
Se lá nos EUA os seguidores de Trump pintaram em uma porta do Capitólio “assassinem a imprensa”, por aqui os agressores dos jornalistas têm se valido de estratagemas cada vez mais extravagantes para tentar nos calar. Ainda estamos na segunda semana do ano e notícias recentes já mostram que esse será um ano de muitas agressões aos jornalistas.
Esta semana a Repórter Brasil, nossa grande parceira em investigações sobre os malefícios dos agrotóxicos, sofreu uma série de ataques on-line que levaram o site a ficar fora do ar diversas vezes. Os atacantes enviaram uma chantagem anonimamente: ou a equipe apagava todos os arquivos dos anos de 2003 a 2005, ou o site permaneceria sob ataque.
A Repórter Brasil não cedeu, e em seguida os bandidos tentaram arrombar a sede da entidade. Organizações de defesa do jornalismo, como a Abraji, emitiram comunicados veementes exigindo uma investigação.
Aqui na Pública, temos recebido um tipo diferente de achaque de criminosos digitais. Desde o ano passado, e-mails falsos pedem que retiremos do ar a reportagem “O império de Isabel”, que detalha como a filha do antigo ditador de Angola, José Eduardo dos Santos, aproveitou o poder político do pai para, com empresas de fachada e informações privilegiadas, se tornar a mulher mais rica da África. A obsessão com essa reportagem demonstra a preocupação dos autores dos ataques com o fato de que a Pública é bastante lida pelos angolanos desde que investigamos a presença da Odebrecht naquele país.
O primeiro email vinha assinado como um editor do Le Monde, nosso parceiro na investigação transnacional sobre o vazamento dos e-mails de Isabel dos Santos coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Dizia que estávamos violando o copyright sobre fotos deles e deveríamos tirar a matéria do ar.
O email era falso, segundo os próprios editores do Le Monde comunicaram ao ICIJ. A pessoa em questão jamais havia trabalhado no jornal francês.
Há algumas semanas, a turma voltou à carga, e dessa vez foi além: forjaram um email em nome de Tiago Mali, chefe de redação do site Poder 360, pedindo que a mesma reportagem fosse retirada do ar também por quebra de copyright. Comunicamos a equipe do Poder 360 e soubemos que também era falso. Trata-se de falsidade ideológica e fraude para silenciar a imprensa por uma coação.
As comunicações tentaram assustar nosso provedor de serviços digitais, uma empresa brasileira que se orgulha de seguir a lei, tentando afirmar que eles seriam responsabilizados pela pretensa ilegalidade. Queriam boicotar nossa infraestrutura.
Ainda bem, todos os parceiros da Pública entendem a importância do nosso trabalho e não vão ser intimidados. E nada disso vai nos calar.
Em frente.
Natalia Viana, cofundadora da Agência Pública
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