quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Morreu o amigo Celso Martins


   Jornalista, historiador, amigo de clandestinidade e de lutas contra a ditadura militar, parceiro da não menos parceira, Margaret Grando (a Baixinha), pai apaixonado da Anita, Celso Martins, integrante do Partido Comunista - desde sempre - morreu nesta madrugada de um ataque cardíaco fulminante.
   
   Convivemos muito durante o período da ditadura no movimento estudantil. Primeiro conheci a Baixinha, destacada membro do núcleo duro do PC infiltrado dentro da Engenharia da UFSC. O que tinha de pequena, tinha de ágil, arguta e operante na luta de cooptar novos quadros para a esquerda no combate à repressão, falta de liberdade e ditadura militar.

   Logo em seguida veio o Celso. Ligeirinho dos pés, mané no falar e no dizer. Sempre com algum plano, pensando algo ou cantando o verbo para o lado contrário do acontecimento. Especialista em despistar e esconder a nossa verdadeira atuação e intenção, técnicas desenvolvidas na prática como forma de sobreviver aos espiões, caguetas, dedos duro do regime que também atuavam clandestinos dentro do movimento estudantil. Era uma merda, tínhamos desconfiança até da sombra.

   Assim era o Celso. Depois foi ficando melhor. Com o fim da ditadura, atuando como jornalista no O Estado, continuava na sua luta de esquerda, principalmente documentando e denunciando atrocidades e injustiças do "sistema".

Para dar uma dinâmica mais técnica à sua experiência, sempre documentada, o "Delegado" (apelido íntimo) volta aos bancos escolares em 2005. Foi fazer o curso de História na UDESC. Ali conseguiria os instrumentos para socializar suas ideias e relatar sua experiências na luta contra a ditadura.

"Vim fazer o curso de História para aprender as metodologias e teorias, melhorar os conhecimentos históricos, e não abandono o jornalismo, meu ofício desde sempre"

   Instrumentalizado e com "sustância tônica" (como dizia meu pai) cheio de experiência e conhecimento histórico, Celso não parou mais na sua atividade narrativa, como jornalista e historiador . 
   
Os Quatro Cantos do Sol, livro que escreveu sobre a massacrante Operação Barriga Verde, a mais violenta e raivosa operação dos órgãos de repressão em Santa Catarina é uma importante contribuição à história política catarinense.    

   Ali, Celso relata com precisão histórica as lutas dos movimentos sociais contra o regime militar. Os relatos de sobreviventes das torturas e perseguições, além de toda a documentação buscada em um trabalho de exaustivo fôlego, faz desta obra um relato  definitivo sobre o que foi a repressão em Santa Catarina. Mas muito mais do que isso, mostra do que é possível o ser humano - imbuído de ideias acabadas - fazer contra outro ser humano. O horror!

   Esse livro é uma referência para os que hoje pregam a volta da ditadura militar sem ter noção do que é uma ditadura. O Celso sabia bem o que era. Viveu-a!

    Sonhamos, planejamos, agimos, sofremos e nos divertimos muito nos "anos de chumbo". Sobrevivemos!

   O Celso, até essa madrugada! 
   Uma lástima!

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