quinta-feira, 28 de junho de 2018

RESQUÍCIOS DO AUTORITARISMO

Jornal BOM DIA FLORIPA denuncia, com exclusividade, atitude extemporânea do comando da Base Aérea de Florianópolis ao invadir terreno da União usado pela comunidade do Campeche

TEMPOS OBSCUROS
BASE AÉREA IGNORA DECISÕES DA JUSTIÇA E TENTA TOMAR À FORÇA PARQUE DO CAMPECHE 

Sem qualquer legitimidade, porque a área está sub judice e é patrimônio da União, o comando da Base Aérea de Florianópolis abriu grandes valas no antigo Campo de Aviação do Campeche (área já tombada pelo município) derrubou vegetação, interferiu no lençol freático e destruiu parte de um campo de futebol usado pela comunidade. 

Leia a reportagem completa no BOM DIA FLORIPA!



A imprevisibilidade brasileira

por Eduardo Guerini
Pensar a transição, corresponde também reconhecer o esgotamento dos paradigmas, sua impotência para explicá-la e compreendê-la. Da mesma forma é reconhecer a nulidade política das ideologias, todas estioladas no conservadorismo ou esterilizadas pelo extremismo desorientado. (Sergio Abranches. A era do imprevisto,2017)
  
Um lastro de imprecisão e insegurança assombra a sociedade brasileira diante de um novo embate eleitoral para as disputas majoritárias. A transição ambicionada para retomada do crescimento sofre choques de confiança rotineiros na falta de direção do Governo Federal. O “caminhonaço” paralisou o Brasil, sepultou as esperanças no país presidido por uma ampla coalização conservadora. Toda fragilidade politica e fraqueza governamental ficaram expostas ao grande público, com afastamento cabal das forças politicas de um cadáver presidencial putrefato associado ao Congresso Nacional corrompido e degenerado.

   O governismo de coalizão não corresponde aos desejos das forças políticas e da sociedade, dado que, a Operação Lava Jato explicitou a tática de apoio formalizado por espúrias e rumorosas transações, reveladas pelo clientelismo, tráfico de influência e compadrio, que azeitava a lógica de corrupção passiva e ativa, de grandes partidos camuflados em realizações de festim. Tudo não passou de um linda noite de verão, que trouxe consigo um rigoroso outono, resultando num inverno recessivo.

   Quando os partidos e lideranças partidárias se lançam em projetos de poder, com o simples desejo em garantir sua perenidade, sustentada a qualquer custo, sem princípios e programas, o resultado cabal é a perda de representatividade e legitimidade. Eis o momento ideal para o nascedouro de lideranças populistas, salvadores da pátria ou mitos , que jogam para uma plateia de espectadores ensandecidos pelos sucessivos estelionatos politico-eleitorais.

   Dos exemplos históricos de FHC (PSDB) com seu reformismo neoliberal até Lula-Dilma (PT), com um reformismo acanhado, chegamos ao desencantamento total de Michel Temer (MDB). Todos os governos de coalizão foram apoiados por partidos fisiológicos, com fraqueza ideológica, sem nenhum assombro em lotear o aparato estatal brasileiro. Neste cenário, a falta de um estadista, uma liderança política capaz de orquestrar uma transição para além da crise, sempre é jogada para o futuro. Uma nação que coleciona décadas perdidas, com desigualdade em alta e polarização política potencializada.

   A agenda política dos partidos, enredados em suas coligações pragmáticas continuam afastando o cidadão-eleitor do processo decisório, resultado da falta de ligação entre agremiações e movimentos sociais. Somos uma pátria de deserdados que se agride politicamente diante das ofensas sociais da realidade. Vivemos no círculo vicioso da pobreza econômica, da degradação social e dos desvios éticos na política. Uma crise que desorganiza e gera instabilidades. O imprevisto denota a imponderável e desejosa sanha de grupos sociais em retornar ao passado da intervenção militar, desdenhada pelos próprios militares.

