes de amanhecer.

   Tudo vinha da terra. O que sobrava era trocado no armazém por querosene, sal, café, necessidades básicas do lar que a roça não supria.

   Quando os braços da noite afagavam a frondosa mata ciliar que emoldurava o arterial rio da propriedade, o patriarca descia uma colina e colocava em operação uma rudimentar usina d`água, que garantia fiapos de luz em lâmpadas de 20 velas.

   Os patrões ficavam no varandão, conversando e ouvindo o cântico do rio e os animais lamentos da mata.

   Olavo, Genilson e Gonçalo dividiam o galpão de chão batido, dormindo nas redes. A sexta chegou, o dinheiro não apareceu. Juntaram os trocados e não houve garrafa desgarrada que resistisse a mãos leves.

   O final da tarde foi consumido com a reunião de 12 cascos e dinheiro para uma garrafa de vinho. Depois de meia hora de caminhada ao armazém e minutos de pechincha saem com um garrafão. Genilson comentava no caminho sua plenitude gástrica.

- Parece que engoli um boi.....
   Anoiteceu e apareceu visita inesperada. Mais um violeiro para a roda, conhecido de todos por carregar consigo garrafa de pepsi. O pessoal da coca que nos perdoe mas pepsi com vinho sempre é mais gostoso, costuma dizer.

   O circo estava armado: luzes a meio pano, janelas escancaradas, violeiros e cantores revezando-se no massacre a MPB, copos de cristal cica repletos de portas abertas para o devaneio.

   Logo alguém começa a ouvir vozes do além –estômagos gritando por socorro. Olavo sugere emprestar ramas de aipim e socas de milho do patrão. Prepara-se vestindo pijama cinza, arma-se com enxada , uma velha faca de cozinha e num instantâneo , pula a janela.

   Olavo lembra da verdadeira obsessão que nutria pelo forro da casa paterna, que quando criança galgava atravessando minúsculo alçapão. Era ali que o severo Hélio guardava preciosos cachos de banana, mamões, cajus e jabuticabas com os quais pretendia fazer mais algum dinheiro para auxiliar nas despesas do mês.

   Em sua ingenuidade infantil, o menino queria era matar o monstruoso bicho da fome. Escalava a parede de madeira feito macaco e, uma vez lá , deliciava-se com as frutas mais maduras.

   Vence com tranquilidade o arame farpado e desaparece na escuridão. Aflição misturou-se aos versos de Zé Ramalho, a noite como um oceano de sombras num mundo de sol. Repetem o refrão à exaustão enquanto à adrenalina misturavam-se mais e mais moléculas de álcool.

   Olavo recorda que o pai sabia fazer sonhos como ninguém. Embora trabalhasse bastante em uma padaria , sempre encontrava tempo para produzir sonhos, que recheava com creme e doce.

   Se na segunda fritava 50 sonhos, saía logo para vendê-los e não deixava que tocassem no quitute. Sempre sobravam alguns, que levava para vender no dia seguinte.

   Comê-los só conseguiam quando tinham passado do ponto e virado borracha o que, aliás , era algo difícil e improvável. Se não os vendia , trocava na venda pela indispensável querosene, sal ou caninha.

- Detesto a escuridão! – Não se cansa de dizer. Luzes de pomboca , improvisadas lamparinas feitas com lata de azeite, estendem suas mãos acinzentadas pelo galpão. Sujeito acorda com o nariz repleto de fuligem de uma noite inteira respirando o ar poluído pela queima de querosene.

   Panelas de água borbulham. Quando o Arnesto começa a convidar para o samba um enorme saco equilibra-se no beiral da janela e Olavo pede ajuda, reclamando do peso , dor no pescoço.

- Acho que desloquei o ombro.

   A galera grita como se presenciasse um gol. Genilson toma a enxada e cava um buraco nos fundos.

   As socas de milho são aliviadas de sua cobertura de palha com uma fulminante rapidez. As cascas do aipim são excluídas com precisão cirúrgica. O buraco some . O fogão reaviva a fervura da água. Os violeiros tocam em conjunto que alguém segura o leme desta nave incandescente, de uma vida viajante e lenta.

