terça-feira, 31 de outubro de 2017

Desalambrando nuvens... até sempre magro!!



  
   O título acima é do meu querido amigo, músico uruguaio, Nery Barreneche. Postou essa frase no seu facebook como forma de homenagem ao grande músico Daniel Viglietti. Guerrilheiro cultural de resistência às ditaduras no Uruguai e na América Latina, morreu na segunda-feira, em Montevidéu, aos 78 anos
   "A Desalambrar" (1973), uma das suas canções de protesto mais poderosas e cruas rompeu as fronteiras do Uruguai e ficou famosa no mundo inteiro. 
   Escutei hoje a música de Viglietti e rebobinei a fita. Quantas vezes nos reunimos, amigos militantes, em casa fechadas com som baixo para ouvir, clandestinamente, Daniel Viglietti, Alfredo Sitarrosa e Los Olimareños.
   Fiquei triste com a partida.

   Como disse o Nery: Desalambrando nuvens... até sempre magro!!


*Viglietti foi preso em 1972 e solto um ano depois, após um movimento internacional liderado por personalidades como Jean Paul Sartre, François Mitterrand, Julio Cortázar e Oscar Niemeyer. O cantor se exilou na Argentina e na França durante a ditadura uruguaia, de 1973 a 1985, e voltou a seu país junto com o retorno da democracia. (do Extra)

Ramiro Rubim quebra todas no Peru

Surfista Ramiro Rubim (Campeche), campeão catarinense de surf, mostrando o que mais sabe fazer nas perfeitas ondas de Lobitos, Peru.

Imagens e edição de Fernanda Rey

Liminar suspende licenças para construção em Ingleses

FLORAM não pode autorizar obras em área de preservação no Bairro Ingleses. Construções estão avançando sobre as margens do Rio Tanoeiras e do Ribeirão Capivari no norte da Ilha 
 
Totalmente poluído, Capivari sofre com invasões autorizadas pela Floram    
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) obteve duas medidas liminares para determinar que o Município de Florianópolis e a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM) suspendam a emissão de licenças e autorizações para construções que invadam áreas de preservação nas margens do Rio Tanoeiras e do Ribeirão Capivari, no Bairro Ingleses.

   As ações com os pedidos de aplicação de medidas liminares foram ajuizadas pela 32ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital. Nas ações, o Promotor de Justiça Alceu Rocha relata que, em inquérito civil, constatou que as áreas de preservação permanente localizadas nas margens dos dois cursos d¿água estão sendo degradadas por inúmeras construções irregulares.

   Ressalta que, embora cientificados extrajudicialmente da situação e requerida a adoção de providências, o Município de Florianópolis e a FLORAM se mantiveram inertes, não adotando nenhuma medida concreta para a retirada das construções irregulares do local.

   Alertou, ainda, que o grande número de construções irregulares em área de preservação permanente, que deveria ser a mata ciliar do Ribeirão Capivari, é uma das causas de poluição excessiva desse curso hídrico, a qual acaba acarretando a impropriedade da praia dos Ingleses no ponto de deságue do Rio Capivari, o que justifica a adoção de medidas imediatas para a regularização da situação no local.

   Assim, diante dos argumentos apresentados pelo Ministério Público, o Juízo da 3ª vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital concedeu as medidas liminares para suspender a expedição de novas licenças e autorizações para obras e construções que invadam a faixa da área de preservação permanente existente nas faixas marginais dos dois cursos d¿água.

   Em relação ao Rio Tanoeiras, a decisão determinou, ainda, conforme requereu o MPSC, que o Município de Florianópolis e a FLORAM comprovem, no prazo de 90 dias, a realização de vistoria na região para identificar e prevenir construções e ligações clandestinas de esgoto, adotando medidas administrativas necessárias à regularização dos empreendimentos existentes no local ou para a interdição ou demolição de atividades e obras poluidoras não passíveis de regularização.

