segunda-feira, 4 de maio de 2015

PASSAGEM 3

Do amigo Emanuel Medeiros Vieira

“Pois bem, quando eu já não estiver, o vento continuará estando”
(Eduardo Galeano)
Sopra o vento,
cai a chuva, escorre o tempo:
anunciam  que, provavelmente, terás pouco tempo de vida.
Mas outra vida continuará:
mares, pássaros, meninos na escola.
Sim, Galeano: o vento continuará estando.
Abdicas mentalmente de um tempo cujos valores já não são os teus.
(Não há métrica, rima, mas buscas uma verdade funda.)
A morte na soleira da porta, não te dobrará.
Na memória estarás em algum coração.
Não haverá oblívio.
Não?
O tempo passa por cima de todos nós.
Tentas terminar sofregamente aquele texto.
Mas a quem importará?
Não importa (repito o verbo) a quem valerá.
Não tem valor contábil – há outro, que poucos enxergam.
O vento continuará estando.
(Valeu a pena- vale a pena.)
E uma semente – quem sabe – está sendo irrigada, e
os  que chegarem depois da chuva e dos ventos (e de tua passagem) – quem sabe – te (nos) olhem com simpatia (como queria Brecht).
(Brasília, 30 de abril de 2015)

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