sábado, 29 de agosto de 2015

Documentos secretos mostram como Lula intermediou negócios da Odebrecht em Cuba

 

 Da Revista Época

A reportagem obteve arquivos sigilosos em que burocratas descrevem as condições camaradas dos empréstimos do BNDES à empreiteira

Por Thiago Bronzatto
 
No dia 31 de maio de 2011, meses após deixar o Palácio do Planalto, o petista Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Cuba pela primeira vez como ex-presidente, ao lado de José Dirceu. O presidente Raúl Castro, autoridade máxima da ditadura cubana desde que seu irmão Fidel vergara-se à velhice, recebeu Lula efusivamente. O ex-presidente estava entre companheiros. Em seus dois mandatos, Lula, com ajuda de Dirceu, fizera de tudo para aproximar o Brasil de Cuba – um esforço diplomático e, sobretudo, comercial. Com dinheiro público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, o Brasil passara a investir centenas de milhões de dólares nas obras do Porto de Mariel, tocadas pela Odebrecht. Um mês antes da visita, Lula começara a receber dinheiro da empreiteira para dar palestras – e apenas palestras, segundo mantém até hoje.

Naquele dia, porém, Lula pousava em Havana não somente como ex-presidente. Pousava como lobista informal da Odebrecht. Pousava como o único homem que detinha aquilo que a empreiteira brasileira mais precisava naquele momento: acesso privilegiado tanto ao governo de sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, quanto no governo dos irmãos Castro. Somente o uso desse acesso poderia assegurar os lucrativos negócios da Odebrecht em Cuba. Para que o dinheiro do BNDES continuasse irrigando as obras da empreiteira, era preciso mover as canetas certas no Brasil e em Cuba.
 
A visita de Lula aos irmãos Castro, naquele dia 31 de maio de 2011, é de conhecimento público. O que eles conversaram, não – e, se dependesse do governo de Dilma Rousseff, permaneceria em sigilo até 2029. Nas últimas semanas, contudo, ÉPOCA investigou os bastidores da atuação de Lula como lobista da Odebrecht em Havana, o país em que a empreiteira faturou US$ 898 milhões, o correspondente a 98% dos financiamentos do BNDES em Cuba. A reportagem obteve telegramas secretos do Itamaraty, cujos diplomatas acompanhavam boa parte das conversas reservadas do ex-presidente em Havana, e documentos confidenciais do governo brasileiro, em que burocratas descrevem as condições camaradas dos empréstimos do BNDES às obras da Odebrecht em Cuba. A papelada, e entrevistas reservadas com fontes envolvidas, confirma que, sim, Lula intermediou negócios para a Odebrecht em Cuba. E demonstra, em detalhes, como Lula fez isso: usava até o nome da presidente Dilma. Chegava a discutir, em reuniões com executivos da Odebrecht e Raúl Castro, minúcias dos projetos da empreiteira em Cuba, como os tipos de garantia que poderiam ser aceitas pelo BNDES para investir nas obras.

Parte expressiva dos documentos obtidos com exclusividade por ÉPOCA foi classificada como secreta pelo governo Dilma. Isso significa que só viriam a público em 15 anos. A maioria deles, porém, foi entregue ao Ministério Público Federal, em inquéritos em que se apuram irregularidades nos financiamentos do BNDES às obras em Mariel. Num outro inquérito, revelado por ÉPOCA em abril, Lula é investigado pelos procuradores pela suspeita de ter praticado o crime de tráfico de influência internacional (Artigos 332 e 337 do Código Penal), ao usar seu prestígio para unir BNDES, governos amigos na América Latina e na África e projetos de interesse da Odebrecht. Sempre que Lula se encontrava com um presidente amigo, a Odebrecht obtinha mais dinheiro do BNDES para obras contratadas pelo governo visitado pelo petista. O MPF investiga se a sincronia de pagamentos é coincidência – ou obra da influência de Lula. Na ocasião, por meio do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente negou que suas viagens fossem lobby em favor da Odebrecht e que prestasse consultoria à empresa. Segundo Lula, suas palestras tinham como objetivo “cooperar para o desenvolvimento da África e apoiar a integração latino-americana”.
 
Leia matéria completa. Beba na fonte. 
 
 

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Pincéis da vida

   Por Marcos Bayer
    Ele era capaz de imaginar um primata dentro de um capacete espacial ou representar a virilidade humana nas baquetas que tocavam um tambor.
    Cuidava dos dentes alheios por profissão. Mas, seu ofício era pintar. Era muito criativo e engenhoso, traço comum aos Schauffert.
    Aprendi com ele algumas coisas: fazer nós que resistissem à pressão da água salgada, destravar as alhetas dos arpões das espingardas de caça submarina, segurar a garoupa capturada pelos olhos e outras “técnicas” que ele inventava.
    Falava do filmes, dos atores e atrizes do cinema de sua época, falava de pintores, de escritores, de poetas e filósofos que marcavam sua imaginação. Convivi com ele na minha adolescência. De certa forma foi um dos “pais” que encontrei para suprir a ausência física do meu. Formava com a tia Victória um casal à frente do seu tempo. Seus filhos, meus primos, também fazem parte da minha vida. Tadeu absorveu o gosto pela profissão. Olinda, o encantamento pelas artes.
    Suas obras estão espalhadas pelas casas de alguns amigos, onde são mais bem cuidadas do que na maioria dos museus. Características de um povo que engatinha no entendimento da importância das artes na formação do ser humano.
    Ele gostava de atirar. Tinha uma predileção por alvos, setas, miras e tudo que pudesse significar a precisão. Coisa de alemão, suponho.
    Gostava de se recolher ao seu ateliê físico e imaginário para criar. Imaginação não lhe faltava. Interessava-se por quase tudo. Não era um especialista, ao contrário, um generalista universal.
    Deveria ter defeitos, mas não pude conhecê-los.
    Gostava de uma caipirinha de limão, às sextas-feiras e sábados, à noite, no Rancho do Buturité, então feito de bambu cujo chão era de areia. Uma época em que a violência podia ser encontrada com mais facilidade nos filmes do John Wayne exibidos na tela do Cinerama Dellatorre do que na vida cotidiana.
    Era muito conversador. Tinha prazer em estar com os amigos. Gostava de sol, de mar e do luar. Gostava da vida e por isto a pintava sob várias formas: numa rede de pesca, num corpo de mulher, num pássaro ou num cata-vento. Morava em Itajaí e a cabeça podia estar em Los Angeles, Nova York ou Berlim. Às vezes, tinha uma maneira muito didática para manifestar sua indignação. Certo dia, na praia, fumando seu Hollywood foi abordado por alguns garotos interessados em filar um cigarro, hábito comum à época. Ele deu o primeiro, depois de algum tempo, deu o segundo, um terceiro e o quarto. Quando foi solicitado a dar o quinto cigarro, já impaciente, disse: agora só tem baseado...
    O tio Osny era assim: uma mistura de irreverência, bondade, genialidade e talentos. Com um espírito inquieto, é bem possível que esteja aqui, hoje, apreciando mais uma de suas iniciativas. Provavelmente rindo, segurando um cigarro com a mão esquerda e um copo com a direita, escondido atrás de seus bigodes...

