sexta-feira, 30 de junho de 2017

Que tempo são esses?

Janela do blog
   Uma cena inusitada, acontecida na tarde de ontem, me despertou o pensar...
   O fato que me tirou da letargia pensativa, analítica assumida, desfilou - aos gritos e correrias - na frente da janela da minha mesa na Kibelândia.
   Foi na rua Vitor Meireles.
   A balburdia de buzinas e gritos cadenciados, num primeiro momento me pareceu ser uma passeata de protesto. 
   Não era! 
   Carros e motos buzinavam acompanhados de um coro que mandava: PEGA! PEGA! PEGA!
   Logo vi um jovem - bem vestido, camisa polo azul, calça skyni, sapatenis, cabelo cortado rente nas laterais - "deitando o topete" em direção à Praça XV. 
   Atrás, a turba multa correndo e gritando. A velocidade ágil do jovem esbarrou no grandão da loja de água, ao lado da Kibelândia.
   Capturado, com um celular que havia surrupiado de uma mulher na esquina anterior, o rapaz começa a chorar. Um choro ridículo, sem lágrimas, mas de desespero.
   A situação era bizarra!
   Muita gente ao redor, xingando. O grandão da água, mantinha a gravata - aplicada no larápio - no limite da responsabilidade. Na medida certa, apenas para "segurar" o rapaz.
   Pessoas ao celular chamando a polícia, outros se aglomerando para ver o rapaz, nesta altura, sentado na calçada, chorando sem parar e no prédio, do outro lado da Kibelândia, onde funciona uma escola de idiomas, três sacadas lotadas com futuros poliglotas, gritavam em coro: BATE! BATE! BATE!

   Olhei para cima e não acreditei no que via! Muito menos no que ouvia!
   BATE??????
   De cima das sacada, como em um tribunal acusatório, os alunos de idiomas falavam uma língua primitiva que, se levada à prática, chegaria ao linchamento!
   Logo em seguida escutei uns estalos estridentes, como de curto-circuito, bem ao meu lado.
   Um cidadão, com uma pistola de choque elétrico, apertava o botão da pôrra, chamando a atenção de todos e, a cada disparo, falava: TEM QUE MATAR! TEM QUE MATAR!
   A turba multa que corria e segurou o jovem tinha mais consciência e humanidade que aqueles que não participaram da ação e que apenas assistiam sadicamente o espetáculo.
   Pensei...olhei para o chorão...mirei de novo no tribunal de idiomas...e senti pena...de mim!
   Voltei para a minha mesa e escrevi isso. 
   Só para dar uma exorcizada!

   Já voltei...a não pensar!

 Comentário: Caro Sérgio
A cena que descreves - do rapaz que roubou um celular - e de muita gente querendo linchá-lo - incluindo (com perversa ironia) até alunos de escola de línguas, é impressionante sim!
   É também - caro amigo -metáfora do que está acontecendo no Brasil todo.
   O que hoje predomina no Brasil?
   A violência, a intolerância, o fundamentalismo, a raiva incontida, a vontade de esfolar o outro, a fascistização do cotidiano etc.
   É importante fazer o registro dessas situações, mesmo que seja doloroso.
PARECE QUE NINGUÉM QUER MAIS JUSTIÇA, MAS VINGANÇA!
   Que tempos!
   Abraços solidários do Emanuel



Pós-Verdade: "Verdade"?


por Emanuel Medeiros Vieira               
Ouvindo a "Ave Maria
de Franz Schubert, 
na voz de Stevie Wonder

