conto de Emanuel Medeiros Vieira
Eu nunca soube se seus cabelos eram oxigenados ou naturais.
No fundo,
ela sempre quis uma casa.
Uma
porta aberta, um vaso com flores, gentes, quintal, uma família.
Repito: uma
família.
Júlia, às vezes quieta e grave; ou sorrindo intensamente.
Rindo e chorando.
Tinha um jeito de
quem iria sorver a vida breve de todas as maneiras.
Ela com um metro e oitenta de
altura – ou mais? –, quase loira.
Júlia que ficava belamente queimada quando ia pegar sol na Lagoinha da
Ponta das Canas, na Ilha de Santa Catarina ou em Santa Cruz Cabrália – onde
começou o Brasil ou no Parque da Cidade,
em Brasília.
Te
amei.
Não
te vejo mais, Júlia.
Não
mais te verei.
Deixaste este mundo – que nunca entendeste – aos 30 anos. Ou
menos, guria.
Sempre indagam: morreu de quê? Não importa. Leiam Camus.
(santo de minha devocção...)
Quantos anos? Trinta? Talvez menos. Pouco Mais de um quarto
de século de vida, e ela parecia ter vivido uma eternidade.
Não repara: eu também nunca entendi (esse insensato mundo).
E,
insisto, nunca soube se teu cabelo era oxigenado ou natural.
Mas visito – todos os sábados – o marco branco de tua rota peregrina – com um ramalhete de flores
(com jasmins que sempre amaste).
É aqui perto de casa. O Campo – dizem – é da Esperança.
Me espera, Júlia, Não demoro muito.
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