  Já a liminar do Ribeirão Capivari fixa prazo de 120 dias para apresentação de relatório completo de vistoria no entorno daquele Rio, com delimitação específica da área atingida pela ação que tramita no âmbito federal em relação àquela região, e, ainda, que seja apresentado relatório de identificação e cadastramento da população de baixa renda existente no local. A decisão determina, também, que os requeridos comprovem a sinalização ostensiva da existência de Área de Preservação Permanente no local. No mérito das ações, ainda não julgado, o Ministério Público requer que o Município e a FLORAM sejam condenados a promover a recuperação da área degradada e solucionar o problema social de moradores de baixa renda, através de realocação em projeto habitacional ou através da indicação de imóvel público passível de ocupação. 
(Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

BREVIÁRIO (Ou Livro das Citações)

por Emanuel Medeiros Vieira
 

(...) “Disse a mim mesmo repetidas vezes que não existe outro enigma senão o tempo, essa infinita urdidura do ontem, do hoje, do futuro, do sempre e do nunca”(Jorge Luis Borges – “O Congresso”, em “O Livro de Areia”)

O Tempo – sempre
 

pó, sombras, finitude, meu breviário, bíblia da jornada – inelutável calendário,

mar azul ao fundo, menino, velho, defunto.

o Tempo e seus presságios

meu fio-terra particular (subjetividade dilacerada) – e rosto no espelho (todos os dias)

bússola desgovernada, errático astrolábio

a vida escorre – sempre celebrada

(Mesmo que a morte tenha mais tempo)

Novamente, lembrei-me de Borges (...) :
“Também a mim a vida deu tudo. A todos a vida dá tudo, mas a maioria ignora isso. (...) (“Undr”)

Breviário, epístola, palavra, revelação, mãe, imortalidade – e o tempo e o mar

(Quem sabe, Deus)

A Eternidade é um dia – A Eternidade e um dia

E só essa vida. Só essa. Nunca mais. 



Comentário de Eduardo Aydos:
   Belíssima e profunda oração meu caro amigo. Partilho tua celebração e quem sabe mesmo as tuas dúvidas. Apenas um argumento a contrapor. Nunca é palavra dependente, sempre, do seu contrário. A vida escorre no seu leito de cinzas onde a Fênix constrói o seu ninho. Ainda lhe somos estranhos. A lei do eterno retorno, ainda nos assombra. "Eternidade é um dia", muito correto. Mas o dia chama a noite, parceira irrecusável do seu leito nupcial. Mysterium coniunctionis diria o mestre Jung... que talvez tenha chegado mais perto, na modernidade, dessa compreensão profunda. Não há cópula sem geração. Não há geração sem vida... e o Espírito paira sobre a inconstância do tempo. O certo, amigo, é que noutro dia veremos... melhor dito, saberemos. Grande abraço do Aydos.



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Loteador clandestino tem prisão decretada em Ingleses

Leandro Martins, denunciado pelo MPSC por danificar floresta considerada de preservação permanente e realizar parcelamento irregular do solo no norte da Ilha, se esquivava de ser citado na ação penal.
    A pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), foi decretada a prisão preventiva de Leandro Martins na ação penal na qual foi denunciado por destruir floresta considerada de preservação permanente e efetuar o parcelamento do solo sem autorização do Poder Público no bairro Ingleses. O acusado se esquivava da citação para responder à ação penal.
    A denúncia foi oferecida pela 32ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital e o pedido de prisão preventiva considerou que Leandro atua no norte da Ilha de Santa Catarina promovendo a supressão de grandes extensões de vegetação nativa, a canalização de cursos d'água e a abertura de vias clandestinas para, então, comercializar lotes a pessoas que passam a ocupar o local, ainda que sem qualquer título de propriedade e sem autorização do Poder Público.
   O réu faz parte de um grupo de criminosos que atua no norte da Ilha promovendo parcelamento irregular de solo e diversos crimes ambientais e é investigado em outros casos envolvendo loteamentos clandestinos nos bairros Vargem do Bom Jesus e Vargem Grande. Além disso, Leandro responde, ainda, à ação civil pública para ver recompostos os danos ambientais e urbanísticos decorrentes de sua conduta ilegal.
   O Ministério Público sustenta, ainda, que devido ao preço dos imóveis, o difícil acesso de infraestrutura estatal em decorrência da impossibilidade gerada pelo tipo de construção - casas de baixo padrão de construção muito próximas uma das outras, sem fornecimento de energia elétrica, água e esgotamento próprios - propicia um afastamento dos moradores das proteções oferecidas pelo Estado, aumentando a delinquência e as ilegalidades praticadas naquela área e em seus arredores, promovendo efeitos secundários nocivos em toda a região. 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A fantástica Bogotá! (II)

Bogotá vista do Cerro Monserrate
   A gente de Bogotá guarda muita semelhança com os brasileiros do sul. Se vestem parecido, são afáveis e alegres. O centro e os bairros da cidade são super arborizados, urbanizados, avenidas grandes e, principalmente, espaços amplos para pedestres. O trânsito, o "tráfico", como dizem aqui, é caótico. Não tem tempo bom. É muito carro e tranqueira por todos os lados. É o ponto negativo, mas mesmo assim, a cidade é limpa e agradável temperatura média de 24 graus.

