quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Loteria da Vida Brasileira – Pobreza e Desigualdade

O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso. (Ariano Suassuna) 
por Eduardo Guerini

A sociedade brasileira desde a década de 1970 do século passado se orienta por um imaginário construído nos governos militares, que seríamos o país do futuro, um Brasil potência, com direito a marchinha ufanista que indicava um direção irrefreável para o crescimento econômico, geração de emprego e renda, onde todos viveriam no paraíso tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.

    Após cinco décadas (2020), as flutuações cíclicas na economia, com sucessivas alternâncias em governos classificados de direita, de centro, ou, de esquerda, continuamos a sonhar com expectativas de crescimento que são associadas a interdependência global. Porém, a última rodada de estatísticas apresentadas pelo FMI – Fundo Monetário Internacional, demonstra que o crescimento mundial sofre “desaceleração sincronizada”, com estagnação do comércio global, crise profunda em diversos países, como: Chile, Argentina, Peru, Equador, Haiti, Nicarágua, Turquia, Líbano, que turvam as águas da bonança econômica, com graves perturbações sociais.
   O aprofundamento de uma agenda reformista regressiva, com fortes laços na ortodoxia econômica, denota o enredo que traz consigo a desigualdade social resultante da pobreza estrutural, diversas vezes naturalizada por setores da elite funcional que engendra os receituários do “establishment” e do “think thanks” da agenda neoliberal difundida nas últimas décadas no cenário global.
    A incapacidade de realizar as expectativas de crescimento do produto e da renda, traduzido no Produto Interno Bruto (PIB) e renda per capita em constante elevação, se transforma no pesadelo dos assalariados e trabalhadores em geral. Os problemas e demandas sociais crescentes, são traduzidos na precariedade dos indicadores sociais na pátria desalmada do Brasil. A concentração de renda indica que os mais ricos (1% mais rico da população) abocanham o equivalente a 34 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres.
   A desigualdade aumentou com a queda do rendimento real dos mais pobres, assim como, o salário admissional expresso nos dados da flutuação do emprego (CAGED/2019) indica a retração da ordem de 10% em setembro de 2019. A fome e as endemias aumentaram substancialmente, e, a concentração da renda no topo da pirâmide social brasileira só perde para o Qatar, segundo Relatório da Desigualdade Global (Valor. 18/10/2019. Pag. A7). A concentração verde-amarela somente não se aprofundou, tendo em vista a implantação de um sistema de proteção e seguridade social, que não distribui, apenas redistribui parcela da riqueza por mecanismos de transferência de renda, em programas seletivos e residuais, como: Programa Bolsa Família (PBF), Benefício de Prestação Continuada (BPF), e, sistema contributivo de seguridade social, garantindo aposentadorias para os trabalhadores urbanos e rurais.
   Em busca da equidade social e fiscal, os ciclos econômicos são produtos de variáveis macroeconômicas e decisões políticas que, na maioria das vezes, impõe as parcelas mais vulneráveis, carentes de oportunidade, um sorteio entre a sobrevivência indigna, ou, o rompimento da miséria existencial com promoção social tutelada pelo Estado. A negativa de um pacto social no caso brasileiro, tal como ocorreu no período posterior a crise de 1930 e Segunda Guerra Mundial no mundo capitalista, intitulado de “anos dourados” , com implantação do chamado “welfare state”, um Estado de Bem Estar Social. Eis a demonstração de nossa incapacidade em forjar uma nação que alicerça os laços sociopolíticos em prol da justiça social.
   Neste cenário paradoxal, a razão dos gastos dos 10% mais pobres e os 10% mais ricos, demonstra que, o dispêndio da renda, é inversamente proporcional nos setores mais pobres, impedindo a igualdade de oportunidades. Os pobres gastam mais com alimentação e vestuário, menos com saúde, educação, recreação e investimentos. Em síntese, os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) entre 2012 a 2018, aponta para um recrudescimento da desigualdade, da pobreza, impedindo as oportunidades de ascensão e mobilidade social das classes subalternas.
   Na série de frustrações sucessivas das últimas décadas, a esperança depositada nos governantes eleitos, nas políticas econômicas e seus programas sociais, transformou os brasileiros em jogadores contumazes de jogos de azar, dispostos em realizar levantes para jogar na “Mega Sena” da virada, desprezando os direitos sociais garantidos na Constituição Cidadã. A percepção diante da agenda que não reflete melhoria nas condições de vida da sociedade, na valsa que bailamos à beira do abismo, nos relega ao vaticínio do causídico poeta Ariano Suassuna: “Ao redor do buraco tudo é beira”.

