segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dia de cão...

   Dia de cão mesmo é exagero. Não chega nem perto do A Dog Day Afternoon, filme baseado numa história real, brilhantemente estrelado por Al Pacino, um ladrão que resolve assaltar um banco num dia de calor escaldante em Nova York. 

   O meu dia de cão de hoje tem em comum apenas "um dia de calor escaldante" em Florianópolis.

   Estacionei o auto perto da Kibelândia e, às 2 e meia da tarde, debaixo de um céu azul, límpido, abrasador e tórrido, encarei uma das ruelas do centro de Florianópolis. 

   Diapé! Sem sombrinha!

   O destino era o cartório de Títulos e Documentos, ali nos altos da Vidal Ramos. O centro ferve nestas horas de verão! 

   Encarei, percorri os primeiros 150 metros pensando no que a mãe sempre diz: quanto mais se pensa no calor, quanto mais se fala, mais se sente. 

   Pensei no mantra e...fiquei molhado de suor! Cheguei no prédio do cartório já imaginando aquele paraíso de ar condicionado que me esperava. Cartório sempre tem fila, se pega a senha e se espera sentado no "conforto", que é o mínimo que estas máquinas de carimbos e de fazer dinheiro pode nos proporcionar.

- O cartório fica no primeiro andar?  perguntei à recepcionista.

- O cartório mudou! Agora está lá perto da Casan! Me disse a moça com uma cara de surpresa por eu não saber, como se eu fosse a cartório todos os dias.

   Mantive a fleuma, agradeci a informação e voltei a trotear pelo sol escaldante das calçadas de Florianópolis. Em frente a catedral resolvi atravessar pela sombra da Praça XV, entrei na rua ao lado do prédio dos Correios, ali não tem árvores e nem a sombra mínima de uma platibanda, é como andar em Macondo ao meio-dia!

 - Vou na procuradoria da Receita Federal que fica na esquina diagonal com a Kibelândia, pensei. Estava na minha área. Teria refresco!

- Gostaria de parcelar uma dívida ativa...
visual da janela do novo cartório


- A  Procuradoria não fica mais aqui, moço. Se mudou para um prédio ali ao lado do cartório de Títulos e Documentos. Perto do Secontur. Me disse com muita gentileza a senhora da recepção.

   Coloquei as mãos na cabeça, ri e falei para ela que havia estado transitando por ali ainda a pouco. Dei uma espichada na conversa para desfrutar o ar condicionado, aproveitei e já informei que o cartório não habitava mais o prédio da Vidal Ramos.

- Está, agora, lá perto da Casan. Na Emilio Blum, disse pausadamente, ganhando todo o tempo possível naquele vento meio frio e meio quente que misturava o ar condicionado com o bafo que vinha da rua pela grande porta aberta do prédio.

   Sai decidido a fazer o que havia escrito em um pedaço de papel, uma agendinha improvisada, às 7 da manhã enquanto tomava café em casa.

   O meu auto estava perto. Mas havia deixado a minha mochila com o ultra book,  a chave do carro dentro, no escritório de um advogado amigo meu. Tudo bem, sou espartano! Fui até o prédio, me identifiquei, passei a catraca, esperei o elevador e resgatei a chave com mochila e tudo.

   O auto estava no sol e levei um tempo "esfriando" o ambiente com o ar refrigerado no máximo. Tudo bem, esperei um pouco, assumi a boléia sem reclamar ou pensar muito no calor infernal e toquei pela Hercílio Luz, rumo ao novo endereço do cartório, "ao lado da Casan".

   Dei sorte! Havia uma vaga bem na frente do prédio, recém construido, que agora abrigava dois cartórios e várias empresas que antes estavam no centro, em prédios velhos, e agora estavam instaladas naquele prédio moderno, empresarial. O espaço entre o Uno e um Audi flamante de novo, era pequeno. Adoro desafios. Emparelhei o auto com o da frente, calculei o espaço pelo retrovisor e meti de uma só vez. Sem relar em nenhum dos dois.

   Desci e beijei o pulso, tipo me achando "aquele" estacionador. Aprendi isso com um amigo uruguaio. "Bracito nomás", dizia!

   Entrei no prédio que cheirava a novo e subi até o oitavo andar. Achei fácil o cartório, Peguei um número e fui atendido logo. O César, advogado, me disse que era do Rio Grande do Sul, mas havia se formado na UFSC. Resolveu o meu problema, fez várias cópias de um documento, colou uma infinidade de selos, carimbou todos e no verso aquele "em branco", me mandou passar no caixa que estava bem ali, paguei 44 pilas por uns papéis, agradeci e sai contente por ter conseguido realizar a primeira façanha da minha agenda burocrática do dia.

   Tirar o auto foi mais difícil do que colocar, Manobrei, "distercei" a direção, voltei a manobrar e fiquei com a camisa molhada de suor. Tudo bem, me sentia bem com aquela primeira conquista. Agora, rumo à Procuradoria da Receita Federal que ficava ali ao lado da Catedral, na Arcipreste Paiva. Faltava pouco.

   Dei uma volta na Praça XV e consegui estacionar bem na frente da Procuradoria. Bingo! Sou um cara de sorte! Desci do auto e nem dei bola para aquele calor que te faz suar e ficar com a camisa grudada no corpo. Entrei na recepção do prédio e já senti o ar frio e confortável da recepção da Procuradoria.

- Gostaria de parcelar uma dívida ativa da Receita, é aqui? perguntei com a maior educação para a moça da recepção. 

- Sim, é aqui, só que parcelamento é das 8hs ao meio dia, me disse ela com toda a delicadeza de quem nem imagina a minha via sacra neste verão infernal de Florianópolis.

   Não consigo descrever o que senti naquele momento. Talvez um misto de desanimo, derrota, ou ira contra a elite dos funcionários públicos federais que só trabalham de manhã. Virei as costas e, sem me despedir da moça, mergulhei no bafo fritante da cidade. Agora sentindo muito mais calor. Tanto calor que nem o mantra da mãe resolve! 

   Caralho!!!

   Entrei no auto quente de novo e arranquei em direção ao posto de gasolina que o tanque já estava na reserva. Liguei na rádio CBN e escuto o Roberto Nonato lendo e-mails que estava recebendo de todas as capitais do Brasil, que comunicavam o novo preço da gasolina.

Brasília: R$ 3,19; Fortaleza: 3.178...e por aí vai

- A grande recordista é Florianópolis, capital de Santa Catarina, com o preço do litro da gasolina a R$ 3,599, falou o Nonato.

   Eu já estava puto e fiquei mais ainda, falando sozinho dentro do carro: - Eu mereço!

   Entrei na rua Anita Garibaldi e fui em direção ao posto da Rede Raio que fica bem na esquina com a Hercílio Luz. Abasteço ali às vezes.

   Encostei o auto, olhei para o lado e vejo a placa com os preços dos combustíveis: Gasolina Comum: R$ 3,599!!!!!!!

   Era ali aquele preço escorchante que a CBN dava nacionalmente como o mais caro do país. Quase desisti de tudo. Fiz a foto da placa exorbitante e "cantei prá subir".

   Me economizem, por favor!

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