   O que é verdade? Essa pergunta também foi feita a Jesus, durante o seu “julgamento”. 
   A realidade é difícil? Os fatos são dolorosos? Então, muda-se o conceito e abandona-se a verdade.
   Num exemplo muito prosaico, "vendedores" viraram  “consultores” – consultores de perfume e de tudo.
   É o reino do eufemismo!
   Onde prevalece a propaganda, o mercantilismo, cerveja virou algo intrinsecamente ligada às festas de São João, tão enraizadas aqui no Nordeste. 
   Forrozeiros autênticos são abandonados pelos “sertanejos universitários” - que praga!
   Já não basta a dupla sertaneja/goiana Joesley & Wesley, patrocinada pelo BNDES, Caixa Econômica e outras instituições dominadas pelo gangsterismo e pelo banditismo, que estão ou estavam no topo da República? 
   Nosso mundo acelera com velocidade estonteante a informação (não a “formação”). 
   Acelerar e aprofundar não são verbos semelhantes. Ou não?
   Dispersei-me.
   O adjetivo pós-verdade adquiriu importância e significância que “transcende o vernáculos e a semiologia da geopolítica internacional”.
   Como alguém observou, "o facciosismo fascista e a intolerância desumana hiperbólica, associam-se à hipocrisia flagrante que renega a veracidade factual do viver”. (...)
   O niilismo está na soleira da porta. 
   A verdade é o que é; segue sendo verdade, ainda que pensemos o revés, disse A. Machado. 
   Qual a primeira vítima de, por exemplo, uma guerra? É a Verdade.
   Alguém lembra que, ainda que a linguagem cotidiana não seja construída de forma lógica, entretanto ela e o mundo estão estreitamente ligados, como diria Ludwig Wittgenstein (1889-1951) – “Pois o mundo é a totalidade dos fatos”, constataria ele (lembrado também em artigo de Marcos Luna).
   Fui obscuro? Não quis.
   Um poeta espanhol disse que a verdade nunca é triste...
   A busca de fabulação pode anestesiar a nossa dor, mas não pode prevalecer – senão será roubada a nossa autenticidade.
   E eu só posso pedir que alguém acredite em mim, se previamente eu acreditar fundamente no que digo.*

*Ludwig Wittgenstein, acima citado, foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Participou do chamado “Círculo de Viena”, que contribuiu para a renovação da lógica na década de 20 do século passado.
  Ele é considerado um dos pais da “filosofia analítica”.
   Estudou com Bertrand Russel (1892-1970) entre 1912 e 1913. 
(Salvador, junho de 2017). 

     MENINA BRANCA DE NEVE
             (Modesta paráfrase de um grande poeta)   
                         Emanuel Medeiros Vieira
   Para Clarice e seus irmãos Lucas, Américo e Maurício
Quando você for se embora/moça branca como a neve/
 me leve/
Se acaso você/não possa me carregar pela mão/menina branca de neve/
me leve no coração”. (...)
(Ferreira Gullar, "Cantiga para não morrer") 

E quando eu ainda estiver aqui, andaremos de mãos dadas
Mais tarde você me olhará com ternura  e dará as mãos para mim
Pernas? Já não me acompanham
Então, menina branca de neve, me carregue pelas mãos
E quando eu for embora, olhe para uma estrela – pense que eu seja ela –e  me leve no seu coração. 
                 

Ricardo Boechat fala de juiz afastado pelo CNJ em SC

quinta-feira, 29 de junho de 2017

De olho no Observatório Social

do jornal Bom dia Floripa
O ativismo de Jaime Klein é bom para o futuro da OSSJ? Quem prega a moralidade pública e desrespeita a lei de trânsito não moraliza

O Observatório Social de São José (OSSJ), criado em 2011 com a proposta de ser “uma entidade sem fins econômicos, mantida pela sociedade josefense e objetivo de realizar ações para o exercício da plena cidadania no campo do controle social – basicamente, através da fiscalização da aplicação dos recursos públicos do Executivo e do Legislativo no município de São José”, hoje parece cortejar o figurino de “paladino da moralidade pública” mas com viés político.
   O braço visível dessa ação política do Observatório é o de Jaime Luiz Klein, funcionário da Secretaria de Estado da Fazenda e ex-presidente da instituição. Jaime faz militância de longa data. Hoje na vice presidência, participou de protestos na Câmara
quando foi votado o aumento no número de cadeiras (13 para 17), e ficou célebre por envergar um nariz de palhaço e liderar protestos que uniram diretores da Aemflo (a Associação Empresarial da Grande Florianopolis) e sindicalistas.
    

   Era agosto de 2014 e vários vereadores protestaram contra o Observatório, acusado a entidade de agir com o objetivo de desgastá-los, de olho nas eleições de 2016.
“A voz corrente é que membros do Observatório e da associação seriam lançados candidatos a vereador, e avalia-se até a hipótese do lançamento de um ex-diretor da Aemflo como candidato a prefeito de São José”, relatou à época este jornal.
    O candidato a prefeito não foi lançado, mas o então presidente do Observatório, Jaime Klein, participou ativamente de ações da campanha que elegeu o vereador mais votado de São José nas últimas eleições, Antonio Lemos Filho (PMDB).
    A ligação entre Klein e Lemos, e de outro importante diretor do Observatório, é o evangelismo, o ativismo moral e o discurso anti-político. O vereador Antonio Lemos, que é “sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa”, segundo perfil dele publicado pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, é da mesma religião de Jaime Klein.


