quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O futuro dos derrotados

por Leal Roubão (direto de Lisboa) 

   Leal Roubão é professor emérito e jurista português vinculado ao Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Coimbra.
Roubão fez várias intervenções no Cangablog nos anos de 2014 - 2016.
    Dentre os inúmeros livros publicados pelo Prof. Leal Roubão, destaca-se o best seller "Das Origens da Bandalheira - Manual Prático para Enriquecer".


Boa tarde a todos!
   Pede-me o jornalista Sérgio Rubim uma apreciação do pós eleições em Santa Catarina. Pois bem, cá da Lisboa, antevejo alguns cenários.
        
   O gajo Merisio, como todos estão a ver, abriu um bar na estrada que liga Xaxim até Xanxerê, nas alturas do km 55. No bar ele continua a falar com a freguesia e não perde contato com os seus eleitores.
   Já o Paulo Bauer, em sua terra, Jaraguá do Sul deve abrir uma farmácia popular para vender medicamentos com 40%, no pagamento à vista, conforme prometeu em campanha. Aspirinas, no primeiro mês, serão gratuitas. Por conta da casa.   Ou melhor, por conta do laboratório.

   Raimundo Colombo, volta pela estrada asfaltada para a Coxilha Rica. Volta a cuidar de suas vacas albinas. Fez um convênio com as Lojas Chilli Peppers para importar óculos chineses, pois são mais baratos. Os albinos, como o grande brasileiro Hermeto Pascoal, são mais sensíveis aos efeitos da luz solar.

   Angela Albino, sem óculos, deve voltar para o serviço público. Ou aposentada, viajar para Nova York com mais frequência, a fim de fazer suas compras no Bloomingdale's.
    
   O César Souza deve inaugurar novo programa de TV, vespertino, cujo nome está em fase final de criação. Mas, dizem-me as fontes, deve ser o MINHA PERNA, MINHA VIDA. Onde próteses serão distribuídas semanalmente. Os outros candidatos que não lograram êxito, ainda estão analisando o futuro.

A força do cotidiano


    Texto copiado do FaceBook sem autor conhecido.

   Chega Eu me rendo.  
   Jair Messias Bolsonaro é o novo presidente e eu estou começando a ficar feliz.
    Tudo isso porque tenho observado amigos e conhecidos dizerem que muita coisa boa vai acontecer a partir do dia primeiro de janeiro de 2019, assim que o Mito pegar a faixa.
    Pessoal está fervoroso a favor da família, contra a corrupção, a favor do patriotismo, lindo ver o povo cantando o hino nacional, LINDO!
    Tem gente que no dia 01 vai ligar pra companhia de energia elétrica e pedir pra desfazer o gato na sua rede. Gato esse, feito há anos desde o governo Collor.
    Tem gente que vai desligar aparelho da China que desbloqueia os canais de TV a cabo, afinal é proibido!
    Tem marido que vai ligar pra amante logo após a queima de fogos e dizer que o romance acabou, AFINAL ele é 100% família tradicional.
    Tem também aqueles pais ausentes que vão se transformar nos melhores pais do mundo, vão pagar as pensões atrasadas, vão dar afeto, amor, carinho, dignos do título de pai.
    Tem viajante que já nas férias de janeiro , vai para os EUA e no retorno respeitará a cota de 500 dólares. Afinal agora, o Mito vai destinar os impostos para o lugar certo e você como contrário a corrupção, vai entrar na fila da receita e declarar TUDO que ultrapassar a sua cota. Já lhe dou os parabéns adiantado!
    Tem gente que vai já na primeira semana, regularizar o documento do carro, para não precisar dar propina ao policial , aliás o próprio policial já não irá mais aceitar esse tipo de situação.
    Telefone do Detran ....ligue lá!
    Tem "aposentado" que nunca bateu um ponto na vida, ligando pra previdência social e dizendo que não vai aceitar mais receber aquela aposentadoria fantasma feita a 30 anos atrás.
    Tem contribuinte que na hora de declarar o imposto de renda, não vai mais precisar do recibo daquele amigo médico ou dentista, dando aquela deduzida MALANDRA no IR.
    Afinal, o Mito vai destinar a arrecadação ao seu devido lugar, dai ele para de sonegar e pagar o imposto com gosto. 

