quinta-feira, 19 de julho de 2018

A INCERTEZA ELEITORAL

por Eduardo Guerini
No Brasil, porém, entre “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”. (…) um jeitinho que possa conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário-autoridade e a lei universal. (Roberto DaMatta. O que faz o brasil, Brasil?)
  
A sociedade brasileira será colocada novamente em confronto com a dura realidade de uma nação polarizada, cismada entre interesses, paixões e projetos para sairmos de uma crise econômico-social que se aprofunda cotidianamente. Está próximo o momento de uma nova rodada de escolhas eleitorais, partidos, lideranças políticas, empresariais e de trabalhadores, deveriam coligar suas demandas em prol de um projeto para o Brasil.

   Porém, vivemos uma onda de desconfiança sem precedentes, seja nos poderes constituídos que foram engolfados por escândalos sucessivos de corrupção, tal como ocorreu com o poder Executivo e Legislativo, e, na descrença no Judiciário e seus magistrados. No caso dos partidos políticos, a situação é complexa, fruto de um afastamento ideológico de seus programas, abandono sistemático das lideranças e representantes eleitos do discurso que protagonizou a vitória eleitoral. O estelionato eleitoral foi amplo, geral e irrestrito, diante das famosas coligações e alianças pragmático-eleitorais, o famoso casamento de “jacaré com cobra d´água”. O eleitorado estranhado se afastou, rejeitando olimpicamente tais composições.

   O voto passou a ser conquistado, no mercado eleitoral, com propagandas de realismo fantástico que vendiam a prosperidade diante de um cenário de austeridade, adotando uma feição paterno-maternal para com os eleitos, buscando obter uma autoridade orientada pela sacralidade do incontestável desígnio que o guindou a condição de liderança política, da eleição em prol da visão caridosa com os pobres e desvalidos, em nome de uma suposta salvação de nossa eterna e desgraçada condição miserável. O Brasil transformou a relação de poder através da política partidária, no fundamentalismo religioso das visões orientadas por lideranças carismáticas, muitas vezes prometendo resolver os problemas com viés autoritário-clientelista perverso, tal como observado no presidencialismo de coalizão que se enraizou na pretensa democracia representativa brasileira.

   A situação da falta de emancipação econômica no Brasil reduz a cidadania ao mero joguete de cidadãos que são submetidos como alavanca que dá força e poder para decisões concentradas na elite político-econômica, não em sua base representativa, mas, um consenso forjado por amarras poderosas, que dispensa o dissenso, submetendo os interesses próprios, como se fosse interesse geral de todos. É uma república que tributa contribuintes e desfaz cidadãos, dado o grau de desigualdade socioeconômica que impera em todos os cantos da republiqueta brasileira.

   Vivemos um tempo de incerteza eleitoral diante do cardápio de candidaturas que foi posto à mesa dos brasileiros, com lideranças e partidos políticos, construindo coligações e alianças que brindam com a velha prática de ganhar tempo no horário eleitoral, envergadura partidária em torno de caciques regionais, e, escassez de projetos para salvaguardar as amarras históricas de nossa desigualdade. O que vale é a conquista de corações e mentes de eleitores em torno de propagandas que falseiam a dura realidade de uma sociedade cindida no limbo do desemprego, da desesperança e descrédito com a institucionalidade. Daí, a emergência do (não-voto), da escolha frugal e debochada em caricaturas de governantes, estadistas e representantes da vontade popular.

   Na incerta caminhada que é desenhada na antessala das eleições de 2018, a única alternativa crível é que teremos um aprofundamento da crise de representatividade e legitimidade, sinais de tempos difíceis e flerte com soluções fáceis que levam o Brasil para uma crise ainda mais profunda. Para o Brasil, no atual momento, vale a máxima de Shakespeare “Que época terrível, onde idiotas dirigem cegos” !!

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