Greve e Hormigas Culonas  
   No segundo dia (17), saímos cedo a bogotear. Pegamos um táxi até o Museu do Ouro, bem no centro da cidade. Na praça em frente havia uma grande manifestação de funcionários públicos em greve.  
Resultado de imagem para hormigas culonas de santandeer   O protesto com discursos inflamados e música ao vivo chamou todo o tipo de personagens que se pode imaginar. Desde vendedores de esmeraldas e ouro, a trocadores de dólares e vendedoras de formigas gigantes comestíveis, las Hormigas Culonas. Um circo fantástico e, um pouco surreal, para nós.
   A iguaria exótica das Hormigas Culonas, a quem atribuem poderes afrodisíacos e analgésicos, vem dos índios Guanes que viveram entre os séulos VII e XVI. É uma tradição de mais de 500 na região de Santander.

Museo del Oro
Poporo
O Museu do Ouro de Bogotá, fundado em 1939, é considerado o maior do mundo. O brilhante acervo está dividido em três andares e mostra peças maravilhosas do artesanato pré-colombiano.

  As peças que ali se encontram só não foram levadas por que os espanhóis não viram. Estam enterradas com caciques indígenas. O fabuloso acervo do Museo del Oro retrata as diferentes épocas e hábitos das civiliações pré colombianas.

   Ali estão adornos para cabeça, braceletes, brincos e peças para rituais sagrados dos ativos. São peças com mais de dois mil anos.
     O Poporo, por exemplo, é um jarro usado em rituais com folhas de coca. Os indígenas acreditavam nos poderes da planta para a melhor compreensão da realidade. O poporo foi a primeira aquisição do museu, em 1939.

 Ruelas, museus e restaurantes
Sacro Santa Iglesia Catedral Primada Basílica Metropolitana de la Inmaculada Concepción de María
   Saindo do museu nos encaminhamos para a Praça de Bolívar, marco zero da cidade.  Enorme, a praça é cercada de prédios do governo e religiosos, a maioria, estilo colonial espanhol bem preservados.
  A imponente Catedral Primada de Colômbia, construida entre 1807 e 1923 é um edifício grandioso de estilo neoclássico que reina sobre o grande espaço público que reúne o povão e todo o tipo de gente. Extrangeiros turistiando, vendedores de frutas fatiadas e, principalmente funcionários públicos, todos de terno escuro e gravata. Mulheres que trabalham en las oficinas do centro transitam por ali bem vestidas, maquiadas e montadas em sapatos de salto altíssimo. Um show!

   Depois de passear pela grande praça provocando revoadas de pombos, nos enfiamos pelas pelas estreitas vielas do Centro Histórico, no belíssimo bairro da Candelária, com sua arquitetura colonial espanhola totalmente preservada. 
Botero, em praça de Cartagena
   Ali estão o Museu Botero, o Centro Cultural Grabriel Garcia Marquez e o Museu da Polícia com uma parte do seu acervo dedicado a vida e morte do controverso personagem que divide a história moderna da Colômbia entre antes e depois de Pablo Escobar Gavíria, "El Patron".
Moto com peças de ouro de Escobar
   Pablo Escobar é assunto presente sempre que se pergunta sobre a história do país. Narcotraficante mais famoso do mundo, Escobar conseguiu implantar um regime de violência e terror de dar inveja aos taradinhos do Estado Islâmico.
   Mas isso é passado. Depois de ser derrotado e morto pela elite colombiana - da qual tentou fazer parte, chegou a ser suplente de senador - Escobar e seus sicários ficaram na história e daí emergiu uma Colômbia moderna, e desenvolvida.

