terça-feira, 25 de junho de 2013

Oitenta anos agora!

    Do jornalista Valdir Alves

   Lá nos primórdios, os oceanos eram calmos e tranquilos. Os viajantes só dispunham dos remos para empurrar os barcos em seus deslocamentos. Havia serenidade nas viagens, mas obrigatoriamente eram curtas e limitadas; e proibidas para determinadas ilhas reservadas, especialmente, para os deuses. Assim navegava a humanidade até o dia que os vikings arrombaram a ilha do deus vento. E o vento libertado foi soprando, esparramando por todos os cantos do mundo a sua força. Os vikings, primeiro tentaram detê-lo, mas perceberam que quem corre para a liberdade é sempre mais rápido e astuto que o carcereiro. E assim escolheram se libertarem com ele inventando a quilha e as velas, que davam às embarcações equilíbrio e estabilidade, mas, principalmente, combustível para longas jornadas.
    Lembro-me da lenda a propósito dos 80 aniversários deste ilustre brasileiro Jaison Barreto que, na biografia das minhas boas lembranças, foi o protagonista de um embate memorável disputando o cargo de governador de Santa Catarina, em 1982. O discurso veemente, a postura serena e inflexível, o verbo feito pão, o pão que haviam subtraído dos catarinenses. Com dignidade violou uma ilha da ditadura e soltou o vento da liberdade, o vento que se esparramaria por todo o Brasil soprado pela sinfonia dos galos tecendo uma nova manhã, segundo o debruado do João Cabral de Mello Neto.
    No começo do mês de outubro, reta final da eleição, fui assistir um comício na cidade Imbituba. Os fatos, com pequenos detalhes que diferenciavam aqui ou ali, se repetiam numa sucessão de comícios por diversas cidades que eu acompanhava sempre que possível: palavras de ordem contra a ditadura, contra as oligarquias e, finalmente a vitória inexorável da democracia faziam de Jaison Barreto uma comemoração. Era o começo de uma catarse, embora ainda lambuzada de medo.
    Nesta oportunidade, para compor uma matéria que eu preparava para o Jornal O Globo, perguntei para um garoto, ainda imberbe, que acompanhava o evento nas proximidades, que motivação tinha para apoiar um candidato da oposição. “O Jaison – me respondeu – é a novembrada do palanque”. Atônito, fiquei ali sem comentar, sem anotar, atônito até o garoto partir. Mas nunca esqueci aquele sucinto e esclarecedor encontro.
    Como também nunca esqueci o Jaison Barreto cidadão comum, com o estranho gosto de misturar uísque com coca-cola, é verdade, mas sábio quando entre um gole e outro argumentava que a ignorância não se higieniza, se varre. Logo, educação era o fundamental. O palco e o boteco tinham harmonia, eram os versos do Quintana apertando o interruptor: Venho do fundo das eras/Quando o mundo mal nascia/Sou tão antigo e tão novo/ Como luz de cada dia.
    A alegria durou até a abertura das urnas no mês de novembro. Junto com elas, todavia, se abriram também os depósitos das falcatruas que os penduricalhos da ditadura obsequiavam aos poderosos de plantão. Roubaram a eleição de Jaison Barreto. Mas não roubaram os ventos da liberdade, estes estavam espalhados e, sobretudo, soprando nos corações libertários das pessoas que não se trocaram por uns poucos vinténs, da gente honesta brasileira. Não roubaram o desejo dos catarinenses de por fim a ditadura, não roubaram dos catarinenses o desejo de acabar com as oligarquias.
    Hoje, estes milhões de brasileiros que estão nas ruas exigindo o fim da corrupção, exigindo o aroma da honestidade, estão também cantando um pouco: parabéns Jaison Barreto, feliz aniversário.

    Com o carinho do escriba Valdir Alves.

2 comentários:

  1. viajei nos ventos dos tempos, lindo artigo.

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  2. viajei no teu artigo, bons ventos.
    grata, carmem

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