quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Pragmáticos, Incendiários, Bombeiros, na nova política da Província Catarina

por Eduardo Guerini

Em geral, a gente da terra que forma a sociedade só figura e aparece nos lugares do tom, durante muito pouco tempo. Os nomes mudam de trinta em trinta anos, no máximo. Não há, portanto, na sociedade do momento tradição, cultura acumulada e gosto cultivado em ambiente propício. São todos arrivistas e viveram a melhor parte da vida tiranizados pela paixão de ganhar dinheiro, seja como for.” (Lima Barreto. Os Bruzundandas. XIII – A Sociedade, 2010)

   No primeiro aniversário da “onda conservadora neopentecostal verde-oliva” que guindou o novo Presidente da República, com surfistas de plantão na Província Catarina Virginal, a velha oligarquia e seus “testas de ferro” foi substituída por um novato na política tradicional. O Comandante Moisés, de fala mansa, com um partido fraco, o PSL ganhou o Executivo, mas ficou devendo maioria no Legislativo. Os parlamentares eleitos, com a insígnia da “nova política”, se arrastaram nas asas da “raiva destilada” nas urnas eletrônicas. A mídia monopólica e conservadora, festejou a devastação das forças tradicionais e progressistas, tudo em prol da velha cantilena interesseira de servir aos governantes de plantão.
   O resultado surpreendente da eleição de um candidato desconhecido, sem partido, é sintoma da bílis político-ideológica destilada na urna eletrônica. O “colunismo político” dócil, tratou de falar em onda arrasadora, de novos tempos para a província e seus provincianos. Uma nova era seria construída sem indicações políticas, sem traficâncias de influência, destronando as oligarquias corporativas, os partidos tradicionais morreriam na minguante, no crepúsculo do fim das Agências de Desenvolvimento Regional, outrora, Secretarias, que descentralizariam a administração pública, com o ufanismo do finado mentor Luiz Henrique da Silveira.
   Na esfera legislativa, o Partido que nasceu do pleito de 2018, trouxe novas figuras para política, via PSL – um ajuntamento de proeminentes conservadores, neopentecostais, bastardos das elites tradicionais na província. Afinal, o voto popular se espraiou e garantiu voz a patuleia desencantada com os representantes anteriores. Entre neopentecostais, militares e conservadores paranoicos, o partido elegeu uma bancada de somente seis deputados, não garantindo a maioria no parlamento catarinense. O governador tratou de se acorrentar as velhas raposas que suportam tempos de escassez – MDB, PDT, PSDB, PSD, PRB, PR, PP, para garantir sua reforma administrativa com extinção dos “cabides de cargos comissionados” tradicionais, remontando a máquina reeleitoral ao seu favor, com novos cabides da política da refundação cívica.
   O problema é que os incendiários radicais do PSL, montados na cavalgadura do neopentecostalismo conservador, tratam o governador eleito majoritariamente, como fiel depositário das suas sandices. Em determinado momento, pretendem impor um “teste toxicológico” para os professores e funcionários públicos. Noutro atacam a “doutrinação ideológica” e o marxismo cultural no Plano Estadual de Educação. Nas alucinações e paranoias, nenhum projeto mais vigoroso quer manter os velhos costumes e tradições de uma política corriqueira. No comando da casa legislativa, uma velha raposa usa da habilidade para continuar ditando a pauta legislativa e o garrote político, para controlar o galope do novo governo no cabresto dos interesses da velha oligarquia e seus coronéis.
   Os pragmáticos são mais astutos, fingem tratar dos temas emergentes da “onda bolsonarista”, no fundo, articulam em convescotes e conspirações para não perder os dedos, visto que, perderam temporariamente os anéis. Os partidos representando os pragmáticos sabem que uma oposição radical na lua de mel do Comandante Moisés, destroçaria suas bases instáveis e incontroláveis sem cargos de confiança e emendas parlamentares. Por enquanto, o pragmatismo da velha política vence de goleada os incendiários de ocasião, com alguns solavancos na débil governabilidade estadual. O importante para manutenção da base é que a chave do cofre da Fazenda continua nas mãos do MDB, e, a chave política nas mãos do PSD. O governador entendeu que é gestor temporário de todos os catarinenses, e, necessita atuar como bombeiro para apagar o incêndio nas contas públicas estaduais, com déficit em todas as áreas nevrálgicas – saúde, segurança, educação, infraestrutura. Quanto mais é atacado pelos incendiários de seu partido, mais dependente dos parlamentares pragmáticos, lugar em que aparece sua característica maior, ser um bombeiro das vaidades políticas que inflaram num processo eleitoral atípico.