Leia matéria completa: beba na fonte.

Vereador denuncia "pacote de maldades" do prefeito Gean Loureiro

Injustiça Social: prefeito nega gratuidade no transporte para deficientes e doentes crônicos. 
O vereador Lino Peres recebeu, na tarde de ontem, um pedido urgente de ajuda. O pedido vem de pessoas com deficiências físicas, mentais, visuais, auditivas e doenças crônicas. Segundo o vereador, dentro do "Pacotão de Maldades" aprovado em janeiro pela Câmara Municipal, havia uma lei que revogou a gratuidade no transporte público para pessoas com certos tipos de deficiência e diversas doenças crônicas em tratamento nos hospitais. 
   O prefeito Gean Loureiro propôs o fim da gratuidade que foi aprovada pela maioria dos vereadores de Florianópolis. Milhares de pessoas com AIDS, câncer, problemas do coração, insuficiência renal, autismo e outras patologias perderam o transporte gratuito a hospitais onde faziam tratamento. Deficientes mentais, visuais e auditivos também perderam o direito, negado desde fevereiro.
    Diante da gravidade do caso, o vereador Lino está protocolando ofício, onde requer uma audiência urgente com o prefeito, que há meses se nega a receber essas pessoas. 
   A imensa maioria não tem condições de arcar com os altos preços do transporte público. Além de cerceadas no seu direito universal de ir e vir, muitas interromperam o tratamento de doenças gravíssimas.
   Segundo Lino, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, coloca em risco a vida de milhares de pessoas com a revogação da gratuidade que gerou um impacto ínfimo na economia do município, mas afetou profundamente a vida de seus cidadãos, causando sofrimento e dor desnecessários. 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Brasil foi fatiado entre cinco perigosas quadrilhas

 Não há mais nenhuma dúvida de que a classe política brasileira está totalmente contaminada.
Salvo raríssimas exceções, não escapa ninguém e todos, em maior ou menor proporção, tem algum tipo de envolvimento com alguma das quadrilhas que operam neste cenário fétido e absolutamente sem qualquer escrúpulo.

   O jornalista ErickBretas, em artigo publicado numa rede social, foi extremamente elucidativo na identificação dos grupos organizados que atuam no Brasil, buscando vantagens em detrimento da população.
   As afirmações do jornalista foram baseadas em análise a partir das delações da JBS, Odebrecht e demais empreiteiras, apontando com extrema lucidez e propriedade que nas duas últimas décadas o país foi fatiado entre cinco grandes quadrilhas.
"A maior e mais perigosa, diferentemente do que diz o Joesley, era a do PT. Era a mais estruturada, mais agressiva, mais eficiente e com planos de perpetuação no poder. Comandava a Petrobras, vários fundos de pensão e dividia o poder com as quadrilhas do PMDB nos bancos públicos. Sua maior aliada econômica foi a Odebrecht. O chefão supremo era o Lula. Palocci e Mantega, os operadores econômicos. Era o Comando Vermelho da política: pra se manter na presidência eram capazes de fazer o Diabo."

"A segunda maior era a do PMDB da Câmara. Seus principais chefões eram Temer e Eduardo Cunha. Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Henrique Eduardo Alves eram os subchefes. Lúcio Funaro era o operador financeiro. Mandava no FI-FGTS, em diretorias da Caixa Econômica, em fundos de pensão e no ministério da Agricultura. Por causa do controle desse último órgão, tinha tanta influência na JBS. Era o ADA dos políticos -- ou seja, mais entranhada nos esquemas do poder tradicional e mais disposta a acordos e partilhas."

"A terceira era o PMDB do Senado. Seu chefão era Renan Calheiros. Seu guru e presidente honorário, José Sarney. Edison Lobão, Jader Barbalho e Eunício Oliveira eram outras figuras de proa. Mandava nas empresas da área de energia e tinha influência nos fundos de pensão e empreiteiras que atuavam no setor. Vivia às turras com a quadrilha do PMDB na Câmara, que era maior e mais organizada."
 
