segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O bolo fecal e o desenvolvimento nacional

By William Ear Long in Washington D.C.

   A sugestão do presidente do Brasil, recente, de que o brasileiro deveria fazer cocô dia sim, dia não, mexeu com a comunidade acadêmica norte americana e com o EPAEnvironmental Protection Agency, a agência de proteção ambiental daqui. 
   A profundidade da declaração foi tamanha ao ponto de induzir a assessoria direta de Donald Trump a montar um grupo de estudos para verificar a viabilidade do novo hábito nos Estados Unidos.  Depois de algumas horas chegou-se a conclusão de que aqui não produziria nenhum efeito concreto, pois 99% dos membros da população são atendidos por redes de saneamento básico.
   Mas, no Brasil, onde o saneamento básico atende a metade da população, a medida teria impacto considerável. Para uma população de 210 milhões de habitantes, adotado o princípio do rodízio, dia sim e dia não, haveria num mês 15 x 210 milhões a menos de material cloacal.
   Estudos iniciais mostram que se fosse decomposto o material cloacal por categoria de produtor, os números podem ser mais precisos. Por exemplo, os veganos produzem material mais bio degradável. Consumidores de produtos açucarados produzem enzimas com maior poder de corrosão. Alimentos mais salgados, por outro lado, produzem material mais hidratado visto que o sal retém água. Desta genial ideia presidencial poderíamos ter soluções para novos métodos de adubação e correção do solo para a agricultura. Isto se observarmos apenas na perspectiva ambiental.
   No outro lado, econômico, os desdobramentos são outros. Cairia a venda de papel higiênico em 50% por cento, mas cairia também a derrubada de árvores na Amazônia, visto que diminuiria a necessidade pela celulose. Diminuiria, comprovadamente, também o consumo de água, pois a mesma fórmula de 15 dias x 210 milhões de habitantes deixaria de puxar a descarga. As reservas de água não chegariam ao nível crítico e as chuvas poderiam ser mais escassas.  As companhias de água nos Estados, como SAPESP em São Paulo, CASAN em Santa Catarina, CEDAE no Rio de Janeiro, perderiam receita. O valor de suas ações cairia na Bolsa.
   Paulo Guedes, ministro da economia, liberal clássico, chegou a vislumbrar a RolhaBrás, uma estatal para disciplinar a vida dos brasileiros. Mas, desistiu. Seria mais uma estatal para privatizar. No entanto, viu a medida como uma oportunidade para investidores estrangeiros interessados no que os economistas chamam OUT PUT, ou seja, o produto final.
   Na Academia Brasileira de Letras, fez-se um estudo comparado, às pressas, com as expressões relativas à sugestão presidencial.
   Fecal, fezes, cocô e merda são sinônimos. Em inglês nós temos a expressão: Boy, go to make shit behind the bush. Quer dizer: Menino vá cagar no mato.
   Antropólogos e sociólogos entendem que o presidente, quando estudava na Academia Militar, teria sofrido influência semântica de algum romancista do século 19 quando procurar fazer atrás da moita era comum. Talvez alguma passagem Henry David Thoreau, um dos primeiros americanos a se preocupar com o ambientalismo.
   O fato é que o presidente provocou uma grande discussão ecológica cujos efeitos serão debatidos no Clube de Paris e na ONU.
   Se os países que não possuem rede de saneamento básico completa, adotarem a recomendação do presidente do Brasil, haverá uma mudança imediata nos índices de poluição orgânica mundial. Save the Planet. Shit Less. Day Yes, Day No.
   Por último, duas constatações: O cocô antes de chegar à Natureza, fica alojado na parte intermediária do ser humano e dos mamíferos em geral. No estômago. Esta região entre os membros inferiores e superiores. Por outro lado, no camarão, fica na cabeça. E nem por isto o camarão deixa de cumprir suas funções crustáceas. Ou seja, merda na cabeça é uma possibilidade existencial.
   A grande expectativa aqui em Washington é quando da primeira reunião social ou formal, algum curioso perguntar ao novo embaixador brasileiro:

- Please, can you explain your father’s new ecological plan about shiting day yes, day no?



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