    Tem conhecido meu que vai na primeira delegacia , entregar o revólver que comprou de forma ilícita a alguns anos atrás, e vai comprar uma arma legalmente, dentro da nova lei, onde uma pistola vai custar cerca de 12 mil reais.
    Outros vão se entregar pelas mulheres que já bateu, outros pelas merdas que fez durante a vida, pq agora é vida nova, Brasil novo, tudo novo...
    Tem conhecidos viciados em drogas, que seu último baseado será no dia 31, um pouco antes da ceia. Afinal, ele não vai continuar financiando o tráfico de drogas, o Mito diz que bandido bom é bandido morto.
    Não podemos esquecer dos pequenos comerciantes que vão emitir nota fiscal em TODAS as vendas e serviços, porque ele vai desonerar a folha de pagamento e a onda de honestidade chegou ao Brasil.
    Já estou em êxtase com esse novo país que vai se iniciar em 2019!
    Isso sem contar os "pequenos" delitos,
    Furar fila?
    Nunca mais!
    Estacionar em vaga para/ deficientes nunca mais!
    Nem se for só por um instante
    Andar na pista esquerda deixando a preferencial para os com urgência.
    Recebi troco a mais? Devolvo na hora.

    Viva o novo Brasil.
    Nem quero mais ir embora daqui.


    Ainda bem que o problema era só o PT. Agora que entregamos o país nas mãos do Messias podemos
descansar. 


Do editor:
   Ué?! E eu que pensei que a hipocrisia do "politicamente correto" era propriedade do PT!
    O texto é muito bom. Mostra, com ironia, que nem a vaidade ideológica e o exibicionismo acadêmico superam o "ser humano". Muito menos a força do cotidiano.
 

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O Vento Sul

Hassis. Vento Sul com chuva, 1957
 por Marcos Bayer

   O velho vento vagabundo, vindo do quadrante sul, passou pela Ilha de Santa Catarina e por boa parte de Santa Catarina, como previu Cruz e Sousa, autor catarinense pai do poema.   Já no primeiro turno das eleições, varreu do mapa alguns nomes conhecidos do eleitorado barriga-verde.

“Velho vento vagabundo
No teu rosnar sonolento
Leva longe este lamento
Além do escárnio do mundo”

   Escárnio que boa parte da classe política fez sobre a população. De tão acostumados ao impróprio, pensavam que passariam incólumes mais uma vez despercebidos.
   Alianças tão desconexas, a não ser que seja pelo gosto ao poder, como a de Angela Albino do PC do B com Gelson Merisio e Raimundo Colombo do PSD, quer dizer, do DEM, quer dizer do PFL, quer dizer do PDS, quer dizer da ARENA, não frutificaram.
   O povo votou com uma fúria cívica impressionante. Os números finais para a escolha do governador são, em valores percentuais, 71 a 29, pró Moisés, candidato de Jair Bolsonaro e do PSL. Até então, a maior diferença havia sido entre Amin e Paulo Afonso, em 1998, quando o placar foi de 58 a 23, pró Esperidião eleito no primeiro turno.
   Parte da imprensa reclama das Fake News. É verdade, elas existem! Mas, as piores fake news são da própria imprensa, ou de parte dela, quando acobertam os diferentes roubos do dinheiro público, seja por licitações viciadas, seja por termos aditivos contratuais, seja pelo que for. E noticiam virtudes que não existem em algumas figuras públicas.
   Não há duvida que a tentativa de venda de 49% das ações da CASAN em 2011, rapidamente abortada, mesmo com aprovação da Assembleia Legislativa, influenciou no resultado desta eleição. Através do Whatsapp, circulou a informação de que o “cunhado” teria recebido meio milhão de reais para facilitar os trâmites na ALESC.
   Também o governador de então foi citado na delação de Fernando Reis da Odebrecht. O que salvou a pele de alguns foi o deslocamento da matéria do STF para o TSE, em razão da desistência da operação. Salvou a pele, mas não garantiu um novo mandato.
   Nem mesmo a ajuda da senadora Ana Amélia Lemos (PP/RS), nossa vizinha e candidata derrotada na chapa de Alckmin (PSDB) alterou o resultado.

“És como um louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças”

   O povo resolveu dar um basta!
   Não sabemos o que será dos próximos governos nacional e estadual. Mas, os eleitos entenderam o recado das urnas.
   O ciclone anunciado, com ventos de 100 km/h, que passaria ontem por Santa Catarina, passou. Foi denominado Gelson. Fraco, não fez marola nem para as baleeiras.

