quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Moreira: O príncipe de Falconeri do MDB


   Foi difícil perceber antes que as urnas se fechassem. Mas com a apuração encerrada no último domingo (07), ficou claro: o maior estrategista destas eleições é o Governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB). Grande articulador da política catarinense, ele mostrou estar sempre alguns lances à frente dos seus adversários.

   Tudo começou na escolha do candidato de seu partido. Até o ano passado, o PMDB debatia basicamente duas alternativas: o próprio Moreira e o prefeito de Joinville, maior cidade do estado, Udo Döhler. Quando Raimundo Colombo renunciou ao governo para concorrer ao Senado, tudo parecia se encaminhar para Moreira. Entretanto, o Governador dispunha de pesquisas que apontavam há mais de um ano para um fenômeno impressionante no estado: a ascensão de Jair Bolsonaro e a busca do eleitor catarinense por renovação.


   Moreira abriu mão da candidatura. A outra opção, o prefeito de Joinville Udo Döhler, antigo adversário interno de Mauro Mariani, praticou o mesmo gesto. E a escolha recaiu sobre Mauro Mariani, um Deputado sem expressão estadual, que havia feito menos de 5% dos votos na disputa pela prefeitura de Joinville em 2008.


   Pode-se acusar o PMDB catarinense de qualquer coisa, menos de ingenuidade. O partido que governou o estado por mais vezes desde que as eleições diretas foram restabelecidas em 1982, não tem nada de bobo. Por que afinal este partido, com lideranças do porte de Pinho Moreira e Döhler, iria com o seu candidato mais fraco para o pleito?


   A explicação parece ser relativamente simples: o comandante Moisés, que acabou escolhido candidato do até então nanico PSL em Santa Catarina, é um homem de confiança do PMDB. Foi cargo de confiança no Governo de Luiz Henrique. E estava pronto para ser o Plano B do partido. A onda que Pinho Moreira tinha visto nas pesquisas se confirmou na eleição.


   Encerradas as eleições, o Governador do Estado que passou o primeiro turno todo calado, sem gesto algum em favor de seu correligionário, Mauro Mariani, já declarou apoio entusiasmado para Moisés. A mesma  posição dos Deputados Federais do PMDB, Rogério Peninha Mendonça e Valdir Colatto. A mesma posição do Deputado Estadual mais votado do PMDB, Valdir Cobalchini.


   Em política não existem coincidências nem espaços vazios. Aparentemente Eduardo Pinho Moreira aplicou a Estratégia das Tesouras em Santa Catarina. E, espertamente, usou o próprio partido de Jair Bolsonaro para isso.


   A consagração da estratégia de Pinho Moreira pode estar próxima. Se Moisés for o novo Governador catarinense, a turma do PMDB já sabe: tudo acontecerá sob a máxima do escritor siciliano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, que em sua obra prima, O Leopardo, sobre a decadência da aristocracia siciliana, decreta que a
única mudança permitida é aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri: tudo deve mudar para que tudo fique como está.

Nenhum comentário:

Postar um comentário