"A quarta era o PSDB paulista, cuja figura de maior expressão era o Serra. Tinha grande independência das quadrilhas de PT e PMDB porque o governo de São Paulo era terreno fértil em licitações e obras. A empresa mais próxima do grupo era a Andrade Gutierrez, mas também foi financiada por esquemas com Alstom e Odebrecht."
 
"A quinta e última era o PSDB de Minas - ou, para ser mas preciso, o PSDB do Aécio. Era uma quadrilha paroquial, com raio de ação mais restrito, mas ainda assim mandava em Furnas e usava a Cemig como operadora de esquemas nacionais, como o consórcio da hidrelétrica do Rio Madeira.’
‘Em torno dessas "big five" flutuavam bandos menores, mas nem por isso menos agressivos em sua rapinagem - como o PR, que dava as cartas no setor de Transportes, o PSD do Kassab, que influenciava ministérios poderosos como o das Cidades, o PP, que compartilhava a Petrobras com o PT, e o consórcio PRB-Igreja Universal, que tinha interesses na área de Esportes."
 
"Havia também os bandos estritamente regionais, que atuavam com maior ou menor grau de independência em relação aos nacionais. O PMDB do Rio e seu inacreditável comandante Sérgio Cabral, por exemplo, chegaram a ser mais poderosos que os grupos nacionais. Fernando Pimentel comandava uma subquadrilha petista em Minas. O PT baiano também tinha voo próprio. Elas se diferenciam das quadrilhas tucanas que estavam apenas circunstancialmente restritas aos territórios que comandavam - mas sempre tiveram aspirações e influência nacionais."

   "Por fim, vinham parlamentares e outros políticos do Centrão, que eram negociados de maneira transacional no varejo: uma emenda aqui, um caixa 2 ali, uma secretaria acolá..."
   ‘Digo tudo isso não para reduzir a importância do PT e o protagonismo do Lula nos crimes que foram cometidos contra o Brasil. Lula tem de ser preso e o PT tem que ser reduzido ao tamanho de um PSTU.’
   ‘Mas ninguém pode dizer que é contra a corrupção se tolerar as quadrilhas do PMDB ou do PSDB em nome da "estabilidade", "das reformas" ou de qualquer outra tábua de salvação que esses bandidos jogam para si mesmos.’
   "E que ninguém superestime as rivalidades existentes entre esses cinco grandes grupos. Em nome da própria sobrevivência eles são capazes de qualquer tipo de acordo ou acomodação e farão de tudo para obstruir a Lava Jato." (JC)

terça-feira, 20 de junho de 2017

MPSC denuncia sócios de empresa citada em assédio moral no Badesc

De acordo com a ação penal, administradores da Benetex Reciclagem Textil Ltda. teriam deixado de pagar ICMS depois de duas tentativas de parcelamento do tributo. Após reportagem do Farol, deputado estadual pede apuração de irregularidades na agência de fomento

 
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) apresentou denúncia contra Márcio Adami e Valdir Schaadt por crimes contra a ordem tributária em fevereiro deste ano. Ambos atuaram como sócios da Benetex Reciclagem Textil Ltda. Como revelou o site, a empresa é uma das quatro citadas por funcionários da Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A. (Badesc) em processo de assédio moral sob investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Santa Catarina. Os servidores afirmaram que sofreram pressão para alterarem pareceres e liberar empréstimos. As quatro empresas também são citadas em processo do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC). Segundo os auditores, na inspeção realizada pelo Banco Central no ano de 2015, as operações de empréstimo do Badesc com estas mesmas empresas foram feitas sem a “observância ao princípio de garantia”.
Ambos os gestores da Benetex são acusados pelos promotores de Brusque, Marcelo Truppel e Cristiano José Gomes, por deixarem de pagar ICMS entre setembro de 2012 a fevereiro de 2013 mesmo após emitirem Declarações de Informações do ICMS e Movimento Econômico (DIMEs) à Secretaria da Fazenda. O juiz da Vara Criminal de Brusque, Edemar Leopoldo Schlösser, aceitou a denúncia em 14 de fevereiro deste ano. De acordo com o documento do TCE-SC, os empréstimos para a Benetex teriam sido liberados um ano antes em 2011. “Considerando que os denunciados detinham os valores, mas optaram pelo não repasse ao Estado-SC, resta evidenciado que agiram com manifesto dolo nesta omissão no pagamento do tributo”, afirmam os promotores de Brusque.
De acordo com a denúncia do MPSC, a dívida de empresa com o fisco estadual é de R$ 80.670,92 mil, de um total de R$ 317.337,40 registrado em notificação fiscal de 2013. Segundo o MPSC, os réus da ação penal entram em programa de parcelamento junto à Secretaria de Estado da Fazenda em agosto de 2013, sendo que, após efetuarem o pagamento de 28 parcelas, deixaram de efetuar o pagamento. Após o cancelamento do parcelamento, em março de 2016, os sócios entraram em outro programa de parcelamento. Oito parcelas foram quitadas, gerando novo cancelamento do programa em 31 de janeiro deste ano. Um segunda notificação fiscal de R$ 504.887,16 mil também foi emitida em nome da empresa. O ato da Fazenda abriu um processo judicial por meio da 11ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itajaí em abril deste ano. O mesmo processo foi cancelado para que os devedores possam tentar acertar a dívida com o fisco estadual antes que uma nova ação seja ajuizada.