domingo, 27 de outubro de 2019

A corte dos bobos



por Marcos Bayer
   
   Estranho povo, o brasileiro, que se rebela contra os ladrões vermelhos e se entrega aos de verde amarelo. Desgraçado povo, o brasileiro, que dá o poder a chamada esquerda, depois o entrega a chamada direita e por fim espera por uma intervenção qualquer para receber o que não consegue
pela via democrática.
    Este misto de ignorância e esperteza, atributos da nossa assim chamada cordialidade, tem uma explicação sociológica se quiserem. O povo brasileiro não conhece a Lei, o Direito e seus direitos. Mas, não é apenas desconhecer o enunciado legal, é pior. O brasileiro não conhece o Direito aplicado, funcionando e sentenciado em prazo curto e razoável. Mesmo
os mais privilegiados sabem e dizem: Ah! Na Justiça vai demorar.
    Onde não há prazo, não há tempo. Sem prazo é a inércia que comanda o processo. Qualquer processo. Até o sapateiro quando pega o serviço, dá um papelzinho ao freguês: Fica pronto dia tal. Este papelzinho é o prazo, o direito para reclamar. No cartório do fórum é só silêncio.
    E não é porque os juízes não queiram trabalhar. Mas, pelo excesso de processos para o número de juízes, dizem.   Contratem mais, digo. Há que se fazer uma legislação fixando prazos, um ano no primeiro grau e até dois no segundo grau, para o cidadão ter uma sentença em mãos.
    Mas, nem na AOB, nem no Congresso Nacional vemos interesse para a matéria. Nem o deputado federal LFG (Luís Flávio Gomes) que já foi promotor, juiz e dono de escolas preparatórias para concursos jurídicos, nem ele, tratou da matéria.
    Então, o Brasil é uma democracia manca. Temos dois poderes que funcionam, bem ou mal funcionam, e o terceiro manca. As nações só evoluem onde a Justiça é parte corriqueira da vida do cidadão. Caso contrário, a desgraça se amplia e toma conta.
    Afora esta ausência absurda da aplicação corriqueira da Lei aos que dela precisam, vivemos um período de mais incertezas.

    Quem é aquele ministro que quando fala de meio ambiente fica mais confuso do que quando mudo? Quem é ele que no meio de uma reunião com mais de 20 homens vestidos com camisas brancas e azuis, aparece com um colete verde limão, fluorescente, para ser visto a mais de 1 km de distância, com cara de desavisado?
    Quem é aquele, o da educação, cuja meta nem ele a conhece? Não teria a direita, alguém mais próximo da área, fosse pela capacidade de falar o idioma português, fosse pela capacidade intelectual do ensino superior?
    Quem é aquele barbudinho, trêmulo e inseguro que não consegue falar de relações exteriores, mas que baba ao lado do chefe e do chefinho?
    Damares: Salvai-nos todos!
 