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

As consequências da interpretação nua e crua da Lei.

    Por Armando José d’Acampora *
   Nem sempre, aquilo que se faz achando que onde deva prevalecer o estrito cumprimento da Lei, reverte em benefício dos outros.

   Pois é exatamente isto que está a ocorrer no nosso glorioso Hospital Universitário. A Lei está sendo rigidamente cumprida pelos médicos, quanto aos horários, mas o funcionamento geral do Hospital decaiu e vai piorar.

   O regime de trabalho que o Hospital Universitário oferece aos médicos é deveras conhecido: ou o contrato é de 20 horas semanais ou é de 40 horas semanais. Quando 20 horas, a carga horária a ser cumprida compreende quatro horas diárias e se 40 horas, oito horas diárias, para todos aqueles que são chamados diaristas, porque não cumprem a jornada de trabalho em plantões de 12 horas.

   Como havia uma flexibilização horária, em cumprimento parcial das horas contratadas e, transplante seja efetuado sem qualquer atrapalho.

   Quantos médicos são necessários para que um transplante ocorra?

   Numa equipe mínima de transplante hepático, haverão dois anestesiologistas, seis cirurgiões especializados neste tipo de transplante, dois clínicos e dois intensivistas. Total mínimo: 12 médicos para um único transplante, que pode ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite, também em sábados, domingos, feriados, natal, ano novo, carnaval, etc...

  Estas equipes são especiais, com longo tempo de treinamento, e não podem ser contratadas em regime de plantão, pois como primeiro ponto, seria extremamente dispendioso mantê-las em plantão permanente, segundo ponto, não há como ter uma equipe de plantão para cada dia da semana, pois não há especialistas suficientes disponíveis para isso, devido a alta e longa especialização que é necessária.

  Resultado prático do cumprimento estrito da Lei:

   Como primeira medida consequente a exigência, não há mais nenhum médico disposto a trabalhar em sistema de sobreaviso, pois mesmo assim, terá que cumprir sua carga horária contratada de quatro ou oito horas diárias, pois se assim não se portar, poderá ser indiciado por infringir algum dos artigos legais vigentes no país, a partir do pressuposto de que não há registro biométrico do ponto.

   Como segunda consequência, há muitos médicos solicitando redução de carga horária, de 40 para 20 horas, e isto é muito importante, pois reverterá no fato de que muitos dos pacientes deixarão de ser atendidos por esta desistência das quatro horas que contribuíam, de alguma maneira, para o bom funcionamento regular do Hospital

   Terceira consequência: os transplantes hepáticos não mais ocorrerão, pois não há como conciliar um horário diário de oito horas e a disponibilidade de atender ao Hospital em qualquer tempo fora do horário estabelecido por contrato.

   Quarta consequência: já há algumas solicitações de demissão dos médicos que mesmo não cumprindo o horário contratual, produziam em atendimentos ambulatoriais ou realizando operações, muito mais do que o que seria exigido em horários rígidos.

   Quinta consequência: professores que já haviam cumpridos a exigência legal para a aposentadoria e permaneciam em trabalho no HU, estão solicitando a aposentadoria.

    O mesmo está acontecendo no Hospital Infantil Joana de Gusmão, onde cirurgiões já se afastaram e outros contam o tempo para aposentadoria. Não me perguntem o que acontecerá com nossas crianças, pois não tenho esta resposta.

    Trabalhei como cirurgião, até a minha aposentadoria por tempo de serviço, no Hospital Florianópolis, que pertenceu ao Ministério da Saúde (nesta época um exemplo de Hospital ao dispor da população), depois foi cedido a Secretaria de Estado da Saúde.

   Neste nosocômio, haviam metas para cumprimento de produção por cirurgião, de tal maneira que eram distribuídas as operações eletivas de acordo com seu porte, pois há aquelas cuja duração é de horas, outras de uma só hora, portanto havia dias onde uma única operação ocupava todo o período matutino e uma outra única, todo o período vespertino. Nenhum cirurgião interrompe a sua operação porque está no seu horário de sair do Hospital. No nosso entendimento, dos cirurgiões, quem começa, termina.

   Não há como generalizar as situações que são dependentes de que paciente se está a tratar e não especificamente do médico.

   Da mesma maneira é o atendimento em nível de ambulatório. Há consultas nas quais se pode resolver o problema do paciente em 15 a 20 minutos e outros nos quais pode-se ocupar uma hora inteira e, há outros, que não se consegue resolver nem em um dia inteiro.

