sexta-feira, 30 de junho de 2017

Pós-Verdade: "Verdade"?


por Emanuel Medeiros Vieira               
Ouvindo a "Ave Maria
de Franz Schubert, 
na voz de Stevie Wonder

   O que é verdade? Essa pergunta também foi feita a Jesus, durante o seu “julgamento”. 
   A realidade é difícil? Os fatos são dolorosos? Então, muda-se o conceito e abandona-se a verdade.
   Num exemplo muito prosaico, "vendedores" viraram  “consultores” – consultores de perfume e de tudo.
   É o reino do eufemismo!
   Onde prevalece a propaganda, o mercantilismo, cerveja virou algo intrinsecamente ligada às festas de São João, tão enraizadas aqui no Nordeste. 
   Forrozeiros autênticos são abandonados pelos “sertanejos universitários” - que praga!
   Já não basta a dupla sertaneja/goiana Joesley & Wesley, patrocinada pelo BNDES, Caixa Econômica e outras instituições dominadas pelo gangsterismo e pelo banditismo, que estão ou estavam no topo da República? 
   Nosso mundo acelera com velocidade estonteante a informação (não a “formação”). 
   Acelerar e aprofundar não são verbos semelhantes. Ou não?
   Dispersei-me.
   O adjetivo pós-verdade adquiriu importância e significância que “transcende o vernáculos e a semiologia da geopolítica internacional”.
   Como alguém observou, "o facciosismo fascista e a intolerância desumana hiperbólica, associam-se à hipocrisia flagrante que renega a veracidade factual do viver”. (...)
   O niilismo está na soleira da porta. 
   A verdade é o que é; segue sendo verdade, ainda que pensemos o revés, disse A. Machado. 
   Qual a primeira vítima de, por exemplo, uma guerra? É a Verdade.
   Alguém lembra que, ainda que a linguagem cotidiana não seja construída de forma lógica, entretanto ela e o mundo estão estreitamente ligados, como diria Ludwig Wittgenstein (1889-1951) – “Pois o mundo é a totalidade dos fatos”, constataria ele (lembrado também em artigo de Marcos Luna).
   Fui obscuro? Não quis.
   Um poeta espanhol disse que a verdade nunca é triste...
   A busca de fabulação pode anestesiar a nossa dor, mas não pode prevalecer – senão será roubada a nossa autenticidade.
   E eu só posso pedir que alguém acredite em mim, se previamente eu acreditar fundamente no que digo.*

*Ludwig Wittgenstein, acima citado, foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico. Participou do chamado “Círculo de Viena”, que contribuiu para a renovação da lógica na década de 20 do século passado.
  Ele é considerado um dos pais da “filosofia analítica”.
   Estudou com Bertrand Russel (1892-1970) entre 1912 e 1913. 
(Salvador, junho de 2017). 

     MENINA BRANCA DE NEVE
             (Modesta paráfrase de um grande poeta)   
                         Emanuel Medeiros Vieira
   Para Clarice e seus irmãos Lucas, Américo e Maurício
Quando você for se embora/moça branca como a neve/
 me leve/
Se acaso você/não possa me carregar pela mão/menina branca de neve/
me leve no coração”. (...)
(Ferreira Gullar, "Cantiga para não morrer") 

E quando eu ainda estiver aqui, andaremos de mãos dadas
Mais tarde você me olhará com ternura  e dará as mãos para mim
Pernas? Já não me acompanham
Então, menina branca de neve, me carregue pelas mãos
E quando eu for embora, olhe para uma estrela – pense que eu seja ela –e  me leve no seu coração. 
                 

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