   Pobreza e Poder derretem como gelo tal qual no poema medieval alemão FORTUNA IMPERATRIX MUNDI.
    E aqui na Província, a notícia de desaparecimento do DC. O jornal que veio para tomar conta do mercado e que resolveu praticar o suicídio. Acho que a família fundadora não chegaria a tanto. Neste final de semana, apareceram três revistas com a mesma capa. Nosso tenista maior deve ser
sempre lembrado e homenageado, mas não como peça publicitária de velhos produtos.
    Parabéns ao concorrente, Notícias do Dia, que manteve o jornal impresso e ampliou a tiragem, contratando mais gente para trabalhar.
    A última nota que fiz para o DC, não saiu. Dizia: Nós perdemos um instrumento de leitura diária. Estaremos perdidos no turbilhão de notícias de relativa importância, divulgadas via Internet.
    A liturgia da posição de leitor impõem o jornal e o livro como tal.
    O cachorro ficará sem referência na sua educação higiênica. O peixe virá do mercado ao apartamento sem a tradicional embalagem.
    O lavador de automóveis não terá o que colocar sobre os tapetes de borracha. As janelas que vibram sob o efeito dos ventos perdem seus amortecedores de papel.
     Fogueiras domésticas terão outras fórmulas iniciais. Os pobres ficarão sem cobertor no inverno. Fundos de gaiola ficarão sem folhas de coleta ou proteção.

    Uma nova era se inaugura. Acabou a impressão. A vaidade humana perde uma vitrine. Empresas de comunicação morrem.
    O jornal, esta escola diária, desaparece sem deixar sucessor.


EXTRA! EXTRA! EXTRA! Grita o menino! ACABOU O JORNAL...

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Primeira noite em Nizza


Publicado em janeiro de 2010
 
    Queridos leitores,
acabo de chegar da minha primeira incurssão noturna em Nizza. Aí são as 00:28hs, aqui 3:30hs. Foi bom pero no mucho. Saí de casa às 2 da madruga depois de abrir a mala dos presentes para minha neta que só chegou hoje (a mala).
Frio seco, coloquei uma campera e me larguei em direção à Avenue Gambeta. Termina na Promenage des Angles, a beira mar daqui.
   Na saida senti que a coisa não ia render muito. Sempre que viajo gosto de provar coisas do lugar como bebida, comida e relações humanas. Andar à noite, quando os puros estão dormindo, é uma excelente forma de conhecer uma cidade. Melhor ainda se não conheces o idioma. As pessoas se traem pelos gestos.
   Bem, andei até a Rue de France e encontrei uma gordinha de preto, aqui todos usam preto no inverno. Fazia ponto na esquina. Perguntei:

-Hablás español?
- Sí, soy de Buenos Aires,
me respondeu com voz grave.

   Me senti em casa. Uma porteña, que na verdade era um porteño bem ajeitadinho, e que poderia me dar uma informação.
   Queria saber onde, naquela hora, poderia tomar uma cerveja e ver gente. Me disse que era difícil mas que seguisse por Rue de France uns 15 minutos encontraria uma praça e que ao redor deveria ter algum bar aberto.
Engatei um primeira e larguei. Ninguém na rua. Encontrei a tal praça e apenas um pub estava aberto. Cheio de jovens na rua em frente. Tentei entrar mas o preço era 15 euros de consumação mínima. Não era para tanto. Perguntei sobre outro bar e me indicram algo como a três qudras de distância.
Sempre perguntava, em um francês sofrível, se era seguro. Na maioria das vezes não entendiam a pergunta. Jamais relacionavam com insegurança no sentido de assalto ou crime. Achavam que eu queria confirmação "segura" da informação. Não existe a paranóia de andar de noite pelas ruas de Nizza.
   Bem, não encontrei nada aberto. Logo avistei um caminhão de lixo naquele frenessi habitual de correria, gritos e arrancadas em primeira marcha.
   Só fiz o gesto e perguntei:
- beer?
   Eles que andam por todas as ruas saberiam me dizer se existia algum bar aberto. Não existia!
   Puêrra! É pior que o Campeche!
   Tudo bem, voltei para casa pela Promenage des Angles. De repente...um cassino!!!!
   A noite estava salva!
Entrei e falei:
- Je sui brasilian

   Me pediram o passaporte e entrei. Algumas mesas de roleta, duas de bacará (blanco y negro) e uma infinidade de maquininhas caça níqueis. Tava feita festa.
   Bobagem. Máquinas sem nenhum sentimento. Mecânicas, apenas mecânicas. Diferentes dquelas que o Içuriti Pereira mantinha em Santa Catarina, controladas pela Codesc e que bancou campanhas políticas do PMDB.