   Portanto, quero reafirmar aqui, meu ponto de vista pessoal, de que, aqueles que não cumprem o acordado, e também nada produzem, seja em que nível for (Ambulatório, Enfermaria ou Centro Cirúrgico) a eles deva ser aplicada a severidade da Lei, mas temos que estudar todas as particularidades da atividade médica, de maneira a não se perder a efetividade do atendimento aos menos favorecidos, pois são eles que dependem de um Hospital como o HU, que presta hoje, como sempre fez, um excelente serviço à população.

* Médico, Cirurgião, Professor Universitário

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Da série: Pérolas do Petrolão

 Propina de Cunha custou 60 operações financeiras ao redor do mundo 
     
    
   Defensores dos políticos "Band" - "bandidos", como eram identificados por Rafael Ângulo, empregado de Alberto Youssef - envolvidos no Petrolão, costumam alegar que nenhuma das acusações tem provas. Tem "robô" petista que até hoje sustenta que José Dirceu foi condenado sem provas, no Mensalão.


   Agora é o advogado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um desses a sustentar essa tese: até agora não vi nenhuma prova nas acusações do meu cliente. É claro que, quando falou, não havia lido as 85 páginas da denúncia que Rodrigo Janot apresentou ao STF. 
 
   O Cangablog teve a paciência de ler na íntegra a denúncia que, menos de uma hora depois de ser apresentada, já estava disponível na internet. (Leia a Denúncia aqui)
 
   Provas não faltam na denúncia. Tem rastreamento de contas bancárias com números, datas e signatários. Atas de encontros e reuniões entre diretores da Petrobras, políticos, lobistas e laranjas. Relatos de encontros com datas e locais definidos, enfim, tudo documentado.

   Volta ao mundo
   A última parcela, de U$ 5 milhões, do total de U$ 15 milhões que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tinha "direito" na propina, foi feita em 60 operações financeiras envolvendo entidades bancárias, offshore e empresas laranjas ao redor do mundo. Um sistema mafioso de alta sofisticação.
 
Clique e leia

Pérolas do Petrolão

Pedro Correia preso pela PF
  Band...Bandido 
  
   Em seu depoimento - dia 24 - ao juiz Sérgio Moro, Rafael Ângulo, funcionário do doleiro Alberto Youssef, encarregado de entregar dinheiro vivo a políticos, falou sobre como identificava os "clientes" políticos em seu caderninho.
   
   Indagado pelo juiz Sérgio Moro sobre as siglas "PC" e "Band", registradas no seu caderninho, Ângulo, meio constrangido, decifrou o enigma respondendo que PC era Pedro Correia, ex-deputado e líder do PP. Band era sempre colocado para identificar políticos beneficiados. Segundo Ângulo, Band significava bando ou bandido. Essa era a forma de identificação dos políticos que recebiam propina do Petrolão.
   Pedro Correia, segundo Ângulo, recebeu propina de 2007 até 2014, mesmo depois de condenado no Mensalão. Embolsou, no período, cerca de R$ 40 milhões.

sábado, 22 de agosto de 2015

Ousadia

Plasticidade da imagem registra o radicalismo da manobra do campeão catarinense de surfe, Ramiro Rubim.  Publicada no Shot Spot Brasil.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Galeria Rosa...

   Leio na coluna Visor, do Rafael Martini, que a Alesc acaba de inaugurar um espaço destinado exclusivamente as 12 deputadas eleitas ao longo dos 181 do parlamento catarinense, chamado Galeria Lilás.
   
   A idéia de um espaço de "gênero" na Alesc não é de hoje. Há alguns anos, o ex-deputado Duduco advogava a idéia de se criar uma galeria Rosa e outra Arco Íris, nas dependencias do parlamento.
   
   Recebeu um ensurdecedor silêncio de seus pares. O armário continuou fechado na Alesc!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dando nos dedos...

"O PT vendeu uma idéia de desenvolvimento e para crescer na vida, típica petista: Dinheiro é uma clara de ovo, se bateu vai crescendo. Emagreça comendo, faça ginástica deitado e aprenda inglês dormindo. Enriqueça mais aplicando em juros e se possível aposentando na casa dos 30 anos".

José Serra definindo o plano petista de desenvolvimento do país, no programa Roda Viva da TV Cultura.
O cabrito, a realpolitik e a crise
A adega onde se forjou a era Lula fecha as portas
 

   
     Por João Almeida Moreira (da revista piauí)   
   Antonio teve duas ideias. A segunda foi convencer Leone, o vizinho, a abrir seu restaurante no dia da folga semanal e reservá-lo só para ele. Leone aceitou: afinal, Antonio era uma autoridade na cidade e ia receber o seu chefe nacional, figura importante, célebre, merecedora de particulares e redobradas atenções. Como o chefe de Antonio sempre apreciou bacalhau, o restaurante português de Leone era, os dois concordaram, o lugar ideal para a reunião.
  
   Não bastava, no entanto, reservar o espaço. Antonio também pediu a Leone que dispensasse todos os garçons, que atendesse pessoalmente os comensais, que desligasse as linhas telefônicas, reservasse uma mesa para os seguranças e mantivesse a porta fechada, tão fechada como se aquela segunda-feira de maio de 2002 fosse, para quem passasse pela rua, um dia normal de folga do restaurante. “Tudo bem”, respondeu o proprietário, consciente da gravidade do momento.

   Antonio, o chefe dele e outros quadros destacados da organização precisavam de privacidade absoluta porque aquela não era uma reunião qualquer: durante o almoço, redigiriam e aprovariam uma carta que podia mudar os seus destinos para sempre. E os destinos do Brasil. Essa carta foi a primeira ideia de Antonio. Antonio Palocci.

   Recém-licenciado do cargo de prefeito de Ribeirão Preto, Palocci agora se dedicava em tempo integral à candidatura ao Palácio do Planalto do chefe, Luiz Inácio Lula da Silva, e não queria falhar. Não podia falhar: porque o chefe já falhara nas três tentativas anteriores e porque as circunstâncias – baixa popularidade do rival Fernando Henrique Cardoso e, por extensão, do PSDB – conspiravam a favor.

