terça-feira, 25 de abril de 2017

DESCANSA EM PAZ, JERRY ADRIANI!



por Emanuel Medeiros Vieira

Ouvindo a “Oração de São Francisco”, com Fagner, e “Mi Viejo”, com Piero

Segmentos da minha geração (falo da que viveu os anos de chumbo), que combateu a ditadura militar, amavam e escutavam (ou melhor, amam e ainda escutam) Geraldo Vandré (1935), cujo versos condoreiros  correspondiam às nossas lutas e aos nossos sonhos.
   Ainda hoje, acho que ele está para a nossa música, como Castro Alves está para a poesia brasileira.
   E pelo maniqueísmo imposto pela ditadura (ou por falta de lucidez mesmo), deixamos de lado outros gêneros musicais – queríamos apenas as “músicas de protesto”.
(E claro, os  mestres dos mestres: Beethoven, Mozart e Bach.)
 As outras eram “alienadas”, como se dizia naqueles tempos de tanta utopia.

   Deixamos de lado – por radicalismo, por raiva da ditadura, ou por falta de percepção histórica – outros gêneros.
   E também a chamada “Jovem Guarda”, com Erasmo Carlos (1941), Vanderléa (1946), Erasmo Carlos (1941), Roberto Carlos (1941), Martinha (1949), e também outros cantores como Waldick Soriano (1933-2008) – a respeito de quem, Patrícia Pillar (1964) dirigiu um belo filme –, Wando (1945-2012), Altemar Dutra (1940-1983) e outros.
Foi uma injustiça. Com a morte, vitimado pelo câncer, de Jerry Adriani (1947-2017), queria escrever essas modestas palavras.
    De gratidão, por teres alegrado tantos corações, caro Jerry Adriani, como os outros citados.
Tudo isso, revela que a gente pode e dever amar vários gêneros musicais.
   Uma vez, dois queridos amigos discutiam severamente a respeito da validade da chamada música popular e da erudita.
   Cada um defendia a sua preferência.
   E na hora entendi, por todo o sempre, que poderíamos amar e reverenciar Mozart, como Cartola. Tal aprendizado ficou no meu coração.
   E queria te dizer: muito obrigado, Jerry Adriani! Descansa em paz!*
(Peço que a revisão dos meus conceitos seja feita por duas pessoas de outra geração: mais que sobrinhos, são grandes amigos, e que conhecem e amam a música profundamente (e incluo também  outro sobrinho por afinidade: Júlio César Vieira da Silva, Paulo L. Vieira e Nicolau Varela.)
*Queria relembrar três nomes, que engrandeceram as artes cênicas e o humanismo no Brasil, e que também morreram (muito cedo– mostrando que a vida não é justa, é claro...) de câncer: Flávio Rangel, aos 58 anos; (Oduvaldo Vianna Filho), aos 38, e Paulo Pontes, aos 36.
(Salvador, abril de 2017)

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