   Aí em SC ao menos se colocava créditos na máquina e dava o start e travava uma coluna duas ou todas. Tinhas a sensação de que estavas jogando. Daí o velho ditado de jogador:
Se perdendo é bom imagina ganhando!
   É claro que jogo bancado ganha a banca. Mas "interagir" com máquina é parte emocional e importante da perca. Não gostei da, digamos, franqueza do cassino. Achei de um frieza atroz.
   Quando estava saindo e fui pegar a minha campeira no chapeleiro vi uma foto grande de um senhor na parede. Perguntei a um dos seguranças quem era.
   Me respondeu em francês e não entendi direito. Percebi que se esmerava em falar sobre o personagem com certa ternura.
Percebendo que eu não estava entendendo, captva apenas a emoção, a senhora que me alcançou a campeira me disse:

- Le big boss!

- Ah! O dono? perguntei.

 
   E os dois ao mesmo tempo fizeram gestos de que sim, era o dono, mas estava morto. O porteiro, mais bronco, colocou as duas mãos ao lado do rosto e fez gesto como se ele estivesse dormindo. A senhora me explicou que já tinha morrido.
   Tudo isso com uma certa ternura pelo patrão. Ternura que não encontrei nas máquinas.
 

Alfa deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Primeira noite em Nizza":C,est vrai, mon cher Canga. Pior que uma noite no Campeche, só outra noite no Campeche. Dizem que Saint Exupery nunca conseguiu passar mais de uma noite aqui. Mas um verdadeiro campechano é um forte, como diria Euclides. Nós resistimos aos maus turistas que povoam nossas dunas de latinhas vazias e outros quetais, resistimos às noches tristes, mas jamais desistiremos. Salut les copains a Nizza!

Paulão deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Primeira noite em Nizza": Nada como um Jornalita 'em campo'. DU CARAGLIO, 'mon ami'.Canguita, meus conhecimentos de francês são patéticos (e dá-lhe os sêbos da Rua Riachuelo no centrão velho de POA me socorrendo em Filosofia do Direito e outras sendas menos confortáveis), mas podes arriscar algo assim: Est-il sûr de s'y promener à cette heure? Combien de temps y aller à pied? Il est calme ou occupé? É seguro caminhar até lá a esta hora? Quanto tempo de caminhada até lá? É tranquilo ou agitado? E PARA FINALIZAR: chienne qui a donné naissance = Puta que os Pariu. Paulão, uma última vez mais Les Paul em homenagem à netinha, também a Quai de la douane - um dia te mostro um conto 'nascido' nessa marina.

PS é phlóda: Tem um estacionamento em frente ao cais da duana, tinha uns butecos franceses. É só contornar o morrinho ao final da Promenage de Angle, seguindo em direção ao porto. Se a conversa for mais séria para o bolso recheado de euros, no cais, mais a frente tem um restaurante pequenino chamado La Zucca Mágica, um vegetariano que faz - quase - esquecer os pecados da carne - cuidado com o preço do vinho). Mais à frente, entrando à esquerda na Rue Cassini tem um italiano legal: L Altra Bottiglia - nesse a comida é de lamber os beiços e tem tudo quanto é tipo de vinho. Santé et de la célébration!!!)

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Modorra Existencial Tupiniquim

por Eduardo Guerini
“As pessoas com mais poder são as que mais lucram com a exploração deliberada de incertezas” (Linsey McGoey, Sociológa, 2019.)