    Estava em busca de um restaurante dos mais populares de Bogotá: LaPuerta de la Catedral. Encontrei. Fica na rua ao lado esquerdo da grande igreja e serve comida típica a um preço amigável.
   Após um excelente almoço com atendimento lento mas extremamente amigável, nos dirigimos ao ponto de táxi em frente ao Museo del Oro para uma corrida até a estação do teleférico que leva às alturas (3.100m) do Cerro de Monserrate, ponto mais alto da capital colombiana.
   Após entrar no táxi de um - depois fiquei sabendo - tal de  "Chino", tive a minha primeira encrenca na cidade. Foi a parte desagradável do passeio. Após andarmos 10 minutos até a estação, deixei meu celular (minha vida) no banco dianteiro do carro.
   Assim que El Chino arrancou percebi a rateada e imediatamente voltei ao ponto de partida. A partir daí se desenvolveu uma novela que conto no próximo relato.
Panorâmica do Cerro Monserrate a 3100 metros de Bogotá.

A fantástica Bogotá ! (I)

sábado, 21 de outubro de 2017

Seguindo esses passos, o governo revogará a Lei Áurea? (escravidão)

por Emanuel Medeiros Vieira
   
  Muitos já sabem: o governo baixou uma portaria que barra a punição de empresas que submetem trabalhadores a condições degradantes.
   O documento foi publicado no Diário Oficia em 16 de outubro de 2017 .

   O que ele pretende?

   Ganhar os votos da chamada bancada ruralista – muito forte no Congresso – para barrar a segunda denúncia do ex Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, apresentada à chamada “Casa do Povo” (sim: do povo).
   É um governo medíocre, impopular, com os maiores índices de rejeição de quase toda história republicana.
   É um governo fraco, subserviente, defensor das piores causas, que não aguenta qualquer tipo de pressão, e que não tem força para “estancar a sangria” (usando as palavras de um dos seus líderes no Senado, com a intenção de acabar com a Operação Lava-Jato).
   Campeão – não só da impopularidade –, mas qu precisa, desesperadamente,, “segurar”a chamada base aliada.
   Necessita “agradar” (creio que o verbo usado será facilmente entendido) à bancada da bala, da bola, ruralista, evangélica etc.): é um governo muito fraco, submetido a todas às chantagens e pressões, que não administra coisa alguma – apenas se defende.

Teria fibra ou ética, um governo desse gênero?

   Michel Temer sabe fazer bem uma só coisa: TERCEIRIZAR AS SUAS RESPONABILIDADES. A culpa é sempre do outro, como quando disse, em discurso: “Tenho sido vítima de torpezas e vilezas.” (...)
   A necessidade de combater intensamente o trabalho escravo é algo fundamental à Civilização.
   No Brasil, tal busca, é mais forte ainda, diante de nossas raízes escravocratas.
   Mas qual é a nova regra?
   A Portaria determina que, a partir de agora, só o Ministro do Trabalho, pode incluir empregadores na Lista Suja do Trabalho Escravo, esvaziando todo o poder da área técnica responsável pela relação.
   “A nova regra altera a forma como se dá a fiscalização, além de dificultar a comprovação e punição desse tipo de crime”.
   Mais: na maior mudança na área, desde a implantação do programa de combate escravo, em 1995, a Portaria 1.029, assinada pelo ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, contraria resolução das Nações Unidas ao prever que o trabalho forçado só será caracterizado sem o consentimento do trabalhador.
   Antes, poderia se considerar que um trabalhador estivesse em regime análogo à escravidão, mesmo que ele aceitasse a proposta de trabalho só por comida..
“A nova norma acaba com a autonomia dos fiscais do Ministério do Trabalho”.
É um retrocesso enorme

   O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) pediram também a suspensão da Portaria
   A Organização Mundial do Trabalho (OIT), órgão das Nações Unidas emitiu uma nota oficial, em 19de outubro de 2017, criticando a mudança nas regras de fiscalização do trabalho escravo no Brasil.
   A repercussão internacional da medida, está sendo desastrosa para o Brasil – mais uma vez: país do desemprego, país da corrupção,, e agora a regressão imposta pelo Portaria, que abre – mais ainda –condições para oaumento do trabalho escravo no Brasil
   Senhor Presidente: o senhor sabe o que significou a escravidão para o Brasil e para o mundo?
   Que o país que o senhor “governa” foi o último a abolir a escravidão nas Américas?
   E que essa dolorosa marca ainda persiste em nossos dias? 