“Que lembras os dragões convulsos
Bufantes, aéreos, soltos
Noctambulamente revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.”
                                                                             Cruz e Sousa

   As pessoas não suportam mais a corrupção, seja de que lado for. Os impostores, de ambos os lados, ou de todos os lados, não convencem mais. O cidadão quer serviços públicos decentes, quer agilidade, quer resultados. De uns tempos para cá, governar passou a ser sinônimo de negociata. Desde a compra do cafezinho até a obra de maior porte. A sociedade conectada criou seu próprio mecanismo de informação. Com ou sem fake news, a sociedade digital cria suas próprias pautas.
   Com os Blogs, Facebook, Whatsapp, Instagram, Twiter, e outros por vir, cada um de nós será seu próprio jornalista e terá seu próprio jornal. Não há como controlar esta nova etapa da comunicação humana. Está mais do que na hora de compreender que o exercício de mandato ou função pública é honraria e não “lavanderia”.
   O próximo governador, Moisés, terá que mostrar serviço e as tábuas da salvação. Caso contrário, não haverá uma nova força política em Santa Catarina. E na sucessão em 2022, teremos na linha da disputa, Jorginho Melo com os votos do MDB, Ângela Amin com sua inegável experiência em dois mandatos na prefeitura da Capital, alguém dos novos ainda não revelados e Esperidião Amin, que poderá ser o presidente do Senado Federal, por mérito ou antiguidade. Ambas as situações lhe cabem.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A HORA CHEGA

por Emanuel Medeiros Vieira
  Para todos aqueles (cada vez mais escassos) que ainda amam a leitura.

Para Clarice (minha filha) e Tomás - que sejam iluminados em Praga, na terra de Franz Kafka.

“Último antídoto do nada/entre as peçonhas da vida/coisa por sorte encontrada/e por desgraça perdida,/amor lega, em sua ausência,/um lembrete à consciência/se ela por acaso esqueceu: nada que te pertence é teu”(…)

“Uma vida inteira passada/dentro dos confins de um corpo/junto ao qual vem atrelada/ a consciência, peso morto/que acusa o golpe sofrido/e cochicha ao pé do ouvido/depois que o fato se deu: nada que te pertence é teu”.

(Paulo Henriques Britto "Nenhum Mistério")

   Sim. Sempre chega a Hora..
   Quando, cedo, fazes a barba,, colocando a gravata, no trânsito caótico de todos os dias e, sem aviso, o infarte fulminante. Para os grandes, para os pequenos.
   Ou em um câncer longo – tão dolorido.
   Tomas um cafezinho no bar do aeroporto e, claro, não sabes que o avião irá cair.
   Explosão , sempre o fogo, a fumaça, todos mortos, lágrimas.
   E o tempo passa, tudo é esquecido – não para as famílias.
   Quando a parteira te tira da barriga da mãe, começa “o ser para a morte”.

   Não há truques, arranjos. É isso. 


   E exatamente neste momento, neste dia que nasce, após a madrugada inteiramente insone - a”cabeça viajando” para mil mundos (e não temos o controle de nada–nada), um pássaro canta na árvore em frente. Eu sei: há mar, mãe, pai, companheira, pão quente, amora, pitanga.

Vale a vida.

E, APESAR DE TUDO, É UM NOVO DIA.

Escrevi:”e não temos o controle de nada-nada”. E pensamos que temos. Nem das nossas vidas E, é claro, nem da dos outros.
   (E Caronte, o Barqueiro, carrega as almas dos recém-mortos.
É o seu ofício.
Ele coloca uma moeda sobre a boca dos cadáveres.
Jovem, eu pensava que fossem duas moedas nos olhos. Mitologias diferentes?
E segue o rio.
)

   Eu sei: não só isso.

   Nada de queixas ou autopiedade: ­ lembro-me do Evangelho de São Lucas (Capítulo 12, Versículo 48): (…) “Porque a quem muito foi dado, muito será cobrado. Quanto mais se confiar a alguém, dele há mais se há de exigir”.

   Também recordo-me de Soren Kierkegaard (1813-1855), o grande filósofo, teólogo, poeta e crítico social dinamarquês, considerado o primeiro filósofo existencialista (e que, junto com Albert Camus, tanto influenciou minha geração.).

   Não, não citarei nada de complexo do profundo pensador – apenas: “Amor é o que tem sabor de eternidade”.
   Tão simples – tão verdadeiro..

   A Hora Chega!

   Mas, nesse trânsito, é possível fazer algo. A obra fica.