   A agenda política dos partidos no Congresso Nacional continua travada em torno da Reforma Previdenciária. As agremiações políticas continuam enredadas em suas coligações pragmáticas afastando a possibilidade de uma retomada da confiança no crescimento econômico vigoroso, resultado de uma falta de ligação das elites partidárias com suas bases sociais. A sociedade continua aprisionada na polarização rasteira da agenda de costumes, na falta de líderes focados no interesse republicano, e, essencialmente, na ausência da figura de um estadista que governe com altivez em momentos críticos.

   A crise do presidencialismo de coalizão por falta de planejamento explícita o resultado da eleição sem projeto, alicerçado na desconfiança dos eleitores com as instituições nacionais, que guindou à presidência um líder insulado nas lutas intestinas e fraticidas. As propostas lançadas a esmo pelo governo e seus ministros esbarra no embate fratricida da arena parlamentar brasileira, carregada de vícios e chantagens. O resultado econômico das reformas nos nove meses de mandato do novo governo é pífio.

   O nível de ociosidade dos setores econômico é dimensionado pelos baixos índices de atividade mensurados mensalmente, confrontando o acumulado dos últimos doze meses, a indústria naufraga, o comércio e serviços continua em ritmo lento, a agricultura segue os ventos do mercado externo. Como resultado, o desemprego, a subocupação e informalidade seguem em níveis elevados, contraindo a renda média dos trabalhadores empregados.

   As perspectivas para crescimento do produto interno bruto (PIB) seguem estagnadas no patamar inferior a 1% ao ano para 2019, e, são revisadas semanalmente com redução para 2% no ano de 2020. A política macroeconômica continua orientada por um fiscalismo exacerbado, contingenciando e cortando gastos, no monetarismo cego de controle inflacionário, impondo sacrifícios sociais cada vez maiores.

   Os dados divulgados recentemente pelo IBGE, denotam que a lenta retomada econômica e elevado desemprego vicejam o quadro de desigualdade e concentração de renda que voltaram a piorar, considerando a série histórica iniciada em 2012. A desigualdade, pobreza e concentração de renda voltaram a ordem do dia econômica, demonstrando que o rendimento médio do grupo de 1% mais rico cresceu 8,4% em 2018, enquanto o dos 5% mais pobres caiu 3,2%. Assim, a renda da elite econômica do país, corresponde a 33,8 vezes o rendimento dos 50% da população com menor rendimento. Os dados com base na Pnad Contínua (Pesquisa Mensal por Amostra de Domicílios) retratam o desastre socioeconômico brasileiro. Tal como afirma a economista Mônica De Bolle (Estadão, 16/10/19), em total acordo com os laureados do Prêmio Nobel de Economia em 2019, que puseram em prática medidas para melhorar a vida das pessoas, adotando políticas sociais voltadas para o desenvolvimento, em seus estudos sobre erradicação da pobreza: “(...) seja ao afirmar que a pobreza é um “estado natural” e que as políticas públicas para combatê-las são inúteis. Por certo, esse pensamento repercute não entre gente que sofra da pobreza real, material, mas de quem sofre de profunda pobreza intelectual.”

   No esteio de um governo marcado por ufanismos, mistificação, construção de mitos e carismas, a legitimidade político-partidária-institucional em baixa, a ausência de projetos e programas para o Brasil, a falta de um Estadista que supere a elevada polarização e personificação do processo político atrasa as reformas estruturais para retirar-nos da modorra existencial tupiniquim.

   A sociedade brasileira continua estupefata com a falta de senso de realidade das classes políticas e empresariais, paralisada numa onda de insegurança lastreada pela imprevisibilidade de uma saída plausível. Na longa e obscura trajetória de desencanto total, vivemos contando grãos de areia na ampulheta de um governo que não consegue revigorar nossas vidas e esperanças. Eis o legado de uma pátria de políticos desavergonhados, apoiados numa elite empresarial insensível, que vive saqueando miseráveis!!

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Censurado, J. R.Guzzo se demite da VEJA

A apavorante “Segunda Turma” do STF — o símbolo, hoje, da maioria de ministros que transformou o Supremo, possivelmente, no pior tribunal superior em funcionamento em todo o mundo civilizado e em toda a nossa história
Abaixo o artigo censurado. Leia!