   Na economia, a reversão das expectativas é crível. Os agentes econômicos blasfemam da potência do Banco Central em reduzir a elevada desvalorização cambial, revendo o crescimento do PIB para pífios 1,5% no ano de 2018, coroados pelo elevado desemprego estrutural e informalidade que assombra indivíduos e famílias.

   A sociedade brasileira continua estupefata com a falta de senso de realidade das classes políticas e empresariais, paralisada numa onda de insegurança lastreada pela imprevisibilidade de uma saída plausível. Na longa e obscura trajetória de desencanto total, vivemos contando grãos de areia na ampulheta de um governo que não consegue revigorar nossas vidas e esperanças. Eis o legado de uma pátria de políticos desavergonhados, apoiados numa elite empresarial insensível, que vive saqueando miseráveis!!

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A violência pré-banalizada

por Manoel Hygino (publicado no jornal "Hoje em Dia", de Belo Horizonte, em 15/06/2018)
   
O escritor Emanuel Medeiros Vieira, nascido em Santa Catarina, caminhante pelo Brasil e fora dele, reside agora, novamente, em Brasília, onde goza de simpatia e bom relacionamento. Vai enfrentando, estoicamente, o câncer que só consegue vencê-lo em determinados momentos do dia, impedindo-o de dedicar-se à missão: escrever.

  Não desanima, e seus textos e poesias valeram-lhe indicação pela Associação Internacional de Escritores e Artistas, IWA, ao Nobel de Literatura, sobre o que falarei proximamente. Enquanto fluem os dias, dolorosos para Emanuel, ele faz reflexões e lembra os anos de chumbo, quando preso e torturado pela revolução ou ditadura militar.

   Em fevereiro último, em bom instante de saúde, Emanuel me encaminhou e-mail sobre a Campanha da Fraternidade 2018, promovida pela Conferência dos Bispos do Brasil, com temas “Fraternidade e Superação da Violência” e “Vós sois todos irmãos”. Na oportunidade, o presidente da entidade, cardeal Sérgio da Rocha, de Brasília, afirmou: “os grupos sociais vulneráveis são as maiores vítimas da violência”.

   O alto dignitário ressaltou que as várias formas de violência no Brasil são praticadas contra os negros, os jovens e as mulheres, mas descreveu também que “a corrupção é uma forma de violência e ela mata”. “Ao desviar recursos que deveriam ser usados em favor da população, os políticos acabam promovendo uma outra forma de violência contra o ser humano, a miséria”, embora o escritor enfatize que não somente eles (políticos) são responsáveis.

   Concorda com Dom Sérgio, que acentuou ser “um equívoco achar que superaremos a violência, recorrendo a mais violência”. Na oportunidade, Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, catarinense de Brusque, apelou: “vamos trabalhar para que a cultura da paz prevaleça e a gente viva num mundo onde, ao menos, haja respeito mútuo”.

   O poeta comentou: “o que acaba com a autoestima de um povo é a falta de conhecimento e ignorância”. Além da falta de fibra, “essa carência de solidariedade, essa obsessão por engenhocas eletrônicas, sem nenhum controle do instinto (já está em Freud: “a violência: inata do ser humano só pode ser coibida pela lei”).

   Quase finalizando: “a violência banalizada em todos os lugares, nas escolas, o império do tráfico, a falência e comunicação entre pais e filhos, o sonho de ser modelo ou atriz, vai gerando uma sociedade de sonâmbulos morais”.

   Sente-se ainda prisioneiro na cadeira de tortura, em que havia um crucifixo na parede. O militar sem farda o olha e aconselha: “pede para Ele; Ele te salvará?”, perguntou, num sorriso cínico. Cristo quieto na cruz. O homem musculoso ligou a máquina: gritos, mais gritos, só gritos. O minuto parecia uma hora, ou a eternidade toda. O Crucificado em silêncio. Um guarda no térreo berrou eufórico: “gol do Corinthians”. O Doi-Codi era no bairro chamado Paraíso.

