quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Voando às Cegas

por Eduardo Guerini

“Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para não, não para.”
(Cazuza. O tempo não para) 
 
    As eleições estão se aproximando. Os partidos e suas lideranças políticas se movimentaram internamente para realização de convenções, assim como, formação de coligações, linhas de apoio. Porém, as coalizões pretendidas nas principais candidaturas ao pleito presidencial, continuam afastando mais do que aproximando o cidadão comum, o eleitor que legitimará o processo democrático brasileiro. Um processo que sofre de déficit de legitimidade, tamanho o nível de desconfiança da sociedade brasileira.

   As coalizões partidárias no contexto brasileiro, num arranjo de caciques regionais e nacionais transformaram as convenções em convescotes, sem conteúdo, sem gosto ou sal, tal o afastamento da classe política daquilo que é desejado e desejável para uma democracia representativa, representantes verdadeiros e confiáveis (identificabilidade ideológica e programática).

   A falta de clareza e responsabilidade nos arranjos partidários, indica que seguimos voando às cegas com um cenário de incerteza futura sem precedentes. O flerte de partidos de direita e esquerda, com um condomínio centrista, conduzido por partidos fisiológicos e oportunistas, reproduz a velha novidade que todos renegam: os candidatos e suas alianças queriam capilaridade e tempo de TV. É o aprofundamento da crise do “presidencialismo de coalizão” que se transformou na republiqueta tupiniquim em “presidencialismo de cooptação”.

   A sociedade brasileira continua flanando no abismo econômico, com dados que comprovam que a recessão histórica, continua produzindo desemprego, informalidade, desalento e desesperança de jovens e adultos. Na contingência da falta de um projeto de recuperação do Brasil, a rejeição a construção de consenso, potencializa as saídas autoritárias e populistas. No transformismo de candidatos à direita e à esquerda, o Centrão tomou posse das candidaturas presidenciais, mantendo o loteamento futuro do condomínio político em Brasília.

   No fantasioso apelo do Tribunal Superior Eleitoral que todos os brasileiros deverão votar para que haja democracia, o primeiro ensaio demonstra que os partidos políticos continuarão pouco representativos, as alianças políticas pouco expressivas, as campanhas primarão por uma lógica de realismo fantástico. O conteúdo de obscuridade e opacidade dos programas das coalizões e candidaturas em curso, inequivocamente expõe o pragmatismo dos partidos e suas lideranças no alinhamento dos projetos de poder que negligenciam as demandas crescentes neste país miserável que prima pela exclusão da maioria da sociedade dos mínimos éticos constitucionais em busca da cidadania.

   A falta de renovação política somada à manutenção do “status quo” dos grandes partidos invocam novamente a polarização que embretará o eleitor brasileiro a velha lógica da escolha funcional das sobras de um processo fragmentado, sem “outsiders” ou “novidades”, mantemos um voo sujeito a incertezas, instabilidade e crises.

   É a continuidade de um caminho percorrido desde 1988, que bradamos por uma Constituição Cidadã, com déficit crescente de cidadania para uma sociedade que clama por justiça social. A bandeira brasileira tremula pela “Ordem e Progresso” numa realidade de caos e retrocesso!!

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