   Em dez minutos, a algazarra é substituída pelo morder lambuzado das espigas amarelinhas de milho novo, das quais sugam até o sabugo. O aipim está abafado dentro da panela e a tampa rebola feito rainha do carnaval.

   O alimento deu novo ânimo à casa , os copos foram abastecidos e as cordas do violão voltaram a apanhar de rés , si bemóis e fás sustenidos. Olavo canta tamanha alegria que está com falta de ar.

- Comi demais, gente!

   O galo dá seu primeiro sinal de vida tão logo é servida a primeira porção de aipim. Ali pela sexta porção – ninguém se lembra muito bem – o violeiro convidado levanta-se de onde ficou a noite inteira.

   Grunhe incompreensível adeus , agarra-se a seu casco de pepsi e parte chutando vassoura , balde e tudo o que encontra pela frente, imitando o degenerado que atropelou a cerca de bambus da casa de seu Quirino.

   Os beliches enviam ondas hipnóticas a um por um dos participantes, até que o violeiro se descobre só, tentando tocar músicas que desconhece para um raio de sol que brota ressabiado entre o amarelo-ouro do milharal.

   Olavo dorme o hiato da vida, fechado por um coração partido.

O show da Lagoa Pequena, Campeche!






domingo, 17 de agosto de 2014

DO NEPOTISMO À SANTIDADE...


   Por Janer Cristaldo
   ...em 24 horas. Ontem, acusado de nepotismo. Hoje, santo. A santidade respingou até em seu avô, Miguel Arraes, um dos celerados banidos do Brasil por querer transformá-lo em republiqueta soviética.

Tio de Campos continua em diretoria de estatal federal

Folha de São Paulo – 07/08/21014
Ranier Bragon

   Tio do candidato de oposição à Presidência da República Eduardo Campos (PSB), Marcos Arraes de Alencar continua ocupando um cargo de direção na estatal federal Hemobras, apesar de há seis meses o governo de Pernambuco, então comandado pelo sobrinho, ter informado que ele havia pedido demissão. Alçado ao cargo em 2011 por indicação da gestão de Campos em Pernambuco –o governo estadual tem participação minoritária na estatal–, Marcos Arraes disse nesta quarta-feira (6) que nunca pediu para sair, embora tenha avaliado a hipótese.

   Ele afirma que conversou com Campos sobre sua permanência. "Consultei [Campos], claro. (...) Ele me disse: 'Se você pedir demissão, vou ter que indicar outro, então dá no mesmo'", afirmou o tio do presidenciável.

   Em setembro de 2013, Campos liderou o rompimento do PSB com Dilma Rousseff, primeiro passo para se lançar ao Palácio do Planalto, e hoje é um dos principais críticos da administração petista. Na ocasião, anunciou a entrega dos cargos e ministérios que a sigla tinha no governo.

   Cerca de cinco meses depois, a Folha mostrou que indicados pelo PSB ainda continuavam em órgãos federais. Na ocasião, a Secretaria de Imprensa do governo de Pernambuco informou que o tio de Campos havia pedido demissão e que aguardava apenas a indicação do substituto para deixar o posto. Filho do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), Marcos Arraes cumpre mandato de quatro anos como diretor de Administração e Finanças da Hemobras (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia), com salário mensal de R$ 26,4 mil.

   Com participação minoritária do governo de Pernambuco, a estatal federal é vinculada ao Ministério da Saúde. O tio de Campos diz não ver constrangimento em sua permanência na função. "Veja só, se eu pedir demissão, o meu cargo é do governo do Estado. Então me disseram, 'não peça não', já que é do governo do Estado, vai vir outro indicado pelo governo do Estado", afirmou.

