terça-feira, 31 de julho de 2018

Morte em Manágua

por Manoel Hygino (no jornal "Hoje em Dia", de Belo Horizonte).


    Autoridades forenses nicaraguenses confirmaram que a estudante brasileira de medicina Raynéia Lima, de 31 anos, morreu por perfurações de balas no tórax e abdômen, após ataque supostamente de paramilitares. Eles atuam como força de repressão aos protestos que sacodem o país desde abril para exigir a saída de Daniel Ortega da presidência. Os mortos são além de 340, até agora, e o número de pessoas que perderam a vida cresce incessantemente.

    A brasileira vivia há seis anos no país, onde cursava o último ano de medicina na Universidade Americana, e acabou ferida quando o veículo que dirigia foi atingido por disparos no Sudoeste de Manágua, em área dominada por paramilitares ligados a Ortega.

    O escritor catarinense Emanuel Medeiros Vieira, perseguido e preso no Brasil pela ditadura militar de cá, e que ora sofre com um câncer que lhe atormenta os dias, em Salvador (BA), onde reside, envia mensagem, em nome dos democratas da Nicarágua. Pede que se divulguem os clamores contra o massacre de que têm sido vítimas, os que são da Nicarágua ou que lá moram.

    Observa que, em 1979, todos os democratas apoiaram a Revolução Sandinista que derrubou a ditadura de Anastásio Somoza, não muito diferente, aliás, de muitas outras que dominaram as Américas do Sul e Central, digo-o eu.

    A atual e violenta repressão de Daniel Ortega – que mudou de posição e optou por oprimir o seu próprio povo –, deixou ao menos 351 mortos em três meses de levante popular, mas continua no poder e sanguinário. Os estudantes o chamam de novo Somoza. Ele – traidor da revolução – aliou-se “à fatia mais reacionária e corrupta da elite nicaraguense”.

    A Conferência Episcopal do país convocou um jejum coletivo para condenar a violência. Os bispos dizem que será “um ato de desagravo pelas profanações realizadas nestes últimos meses contra Deus”, em alusão à tremenda repressão às manifestações – em geral pacíficas – “contra o tirano”, que fez da esposa vice-presidente.

    Os antigos integrantes do grupo formado nas Américas para derrubar as ditaduras de seus países desertaram. Sabe-se o que aconteceu com Cuba, buscando hoje nova vias para o povo e a economia nacional. No Brasil, Leonardo Boff condena os caminhos assumidos pelo ditador Ortega. Resta a Venezuela, falida em todos os sentidos. Até quando Nicolás Maduro resistirá?

    Entre nós, o jornalista Clóvis Rossi, referindo-se à situação na Nicarágua, lembra Fidel em seu tempo idealista: “ah, velho Fidel, que tristeza ver que os sonhos que sonharam parcelas significativas dos jovens latino-americanos tenham sido soterrados por ditaduras”.
 

   Fidel comentara: “chega já dessa ilusão de que os problemas do mundo podem ser resolvidos com armas nucleares! As bombas poderão até matar os famintos, os enfermos e os ignorantes, mas não podem matar a fome, as enfermidades e a ignorância”.

    A lição é válida também para outros armamentos, em todos os lugares do planeta. Enquanto isso, mais um brasileiro é morto, agora em Angola. Aguardemos. 


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