   Charles Aznavour (1924-2018) tinha uma canção (“Hier Encore”) que dizia: “Ainda ontem tinha 20 anos, acariciava o tempo, joguei com a vida como se joga com o amor.”

(Brasília, outubro de 2018)

Moisés e a tábua da salvação

   Recebo do assíduo leitor, Marcos Bayer, esta missiva onde pede auxílio aos seguidores do Cangablog, para dirimir algumas dúvidas sobre a repentina moléstia acometida pelo candidato do PSL, Comandante Moisés, que o impediu de participar do debate na TV, com o seu adversário Gelson Merísio.
Sergio Rubim,
   Leitor assíduo do teu blog e de outras colunas, percebi que o jornal diário de Santa Catarina, divulga atestado médico e carta em papel timbrado do Partido Social Liberal, o PSL 17, sobre a ausência do candidato comandante Moisés no debate de 25 de Outubro na NSC TV.
   Lendo com atenção, vejo que a doença atestada pelo

médico é rinossinusite infecciosa. Rino refere-se a nariz. Sinusite, diz o dicionário: é uma inflamação da mucosa dos seios da face, região do crânio formada por cavidades ósseas ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos. A doença pode ser secundária a uma infecção, quadro alérgico ou qualquer fator que atrapalhe a correta drenagem de secreção dos seios da face. O nome mais utilizado para esse problema é rinossinusite, pois o processo inflamatório atinge tanto a mucosa dos seios da face como a mucosa nasal.
   Lendo a carta do PSL à NSC TV, no quarto parágrafo, lê-se que o candidato está impossibilitado de falar.
   Assim, aliado ao fato de que o PSL tentar, judicialmente, cancelar o debate duas horas antes da sua realização, cabe perguntar:
   A rinossinusite impede a fala?
 

   Como não sou médico, imagino que alguns dos teus leitores saberão elucidar o caso. Ou até mesmo o comandante Moisés que, imagino, possa escrever ou ditar.
Sobretudo porque ele fala em uma nova forma de fazer política.

Um abraço, Marcos Bayer


Do editor: 
   Caro Marcos, realmente existe aí um certo "desacerto" entre o atestado médico e a cartinha do Moisés encaminhada à TV justificando o seu não comparecimento ao debate.
   Comentários correndo soltos pelo "Senadinho", dão conta que o Comandante "amarelou" e não quis ficar frente à frente com o seu oponente.
   Outros dizem que ele está de salto alto, com a vitória na cabeça, seguiu o líder, que convalesce de uma facada.
   Uma terceira tese diz que seria uma trapalhada da sua equipe de marketing. Inexperientes, sem malandragem, foram no técnico. Atestado médico "geral"!


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Será que as mudanças necessárias ocorrerão?­