   Leia artigo completo. Beba na fonte.

sábado, 16 de agosto de 2014

Pressão política cala blog Temperos & Apimentadas

   Mais um blog independente fecha em Florianópolis. O Temperos & Apimentadas do Meira Júnior. Durante 9 anos o Temperos, um espaço virtual mistura de blog político com colunismo social, informou e divertiu milhares de internautas chegando a ter 2.750.000 acessos.
   Temperos conseguiu se manter independente e denunciar, em várias ocasiões, figurões da política e da sociedade catarinense envolvidos em casos e corrupção e ladroagem de dinheiro público. Sem comprometimento com empresa ou patrões, o Apimentados pegou pesado, juntamente com o Cangablog, Tijoladas do Mosquito e De Olho na Capital, denunciando roubalheira e escândalos no periodo de maior corrupção da história de Santa Catarina: o governo de Luiz Henrique da Silveira do PMDB.
   Hoje, exceto o Cangablog, todos os outros blogs estão fechados. O Tijoladas do Mosquito acabou juntamente com o seu mentor. Sem encontrar saída na ciranda de processos, por calúnia e difamação, em que se meteu, Hamilton Alexandre, o Mosquito, se suicidou.
   O blog De Olho na Capital, do jornalista César Valente, acabou de repente com essa xôxa explicação: "Não é uma decisão difícil, nem deve causar surpresa. Esta ferramenta foi muito útil, muito interessante e ajudou bastante na popularização da internet como fonte de informação. Mas, como tantas outras, perdeu seu espaço e sua praticidade".
   Bem, a justificativa do Meira Júnior para o fechamento do Temperos está aí embaixo. É a explicação do Meira, mas não a minha. Tenho informações de que muita água passou por baixo da ponte para que o Meira fechasse o seu poderoso blog.
   Funcionário público estadual, prestes a se aposentar, Meira Júnior sofreu todo o tipo de pressão política que aumentaram e se tornaram mais explicitas nos últimos tempos. Expostos pelas denuncias, os políticos começaram a agir mais descaradamente enviando emissários com ameaças veladas ao blogueiro.
   Bem, sobrou o Cangablog que, como não tem patrão, não trabalha na RBS nem no governo vai continuar informando seus leitores sobre a bandidagem política que assola Santa Catarina e o Brasil. Aqui não se faz jornalismo de fachada. Aquele que é radical e contundente na linguagem e na forma, mas é incapaz dizer o nome dos ladrões. 

Abaixo a carta de despedida do Meira Júnior:


Dever cumprido...

Nossas vidas têm muitas emoções. Alegrias ou tristezas, devemos seguir em frente. Em nossos caminhos surgem fatos marcantes. Este espaço é um fato marcante, propiciou novas amizades, solidificou tantas outras e permitiu muitas emoções. Ora, essa ‘bloguna’, mistura de blog com coluna, nasceu despretensiosa. Temperos & Apimentadas, é um título que vai da culinária à nossa vida social. Às vezes mais tempero, outras mais pimentas. Aqui testemunhamos fatos lamentáveis da vida pública e escândalos sociais. Mas também brincamos com a nossa gente.

Aqui desfilaram impagáveis personagens como a Frasqueira e a Alpinista Social. Mais do que personagens, espelhos da realidade. E foi nessa realidade que, com bom tempero, demos o molho do bom humor. E, claro, quando necessário baixamos a pimenta. A resposta veio em 2. 750.000 milhões de acessos. E isso não tem preço. Essa resposta vale por milhões de abraços. É um carinho que se expande em nossas vidas. Nesses nove anos de Temperos & Apimentadas temos uma história de cumplicidade com quem está do outro lado.

Aproveito para agradecer a todos aqueles que de maneira direta ou indireta contribuíram para o "Temperos & Apimentadas": Juca Deschamps, meu grande parceiro e incentivador Luiz Carlos Schneider, Canga, nosso saudoso Amilton Alexandre do "Tijoladas do Mosquito", Marcos Bayer, Alexandre Amim Salum Júnior, Álvaro Fontes. Aos fotógrafos Geremia, Tiago Mynt, Angelo Santos e Darline Rodrigues dos Santos, que ilustraram por muito tempos as aberturas da coluna com belas fotos. Peço desculpas, se por esquecimento, omiti algum nome.