A FILA ANDA
por J.R. Guzzo
Guzzo demitido por artigo sobre STF
    Um dos grandes amigos do Brasil e dos brasileiros de hoje é o calendário. Só ele, e mais nenhum outro instrumento à disposição da República, pode resolver um problema que jamais deveria ter se transformado em problema, pois sua função é justamente resolver problemas — o Supremo Tribunal Federal. O STF deu um cavalo de pau nos seus deveres e, com isso, conseguiu promover a si próprio à condição de calamidade pública, como essas que são trazidas por enchentes, vendavais ou terremotos de primeira linha. Aberrações malignas da natureza, como todo mundo sabe, podem ser resolvidas pela ação do Corpo de Bombeiros e demais serviços de salvamento. Mas o STF é outro bicho. Ali a chuva não para de cair, o vento não para de soprar e a terra não para de tremer — não enquanto os indivíduos que fabricam essas desgraças continuarem em ação. Eles são os onze ministros que formam a nossa “corte suprema”, e não podem ser demitidos nunca de seus cargos, nem que matem, fritem e comam a própria mãe no plenário. Só há uma maneira da população se livrar legalmente deles: esperar que completem 75 anos de idade. Aí, em compensação, não podem ser salvos nem por seus próprios decretos. Têm de ir embora, no ato, e não podem voltar nunca mais. Glória a Deus.
    Demora? Demora, sem dúvida, e muita coisa realmente ruim pode acontecer enquanto o tempo não passa, mas há duas considerações básicas a se fazer antes de abandonar a alma ao desespero a cada vez que se reúne a apavorante “Segunda Turma” do STF — o símbolo, hoje, da maioria de ministros que transformou o Supremo, possivelmente, no pior tribunal superior em funcionamento em todo o mundo civilizado e em toda a nossa história. A primeira consideração é que não se pode eliminar o STF sem um golpe de Estado, e isso não é uma opção válida dos pontos de vista político, moral ou prático. A segunda é que o calendário não para. Anda na base das 24 horas a cada dia e dos 365 dias a cada ano, é verdade, mas não há força neste mundo capaz de impedir que ele continue a andar. Levará embora para sempre, um dia, Gilmar Mendes, Antônio Toffoli, Ricardo Lewandowski. Antes deles, já em novembro do ano que vem e em julho de 2021, irão para casa Celso Mello e Marco Aurélio — será a maior contribuição que terão dado ao país desde sua entrada no serviço público, como acontecerá no caso dos colegas citados acima. E assim, um por um, todos irão embora — os bons, os ruins e os horríveis.
    Faz diferença, é claro. Só os dois que irão para a rua a curto prazo já ajudam a mudar o equilíbrio aritmético entre o pouco de bom e o muitíssimo de ruim que existe hoje no tribunal. Como é praticamente impossível que sejam nomeados dois ministros piores do que eles, o resultado é uma soma no polo positivo e uma subtração no polo negativo — o que vai acabar influindo na formação da maioria nas votações em plenário e nas “turmas”. Com mais algum tempo, em maio de 2023, o Brasil se livra de Lewandowski. A menos que o presidente da época seja Lula, ou coisa parecida, o ministro a ser nomeado para seu lugar tende a ser o seu exato contrário — e o STF, enfim, estará com uma cara bem diferente da que tem hoje. O fato, em suma, é que o calendário não perdoa. O ministro Gilmar Mendes pode, por exemplo, proibir que o filho do presidente da República seja investigado criminalmente, ou que provas ilegais, obtidas através da prática de crime, sejam válidas numa corte de justiça. Mas não pode obrigar ninguém a fazer aniversário por ele. Gilmar e os seus colegas podem rasgar a Constituição todos os dias, mas não podem fugir da velhice.
    O Brasil que vem aí à frente, por esse único fato, será um país melhor. Se você tem menos de 25 ou 30 anos de idade, pode ter certeza de que vai viver numa sociedade com outro conceito do que é justiça. Não estará sujeito, como acontece hoje, à ditadura de um STF que inventa leis, censura órgãos de imprensa e assina despachos em favor de seus próprios membros. Se tiver mais do que isso, ainda pode pegar um bom período longe do pesadelo de insegurança, desordem e injustiça que existe hoje. Só não há jeito, mesmo, para quem já está na sala de espera da vida, aguardando a chamada para o último voo. Para estes, paciência. (Poderiam contar, no papel, com o Senado — o único instrumento capaz de encurtar a espera, já que só ele tem o poder de decretar o impeachment de ministros do STF. Mas isso não vai acontecer nunca; o Senado brasileiro é algo geneticamente programado para fazer o mal). Para a maioria, a vitória virá com a passagem do tempo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Pátria de Desempregados, Desalentados e Desesperançados