por Armando José d’Acampora*

 Meus caros.
Finalmente está acabando mais uma descampanha política, ou seria de desconstrução do oponente?
Tivemos uma campanha que não condiz com a minha condição de brasileiro, aonde eu vejo unicamente a falta da civilidade e do bom senso.
O que estamos ouvindo e vendo, são ataques pessoais e ausência das propostas concretas para um governo, sérias e bem estudadas. Seria interessante observar o programa de governo e deixar de lado os ataques pessoais tentando mostrar os defeitos e as possíveis falhas do outro. Mas e principalmente, deixar de lado as considerações tendenciosas e as falácias que são comentadas nos programas partidários.
Os que já estão lá, continuam com as mesmas promessas de campanhas dos anos anteriores. Bem se as promessas são as mesmas, tão antigas quanto o rascunho da Bíblia, por que não realizaram estes mesmos feitos que de novo prometem, no exercício de seu próprio mandato anterior?  O que tem do mesmo antigo, e repentinamente agora é o novo que estão a reofertar quando o antigo não foi cumprido?
A maioria das pessoas que defendem seu candidato, repetem exaustivamente o que ouvem, sem saber qual o real significado das palavras que são proferidas e das desqualificações imputadas ao adversário.
Nos últimos anos, tivemos governos do Collor, do Fernando Henrique, do Lula, da Dilma e do Temer. O governo tem mudado bastante, mas para o povo, não houve melhora significativa, daquelas que veem e ficam, daquilo que se chama ganho social e é só perguntar: o que melhorou no Ensino? O que melhorou na Saúde? O que melhorou na Segurança?, que são as três grandes obrigações do Estado.
Se meu avô estivesse vivo para ver isso repetiria: “ meu filho, só mudam as moscas, a...”
O MDB, foi totalmente conivente, coladinho ao poder em todos os poderes, nos últimos governos pós governo militar e agora teve, como resposta de suas ações, o resultado das urnas.
É muito difícil não reconhecer que foram governos que tendiam para a esquerda, e não para o centro. Esta constatação foi exaltada pelos próprios governantes, cansando-nos com a cantilena de que estávamos numa social democracia.
De algum modo, o povo está alerta e não concordando com esta realidade dos políticos.
Não mais aceitamos a diferença entre nós e outras sociais democracias, pois estas diferenças estão cada vez mais gritantes. A França, Portugal e a Espanha aderiram a social democracia e estão em nível de vida muito superior ao nosso Brasil, país muito mais rico que os citados, mas os contribuintes de lá, aparentemente satisfeitos com as suas condições de vida, o que não acontece por aqui neste país rico e alegre, e sim nos países citados, conscientes e muito satisfeitos com os avanços que conseguiram.
E entre nós. Quais os avanços reais que conseguimos nos últimos vinte e quatro anos?
Um batalhão de desempregados, um outro batalhão de analfabetos funcionais que ascendem à Universidade, insegurança que nos impede de sair às ruas durante a noite e em alguns lugares mesmo durante o dia, impostos escorchantes, falta de investimento público pois não há dinheiro para tal, e ainda o aumento significativo da máquina estatal, cujo número de funcionários públicos é muito maior do que se necessita, havendo vários contratados no mesmo local para realizar as mesmas funções, num total desperdício do dinheiro público.
Será fácil a tarefa do próximo mandatário, seja federal ou estadual?
Não. Até colocar o trem novamente nos trilhos, muita água há de passar embaixo desta ponte.
Sucesso a eles, é o meu desejo, e posso garantir que continuarei a realizar a minha parte.
 
* Médico. Cirurgião Geral e Professor Universitário

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Tempos de "vacas magras" na Globo

   Assim como Lula cortou a publicidade governamental para a Revista Veja, quando eleito presidente, Bolsonaro promete a mesma vingancinha, só que agora com a Globo.
   Previdentes, os globais já se preparam para os tempos de vacas magras que enfrentarão.
 
   Rolando na web o primeiro ensaio da nova abertura do programa Fantástico, depois que o presidente Bolsonaro reavaliar as verbas governamentais de publicidade com a Rede Globo.


Hercilio Luz e o Whatsapp

por Marcos Bayer

Este artigo é uma homenagem ao Governador Hercílio Luz e a sua neta, Olga Maria. Hercílio construiu a ponte que leva seu nome entre 1922 – 26, sendo que morreu na metade do trabalho. Nem por isto seu projeto foi abandonado e sua equipe concluiu a obra. Em apenas quatro anos, com a tecnologia disponível à época fez o monumento que representa Santa Catarina até hoje. Apesar disto, a ponte está totalmente interditada desde 1991, portanto há 27 anos. Milhões de reais são gastos em suas obras de manutenção e reformas.

Colombo
   Em 1971, num domingo de Março, dia 14, meu pai faleceu em acidente automobilístico na BR 101. No dia seguinte, Colombo Sallles tomava posse no cargo de governador deste Estado. Não sei exatamente porque, comecei a me interessar pela política naquela época. A missão dele era renovar as forças políticas estaduais por determinação do regime militar. Ele, entre outras obras, construiu a primeira ponte de concreto que leva seu nome, ligando a Ilha ao Continente. Neste mesmo ano, tomava posse na Câmara dos Deputados, o Dr. Jaison Barreto, médico oftalmologista formado na Faculdade Nacional do Rio de Janeiro e com especialização na Clínica Barraquer em Barcelona.

 Ramos/Konder
   Antonio Carlos Konder Reis sucedeu Colombo Salles, em 1975, indicado pelos militares e reinaugurou a fase política em que se alternavam os Ramos do PSD e os Konder Bornhausen da UDN, como fora de 1946 até 1964 com o golpe militar. Aderbal Ramos da Silva foi o primeiro governador depois da ditadura de Getúlio Vargas, foi sucedido por Irineu Bornhausen, depois por Jorge Lacerda que quebrou a hegemonia dos dois grupos políticos. Seu vice Heriberto Hulse concluiu o mandato em razão do acidente aéreo que tirou sua vida e também as de Nereu Ramos e Leoberto Leal. 