Leia matéria completa no FAROL.

Pato Manco na Pinguela

Por Eduardo Guerini
“O Presidente Temer não luta solitariamente para manter-se no poder. Ele representa, na verdade, um grupo político bem amplo, cuja base é o PMDB, mas cujas ramificações pegam quase todos os integrantes da coalizão governista. (...) Mas a manutenção de Temer no poder revela que muita gente, políticos e atores sociais variados, ainda bebe da mesma fonte patrimonialista que dificulta a criação de um país mais justo e democrático.” (Fernando Abrucio. O que significa manter Temer. Valor, 16 de junho de 2017)
   
O Governo Michel Temer e sua coalizão continuam sob fogo cerrado das sucessivas denúncias de delatores da Operação Lava Jato, e, sem conseguir sair da linha de tiro, assumem uma estratégia arriscada, apostando na “Lawfare” – guerra jurídica, o que evidencia uma disputa cerrada no equilíbrio entre os poderes republicanos.

   A vitória no escandaloso julgamento do TSE da chapa Dilma-Temer, com supressão de provas cabais de recursos da corrupção desvendada pelos órgãos de controle, Polícia Federal, Procuradoria da República, já encarcerou figuras proeminentes da republiqueta dos mortadelas e coxinhas. A disputa de narrativas sobre a falsidade dos delatores, a inocência da classe política, e, substantivamente o “não envolvimento” do Presidente Temer, indicam um paralisia decisória jamais vista na história política brasileira.

   Na tentativa de se manter no poder, garantindo que passado o julgamento do TSE, a normalidade da agenda de Reformas será retomada, a recomposição da base será mantida, com o apoio dúbio do PSDB – um amontoado de seres titubeantes, orientados pelo pleito de 2018, o que se evidencia é uma forma tradicional de fazer política nas hostes do patrimonialismo brasileiro.

   No intuito de se manter no poder, para garantir foro privilegiado, o Governo lançou mão de um pacto de liberação de recursos para governadores estaduais encalacrados na elevada dívida pública, em colapso fiscal pela queda na atividade econômica, e, para manter a velha tradição, rifando ministérios e cargos federais em troca de apoio parlamentar.

   No léxico da política, os americanos costumam chamar os presidentes como “lame duck”, um pato manco, que entre a eleição do sucessor e a posse, existe a perda do poder de direito, mantendo o poder de fato. No caso de Michel Temer, conduzido por meio de impedimento de sua antecessora, num Brasil marcado por gravíssima recessão e altas taxas de desemprego, potencializado por escândalos de corrupção sucessivos, o que se depreende é que a capacidade de governo está comprometida por resultados econômicos pífios.

   Neste contexto, os agentes econômicos agem de forma oportunista para acelerar as reformas que retiram direitos dos trabalhadores, principalmente, a Reforma Trabalhista e Previdenciária. Como existe certo cansaço do debate político em torno do impedimento e sucessão de um governo corrompido e degenerado, onde sua agenda intitulada “Ponte para o Futuro” se transformou na “Pinguela”, se quisermos reverter este quadro gravíssimo de crise política, econômica e institucional, é necessário estancar o debate das reformas, democratizando o sistema fiscal e o sistema político, evitando a interferência do poder econômico sobre o poder político.