   Introduzido no carro para transferência. Os agentes gritavam, “saiam da frente, são terroristas”, e as pessoas olhavam horrorizadas. Um agente disse: “não temos nada contra vocês. Se a revolução de vocês ganharem, pagando bem, a gente bate também naqueles que vocês mandarem.
O Crucificado? Perdi-o de vista. Talvez esteja numa igreja velha”.



quinta-feira, 7 de junho de 2018

Uma seleção de escroques

por Eduardo Guerini
Muitas vezes é a falta de caráter
que decide uma partida. Não se faz literatura,
política e futebol com bons
sentimentos. (Nelson Rodrigues)


A cada quatro anos o Brasil vê ressurgir a velha insígnia do ideário coletivo: “somos uma pátria de chuteiras”, quando a seleção canarinho coloca em campo os melhores jogadores do mundo, para vencer seus adversários. O Brasil é uma sociedade que adora mitos e crendices, embora faça muito tempo que o futebol também já tenha aderido à lógica mercantil, na sociedade do entretenimento, com jogadores se transformando em grandes vendedores de imagens e marcas.

Tal como na Copa de 2014, realizada no Brasil, com obras inacabadas e construções megalômanas, descobrimos que o padrão FIFA era mais um legado para obscurecer os desvios de recursos públicos para empresários e políticos corruptos. Perdemos de 7 a 1 para corrupção, enredados na crise do impeachment de Dilma Roussef, com resultados pífios na educação, saúde, segurança, saneamento, emprego e renda. Continuamos uma pátria de espectadores sonhando com uma seleção que nos salve dos vexames coletivos nacionais.

No jogo da política, os presidenciáveis se lançam como pré-candidatos, sem esquema tático, com diagnóstico preciso sobre a situação da sociedade brasileira. São cartolas partidários que nos conchavos de bastidor tentam ganhar o jogo no tapetão. Na falta de bons candidatos, escalamos jogadores medíocres, desde a ponta direita até a ponta esquerda. A ausência de uma estratégia coletiva, lastreada no senso de urgência, os candidatos lançam um palavrório de falsas promessas para a torcida que não se empolga. No centro, o embolo de candidatos reformistas para atender os cartolas do mercado assusta os espectadores, que abandonam os estádios, com aumento da abstenção, anulando qualquer alternativa possível para uma seleção de jogadores escroques.

Enquanto na pátria do futebol, repete-se a pantomima, com a mídia vendendo a ideia de mudança tática em prol do mercado, o atual mandatário perde o mando de jogo para o árbitro do jogo – o STF. Nesse protagonismo de tenentes de toga sem voto, os jogadores se lançam por todos os flancos, avançando sobre o erário público, saqueando o vestuário, deixando no rastro do jogo corrompido, uma nação desacorçoada com os resultados alcançados na bilheteria da economia.

Na entrega apaixonada de torcedores verde-amarelos, o jogo da política brasileira, se transformou num grande laboratório de sentimentos e emoções exacerbados pela falta de racionalidade em prol de candidatos que se locupletam com alguns minutos de fama, no famigerado programa eleitoral que, continua vendendo embalagens sem conteúdo.

A situação política brasileira demonstra que, continuamos com jogadores de várzea, com times suburbanos, em campos enlameados pela corrupção ativa e passiva, onde cartolas do mercado e caciques políticos tentam roubar a pureza sentimental de um eleitor que em última instância se transformou num torcedor passional.

A simplicidade do futebol se projeta no estádio da sociedade brasileira. Nossos jogadores escalados para seleção nacional, não passam de mercenários de ocasião e traficantes de esperança, com uma seleção de escroques que é venerada por uma nação bestializada pelo espetáculo farsesco que se transformaram os campeonatos de futebol e as eleições gerais.

terça-feira, 5 de junho de 2018

DESTERRO

Vila do Desterro - Victor Meirelles


 por Emanuel Medeiros Vieira   

 Desterro cumpriu-me
e cumpriu-se.

