por Emanuel Medeiros Vieira
(Prosa Poética)
“Porque teu amor sempre me protege, contigo atravessarei as trevas e a
noite” J, Kentenich (1885-1968)
“O exílio não é o longe,/mas o cerco./O exílio, campo exposto,/onde
pasta o pensamento,/boi que trabalha no amanho./O exílio é um deus amargo.” Carlos Nejar (“O exílio”)
O desterro é outro:
– tornamo-nos ásperos demais? Lobos
matando lobos?
“Não adianta escrever
mais” – uma voz vem das profundezas.
A palavra partilhava – além da subjetividade.
Quem mais quer saber de poesia e palavras?
A palavra foi solar, lutadora
– carregava utopias no seu lombo.
O NÚCLEO: o CAPITAL.
O essencial da
“modernidade”, da pós-modernidade, da
pós- verdade: aparência, não
essência, não Ser , Ter, arrebentar, guerrear, falsificar – negação do “outro”,
da diversidade– xenofobia.
Parece prosa de
comício? Eu sei... é que ninguém escuta mais...
Não são os valores
que importam: só as “coisas” (objetos, acumulação, pecúnia).
Estamos encharcados de celebridades vãs, programas irrelevantes, engenhocas eletrônicas, produtos
chineses (trabalho escravo)– nada dura,
nada fica, nada resiste.
O Paraguai é aqui.
O tempo é um leão
bravo que passa por cima de todos nós.
Num cosmos tão
grande, um planeta sacana e sangrento – guerras, tráfico, banalização da vida e
da morte.
O Espírito Sopra
Onde Quer – mas Ele foi inundado por um açude gigantesco – e agora quase tudo é esterco, sangue, fezes.
Decifrem-me (o que
está acontecendo). Não deciframos e somos devorados.
Quem hoje quer saber
de poesia ou prosa poética?
Na vida virtual, as
pessoas se atacam – como nas arenas romanas.
Todos querem sangue: sempre
o Outro (qualquer “Outro”) – o inimigo.
Sim: outro exílio – e lembro-me de tantos amigos – muitos já
debaixo dos sete palmos de terra.
(“Isso é pura prosa poética, disfarçada de poesia” –
constata um anjo torto.)
Nesta geografia, onde fica o território dos afetos?
Bate coração – bate
batido coração.
Estamos de pé – mal
rompe a aurora.
A luta é com as
palavras – à espera do sol .
Olho o mar (sempre
ele – meu amor irrevogável ) – na varanda deste apartamento, na primeira capital do Brasil.
(Salvador, Bairro da
Graça, outubro de 2017)
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