   Como o Governo Temer se transformou num “Pato Manco na Pinguela”, a construção de uma agenda de refundação republicana requer a congregação de forças progressistas para depurar a falta de legitimidade e representatividade do Poder Executivo e Legislativo. Caso contrário, os brasileiros ficarão à mercê das lutas fratricidas de facções empresariais e partidárias, encobertas sob o manto protagonista do Judiciário.

   Neste cenário conturbado, a melhor alternativa é produzir novo ciclo de inquietações com grandes manifestações pressionando a classe política e este governo corrupto alinhado aos interesses particularistas do empresariado nacional e sistema financeiro sob a batuta do receituário neoliberal em curso.

   A regressão conservadora aliada a ortodoxia econômica demonstraram no curso da história política brasileira quem são os costumeiros perdedores em tempo de crise econômica.

   Não resta alternativa, abater o Pato Manco na Pinguela, e, atravessar o rio a nado!!

terça-feira, 13 de junho de 2017

DESMORALIZAÇÃO



por Emanuel Medeiros Vieira

Eu rejeito o papel de coveiro de prova viva.
Posso até estar no velório, mas não carrego o caixão”
(Ministro Herman Benjamin, relator no TSE do processo Dilma-Temer)
O assunto já foi muito comentado. 
Os acontecimentos referentes a diversos tipos de degradação na vida pública brasileira,  sucedem-se de uma maneira tão frenética, que algo acontecido há pouco, já fica superado.
Quero falar sobre o julgamento no TSE – Tribunal Superior Eleitoral – da chapa Dilma--Temer.
O “superior” não me sai da cabeça.

Sobre um antigo Conselho Superior de Censura, na ditadura (nem sei se ainda existe), Millor Fernandes dizia  que,  por ser de  censura, já não podia ser “superior”...
No universo contaminado em que vivemos,  o resultado do julgamento do TSE já era esperado
O chamado voto de minerva (para desempatar um julgamento) foi dado pelo ministro Gilmar Mendes que, segundo muita gente, “apequenou-se” com a sua posição.

Não esqueçamos que Minerva é a deusa romana da sabedoria.

Quanta sabedoria!
Uma grande pizza foi assada no TSE.
Alguém já observou que a campanha de 2014 não foi a única onde houve fraude, “dinheiro ilegal e marketing criminoso”.
Basta lembrar que o programa Bolsa Família foi utilizado como instrumento de chantagem para os pobres deste país.
Campanhas deste gênero ameaçam a democracia.
Já disseram que o TSE, está falido.

Foram “provas amazônicas”  e quatro ministros fecharam os olhos para elas. O voto do ministro relator a favor da cassação da chapa foi denso, profundo, carregado de provas cabais.
Venceu a velha cultura da impunidade.
O TSE criou a jurisprudência do “vale tudo”, onde se pode tudo e não se pune nada.
É claro: louvem-se os votos dos ministros Luiz Fux  e Rosa Weber, que acompanharam o relator Herman Benjamin.
Não é preciso escrever mais nada – corro o perigo de cair na redundância.

Mas termino, citando a reflexão de um analista: “Pátria amarga, Brasil! A maioria dos filhos teus que não foge à luta merecia melhor sorte. Mas os que te governam, sempre privilegiaram a própria sorte, desfrutando com gula das tuas riquezas”.

E o TSE investigou durante dois anos e meios os eventuais crimes cometidos.
Não havia interesse em punir ninguém.
A luta é dura. Mas a punição de grupos e pessoas tão poderosos, em curso no Brasil, leva-nos à esperança.
Precisamos ficar atentos. As armas que “eles” usam são podres e sórdidas.
Eaaa gente não tem escrúpulos.

Querem que a gente se cale, se abata – e que desanime. Mas continuaremos combatendo a injustiça, a impunidade, o roubo, que não nos importemos com o desprezo por todo o povo brasileiro – principalmente em relação às pessoas mais pobres e humildes.
(Salvador, junho de 2017)

Petistas agridem jornalista dentro de avião

Leia o relato da jornalista Mírian Leitão:
   
   Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.
   Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das 19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.
   Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.
   Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.
— Terrorista, terrorista — gritaram alguns.
   Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.
Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:
— O comandante te convida a sentar na frente.
— Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.
   O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:
— A Polícia Federal está mandando você ir para frente.    Disse que se a senhora não for o avião não sai.
— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.
   Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.
   Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.
   Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.
   O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.
   Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.