Uma coisa é um país, outra um ajuntamento. Uma coisa é um país, outra um regimento. Uma coisa é um país, outra o confinamento. (Que país é este? Affonso Romano de Santana)
 
por Eduardo Guerini

Todos os meses, são divulgados dados sobre a flutuação de emprego no Brasil, Estados e principais municípios. A constatação elementar diante da estatística administrativa do sistema CAGED/RAIS, é que continuamos gerando mais desempregados do que empregados no sistema formal de contratação, em síntese, não existe mercado de trabalho, temos um mercado de desemprego.

Um dos aspectos mais nefastos da crise econômica que engendrada no país, resultado da recessão nos anos de 2015 e 2016, respectivamente com um PIB negativo de -3,55% e -3,31%, com crescimento nos anos de 2017 e 2018, não superior a 1,2% ao ano, é o aprofundamento de pessoas buscando postos de trabalho com salários menores. A perspectiva para o ano de 2019, não superará 1%, ou seja, continuamos crescendo num ritmo muito lento, com setores produtivos estagnados, com parca contratação de trabalhadores formais. A explosão da informalidade, a subocupação, o desalento, é um dos fatores mais drásticos da incapacidade de rompermos o “ciclo vicioso” da pobreza e da desigualdade na atual conjuntura brasileira. Somos uma pátria de desocupados, desempregados, desalentados e desesperançosos.

No aspecto político, a sociedade demonstra sinais de exaustão e pessimismo, alicerçados em reformas estruturais que não produzem efeitos imediatos para o despertar dos investimentos privados, na elevação dos níveis de confiança, e, principalmente, na reversão das expectativas com relação ao futuro brasileiro. O “espirito animal” do capitalismo periférico foi domesticado por acordos interessados e interesseiros forjados entre elites políticas corporativas e quadros partidários sem lastros na realidade social.

Nas diversas pesquisas de opinião pública, nos cenários prospectivos de confiança de empresários e consumidores, nos boletins semanais do Banco Central, a descrença se generaliza, fato que empareda o governo e seus ministros para soluções anticíclicas, tal como, a liberação do FGTS, que pouco altera o quadro depressivo para desobstruir o cenário que movimenta uma agenda econômica positiva. Se de um lado, a reforma da previdência animou o mercado no primeiro momento, o desarranjo político-partidário da aliança fragmentada formada na atual gestão, demonstra que falta um maestro para orquestrar os interesses difusos, possibilitando a formação de reformas sucessivas que modernizem uma nação polarizada.

A economia detona as perspectivas futuras, com um cardápio indigesto colocado na mesa do conjunto de brasileiros desempregados e miseráveis. A reversão das expectativas é condicionada por desinformação repassada costumeiramente pela mídia nacional e local, resultado da falta de compreensão das estatísticas do estoque de trabalhadores, flutuação de emprego e geração de emprego. Em muitos casos, os jornalistas, na condição de trabalhadores submetidos aos interesses do editor, pautam sua interpretação, no enredo de “empreendedores do entusiasmo”, tal como se traduz no jargão econômico da “fada da confiança”.

