sexta-feira, 17 de junho de 2016

Um dia de aniversário "por la calle"...


   Acordei cedo, embora a noite tenha se estendido até...bem tarde. 17 é o dia do meu aniversário. Gosto de fazer aniversário. Comemoro sempre. Tenho a impressão de que fazer aniversário é uma confirmação de que estamos vivos. 63 anos? e daí? isso não me assusta. 
   
   Outro dia escutei um cara falar para um amigo que não via há tempos: 
- tá ficando velho, cara!
   A resposta que recebeu me pareceu exata: 
- se envelheço é porque não morri jovem! 

   Acordei cedo em uma manhã maravilhosa de Buenos Aires. Dia de céu claro com sol e temperatura amena, por volta dos 14ºC. Abri a porta da sacada do meu quarto, no segundo piso do Park Silver, e dei de cara com uma movimentada 9 de julho e o imponente Obelisco à minha frente! Maravilha! Pensei...é hoje!

   Ri do pensamento "é hoje". O que seria hoje? Inconscientemente, acho, que seria hoje o dia mais legal da minha vida. O dia do meu aniversário ali na frente daquele cenário lindo, iluminado, vivo, com aroma de metrópole. É hoje!

   Banho, perfume, roupa quente e...rua! Comecei a bater perna por volta das 10 horas. Atravessei a 9 de julho pela Corrientes, e marchei em direção ao Puerto Madero. Mas só em direção, não cheguei lá.

   Parei no Teatro Gran Rex, comprei dois ingressos para o show dos Les Luthiers, esta noite. Os Luthiers, é um grupo argentino de humor que utiliza a música como elemento
Angel e Miguel mestres do som
fundamental das suas apresentações. Luthiers porque criam seus próprios instrumentos musicais a partir de materiais da vida cotidiana. Na noite anterior, quando passava na frente do Rex, encontrei dois amigos argentinos que fazem o som do espetáculo. Já fizeram Caetano e, em breve, Toquinho e Maria Creusa. Coisas da noite.

  
   Bem, continuei descendo a Corrientes até a Florida. Cambei à esquerda, pispei as lojas de couro, de roupas, fui até a galeria Pacífico, dei uma bandinha nel Ateneo e continuei Florida abaixo até o final na praça San Martin. Antes fotografei, pela enézima vez, a belíssima arquitetura do Clube Naval na esquina com a Córdoba. Um exemplar belíssimo da arquitetura francesa que domina essa região central da cidade.

   Contornei a exuberante naturaleza da San Martin e, agarrando a Santa Fé, caminhei até a 9 de Julho, na verdade Carlos Pelegrini. 
   - A 9 de julho é a do meio. De um lado temos a Carlos Pelegrini e de outro a Cerrito, onde fica o seu hotel, me ensinou Don Carlos, o motorista que me levou ao Cassino na noite ontem.
  
   Ainda na Santa Fé, parei em uma banca de jornais, onde, mãe e filha atendiam. Ao ver as capas de revistas e manchetes de jornais estampando la fachia de Cristina Kirchner, envolvida no escândalo dos 10 milhões de dólares, não resisti e falei: 
- Aqui está igual ao Brasil. Os ladrões estão nas capas dos jornais todos os dias. Era o sinal que faltava para que começassem a demonstrar as suas revoltas e decepções com o ex-governo bolivariano. A grita é geral, por aqui.


   Desci mais algumas boas quadras da Carlos Peregrini em direção a Avenida Libertadores. Cenário propício para apreciar uma Buenos Aires limpa, arborizada e movimentada por conta de um feriado municipal desta sexta-feira. 
   
   Já eram quase às 2 da tarde quando encontrei a avenida Possadas. Rua chic, com hotéis estrelados, restaurante finos e lojas de grife como Osklen e Salvatori Ferragamo. Caminhei até a Callao e...pronto! Cheguei ao destino planejado para o almoço do dia do meu aniversário: El Donjuanino, onde se servem as melhores empanadas, creio, da América Latina. Ambiente quente, aconchegante, pequeno...lotado. Após alguns minutos de espera, uma mesa para dois, vinho e muita empanada. Simples assim!

   Por volta das 4 horas levantei vôo novamente, desta vez em direção ao MALBA - Museu de Arte Latino Americano. O projeto era ousado, já que, até o Sanjuanino, havia caminhado 26 quadras argentinas. Mas era o dia do meu aniversário. Era hoje! O dia ensolarado, agora um pouco mais frio, convidava a uma caminhada. Eram cerda de 20 quadras até a grande avenida Figueroa Alcorta, que me levaria ao maravilhoso museu. 

   Andei, andei e valeu à pena! O Malba tem em seu acervo permanente uma rapsódia da arte latino-americana do século XX. Na exposição atual, 140 peças de autores americanos como Boteros, Diego Rivera, Frida Kahlo, Di Cavalcanti, Helio Oiticica, Berni, Jorge de La Vega entre outros.
  
   Mas o que me impressionou mais foi dar de cara com o Abapuru de Tarcila do Amaral. Obra expoente do modernismo brasileiro, comprada por US$ 1,5 milhões de dólares pelo colecionador argentino, Eduardo Costantini, idealizador do MALBE. A obra vale hoje cerca de US$ 25 milhões. A tela brasileira é uma das mais valorizadas do mundo.

   Bem, depois de toda essa andança gastro etílica cultural, nada mais me restou que não fosse voltar para o hotel de táxi. Colocar os pés de molho na água quente da banheira, tomar um La Linda (cabernet souvignon) e me prepara para o show dos Luthiers à noite. A noite promete! O aniversário está apenas começando!

   É hoje!

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