   Leone, de sobrenome Rufino, era um homem acostumado a servir de anfitrião aos intelectuais e endinheirados de Ribeirão Preto, como os Palocci. E sua mulher, a chef Anabela, perdera a conta dos elogios ao seu tempero, recebidos ora de clientes importantes, ora da crítica especializada – a Adega Leone foi considerada um dos quatro melhores restaurantes portugueses do Brasil anos a fio, e ganhou dezessete estrelas do prestigiado Guia Quatro Rodas.

   Mas receber gente da relevância de Lula e da cúpula nacional do PT, assim, todos de uma vez? Nunca antes na história daquele restaurante.

    Leone Rufino é um homem de estatura mediana, magro, calvo, mas com cabelos brancos nas têmporas. Nascido em Lisboa e criado no Porto, cujo sotaque cantado se revela quando recita Camões à mesa dos clientes mais chegados, Rufino aterrissou no Rio de Janeiro em 1965 com a mulher e os dois filhos para assumir o cargo de gerente de marketing da Coca-Cola. A multinacional havia fechado a sucursal onde ele trabalhava, em Angola, durante a guerra colonial entre o país africano e o Exército português, e o Brasil virou a sua nova casa. Do Rio, passou, cinco anos mais tarde, para a filial de Ribeirão Preto, onde, em 1994, encerraria a carreira na Coca-Cola e iniciaria a aventura na Adega Leone.

   A Adega, um típico restaurante português, com azulejos por todo lado, trilha sonora permanente de Amália Rodrigues e pão e vinho sobre a mesa, foi uma das primeiras casas comerciais no Boulevard, bairro posteriormente transformado em região nobre do comércio de Ribeirão Preto. Vivia cheio antes daquele almoço de Lula e companhia. Continuaria cheio durante o tempo em que Lula e companhia estiveram no poder.

   Naquela tarde de segunda-feira, a poucos meses do penoso fim do segundo mandato de FHC, meia dúzia de políticos ilustres comeram e conversaram animadamente a um cantinho do salão. Rufino tentou citá-los de cabeça: “Ora, estavam o Lula, o Palocci, o Dirceu, o Genoino, o Mantega, o Mercadante, o Duda Mendonça...”

   A determinada altura, recorda Rufino, Duda se levantou e leu, em alto e bom som, uma versão da Carta ao Povo Brasileiro perante os companheiros. E perante Rufino. No documento, o PT trocava o ideário de esquerda em matéria econômica por uma espécie de radicalismo de centro. Rendia-se à realpolitik do Plano Real e piscava o olho para o PIB nacional. De charuto na mão, estômago afagado e sorriso no rosto, Lula, que por causa dessa carta se tornaria hóspede do Palácio da Alvorada por oito anos, aprovou.

   “Pediram então mais vinho”, disse Rufino. “Beberam Cartuxa tinto, no total umas dez ou doze garrafas, e comeram um cabrito à Fornos de Algodres e uma tibornada de bacalhau com batatas a murro. E o Lula repetiu as batatas a murro”, completou Anabela, orgulhosa de sua memória e de suas batatas.

   Depois desse almoço e dessa carta, todos sabemos o que aconteceu ao grupo de comensais e signatários. Lula saiu da Adega Leone quase direto para o Planalto, e do Planalto para a liderança espiritual do PT. Pelo meio, continuou a trocar piscadelas de olho com o PIB nacional. Palocci, ziguezagueando entre governo e iniciativa privada, enriqueceu. Dirceu e Genoino, de presos políticos, passaram a políticos presos, com um Mensalão pelo meio. Mensalão do qual Duda Mendonça escapou ileso. Mantega foi eterno na Fazenda enquanto o amor de Dilma durou. E Mercadante está eterno ao lado da presidente enquanto o amor durar.

   Mas e o anfitrião e seu restaurante? O que é feito deles? Leone Rufino e sua adega resistiram enquanto puderam. Acreditaram que a marolinha que foi derrubando, uma a uma, cada casa comercial no Boulevard nunca chegasse a tsunami. Engano: a crise levou com ela a premiada instituição ribeirão-pretana fundada 21 anos atrás. “Não tem jeito, em época de crise, são os restaurantes, os bares ou os cinemas as primeiras coisas que as pessoas cortam: tive que fechar a Adega Leone no dia 1º de junho de 2015”, revelou o português, pesaroso e resignado, hoje com 77 anos, ao lado da mulher e chef Anabela, de 67.
   
   Custos fixos elevados, impostos cada vez mais pesados, aluguel alto, movimento fraco, o cansaço do casal para enfrentar nova recessão – ou, em resumo, a situação econômica do país – foram os motivos que o levaram a fechar as portas, explicou Rufino. Assim a Adega, berço da tomada do poder pelo PT, chegou ao fim por culpa de uma crise econômica exatos treze anos depois de ali redigirem a Carta ao Povo Brasileiro, e ainda durante a gestão do mesmo partido. Leone Rufino, com o sorriso de quem gosta de iniciar polêmicas, faz uma previsão: “Depois de nós, o próximo a fechar as portas é o governo do PT.”

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Coisas do Facebook

   Foto que circula nas redes sociais mostra encontro efusivo entre Fidel, Cháves e...Fernando Henrique!
   Com a foto o comentário de que teria sido Photoshopiada, por "petistas burros", e a cabeça de Lula trocada pela de Fernando Henrique, já que falta um dedo na mão de...FHC!
   Só que isso é muita "teoria da conspiração".
   Foi trocada a cabeça ou a mão?

   Divertido, né?