Celso Ramos
   Em 1961 Celso Ramos é eleito governador e funda o BESC. O Banco do Estado de Santa Catarina era um contra ponto do PSD ao Banco Indústria e Comércio da UDN.
   Celso é um grande animador da agropecuária, e pelas mãos de Glauco Olinger e Luiz Carlos Gallotti Bayer fez-se uma revolução na agroindústria catarinense, liderada pela Sadia e Perdigão, no sistema integrado de produção com financiamento subsidiado do BESC. Ivo Silveira, eleito pelo voto direto e secreto, governa o Estado numa composição PSD/UDN. Nascia a ARENA, Aliança Renovadora Nacional, para dar suporte político aos militares. 

Bonhausen
   Konder Reis, construtor de estradas, impecável no trato da coisa pública, foi o primeiro governador a se preocupar com a restauração do patrimônio histórico e arquitetônico. Sua sucessão foi disputada indiretamente, em 1978, por seu primo Jorge Konder Bornhausen e Victor Fontana. Ambos estavam inscritos na ARENA, mas Victor era do PSD, mesmo partido de seu tio Attílio, fundador da Sociedade Anônima Concórdia, a Sadia. Com a participação de Golbery do Couto e Silva, Jorge foi o escolhido.

Amin
   Em 1975, Esperidião Amin havia sido escolhido prefeito da Capital pelo governador Konder Reis, após consultar o PSD do Doutor Deba.
   Em 1978, Antônio Carlos Vieira, o Vieirão, através de sua influência na estrutura da Secretaria de Fazenda, elege dois deputados: Gilson dos Santos (estadual) e Esperidião Amin (federal).

Jaison
Jaison Barreto, no mesmo ano, é eleito Senador da República pelo voto direto, numa das campanhas mais vibrantes da história catarinense. Jaison era a voz da liberdade, da valentia, da democracia e da fraternidade. Formou, pela postura política, inúmeros jovens. Era o que o MDB tinha de mais autêntico.  Levou como suplentes Dejandir Dalpasquale e a lageana Maria Shirley, a primeira mulher catarinense a ocupar a tribuna do Senado.
Foi nesta eleição que um jornalista de nome relativo à árvore frutífera de clima temperado, em troca de cargo vitalício no Tribunal de Contas, passa a ser o porta voz do poder. Não importa quem esteja no poder.

Jorge
   Jorge Bornhausen destacou-se por duas iniciativas: a lei do pó de giz que gratificava as professoras que desejassem voltar às salas de aula para o ofício do magistério e a construção do Centro Integrado de Cultura - CIC, um marco na história da Capital e que graças ao fotógrafo Gilberto Gerlach, a cidade pode assistir aos filmes que transitavam fora do circuito comercial. Aproveito para agradecer, publicamente, ao então governador a oportunidade de estudar nos EEUU nos anos de 1981 e 1982, autorizando meu afastamento do serviço público.
   Jorge Bornhausen, candidato ao Senado, lança Esperidião Amin e Victor Fontana, agora pelo PDS, para o governo em eleições diretas.
   Jaison Barreto e Pedro Ivo Campos são os adversários pelo MDB. Perderam nas urnas ou pelas urnas. Até hoje o resultado é controvertido. Há versões distintas.

Enchentes
Amin enfrenta as enchentes de julho de 1983, são 200 mil desabrigados. Isenta do pagamento de ICM os empresários que não demitissem os trabalhadores, participa das operações de resgate e ganha o respeito de pessoas que continuaram a trabalhar. Viu que o desespero maior do ser humano é não ter trabalho e não poder se sustentar. Nas eleições de 1998, quando foi novamente eleito governador, recebeu de Blumenau uma votação retumbante como forma de gratidão. Pavimentou a Serra do Rio do Rastro e instituiu o programa agrícola chamado Troca – Troca, onde o agricultor recebe a semente e paga com o produto cultivado, privilegiando o trabalho ao invés do capital.

