terça-feira, 19 de janeiro de 2016

As tais viroses de verão em Florianópolis

    Por Armando José d’Acampora *

    É muito interessante fazer crer a população que a simples idéia da constatação de um índice de coliformes fecais ligeiramente acima do considerado normal nas praias de água salgada é causadora de diarréia e outros sintomas desagradáveis.

A pele é uma grande barreira de proteção, e ao que me consta, bactéria como a Escherichia coli, ainda não gerou o número de mutações suficientes para conseguir artefatos especiais e ultrapassar a pele intacta, esta barreira natural dos humanos. Há que haver uma porta de entrada, ou seja, uma descontinuidade da pele, da barreira, enfim um ferimento que pode ser microscópico ou visto a olho nu.

Se houvesse uma epidemia de infecção urinária nos veranistas da cidade, justificada pelo contato direto da uretra tanto masculina quanto feminina com um alto índice de coliformes fecais na água do mar, eu concordaria que os coliformes seriam os culpados. Mas não é o que ocorre.

Em qualquer córrego, riacho ou corredor com maior volume de água  que desagua no mar, há produtos da degradação orgânica das margens, dos vegetais e animais que morrem afogados ou dos próprios habitantes do riacho cuja vida acaba. A putrefação dos vegetais e animais, enfim  causa mal cheiro que é facilmente percebido por quem está próximo ao riacho. Ainda temos que considerar a extensão do corredor de água, pois com as chuvas, há corrosão das margens com vegetação e tudo isso, desde a nascente, vai rio abaixo, até o mar.

Na infância era proibido, pela minha mãe, de tomar banho de mar próximo a emergência destes afluentes, pluviais ou não, que chegavam ao mar.

Quem como eu, trabalhou anos em pronto atendimento, sabe que janeiro de todos os anos, às vezes até o carnaval, é a época da diarréia em Florianópolis. É uma conjunção bastante antiga: comemorações exaustivas do final de ano, sol, praia, comilança e cachaçada. Alguém se habilita a me comprovar que excesso de comida e de bebida não causam diarréias?

A pessoa se empanturra de mariscos, ostras, berbigão, peixes os mais variados, preparados da mais diferentes formas, com todos os tipos de molhos como acompanhamento, um monte de cerveja e muito outros líquidos alcoólicos e não quer que o seu tubo digestivo se revolte desacostumado com tanto livre arbítrio?

Ainda existem as frituras, altamente saborosas e degustadas aos quilos, cujo óleo deveria ser trocado sistematicamente, mas não é o que ocorre. Ao final de uma semana de utilização, esse óleo vegetal que deveria ser transparente, está tão escuro que mais se assemelha ao óleo diesel.

Isso sem contar que uma grande maioria dos que para aqui chegam para curtir o nosso maravilhoso verão, não dispõe desta variedade de frutos do mar no seu local de origem, e além de comer muito mais do que o habitual, ingerem alimentos aos quais não estão nada habituados. O organismo, esta máquina de fenomenal funcionamento, responde a altura, expulsando tudo aquilo que não conhece.

Não há barreira das mucosas do tubo digestivo que aguente, muito menos uma quantidade de bile nem enzima pancreática produzidas de forma suficiente para degradar toda esta gordura e toda esta proteína, consumida de maneira voraz e sem nenhuma prudência.

Por fim, o que mais acontece nessa época é o que, genericamente se denomina de intoxicação alimentar.

* Médico, Cirurgião, Professor Universitário

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