quinta-feira, 25 de junho de 2020

O bacana

por Marcos Bayer
   Palavras rápidas e singelas para expressar o momento político de Santa Catarina. Para quem não sabe o desenho animado Top Cat – O Manda Chuva – fez parte da infância da minha geração.
   O Manda Chuva era um gato, brilhante gato, com ideias geniais para um tipo de vida. Vivia num grupo em companhia de Batatinha, Bacana, Gênio, Chuchu e o Espeto. Além do Guarda Belo.
   O nosso governador lembra o Bacana. Aparentemente, tudo sempre numa boa. Diz que foi eleito para cuidar dos catarinenses. Ainda bem que não cuida, pois correríamos o risco de morrer sem ar, por falta de respiradores.
   Sua Excelência foi eleita por 71% dos votos válidos, não porque era ele o candidato. Ele mesmo admite. Mas, porque a sociedade catarinense queria enterrar políticos acostumados aos desmandos, às facilidades indecentes e aos atos de corrupção. Até a tentativa de nomear um desembargador embargável, tentaram.
   Sua Excelência ganhou a oportunidade única em sua vida, de salva-vidas, para salvar vidas.
   Montou com zelo uma Controladoria incapaz de controlar a si mesma. Escolheu a dedo, auxiliares imediatos, sob o crivo rigoroso de olhos militares.
   Ensaiou discurso da Nova Política. Trancou-se no Palácio da Agronômica e nem o Controlador tinha o número de seu telefone pessoal. Aparentemente era um governo de mudos. Cegos e surdos.
   Fez-se a compra de R$ 33 milhões de reais, entre outras, com pagamento adiantado para respiradores que não chegaram.
   Roubo, tentativa de roubo, compra de atrapalhados ou outro denominativo, não tipificado no Código Penal? Não sei. A sociedade ainda não sabe. Mas, uma pessoa sabe: O governador. Ele sabe o que ocorreu.
   A História em sua grandeza, não produziria mais uma dúzia de Brutus em vão! Não, não produziria. Para cada Brutus, há que ter um Júlio César.
   Enquanto alguns estão na cadeia, uma CPI na Assembleia Legislativa tenta esmiuçar o caso. O processo deve subir ao Superior Tribunal de Justiça onde se ajustam tempo e perfeição.
   É neste confronto entre o governador e o Bacana que balança a sociedade catarinense.
   Devemos acrescentar que para colorir este episódio escuro da História de Santa Catarina, o governador bacana colocou na Casa Civil, o segundo homem de Esmeraldino quando lá na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Esmeraldino, o portuário.
   Amândio, o novo braço direito do governador, também é bacana. Tem amigos bacanas, entre eles alguns chamados à CPI por conta de ligações dúbias entre o governo e o governador. Explicou-se, o amigo Samuel, que falava ao telefone com o governo.
   Ora, para falar com o governo é preciso um aparelho PABX com mais de 150 mil ramais. Não se fala com o governo, mas com alguém dentro do governo.
   Por enquanto, temos duas imagens: Uma de um governador tenso, com a boca seca, gesticulando muito durante a entrevista coletiva comentando a citação de seu cargo nas gravações apreendidas pela polícia.
   A outra, dele, o bacana, sentado na poltrona, sorridente na sala do Palácio, depois de receber a notícia que o processo iria para Brasília.

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