Havana 2004

   (...) Mal os coveiros acabaram de deslizar a lápide e se dedicaram a colocar sobre ela as coroas de flores que os amigos mantinham nas mãos , dei meia-volta e afastei-me, decidido a fugir de novos apertões no ombro e das descabidas condolências que nos sentimos sempre obrigados a dizer. Porque nesse momento todas as outras palavras do mundo eram demasiadas., só a fórmula habitual do pastor tinha um sentido e eu não queria perdê-la. Descanse em paz: o que Ana  tinha finalmente conseguido e do que eu também precisava.
   Quando me sentei dentro do Pontiac à espera de Daniel, percebi que estava à beira de um desmaio e convenci-me de que , se meu amigo não me afastasse do cemitério, eu seria incapaz de encontrar uma saída em direção à vida.

(Início da narrativa do cubano Leonardo Padura em seu romance O homem que amava os cachorros).

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Com quem ficam os comissionados...

"Bob filho"
   A iminente saída do Partido da República (PR) da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) e FCC preocupa alguns ocupantes de cargos comissionados e aspirantes. Na ausência do pai do secretário, querem saber quem deverão bajular a partir de agora.

   Dois pesos, duas medidas:
   Quando um servidor da FCC foi agredido por um prefeito, a presidência e o Secretário da SOL, Felipe Mello ficaram em silêncio, mesmo com solicitação por escrito de mais de 30 servidores. O agredido foi acusado, inclusive, de "querer palco", e o assunto, varrido para baixo do tapete.


   Quando sai na imprensa (Coluna do Moacir Pereira) a nota Secretaria de Cultura,
"Bob pai"
Esporte e Turismo pode mudar
, sobre a da iminente saída do Secretário, a reação é outra. Seu pai, Deputado Federal Jorginho Mello, lança nota de apoio do partido à permanência do filho, sem consultar seus correligionários (DEPUTADOS ESTADUAIS DO PR NÃO RESPALDAM NOTA DE APOIO A FILIPE MELLO).

   De duas, uma: ou há uma verdadeira inversão de prioridades e valores no trato com a coisa pública ou os servidores é que erraram o destinatário da solicitação. Deveriam ter enviado ao deputado.


Comentário:
Olá Sérgio,
Ao ler tua postagem hoje no Cangablog, gostaria de contribuir com mais uma informação...
Não é somente as agressões aos servidores que estão "sendo varridas para debaixo do tapete", é também o pedido de servidores para cursar Mestrado e Doutorado nas Universidades Públicas do país!! Tanto a Presidência da FCC, como o próprio Secretário de Turismo, Cultura e Esporte tem recentemente negado aos servidores da casa a possibilidade de se capacitar, de progredir academicamente, negando o seu afastamento para cursar pós-graduação integralmente.
Solicito a ti, que não seja publicado qualquer referência ao meu nome, pois tememos retaliações por parte dos 'nossos 'administradores'.
Abraços,

sábado, 15 de agosto de 2015

Vândalo ataca "novo" Mercado Público

Mercado Público amanhece com pichação após restauro
Prefeitura vai buscar os responsáveis pela degradação do patrimônio histórico

    O Mercado Público de Florianópolis amanheceu nesta sexta-feira (14) com uma de suas paredes pichadas. Diante disso, a Prefeitura decidiu registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil, na tentativa de identificar e responsabilizar criminalmente os autores do ato de vandalismo contra o patrimônio público, que acabou de ser restaurado e entregue à população de Florianópolis.

   Para os cidadãos que passavam pelo local e avistavam a pichação na parede, muita indignação:
“É no mínimo uma falta de respeito. O Mercado foi entregue para nós todo prontinho, ficou lindo, desaprovo totalmente esse tipo de atitude”, disse Evandro Santos, 25 anos, vendedor.

“Essa é uma demonstração pura da falta de educação das pessoas”, comentou Walter Zigelli, 80 anos, juiz aposentado e militando atualmente na advocacia.

   Para Maria da Graça, 64 anos, a marca colorida na parede recém-pintada é uma atitude muito feia: “É uma atitude de mau gosto. A estrutura toda nova, bonita, amanhecer assim, é um absurdo”.

“Estamos tomando atitudes cabíveis para frear esse tipo de vandalismo contra o patrimônio. Já entramos em contato com a Guarda Municipal e vamos coibir esses atos fortalecendo a segurança na região”, informou Aldonei Brito, presidente da Associação dos Comerciantes do Novo Mercado.

O revolucionário de plantão...

Matéria especial de William Ear Long* direto de Nova York para o Cangablog.

    Os serviços de inteligência do governo norte-americano interceptaram uma gravação recente entre Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, e um telefone residencial em funcionamento no estado da Florida, no extremo sul dos Estados Unidos.

- Alô, alô... Bom dia, meu caro...

- Helooo Raimundo, como é que tu tá, amigo?

- Acordando agora, onze horas da manhã, sem saber o que fazer. Na Dilma não posso tocar, afinal ela é que me mantém vivo politicamente com esse dinheiro emprestado para o Pacto por SC. Em Santa Catarina não tenho oposição. Embolei o jogo, misturei todos, até o PP já está comigo. Meu líder na Assembléia Legislativa é deles. O radar que comprei aí nos EEUU, para avisar das mudanças climáticas repentinas, não funciona... Também de nada adiantaria, pois o que fazer com as pessoas e seu patrimônio? Os ventos e as chuvas são incontroláveis mesmo... Na propaganda oficial estamos batendo todos os índices... Somos os melhores em tudo. O que tu achas, volto pra Lages para cuidar das vacas? Ainda, são três anos de governo... É muito tempo para ficar aqui na capital...

- Olha meu querido amigo, se tu prestares a atenção vais perceber que o arcabouço jurídico-político-institucional do Brasil está podre, acabado, sem rumo. Ninguém sabe o que faz dentro do Congresso Nacional, não há pauta prevendo o desenvolvimento, o crescimento, o aprimoramento nacional.

- Pois é, quando eu estava por lá, em Brasília, não via à hora de chegar às quintas-feiras para poder voltar pra Lages... Eu acordava, dava uma passada no gabinete e ia pro aeroporto... Era o primeiro a embarcar...

- Viu? Isto é a prova de que aquela cidade não formula nada, não propõe, não articula a vida nacional...