E com essa cumplicidade e coração aberto, não há como fugir do momento. Causas diversas que se somam, passam por saúde, família e incômodos legais, nos levam a olhar para horizonte e pensar em busca um fôlego. O fôlego de uma folga, de uma parada. Então, queridos amigos, do fundo do coração peço licença para dar uma parada. Não é um adeus e nem o fim deste espaço. É apenas um pedido para dar um tempo. A introspeção e a intimidade exigem isso.

Obrigado é pouco, vocês merecem muito mais.
Um abraço carinhoso e até logo ali.

Meira Júnior
Temperos & Apimentadas

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Ferrari de R$ 600 mil abandonada na Beira Mar


   O "encontro" desta flamante Ferrari F430 com uma árvore estacionada na avenida Beira Mar Norte, nas imediações do antigo El divino, aconteceu por volta das 2:30h da manhã desta sexta-feira.
   O barulho do abraço chamou a atenção de moradores e transeuntes que se aglomeraram para ver o bólido batido. Testemunhas disseram que o condutor saiu calmamente do carro, trancou a porta e desapareceu. 
   Abandonou o brinquedinho, que custa cerca de R$ 600 mil, ali mesmo sem culpa nenhuma. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A melhor e mais criativa equipe

   Por Leal Roubão*

   Agora, passado o pior e ainda procurando pelos destroços e explicações, é possível refletir um pouco mais sobre a candidatura de Eduardo Campos. Tinha a equipe mais eclética e representativa do espectro político brasileiro. Desde o genial Ariano Suassuna até seus assessores mais próximos, alguns deles filiados ao PV e praticantes do Skate. Uma equipe jovem de espírito, independentemente da idade.   

   
   Neto do socialista Arraes, governador do Pernambuco, o jovem Eduardo Campos armava uma aliança que ia da extrema direita até a extrema esquerda. Pegava numa ponta os restos do carcomido PFL e na outra a vanguarda dos verdes. Dentro da estratégia dos socialistas, a lógica de dar um passo atrás para poder dar dois passos à frente era compreensível. Na prática, se fosse vitorioso no projeto, teria enormes contradições para aplainar no futuro. Era uma virtude pessoal ser tamanho conciliador. Sorriso amigo e amplo aliado a uma tenacidade fantástica. 

   Não desistam do Brasil, dizia.

   Como diria o escritor catarinense Olsen Junior, "ultimamente só morrem os do nosso lado" : Valdir Alves, Ariano Suassuna, Pitanga, Robin Williams e agora o Eduardo Campos...

   Assim vai desequilibrando a balança, pois os caretas, corruptos, idiotas, cínicos e vendidos vão fazendo maioria. E com o dinheiro público quando conseguem.



Cacau e o Cangablog

   Com o título BROTINHO Cacau Menezes publicou em sua coluna de hoje, no Diário Catarinese, nota sobre o uso de photoshop na campanha eleitoral.
   Segundo Cacau, a informação veio de "um manezinho" que seria o autor da frase cheia de ironia sobre a candidata Ada Lili de Luca.
   Só que a frase foi chupada literalmente da matéria Os Candidatos e a Eterna Juventude, de autoria do jornalista Leal Roubão publicada no Cangablog.

   Duas coisa Cacau:
1 - Deves checar as informações das tuas fontes
2 -Ler diariamente o Cangablog. É daqui que saem a maioria das pautas do DC.

Nota na coluna do Cacau, chupada do Cangablog

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A sucessão no Brasil

Por Leal Roubão

  Apesar da tragédia do desaparecimento deste jovem talento na política brasileira, Eduardo Campos pediu em rede, no Jornal Nacional, na terça-feira à noite: Não desistam do Brasil.
   Marina Silva, sua vice-candidata à presidência, deverá assumir a posição de cabeça de chapa e levar a frente os projetos da Rede e dos Socialistas.
   Serão duas mulheres (ela e Dilma) e um homem (Aécio) disputando as eleições presidenciais.
   Mesmo, aparentemente apagada, Marina deverá provocar mais estragos do que Eduardo. Os que acompanharem o processo verão.