O rio começava atrás de casa
(como eu),
e foi embora  – afluentes.
Vento sul, Campo do Manejo, Rita
Maria, Rio da Avenida, Miramar,
bala queimada, Catecipes, Praia do Muller,
procissão do Senhor Morto, Cine Rox,
gibis, Grupo Escolar Dias Velho,
Chico Barriga D’Água, paixão camuflada pela menina
da Rua de Cima – ela nunca soube.)
Só enuncio: acumulo – sobrecarregado.

O rio foi embora.
Casa demolida, mãe na soleira da porta, pitanga no
quintal, regata na Baía Sul, matracas, turíbulos, trapiche da
Praia de  Fora, gaita-de-boca, groselha, tainha frita,
fogão de lenha, beliches, pé de amora.

Perdeu-se o rio: não sei do seu delta.
Perdi-me: tiro certeiro na gaivota.
A rua pequena, era a maior do mundo – coração.

Desterro inunda-me:
outrora/agora.
   



domingo, 3 de junho de 2018

Réquiem para Temer

por Eduardo Guerini
“Cai o rei de Espadas/Cai o rei de Ouros/Cai o rei de Paus/Cai não fica nada” (Cartomante. Ivan Lins)
   
A vacuidade do poder é um temeroso espectro que ronda o ambiente político de governantes que apresentam debilidade gerencial, incapacidade de manter apoio em seu projeto de poder, e, fundamentalmente, garantir implementação de programas e projetos no âmbito das políticas econômicas e políticas sociais.

   Comumente, um governo perde legitimidade quando suas ações denotam um afastamento das demandas populares, com baixa aprovação junto à opinião pública, redução da adesão das lideranças políticas e empresariais, perda do controle legislativo institucional dos partidos políticos no âmbito do Congresso Nacional.

   O governo Michel Temer ancorado na coalização político-econômica conservadora pretendia construir uma “Ponte para o Futuro” viu ruir rapidamente seu apoio com denúncias sucessivas de corrupção ativa-passiva e formação de quadrilha. De fato, as quadrilhas partidárias tomaram o poder estatal brasileiro, tratando de implementar políticas de atendimento aos financiadores e apoiadores das candidaturas vencedoras de pleitos eleitorais, orientados na maioria dos casos por interesses “nada republicanos”.

   Os maiores partidos políticos brasileiros desde a transição democrática em 1985, se envolveram em rumorosas transações, com uso e abuso de recursos públicos em projetos de poder com apoio de Caixa 2, desvios de verbas estatais para fortalecimento de partidos políticos e suas lideranças, dos anões do Congresso Nacional ao Mensalão, do Mensalão ao Petrolão, a sociedade brasileira estupefata descobriu na Operação Lava a Jato, como se faz a política palaciana. Todas as bases de legitimidade e representatividade entre governantes/governados, representantes/representados, sucumbiram ao pragmatismo político.

   O instável se transformou em duradoura crise sob a batuta reformista (sic) de Michel Temer. A economia continua dando o tom pessimista, com expectativas de crescimento do PIB em 2018, inferior a 2%. O nível de desemprego e informalidade atinge o ápice em cada publicação do IBGE/CAGED. O Brasil assiste passivamente o descalabro de um governo sem norte ou direção, capitaneado por uma elite política e empresarial submetida aos desejos dos agentes de Mercado.

   Comumente, o réquiem ou missas de réquiem são missas cerimoniais fúnebres para conceder o descanso eterno de mortos, geralmente com grandes composições musicais para indicar a passagem da vida terrena e profana dos homens ao mundo celestial.

   Recentemente, Michel Temer se intitulou um “iluminado” Presidente da República que pacificou o Brasil no momento da maior crise brasileira, com retorno de vivandeiras de caserna pedindo a intervenção militar. Tal passagem indica um governo cambaleante, trôpego de ações institucionais, carente de representatividade e legitimidade. O silêncio das lideranças políticas e empresariais no cenário caótico que se generalizou no Brasil, traduz o réquiem do Presidente e seu governo. As assombrações com o passado, o flerte com o caos, na “missa defunctorum” de Temer, a esperança que se renova: temos uma nação para reconstruir, com lastros éticos e justiça social!!