quinta-feira, 7 de junho de 2018

Uma seleção de escroques

por Eduardo Guerini
Muitas vezes é a falta de caráter
que decide uma partida. Não se faz literatura,
política e futebol com bons
sentimentos. (Nelson Rodrigues)


A cada quatro anos o Brasil vê ressurgir a velha insígnia do ideário coletivo: “somos uma pátria de chuteiras”, quando a seleção canarinho coloca em campo os melhores jogadores do mundo, para vencer seus adversários. O Brasil é uma sociedade que adora mitos e crendices, embora faça muito tempo que o futebol também já tenha aderido à lógica mercantil, na sociedade do entretenimento, com jogadores se transformando em grandes vendedores de imagens e marcas.

Tal como na Copa de 2014, realizada no Brasil, com obras inacabadas e construções megalômanas, descobrimos que o padrão FIFA era mais um legado para obscurecer os desvios de recursos públicos para empresários e políticos corruptos. Perdemos de 7 a 1 para corrupção, enredados na crise do impeachment de Dilma Roussef, com resultados pífios na educação, saúde, segurança, saneamento, emprego e renda. Continuamos uma pátria de espectadores sonhando com uma seleção que nos salve dos vexames coletivos nacionais.

No jogo da política, os presidenciáveis se lançam como pré-candidatos, sem esquema tático, com diagnóstico preciso sobre a situação da sociedade brasileira. São cartolas partidários que nos conchavos de bastidor tentam ganhar o jogo no tapetão. Na falta de bons candidatos, escalamos jogadores medíocres, desde a ponta direita até a ponta esquerda. A ausência de uma estratégia coletiva, lastreada no senso de urgência, os candidatos lançam um palavrório de falsas promessas para a torcida que não se empolga. No centro, o embolo de candidatos reformistas para atender os cartolas do mercado assusta os espectadores, que abandonam os estádios, com aumento da abstenção, anulando qualquer alternativa possível para uma seleção de jogadores escroques.

Enquanto na pátria do futebol, repete-se a pantomima, com a mídia vendendo a ideia de mudança tática em prol do mercado, o atual mandatário perde o mando de jogo para o árbitro do jogo – o STF. Nesse protagonismo de tenentes de toga sem voto, os jogadores se lançam por todos os flancos, avançando sobre o erário público, saqueando o vestuário, deixando no rastro do jogo corrompido, uma nação desacorçoada com os resultados alcançados na bilheteria da economia.

Na entrega apaixonada de torcedores verde-amarelos, o jogo da política brasileira, se transformou num grande laboratório de sentimentos e emoções exacerbados pela falta de racionalidade em prol de candidatos que se locupletam com alguns minutos de fama, no famigerado programa eleitoral que, continua vendendo embalagens sem conteúdo.

A situação política brasileira demonstra que, continuamos com jogadores de várzea, com times suburbanos, em campos enlameados pela corrupção ativa e passiva, onde cartolas do mercado e caciques políticos tentam roubar a pureza sentimental de um eleitor que em última instância se transformou num torcedor passional.

A simplicidade do futebol se projeta no estádio da sociedade brasileira. Nossos jogadores escalados para seleção nacional, não passam de mercenários de ocasião e traficantes de esperança, com uma seleção de escroques que é venerada por uma nação bestializada pelo espetáculo farsesco que se transformaram os campeonatos de futebol e as eleições gerais.

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