CAPITÃO DO MATO*
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Como disse alguém, “os senhores de engenho da bancada ruralista, com o apoio do capitão do mato Michel Temer querem construir uma ponte para o passado pavoroso da escravidão”.
É uma negação do Humano.
A consciência dessa gente é feudal.
Internalizaram a ideia do chicote e da senzala.
A democracia é um valor que perturba e incomoda esse tipo de pensamento.
O Iluminismo não chegou a eles.
Como poderemos querer que o Brasil  possa ser transformado  com esse tipo de pessoas dirigindo o país?
(*Curto adendo ao texto “Seguindo esses passos, o Governo revogará a Lei Áurea?
 

 (Salvador, Bairro a Graça, outubro de 2017)

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A fantástica Bogotá !

Sala da calaveragem na Quinta de Bolivar
   Não sei em que momento aconteceu.  De repente comecei a me sentir daqui. Sim, daqui, onde estou agora. Na Bogotá, capital da Colômbia. 
   Terra da Shakira, do Gabo Garcia Márquez, do Fernando Botero, do Pablo Escobar, do Montoya, do Higuita e do meu amigo Don José Avelino, motorista de táxi que fica no ponto em frente ao Museu do Ouro, na Candelária, centro histórico de Bogotá.
   Cheguei na segunda-feira 16, à noite. Peguei um táxi na saída do aeroporto El Dorado. O taximetrista se chamava Ramiro Delgado, traído no nascimento: era gordo. Porém simpático, me ganhou de saída elogiando o meu "excelente" español. Na fala, tinha um certo acento...sincero, infantil, mas não ingênuo, na voz. Característica que fui percebendo  nos colóquios que se sucederam na sequência com outros motoristas, recepcionistas do hotel e pessoas que caço nas rua para puxar um assunto.
   A princípio desconcertado, aos poucos fui relaxando e tentando não racionalizar sobre a origem daqueles conversas sem maldades, sem venda de imagem, sem elaboração que quando acontece te faz despender muita energia tentando entender o que realmente a pessoa está querendo te dizer.    Parecem puros. Tranquilos e sem escolher palavras, sem fazer força te dizem: somos assim!
    Sem precisar me precaver para decifrar o que vem do outro lado, relaxo, e também começo a ser eu. E aí me sinto daqui!

   Bem, aqui já são 00:39 horas. No Brasil 3:39h. Cheguei à pouco do Cassino Rock & Jazz, que fica ali na Zona Rosa, perto aqui do hotel. 
Jogador só conta quando ganha. Hoje ganhei. Sabem quanto? 1 milhão e 250 mil pesos colombianos! 
   Estou feliz e vou dormir. Este breve relato serve para dar um trailler sobre a minha passagem por esta terra latino americana, relato que já me foi cobrado por leitores do blog.
   Tem muito mais pela frente. Coisas fantásticas que em pouco tempo de Bogotá me deixou extasiado, surpreso...e daqui!

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Profecias e Pesadelos na Republiqueta Tupiniquim

Por Eduardo Guerini
“[Os economistas da nova geração] mantêm-se na retaguarda, assim como faz um general moderno, mas eles controlam forças maiores que antes. Eles exercem uma influência mais abrangente e mais poderosa sobre as ideias; e as ideias moldam cada vez mais os rumos do mundo” ALFRED MARSHAL (1897). [In: Giannetti, Eduardo. O livro das citações: um breviário de ideias replicantes, 2008]
   
O governo Michel Temer se entrega no enredo da segunda denúncia por organização criminosa e obstrução à Justiça, associado ao quadrilhão do PMDB, que tem um séquito de lideranças partidárias envolvidas na pilhagem do Estado brasileiro. Entre um ato e outro nos despachos internos e nas anunciações farsescas, todos os brasileiros com mínimo de sensibilidade observam o enfraquecimento do Presidente da República e seu corpo ministerial. É um governo moribundo e putrefato.

   No front político, a base aliada de sustentação continua cobrando uma fatura cada vez mais alta para manter a dita “governabilidade”, dando sequência as liberações de verbas para as emendas parlamentares, renúncias fiscais e incentivos de toda monta para empresários e ruralistas, incluindo os próprios parlamentares. É um festival de benefícios para camarilha que tomou conta do Estado brasileiro.

   No front econômico, as profecias auto anunciadas de equipe econômica sempre são obscurecidas por alguma notícia que não coaduna com a desejosa ideia fixa da retomada do crescimento, com geração de emprego e renda para os milhões de desempregados e subempregados na cambaleante economia brasileira.