- Bom, vou tomar meu chimarrão e refletir sobre tuas considerações. Um abraço e até qualquer dia destes. Vou tirar uns dias para dar um pulo aí... Quero cumprimentar o Obama pela iniciativa em reatar com Cuba. Esse negão não sai da mídia...
- Risadas do outro lado da linha... kkkkkkkkkkkkk

   Passados alguns dias, Colombo chama o secretário de imprensa e diz: Convoque uma coletiva. Com quem, pergunta o subordinado? Com um jornalista confiável, como sempre fazemos.

Manchetes no dia seguinte:

Colombo declara que o modelo político está podre. Que os funcionários públicos precisam trabalhar oito horas, como qualquer trabalhador. Que a sociedade quer mudanças urgentes. Que ninguém agüenta mais tanta promessa. Que reforma política virou uma palhaçada.

   O publicitário oficial do governador liga e diz: Parabéns Colombo, assim nós vamos levando e criando uma imagem de oposição...

*Jornalista aposentado do New York Times, editor de política internacional, membro da National Academy of Press, free-lancer para jornais estrangeiros e conferencista.





quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Produtora desiste de cobrar calote de Gean Loureiro


    No dia 2 de julho o Cangablog publicou matéria sobre decisão judicial que ordenava o pré-candidato à prefeitura de Florianópolis e atual deputado estadual Gean Loureiro (PMDB) a pagar, em prazo de três dias, uma dívida de R$ 200 mil com a empresa Planeta Político Comunicação e Estratégia Ltda., que fez sua campanha à prefeitura em 2012.

   Na Justiça, a empresa acusava o então candidato e atual parlamentar de ter dado um calote de R$ 200 mil na produção de programas. Em despacho datado do dia 23 de junho, a juíza Cleni Serly Rauen Vieira, da 4ª Vara Cível da comarca da Capital, dá prazo de três dias para que Gean faça o pagamento, sob pena de penhora de bens.

“Caso não efetuado no prazo, proceda-se, de imediato, a penhora de bens, com avaliação, lavrando-se auto e intimando-se o Executado”, registrou a magistrada na ocasião.

   O processo andou, e em despacho publicado no dia 5 de agosto a magistrada registra que a empresa, quem diria, pediu a desistência da ação.

   O que intriga alguns analistas da cena política é: a empresa pediu desistência por quê? A dívida foi paga? Como? Com a palavra, o nobre deputado.


Encaminhado edital/relação para publicação
Relação: 0333/2015
Teor do ato: O exequente requereu a desistência da ação (fl.24 ). Nos termos do art. 267, § 4º, do CPC, a desistência depende da aquiescência do réu quando já decorrido o prazo para resposta. No caso dos autos, o réu sequer chegou a ser citado, circunstância que torna desnecessária sua concordância para o acolhimento do pleito formulado pela demandante. Em face do que foi dito, HOMOLOGO o pedido de desistência formulado e JULGO EXTINTO o processo, sem apreciação do mérito, com fundamento nos arts. 158, parágrafo único e 267, VIII, ambos do Código de Processo Civil. Sem custas. Indevida a remuneração. 
Publique-se. Registre-se. Intime-se. 
Após o trânsito em julgado, arquivem-se.

Matéria publicada no Blog dia 2 de julho.
http://cangarubim.blogspot.com.br/2015/07/justica-fala-grosso-com-gean-loureiro.html

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dison. o amigo premiado


 




 Canga: em primeira mão para teu blog, o poema que dediquei a tua conterrânea, Lila Ripoll.
Um abraço,
Márcio Dison

MEUS   OLHOS   EM   LILA

Na ponta da língua, diante dos olhos
Aos poucos e à míngua, aos amigos e alheios:
Sem o feroz não haveria receios
O limite do veloz são os freios.

Escapa entre os dedos como o silêncio que grita
Aquela algazarra aflita, o tempero da solidão é o degredo:
Ao obstinado comiseração ou catarse
Uma aposta, o aposto, acrescenta à frase?

Na ponta da língua, a essência exclama como um túmulo.
Diante dos olhos, a sentença do tempo é adjetivo cúmulo
Um poema complexo como a vida que míngua
Sem nada a mudar sua sina ou defini-la,
dar respostas ou sinônimos, só a constante lembrança
a esperança que se perpetua nos versos de Lila.

MÁRCIO DISON
12/08/2015

   O querido amigo, jornalista Márcio Dison, receberá amanhã, em Porto Alegre, o Prêmio Lila Ripoll de Poesia, instituido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. 
   Participando com concorrentes de todo o Brasil, Dison conquistou o primeiro lugar com a poesia “Ode”. Foram escolhidos os três melhores poesias e concedidas 10 menções honrosas.

   Quando soube da premiação, mandei um e-mail cumprimentando o amigo e disse que Lila Ripoll nasceu em Quaraí, minha cidade. Ágil, como só ele, me respondeu com este lindo poema.

Dale Márcio!

Do começo... Ao fim.

   Por Marcos Bayer

   No começo, antes da fala e da escrita, eram apenas gritos, sussurros ou gemidos.

   Atentos, surpresos, amedrontados ou confiantes, agíamos pela curiosidade, por tentativas, instintos e alguma racionalidade. Em grupos e pequenas comunidades sobrevivemos aos animais ferozes, às doenças, aos medos, às dificuldades de toda ordem. A vida familiar e comunitária perpetuou a espécie humana. Como fez com diferentes animais...

   Na medida em que ocorria a expansão do cérebro, provavelmente pelo cozimento das carnes e processamento da alimentação, modificavam-se os corpos, as arcadas dentárias e o andar.

   A curiosidade, a tentativa e o prazer foram os condutores da evolução.

   Flávio Gikovate diz que o prazer é a passagem de um estado pior para outro melhor. Aprendeu isto com seus pacientes.

   Matar a fome, saciar a sede, repousar e dormir, acariciar e copular foram experiências que contribuíram para a erotização da vida. O prazer. Eros e Tanatos.