Diretas Já
   Em 1984, com a exaustão do regime militar, o movimento por eleições diretas toma conta do Brasil. Diretas Já. Amin monta o palanque em Florianópolis. Jaison sobe nele com Ulysses Guimarães e outros.  Começa a aproximação entre ambos. O movimento empolga jovens, artistas, intelectuais e brasileiros de todos os naipes. Incentivado pelo senador Jaison Barreto, numa palestra no auditório do Tribunal de Contas, resolvi, por questão ética pedir demissão no serviço público e me inscrever no PDT, na Assembleia Legislativa, pelas mãos do governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola.  No ano seguinte, 1985, Brizola – Jaison – Amin, criam a AST – Aliança Social Trabalhista para disputar a Prefeitura de Florianópolis, na primeira eleição direta depois do fim do regime militar.
   A emenda parlamentar Dante de Oliveira não passou, houve então o Colégio Eleitoral que escolheu Tancredo Neves para a presidência do país.
   Tancredo adoeceu, não tomou posse em 15 de Março de 1985 e morreu em 21 de Abril. José Sarney, o vice, tomou posse indicado na chapa pela Frente Liberal. A Frente Liberal foi uma dissidência do PDS, liderada por Jorge Bornhausen, Sarney, ACM, Guilherme Palmeira, Marco Maciel e outros nomes do cenário nacional.
   Quando a AST definiu seu candidato, Francisco de Assis, deu para perceber que a renovação não era para valer. Muito menos com Maneca Dias de vice.
   Do outro lado estavam Edison Andrino pelo MDB, Jorge Lorenzetti pelo PT, Enio Branco pelo PFL, Vilson Rosalino pelo PCB e José Ortiga pelo PTB.
   Inconformado, criei junto com a Olga, o PDT-Livre. Eram dois cabos de vassoura, cada um de nós segurava um, esticando uma faixa de pano branco com letras vermelhas: PDT-Livre. Com o passar dos dias a dissidência foi aumentando, apoiamos o Andrino até a vitória. O PFL descarregou seus votos no Edison. Acho que o PT e o PCB também.
   Como era bom fazer política por amor à arte.
   Andrino achou que tivesse ganhado sozinho. Foi engolido pelo PT. Conseguiu fazer o Terminal Cidade de Florianópolis, criou o Polo do Vestuário por inspiração da Dona Ninita Muniz, empenhou esforços para tombar o prédio dos Correios na Lagoa da Conceição por inspiração da Associação Costa Leste, construiu os abrigos para as embarcações dos pescadores nativos e retirou o lixão (aterro sanitário) que ficava ao lado do cemitério no Itacorubí. 

Pedro Ivo
Em 1986, Pedro Ivo ganha as eleições para o governo e faz dois senadores: Wedekin e Dirceu Carneiro. Pedro constrói a segunda ponte de concreto e que levará seu nome quando inaugurada por Casildo Maldaner, seu vice e sucessor. Maldaner em Agosto de 1989, durante 17 dias, deu a volta ao mundo tratando de interesses de SC. Começou por Tokyo, Aomori, Nova Delhi, Berlim Ocidental e Oriental, Praga, Paris, Madrid e Lisboa. Em Novembro daquele ano o Muro caiu. Wedekin foi para o PDT e Dirceu Carneiro para o PSDB.
Em 1988, Andrino perdeu as eleições para Amin eleito, Bulcão Prefeito. O PDS e o PFL estavam juntos novamente.
Chega a eleição de 1990 e o PMDB não tem candidato. Paulo Afonso é indicado pelo Dr. Saulo Vieira, um dos fundadores do partido e seu mais eficiente articulador. Amin se elege senador e Kleinunbing governador. Novamente o PDS e o PFL juntos.
Em 1994, FHC é candidato à presidência e não tem um palanque em Santa Catarina. Jorge Bornhausen que já havia sido Ministro da Educação de José Sarney, Secretário de Governo de Fernando Collor e consolidado sua liderança no Senado Federal, na bancada do PFL resolve disputar o governo estadual. Amin decide disputar também a presidência, na mesma eleição em que estavam Brizola, Lula, Quércia e Enéas.

Paulo Afonso
Em Santa Catarina, quebrou-se a aliança PDS/PFL. Paulo Afonso correu pelo PMDB, Ângela Amin pelo PPR, Jorge Bornhausen pelo PFL e Nelson Wedekin pelo PDT. No segundo turno PMDB – PFL – PDT se juntaram e venceram Ângela.
O governo Paulo Afonso foi marcado por uma intenção municipalista, pelo affair das Letras do Tesouro e pelos Precatórios. Seu governo quase foi derrubado por um processo de impeachment. Atrasou a folha de pagamento dos salários do funcionalismo em três meses. Seus auxiliares mais próximos não eram do velho MDB.
Em 1996, Ângela Amin se elege prefeita da Capital. Derruba o PT, PFL, PMDB e o PSTU. A cidade nas vésperas da votação estava repleta de bandeiras vermelhas em suas principais esquinas. Mas, a grande parte da população permanecia em silêncio. Era a vitória esperando a hora de se revelar. Na ocasião escrevi um artigo: Ângela Catarina, publicado no jornal O ESTADO. Recebi um telefonema de seu marido convidando para um café que só aconteceu três ou quatros meses depois. Em Março de 1997, me foi proposta uma assessoria pelo senador. Achei estranho, mas não recusei.
   Em 1998, Amin e Bornhausen se reaproximam e reeditam a aliança de 1982. FHC é reeleito. Paulo Afonso termina sua carreira política precocemente. Depois disto, mais tarde, chegou a assessorar o vice-presidente Temer.

