sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Detalhes do novo Brasil

O cangaceiro virou réu
        por Marcos Bayer

O Brasil vive a fase mais interessante do seu amadurecimento político pós 64. Depois dos atentados contra as liberdades e as garantias individuais, depois da reorganização da vida partidária que acabou em mais de trinta partidos, em grande parte, criados para exercerem a função de marionetes bem pagas com dinheiro público e sustentar meia dúzia de dirigentes safados, depois da chegada do Gabeira, do irmão do Henfil, do Brizola, do Arraes, depois da amizade de Glauber Rocha com Ernesto Geisel, depois da admiração de Golbery do Couto e Silva por gente da esquerda inteligente, depois do Pasquim, depois do Ivan Lessa, depois do Jornal do Brasil com a Coluna do Castelo e da Coluna do Zózimo, depois da Rádio Mundial e do Big Boy, depois da Tropicália, do Plínio Marcos e sua Navalha na Carne, depois de José Celso Martinez e seu TEATRO OFICINA, depois do Milton Nascimento e dos TAMBORES DE MINAS, depois do Chico Buarque e depois do Cazuza, nosso último iluminado, surge agora um jovem juiz que botou o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal para trabalharem.
Sergio Moro, no primeiro dia de Dezembro de 2016, em sessão de debates sobre legislação que trata de abuso de autoridade, no plenário do Senado Federal, deu um show de humildade, inteligência e perspicácia ao sugerir um pequeno adendo ao projeto de lei, na interpretação que um juízo pode ter em relação ao outro. Com esta simples salvaguarda, se adotada pelos senadores, ele satisfaz a classe da qual faz parte, todos os operadores do Direito, e fulmina o golpe pretendido por Renan Calheiros e mais quatorze membros da Casa.
   Enquanto o senador cara pintada, Lindbergh Farias, falava ofegantemente da tribuna, argumentando sobre as arbitrariedades da condução coercitiva de Lula ao aeroporto de Congonhas em São Paulo, achando que sua verborragia desestabilizaria a placidez do jovem Juiz, qual não foi minha surpresa ao ver Sergio Moro responder às provocações do orador dando-lhe as costas.
   Lasier Martins, advogado jornalista, senador brizolista do PDT gaúcho e autêntico foi monumental quando, dirigindo-se ao ministro Gilmar Mendes perguntou-lhe por que os juízes do STF não julgam com a mesma celeridade do juiz federal de primeiro grau do Paraná, o Dr. Sergio Moro.
   Ao final do dia, outras duas notícias: Emilio Odebrecht resolveu assinar a delação premiada e o presidente do Senado da República, Renan Calheiros, foi colocado na condição de réu, por desvio de dinheiro público, pelo Supremo Tribunal Federal, por oito votos contra três. Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, o inocentaram! Tem ainda mais alguns processos em tramitação na Suprema Corte.
   Finalmente começa a nascer um novo Brasil.

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