segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Modorra Existencial Tupiniquim

por Eduardo Guerini
“As pessoas com mais poder são as que mais lucram com a exploração deliberada de incertezas” (Linsey McGoey, Sociológa, 2019.)

   A agenda política dos partidos no Congresso Nacional continua travada em torno da Reforma Previdenciária. As agremiações políticas continuam enredadas em suas coligações pragmáticas afastando a possibilidade de uma retomada da confiança no crescimento econômico vigoroso, resultado de uma falta de ligação das elites partidárias com suas bases sociais. A sociedade continua aprisionada na polarização rasteira da agenda de costumes, na falta de líderes focados no interesse republicano, e, essencialmente, na ausência da figura de um estadista que governe com altivez em momentos críticos.

   A crise do presidencialismo de coalizão por falta de planejamento explícita o resultado da eleição sem projeto, alicerçado na desconfiança dos eleitores com as instituições nacionais, que guindou à presidência um líder insulado nas lutas intestinas e fraticidas. As propostas lançadas a esmo pelo governo e seus ministros esbarra no embate fratricida da arena parlamentar brasileira, carregada de vícios e chantagens. O resultado econômico das reformas nos nove meses de mandato do novo governo é pífio.

   O nível de ociosidade dos setores econômico é dimensionado pelos baixos índices de atividade mensurados mensalmente, confrontando o acumulado dos últimos doze meses, a indústria naufraga, o comércio e serviços continua em ritmo lento, a agricultura segue os ventos do mercado externo. Como resultado, o desemprego, a subocupação e informalidade seguem em níveis elevados, contraindo a renda média dos trabalhadores empregados.

   As perspectivas para crescimento do produto interno bruto (PIB) seguem estagnadas no patamar inferior a 1% ao ano para 2019, e, são revisadas semanalmente com redução para 2% no ano de 2020. A política macroeconômica continua orientada por um fiscalismo exacerbado, contingenciando e cortando gastos, no monetarismo cego de controle inflacionário, impondo sacrifícios sociais cada vez maiores.

   Os dados divulgados recentemente pelo IBGE, denotam que a lenta retomada econômica e elevado desemprego vicejam o quadro de desigualdade e concentração de renda que voltaram a piorar, considerando a série histórica iniciada em 2012. A desigualdade, pobreza e concentração de renda voltaram a ordem do dia econômica, demonstrando que o rendimento médio do grupo de 1% mais rico cresceu 8,4% em 2018, enquanto o dos 5% mais pobres caiu 3,2%. Assim, a renda da elite econômica do país, corresponde a 33,8 vezes o rendimento dos 50% da população com menor rendimento. Os dados com base na Pnad Contínua (Pesquisa Mensal por Amostra de Domicílios) retratam o desastre socioeconômico brasileiro. Tal como afirma a economista Mônica De Bolle (Estadão, 16/10/19), em total acordo com os laureados do Prêmio Nobel de Economia em 2019, que puseram em prática medidas para melhorar a vida das pessoas, adotando políticas sociais voltadas para o desenvolvimento, em seus estudos sobre erradicação da pobreza: “(...) seja ao afirmar que a pobreza é um “estado natural” e que as políticas públicas para combatê-las são inúteis. Por certo, esse pensamento repercute não entre gente que sofra da pobreza real, material, mas de quem sofre de profunda pobreza intelectual.”

   No esteio de um governo marcado por ufanismos, mistificação, construção de mitos e carismas, a legitimidade político-partidária-institucional em baixa, a ausência de projetos e programas para o Brasil, a falta de um Estadista que supere a elevada polarização e personificação do processo político atrasa as reformas estruturais para retirar-nos da modorra existencial tupiniquim.

   A sociedade brasileira continua estupefata com a falta de senso de realidade das classes políticas e empresariais, paralisada numa onda de insegurança lastreada pela imprevisibilidade de uma saída plausível. Na longa e obscura trajetória de desencanto total, vivemos contando grãos de areia na ampulheta de um governo que não consegue revigorar nossas vidas e esperanças. Eis o legado de uma pátria de políticos desavergonhados, apoiados numa elite empresarial insensível, que vive saqueando miseráveis!!

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