Amin/Bornhausen
   Amin realizou em seu segundo mandato a iluminação da Serra do Rio do Rastro e a Serra da Dona Francisca. Pelas mãos competentes do Vieirão, reorganizou as contas públicas, inclusive junto ao BIRD/BID onde o Estado estava sem crédito pela inadimplência do governo anterior. Não se podia nem construir rodovias, pois este dinheiro faz parte de um programa específico e que todos os governadores usam como se fosse um mérito pessoal. O programa micro bacias é desenhado para os países subdesenvolvidos dentro da lógica de que a rodovia escoa produção, integra as comunidades e promove o desenvolvimento. Exatamente como foi feito no Império Romano em toda a Europa. Amin executou uma política externa, incisiva e múltipla, ampliando as exportações de carne suína e aves para a Rússia e Golfo Arábico. Abrigou em Santa Catarina investimentos como a Usinor da França, a Marcegaglia da Itália e a Cebrace Vidros Planos, uma joint venture entre a França e o Japão. Foi o momento mais fecundo do Estado na área externa. Foi um governo tranquilo, com Celestino Secco administrando possíveis crises de praxe.

Ângela
   No ano 2000 Ângela Amin se reelegeu prefeita. Foi o apogeu político dos Amin. A capital e o Estado estavam sob a mesma orientação partidária.
   Em 2002 Amin não se reelege por menos de meio por cento. 

Era LHS
   Começa a era Luiz Henrique da Silveira. Não se sabe ainda quais as realizações de LHS. Mas, o metro de superfície na capital, a reforma e a entrega da Ponte Hercílio Luz, as SDRs – Secretarias de Desenvolvimento Regionais, denominadas de “Cabides de Emprego” por Raimundo Colombo, parecem ter sido as mais célebres. Na ânsia de ser recebido por algum Rei, querendo superar seu antecessor, tentou encontro com Juan Carlos da Espanha, mas não vingou. Tentou então, o Presidente do Governo, mas também não deu certo. Acabou jantando como o Roberto Carlos, jogador brasileiro que jogava à época no Real Madrid. Para um país que aprecia o futebol, até que não foi tão mal assim.

Aldinho
Mas, o fato mais marcante foi a prisão pela Polícia Federal de Aldo Hey Neto, em Outubro de 2006, entre as eleições de primeiro e segundo turno. Aldinho como era chamado, consultor tributário encarregado de soluções contábeis foi algemado dentro do Centro Administrativo e em seu apto foram encontradas diferentes moedas, entre elas dólares e euros.
   LHS concebeu o que ele chamava de La Grande Concertación, cujo tripé político era a aliança PMDB – DEM – PSDB.
   Este projeto o fez duas vezes governador e uma vez senador. Levou Raimundo Colombo ao Senado e duas vezes ao governo. Colombo também prometeu entregar a Ponte Hercílio Luz pronta e acabada. Fez de Paulo Bauer senador.

   O resultado de La Grande Concertación nós vimos em 2018. A primeira parte foi no primeiro turno. A segunda parte virá no próximo domingo.

   No tempo do Hercílio Luz a palavra dada valia e a eleição era vencida no discurso político. Com o passar do tempo, a palavra do político foi valendo cada vez menos. Até que chegamos às campanhas eleitorais pelo whatsapp, onde podemos verificar o que foi dito e contra dito. O que foi feito e contra feito. 

Comentário de Antônio Carlos Vieira: Tem dois equívocos no texto da matéria: 1° - não elegi Esperidião Deputado Federal e Gilson Deputado Estadual, ajudei-os. Não tenho capacidade para eleger quem quer que seja. 2° - Pedro Ivo elegeu-se em 1986 e não em 1996.