   Os dados sobre a retomada em 2017 miram um pífio resultado não superior a 0,7% na expansão do PIB, com um saldo de desempregados maior do que empregados, ainda que, a flutuação do CAGED aponte para saldos positivos nos últimos meses. A expansão do crédito ainda é limitada, menor que o ano de 2016, com investimentos em queda, produção industrial oscilando nas maiores regiões do País e alguns setores paralisados por conta da maior recessão, devido à fragilidade dos investimentos – tanto no setor público como no setor privado, a contração é histórica.

   O Ministro da Fazenda continua lançando mão da velha cantilena que impõe sacrifícios presentes para benefícios futuros. A profecia somente será concretizada se todas as reformas contra os trabalhadores forem aprovadas. A reforma trabalhista vendeu a promessa de milhares de emprego, por enquanto, o que se colhe é um desemprego superlativo e queda na massa salarial, assim como, nos salários de contratação. A reforma previdenciária que tenderia a ser a “pá de cal” no sistema de seguridade social será uma reforma “mais branda”, porém, tão perigosa para os trabalhadores quanto à reforma trabalhista. A velha mídia – alcoviteira de todos os poderosos, somada aos colunistas da quinta coluna governamental, admite sem nenhum dado empírico, que a Reforma Previdenciária permitirá a retomada dos investimentos e confiança no Brasil.

   No front externo, o Fundo Monetário Nacional admite que o caso brasileiro, é de retomada lenta e gradual da economia. Mas lança como alternativa a Reforma Tributária, para ajustar a desestruturada e regressiva carga fiscal brasileira, que recai sobre aqueles que ganham menos. Porém, admitem os economistas do FMI, que o ajuste nas contas públicas é necessário para debelar o crescente déficit público. É um enredo do fatalismo monetarista com salvaguardas fiscalistas.

   No momento de agravamento político, em virtude da segunda denúncia contra os lacaios e sicários do poder incumbente de plantão na republiqueta brasileira, a ampla coalizão conservadora com suas propostas inspiradas na vanguarda do atraso, o Governo Michel Temer continua lançando medidas impopulares, com retirada de direitos trabalhistas e sociais sem, contudo, ensejar um grito mínimo de resistência por parte dos trabalhadores.

   As profecias vociferadas pela equipe econômica são desmascaradas a cada divulgação de indicadores estatísticos, demonstrando as falsas promessas que levariam o País a estabilidade política e promissora condição econômica no futuro, não passa de previsões de Cassandra do Mercado. Neste enredo do neoliberalismo periférico-caboclo dependente e associado aos ditames do sistema financeiro mundial, a ausência de um projeto de nação orientado para distribuição da riqueza, transformará o Brasil num país de párias sociais e gângsteres políticos e econômicos.

   No julgamento de tantas denúncias da classe política brasileira, da elite que nos governa, sem propostas políticas alternativas ao enredo grotesco desta coalizão, tal como juiz do inferno de Dante, vivemos enrolados na cauda da crise, somos atormentados por furacões econômicos e lançados no turbilhão de nossos vícios cotidianos. Uma dúvida persiste para os indignados cidadãos, tal como La Boetié já apresentara no caso da servidão voluntária: Que nome se deve dar a esta desgraça?

terça-feira, 17 de outubro de 2017

OUTROS EXÍLIOS


por Emanuel Medeiros Vieira
(Prosa Poética

Porque teu amor sempre me protege, contigo atravessarei as trevas e a noite” J, Kentenich (1885-1968)
O exílio não é o longe,/mas o cerco./O exílio, campo exposto,/onde pasta o pensamento,/boi que trabalha no amanho./O exílio é um deus amargo.” Carlos Nejar (“O exílio”)
  
Não há botas, fardas, fuzis, batidas na boca da noite, clandestinidade, perseguições, torturas, “aquele” exílio.
   O desterro é outro: – tornamo-nos ásperos demais?  Lobos matando lobos?
   “Não adianta escrever mais” – uma voz vem das profundezas.
A palavra partilhava – além da subjetividade.
Quem mais quer saber de poesia e palavras?
A palavra foi solar, lutadora – carregava utopias no seu lombo.

O NÚCLEO: o CAPITAL.

O essencial da “modernidade”, da pós-modernidade, da  pós- verdade:  aparência, não essência, não Ser , Ter, arrebentar, guerrear, falsificar – negação do “outro”, da diversidade– xenofobia.

