sexta-feira, 13 de abril de 2018

Depois do Turbilhão...

por Eduardo Guerini
 
“Assim, todos, juntos, continuavam a sua vida cotidiana, cada um a seu modo, com ou sem reflexão; tudo parecia seguir o seu rumo habitual, como em situações extremas, nas quais tudo está em jogo, e a vida continua como se nada acontecesse.” Goethe, As Afinidades Eletivas (2003).
  
   A prisão do ex-presidente Lula aconteceu mirando os escândalos sucessivos de corrupção. Entre discursos e narrativas no retorno às origens sindicais, a esperança da retomada de grandes manifestações em prol da reversão da execução da pena, não aconteceu. As imagens e discursos reacenderam a indignação do ex-líder metalúrgico, com um ramerrão de feitos e realizações que foram consumidos na maior recessão econômica associado ao calvário de lideranças do petismo que se locupletaram no “banquete farto do poder”. O lulo-petismo vendeu uma esperança, um sonho, os brasileiros colheram um pesadelo, as alianças e conciliação com as elites retrógradas vicejaram o surgimento de uma nova onda liberal-conservadora.

   A polarização e estreitamento da capacidade de alianças imputaram ao petismo um declínio jamais visto na história política brasileira. A crise institucional se agravou dia após dia, mês após mês, desde o levante das jornadas de junho de 2013, momento em que os movimentos sociais, especialmente a juventude, colocaram em xeque a longa marcha de afastamento dos governantes e representantes políticos, alheios aos anseios populares. Dilma Rousseff e sua equipe ministerial, os líderes dos partidos da coalizão, as lideranças do Congresso Nacional e parte da sociedade apenas assistiram catatônicos o movimento. Em contrapartida, Lula e o PT, trataram de manter uma narrativa hegemônica que abandonou a crítica e autocrítica. O importante era negar a realidade e as narrativas da elite conservadora.

   O acirramento da polarização política reavivou as forças conservadoras com uma bandeira que feriu de morte o segundo mandato de Dilma Roussef, resultando no impeachment em 2016. A narrativa do golpe, o combate à corrupção que envolveu os grandes partidos políticos, e, fundamentalmente, a bandeira da “ética na política”, se transformou em flechas certeiras contra a maior liderança do Partido dos Trabalhadores, o ex-presidente Lula. A exaltação do sucesso do período do lulismo-dilmismo não encontrou eco na sociedade, nos próprios movimentos sociais. O período foi de estupefação em cada nova fase da Operação Lava Jato.

   A dissociação entre os interesses partidários e da classe política, a nova aliança conservadora, alicerçada na ortodoxia monetarista, no pragmatismo e fisiologismo, resultaram na descrença nacional contra as instituições republicanas. Em cada denúncia, prisão ou soltura de empresários, parlamentares e lideranças dos maiores partidos políticos brasileiros, a descrença, desesperança, desalento, implicavam no aprofundamento da crise política, institucional e econômica. O Brasil sob o governo de interesseiros e interessados em constituir projetos duradouros de poder, se transformou em nação sem futuro, sem horizonte.

   Na conjuntura atual, a sociedade brasileira se encontra na antessala do pleito eleitoral de 2018, alicerçada na estrutura do capitalismo periférico brasileiro com sua matriz neoliberal cabocla, despossuída de um pacto social mínimo e civilizatório, atolada no desemprego, na informalidade, na desigualdade econômica e social, consubstanciando um turbilhão de sensações pessimistas e intolerantes, somos um país na escuridão. Neste momento, na falta de norte político, as lideranças deveriam seguir o velho enredo que Goethe recitou no seu leito de morte: “Mais Luz”!!

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