   Vida e morte.

   Aprendemos que havia dias amenos e agradáveis e outros frios e úmidos.

   Descobrimos que algumas safras produziam belas colheitas, outras nem tanto...

   Matávamos e morríamos nas lutas contra animais e ou nossos semelhantes de outras tribos.

   Criamos entidades metafísicas ou psíquicas para nos proteger dos horrores, com também para compartilhar dos favores da Terra.

   Atribuímos ao sol, aos ventos, às águas e a determinados animais funções extra-humanas. Divinas...

   A divindade era a explicação para o desconhecido...

   Assim, pela curiosidade, pela tentativa e pelo prazer fomos construindo o caminho... O processo civilizatório.

   O mundo externo é tão extenso e enigmático quanto o mundo interno, criamos a concepção do Universo. Um só verso, infinito, inatingível, indefinido.

   Como não há limites para a imaginação, a criatividade humana, especialmente pelo caminho das artes – o canto, a música, a pintura, a escultura, o teatro, a dança, a literatura e o cinema – ajudaram a construir o que a ciência demoraria um pouco mais para constatar.

   O positivismo foi absurdo ao querer explicar e validar o mundo pela ciência, pela lógica comprovada, pela racionalidade. No seio dele, nasceu em 1857, com Allan Kardec, o Espiritismo. Uma tentativa de explicar o espírito pela ciência.

   O espírito – pneuma – é apenas o sopro da Criação. Algo inexplicável porque intangível.
Mais sábio foi Einstein com sua Teoria da Relatividade ao definir que a equação: E = m.c2 – poderia explicar nosso mundo.

   A energia é a massa de um corpo lançado no espaço na velocidade da luz ao quadrado. A velocidade da luz é a única constante no Universo. Toda massa ao atingir tal velocidade, desintegra-se e vira pura energia.

   Assim como toda energia pode virar massa. A semente (fonte de energia ou energia concentrada) introduzida na terra, com a ação da luz solar e da água, transforma-se em árvore, algumas com frutas, ou em legumes ou cereais, portanto em massa. Fiat Lux. Fiat Panis.

   Foi assim com o trigo que ralado e misturado ao sal e a água, fez-se pão.

   A ciência (racionalidade) bebeu na fonte da arte (imaginação) para revelar-se.

   Assim, movidos pela curiosidade, fazendo da tentativa um método e buscando o prazer, sempre, caminhamos sobre a Terra.
  
   Fernando Pessoa, na Passagem das Horas, mostra como somos...

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.”

E segue:
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.”

E mais:
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.”

   É muito provável que assim como há uma transferência genética nas sucessões familiares – a morfologia – possa haver também uma transferência emocional ou psíquica nas descendências.

   Somos partes físico-biológicas e psíquico-emocionais de nossos ancestrais.

   Tudo foi átomo que virou célula que virou tecido que virou corpo que virou movimento. E nadou, rastejou, voou e ou andou...

   Carl Sagan diz que com a formação do primeiro olho num ser vivo, o Universo se viu pela primeira vez...

   Os mega ou giga bytes contidos nos “chips” da cibernética contemporânea são impulsos energéticos que não são matéria, nem espírito... Mas, outro elemento que não sabemos definir, ainda.

   Não por acaso está escrito: Tu és pó e ao pó voltarás...

   Somos energia com uma determinada forma e na decomposição do corpo, seremos também energia de outra forma.

   A tal da racionalidade humana é apenas a tentativa, interminável, de compreender o mundo e o homem.

   Boa sorte.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Anísio Teixeira foi assassinado?

Por Emanuel Medeiros Vieira

   A todos educadores do Brasil

   Ele nasceu numa pequena cidade da Bahia (Caetité). É um dos maiores educadores do Brasil (para alguns, o maior – mesmo não tão midiatizado como outros).

   Seu nome: Anísio Teixeira (1900-1971).

   Aqui, não falarei do seu brilho e do imenso trabalho que realizou em favor da educação brasileira, em prol da escola pública de qualidade.

   Creio que ele mereceria ser mais conhecido do que é.

   No dia 15 de julho de 2015, comemoraram-se os 115 anos de seu nascimento.

   Anísio foi lembrado e investigado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), devido às dúvidas a respeito da versão oficial de sua morte. Seu corpo foi exumado em 2014.

   A versão oficial é de que ele teria morrido em consequência de uma queda em um fosso de elevador, no dia 11 de março de 1971, no Rio de Janeiro.

   O professor João Augusto de Lima Rocha (em texto a qual recorri neste artigo), lembra que à frente da organização do esquema de repressão política, na fase mais pesada da ditadura militar (houve o “golpe dentro do golpe”, a partir do AI-5, decretado em 13 de dezembro de 1968), encontrava-se o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier. Dirigia o I Exército , no Rio de Janeiro, o general Syzeno Sarmento.

   O deputado Rubens Paiva desaparece em janeiro de 1971.

   Anísio morre em março e Stuart Angel – bravo combatente estudantil –-, é morto em maio daquele mesmo ano.

   A Aeronáutica está comprovadamente presente – lembrando novamente o professor José Augusto - nas mortes de Rubens Paiva e Stuart Angel.

   O educador mineiro Abgar Renault e o governador Luiz Viana Filho, da Bahia, eram amigos muito próximos de Anísio. Viana Filho revelou ao professor citado que, no dia do desaparecimento de Anísio Teixeira, obtivera a informação,, fornecida por influente autoridade militar, de que Anísio encontrava-se detido em instalação da Aeronáutica no Rio.

“Acredita-se que Anísio foi sequestrado entre a Fundação Getúlio Vargas e o prédio em que morava Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, na praia de Botafogo, Rio de Janeiro. Ele havia marcado um almoço na casa de Aurélio, do qual existe testemunha viva, o maranhense Joaquim Campelo Marques, que fora ao almoço na casa de Aurélio”.