Parece prosa de comício? Eu sei...  é  que ninguém escuta mais...

Não são os valores que importam: só as “coisas” (objetos, acumulação, pecúnia).

Estamos encharcados de celebridades vãs, programas irrelevantes, engenhocas eletrônicas, produtos chineses (trabalho escravo)– nada dura, nada fica, nada resiste.
O Paraguai é aqui.

O tempo é um leão bravo que passa por cima de todos nós.
Num cosmos tão grande, um planeta sacana e sangrento – guerras, tráfico, banalização da vida e da morte.

O Espírito Sopra Onde Quer – mas Ele foi inundado por um açude gigantesco  – e agora quase tudo é esterco, sangue, fezes.
Decifrem-me (o que está acontecendo). Não deciframos e somos devorados.
Quem hoje quer saber de poesia ou prosa poética?
Na vida virtual, as pessoas se atacam – como nas arenas romanas.
Todos querem sangue: sempre o Outro (qualquer “Outro”) – o inimigo.
Sim: outro exílio – e lembro-me de tantos amigos – muitos já debaixo dos sete palmos de terra.
(“Isso é pura prosa poética, disfarçada de poesia” – constata um anjo torto.)
Nesta geografia, onde fica o território dos afetos?
Bate coração – bate batido coração.
Estamos de pé – mal rompe a aurora.
A luta é com as palavras – à espera do sol .

Olho o mar (sempre ele – meu amor irrevogável ) – na varanda deste  apartamento, na primeira  capital do Brasil.
(Salvador, Bairro da Graça, outubro de 2017)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Definindo

Do jornalista José Nêumanne definindo a lei Carmem Lúcia:

“Congressista rouba, é investigado, mas mantém o mandato, porque este pertence ao eleitor roubado.”

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Foro previlegiado fere o espírito republicano


por Emanuel Medeiros Vieira

“O foro privilegiado é uma exceção não justificada no sistema republicano e sua extinção urge”
(EDSON FACHIN - ministro do STF, no Fórum de Juízes Federais em Porto Alegre)
  
   O foro privilegiado - como é utilizado hoje - transformou-se  em um deboche à cidadania.
   É um estímulo à impunidade.
   É claro que sua instituição visava, entre outras razões, proteger o espírito democrático, a liberdade de opinião, da palavra etc. Não tinha a intenção de assegurar a tradicional impunidade dos  poderosos.

   O Foro privilegiado eleva, de uma maneira abissal, a tremenda desilusão do povo com a classe política (uma das piores de toda a nossa História) e demais  “autoridades protegidas”.

   A Constituição assegura a imunidade parlamentar.
   No dia 11 de outubro de 2017, o STF decidiu por 6 votos a 5, que o Congresso precisa dar aval  a medidas cautelares que afetem o mandato parlamentar.
   A decisão terá impacto direto sobre o caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG).
   O Senado votará se o tucano (de “nobre plumagem “), deve permanecer afastado do mandato ou não.
   O Foro Privilegiado virou garantia de imunidade para criminosos travestidos de representantes do povo.
   Para a presidente da Corte, Carmen Lúcia, a lei é para todos, mas quando for aplicada, mesmo em casos penais, “o Congresso deve ser ouvido se o acusado estiver com o mandato ameaçado“.

   O sentimento generalizado é de que a “imunidade consagra a impunidade, que o foro privilegiado virou um privilégio escuso,  que institui dois destinos para autores dos mesmos crimes: o dos cidadãos e dos detentores de mandato”.
   Como alguém bem observou , a votação no STF faz constatar que “a interpretação da lei no país muda conforme a pessoa  em questão”.
   O Tribunal votou “temendo uma crise institucional, e com o voto de minerva da presidente do Supremo. Essa não é a melhor forma de fazer prevalecer o Direito”.
   Foi mais um típico arranjo de nossas classes dirigentes, consagrando de vez o primado do “jeitinho” e da esperteza – contra a verdade, a República e a esperança.
   Tanto “latim” gasto para parir um rato - excetuando-se os  ministros que foram fiéis às suas convicções.

   Às vezes, entendo o que dizia  Vladimir Lênin,  líder da Revolução Russa: “Advogados? Nem os do Partido”.
(Salvador, Bairro da Graça,  outubro de 2017)