Não bastasse a recessão dos últimos anos, o crescimento pífio nos anos seguintes, a falta de um projeto de nação, evidenciando políticas macroeconômicas em prol da geração de emprego e renda, os dados contraídos do investimento público e privado, são potencializados por mudanças estruturais no mundo do trabalho. Assim, todo o otimismo que se construiu em torno do novo governo se traduziu na desesperança latente na sociedade brasileira na atualidade.

Em recente estudo da OCDE, sobre mobilidade social brasileira, 60% dos brasileiros mais pobres pensa que seu esforço não é o bastante para alcançar uma vida mais confortável, e, 35% dos filhos de pais posicionados no quintil mais pobre termina a vida na mesma condição social. Em síntese, as condições socioeconômicas em sucessivos governos progressistas ou não, impedem a ascensão social dos brasileiros, elevando a desesperança e desalento com o futuro do Brasil. Na sociedade polarizada com fratura social exposta, a vastidão de trabalhadores informais e precarizados, manifesta seu desejo de sair do país. O êxodo verde-amarelo é alternativa acalentada por 43% da população adulta, subindo para 62% entre os jovens de 16 a 24 anos. Para os brasileiros com ensino superior, o percentual chega a 56%, nas classes A/B é de 51%.

Os brasileiros vivem num beco sem saída, polarizado por multidões de fundamentalistas de alcova que liquidificam os argumentos para um pacto social, corroendo as perspectivas políticas para um projeto de país. Para acelerar o elevador de ascensão social, a OCDE sugere a melhoria no gasto público, principalmente nas áreas de educação e saúde, a qualificação dos desempregados, a redistribuição de renda com aumento do gasto social para os cidadãos mais vulneráveis.    Inegavelmente, a rota das contrarreformas adotadas em favor dos agentes de mercado pelo governo e sua coalizão conservadora, indica que estamos na contramão do desenvolvimento.

Eis a formação de uma pátria de desalentados com a bandeira da desesperança. Continuamos semeando promessas e vento, com bocas de tempestade.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Inspetor Clouseau e os aviões

- Bom dia Inspetor, como vai o senhor?
- Vamos indo, meu caro Ajudante de Ordens.
Inspetor - Você foi ver o novo aeroporto no domingo passado?
Ajudante de OrdensNão, mas meus primos foram e disseram que o sul da Ilha estava parado.
InspetorPois é... Não temos obras para inaugurar, o povo se diverte com aeroporto suíço, porque o ingresso é barato e alimenta o sonho de voar.
Ajudante de Ordens - Falando em avião, eu li que o senhor vendeu o nosso para outro governador por R$ 3,2 milhões em 04 parcelas. E agora?
InspetorVamos voar em avião de carreira até esquecerem o assunto. Depois a gente conversar e vê o que faz.
Ajudante de OrdensPor que o senhor não vendeu o avião para o Júlio Garcia colocar à disposição dos deputados?
InspetorCheguei a pensar no assunto, mas depois li que ele já havia emprestado R$ 300 mil reais para um empresário amigo, em 2007, e que estava recebendo o valor em parcelas. Conclui que ele estava descapitalizado. Não vi o Imposto de Renda dos dois, mas suponho que tenham declarado em 2007/2008.
Ajudante de OrdensPois é durante os governos passados era muito comum ver políticos emprestando dinheiro para várias empresas e depois receberem em suaves parcelas. A Petrobrás, a Odebrecht e a JBS receberam muito dinheiro de vários políticos e depois devolviam em parcelas. Lembra o deputado Rocha Loures, assessor de Temer, que recebeu a mala com R$ 500 mil reais em uma pizzaria em São Paulo?
InspetorÉ verdade, os políticos naquela época eram mais sérios. Emprestavam dinheiro aos empresários para que pudessem expandir seus negócios e depois eram ressarcidos em parcelas mensais.
Ajudante de OrdensEu sempre desconfiei que os juros dos políticos são mais baratos do que  os juros de bancos...