   Marques informou que USOU O MESMO ELEVADOR QUE, SEGUNDO A VERSÃO OFICIAL, ESTARIA FORA DE POSIÇÃO, QUANDO ANÍSIO SE PRECIPITOU NO FOSSO.

   Joaquim usou o referido elevador tanto ao chegar, quanto ao sair.

   Somente dois dias depois, em 13 de março de 1971, é que o corpo de Anísio Teixeirao Teixeira foi encontrado no fundo do fosso do elevador.

(Telegrama sigiloso só revelado em maio pelos Estados Unidos e disponibilizado pelo Arquivo Nacional em julho de 2015, aponta que as forças de segurança do Brasil tiveram, na década de 70, a ordem de matar militantes da esquerda armada após as suas prisões.)
   Resgatar a memória é missão nossa.

   Desde jovem, SEMPRE ACREDITEI QUE SÓ A VERDADE LIBERTA. E a luz do solo iluminará (custe o que custar) o que muitos querem que seja esquecido.

   Por mais que se minta, que se tente enganar, a verdade aparecerá. Sempre.

   E Anísio Teixeira – a quem a educação e o humanismo brasileiro devem tanto – terá a sua “verdade” revelada.

   A proclamação final poderá soar solene e altissonante, mas é preciso gritar a plenos pulmões: Viva Anísio Teixeira! Viva a Educação Brasileira!
(Salvador, agosto de 2015)

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Collor chama procurador geral de filho da puta


   Conhecido meliante, aliado dos petistas, o senador Fernando Collor de Mello, usa a tribuna do Senado Federal para ofender o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.

   Janot chefia uma investigação sobre a participação de Fernando Collor no escândalo do Petrolão, onde é acusado de receber R$ 29 milhões, do esquema que desviava dinheiro da Petrobras. 
   
   Destemperado, como sempre, Collor foi apenas Collor, um ladrão troglodita! 

Criminologia em pauta

  Será no dia 25 de agosto, às 19h, na Univale Kobrasol, a palestra Criminologia, Modernidade e Cultura: Diálogo para Criminologia Cultural.

   A palestra será feita pelo professor e Juiz de Direito, Alexandre Morais da Rosa, pelo doutorando em Direito pela UFRGS, Msc. Guilherme Michelotto Boes e pelo advogado e professor da UNIVALI, MSc. Henrique Gualberto Bruggemann. 

   No auditório da Univale, acontecerá também o lançamento do livro Identidade, Significado e Imagem do Desvio: Uma (re)leitura do fenômeno das torcidas organizadas a partir da Criminologia Cultural, de Mateus Vieira da Rosa, publicado pela Editora Empório do Direito.

A próxima revolução

Arlequin Actionist, Amsterdam, 1720 
Por Marcos Bayer
Saindo desta dicotomia estéril entre PT e PSDB que neste momento assola o Brasil, vamos lembrar algumas coisas.
Há corrupção e corruptos em todos os governos. Aqui e no resto do mundo. Como diria um ex-governador de Santa Catarina: Há governos mais caros e mais baratos...
A Grécia Antiga nos ensinou sobre formas de governo e estados ideais. Roma nos ensinou sobre as conquistas territoriais. Firenze pintou e esculpiu o Renascimento. Paris moldou a Revolução Francesa. Manchester e Liverpool estruturaram a Revolução Industrial. Moscow fez a Revolução Comunista e New York experimentou a primeira grande crise do capitalismo. Ainda não completamos os 100 anos do “crack” de Wall Street.
Em 1929 a população mundial estava em torno de dois bilhões de habitantes. O Oriente dormia para os olhos do Ocidente.
Adam Smith havia ensinado que as coisas têm dois valores: De uso e de troca. A água, por exemplo, dizia ele, tem valor apenas de uso. Os diamantes, por sua vez, têm valor de troca. Foi em 1776. Há menos de 250 anos. Hoje, em 2015, a água já tem um grande valor de troca.
Montesquieu e seus contemporâneos moldaram o Estado moderno e a divisão dos poderes. Foi uma grande conquista para o homem e suas liberdades.
A próxima revolução será contra o capital financeiro. Não contra os meios de produção.
O PIB mundial deve estar em torno de US$ 75 trilhões de dólares. Isto é a soma de tudo que é produzido no planeta. No entanto, deve girar na economia mundial, pelo menos 350% deste valor. Ou seja, US$ 260 trilhões de dólares.
Dentro da bolha estão os capitais especulativos, títulos derivativos, expectativas de lucro, títulos “podres” e as famosas dívidas públicas.
Nos Estados Unidos ela chega a valer 109% do PIB. No Brasil deve estar em 65% do PIB. Na Europa, em quase todos os países.
Esta “finaceirização” da economia mundial está provocando uma revolução silenciosa. Ela está “quebrando” pessoas, empresas e países.
Ele não tem lideranças explícitas, vivas ou corporificadas. Ela é constituída de “touch screens”. De circuitos eletrônicos “on line”. O mundo gira diariamente esta bolha.
Na medida em que a “quebradeira” aumentar entre as pessoas, empresas e países - e isto já está em curso - a tendência é a de não pagar mais juros aos bancos. O não pagamento ocorrerá por simples intuição e impossibilidade.
As pessoas, empresas e países não resistirão...
Aí, então, daremos mais um passo na caminhada humana. Estaremos próximos dos nove bilhões de habitantes. Haverá falta de água potável para o consumo popular. Faltará trabalho remunerado. Os salários diminuirão. Categorias funcionais tentarão se proteger dentro das carreiras de Estado, assim chamadas.
As regras econômicas sofrerão mudanças radicais. Haverá outro tipo de escambo. Surgirá uma economia verde, cujos contornos começam a se desenhar entre as pessoas. A questão ambiental prevalecerá neste novo contexto. A riqueza será de outra forma. Saúde, espaço, sanidade ambiental, convivência, segurança, alimentação e diversão...
E a pobreza, mais severa do que nunca.