Matéria especial do jornal Bom Dia Floripa revela detalhes sobre o crime ambiental praticado pelo maior supermercado do sul da Ilha.
HiperBom despejou esgoto na rede pluvial do Campeche
Dejetos alagaram a Av. Campeche e atingiram a Lagoa Pequena. Empresa foi autuada pelo município mas ainda não pediu desculpas públicas
A rede de supermercados HiperBom, que nos últimos anos investe em novas lojas no Leste e Sul da Ilha e consolida espaço entre as grandes redes, viu todo esse esforço quase ir pelo ralo. O supermercado do grupo do Rio Tavares, uma unidade recém construída que fica na SC 406, despejou esgoto por dez horas na rede pluvial e os dejetos alagaram a Av. Campeche e atingiram a Lagoa Pequena, uma área de preservação permanente.
O despejo começou na madrugada do dia 29 de agosto. Era mais um teste da empresa que administra a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Só que o HiperBom do Rio Tavares não tem licença para jogar esgoto na rede pluvial, mesmo tratado (no caso, foi in natura mesmo). O grupo já tinha sido autuado porque construiu a “estação de tratamento” sem licença e, agora, com o despejo, a Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) embargou a estação de tratamento de efluentes. A Vigilância Sanitária também autuou o supermercado pelo lançamento de esgoto na rede pluvial.
O caso foi muito grave. O HiperBom despejou esgoto durante horas na tubulação pluvial da Travessa Lagoa Azul, paralela ao supermercado, e o material transbordou na Avenida Campeche e criou um verdadeiro mar de dejetos e atingiu a Lagoa Pequena, que é tombada como patrimônio natural de Florianópolis pelo decreto municipal número 135/88.
O laudo da fiscalização confirma: “Trata-se de lançamento irregular de esgoto por parte do estabelecimento, que possui uma estação de tratamento de esgoto (ETE), que foi projetada para que seu efluente final seja lançado em rede de drenagem pluvial. Entretanto, a ETE ainda não foi aprovada pelo setor de análise de projetos da vigilância em saúde (processo 000367/16) e não há até o momento licença do órgão ambiental para tal lançamento.”
Moradores do entorno da Lagoa Pequena e quem passava no dia pelo local logo perceberam que a água fétida que cobria a Av. Campeche era esgoto. E que, pelo volume – a avenida ficou alagada -, o esgoto vinha de um grande depósito. O auto de infração e notificação ao supermercado não deixa dúvidas: “O estabelecimento transgrediu e inobservou as normas legais de construção e proteção à saúde, expondo a população aos riscos oferecidos pelo contato com esgoto”.
Moradores da região dizem que não é a primeira vez que o HiperBom despeja esgoto na rede pluvial. Normalmente, o despejo é feito à noite ou de madrugada. O cheiro é tão forte que invade as residências. Só que desta vez, como a rede pluvial tinha sido lacrada com concreto no final da Travessa Lagoa Azul, o esgoto transbordou e alagou a Avenida Campeche.
Mobilização - Vários moradores filmaram a avenida coberta de esgoto, os carros transitando pela água fétida, e o caso ganhou espaço nos sites dos jornais e nas redes sociais. Entidades como a Amocam (Associação do Moradores do Campeche) e vereadores da região mobilizaram-se para acompanhar o problema. O vereador Vanderlei Farias, o Lela, pediu prioridade ao secretário de Saúde e à diretoria de Vigilância Sanitária do município. “Temos que dar prioridade ao assunto. Se se houver irregularidade, que seja punido exemplarmente e sirva de lição para todo bairro. Esgoto na rede pluvial é inadmissível”, disse. O vereador Marco Antonio Ricciardelli, o Marquito, também veio ao local do despejo e acompanha o caso.
O presidente da Amocam, Alencar Deck Vigano, disse que o engenheiro Carlin, responsável pela estação de tratamento de esgoto do supermercado teria confirmado o despejo irregular. O vereador Lela é testemunha da confissão. Vigano mostrou o caso do HiperBom em rede social, e afirmou que “com certeza, há vários empreendimentos na mesma situação, poluindo, degradando e, pior, enchendo os bolsos de dinheiro com a justificativa de "desenvolvimento sustentável". Já afirmamos várias vezes que de "sustentável", em Floripa, só o significado de sustento para os donos destes "negócios". Precisamos urgente saber quem autoriza e como autorizam estes grandes empreendimentos a funcionarem sem a licença ambiental”. Segundo ele, o papel da associação de moradores é “estar atento e coibir estes atos de agressão ao meio ambiente e à sociedade que se sente ultrajada com estes comportamentos abusivos”.
Leia reportagem completa no Bom Dia.
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