   A grande mídia monopólica sofreu os reveses da “nova política” provinciana. As verbas fáceis para vender o “realismo fantástico catarinense”, o modo de ser e as habilidades superdimensionadas em estatísticas nada confiáveis, secaram. Os colunistas políticos, alimentados por regabofes, por furos jornalísticos e “releases inéditos”, viagens de acompanhamento das autoridades, perderam a vez e as caronas. Agora tentam sobreviver, com colunas dóceis e enfadonhas, não conseguindo empolgar o leitor, muito menos, a crítica.
   O desempenho econômico tão venerado para o modelo catarinense, quando não é pífio, é desgraçadamente ofuscado por declarações bombásticas do Quasímodo Verdolengo de Brusque. Ele pensa que é time e torcida, que sua rede suprimirá a massa de desempregados pela força do otimismo e pelo fim das amarras burocráticas que impede o crescimento econômico. Falta um pouco de macroeconomia básica para compreender que política monetária e fiscal ortodoxa, não alavancam o crescimento. O empresariado catarinense continua lutando encarniçadamente para manter suas renúncias e subsídios, enquanto que, reverbera a necessidade de sacrifícios nas reformas estruturais, essencialmente, as que retiram direitos sociais – a reforma trabalhista em segunda geração e reforma previdenciária.    Quando chamados a contribuir, a gritaria com seus colunistas “boca alugados” e parlamentares financiados é muito estridente. No final todos sabem quem pagará a conta da crise fiscal catarinense e brasileira.
   Na esperança do ano seguinte melhor, depois de arrumada a Casa d´Agronômica, o governo Moisés, tomando consciência do susto inicial de sua vitória eleitoral contra velhas oligarquias, estruturas políticas viciadas, coronéis partidários envelhecidos, se adapta ao pragmatismo, apagando incêndios produzidos nos idos da dupla Raimundo Colombo e Pinho Moreira.
   Afinal, depois do carnaval conservador, a manutenção do poder é o desejo duradouro para manter os privilégios no “governo dos coronéis”.  Os incendiários continuam a saga contra os inimigos construídos no esteio das paranoias, neuroses e loucuras, desejando o afastamento de Moisés de sua hoste partidária, vendendo a Casa d´Agronômica como vingança em virtude de seu afastamento do Capitão Bolsonaro e sua pauta liberal na economia e conservadora nos costumes. Os pragmáticos seguem o curso natural da política, na falta de base para governabilidade, eles garantem a agenda governista em troca de alguns favores pontuais, a liberação de algumas emendas e indicações de seus apaniguados.  Os bombeiros da política catarinense, apagam o fogo alheio para não destruir a casa governamental com toda sua hospitalidade.
   Neste cenário prospectivo, todos se acomodaram ao vendaval da “nova política”, mantendo os velhos costumes, costurando alianças e coligações em prol do interesse maior, a perpetuação e manutenção do poder político. A província catarinense segue com serenidade para a pasmaceira política e reveses econômicos, sem muito alarde, pois os grandes jornais somente poderão sacudir a tranquilidade com matérias investigativas aprofundadas, nos cadernos de final de semana.
   Durante a semana, os telejornais e jornais microrregionais, colocam as notícias da alcova em dia, com alguma pitada de entusiasmo, decifrando o tempo, o trânsito e problemas particularistas de troca de fraldas a carreiras de sucesso, para quem quer sabe, tudo assessorado por especialistas de ocasião. Entre a pasmaceira e alcovitagem, o governador continua tocando a viola, tomando bons vinhos acompanhado de sua fiel base parlamentar, e, preparando alguma nova cerveja artesanal. Governar uma província liberal-conservadora que se apoia nos cofres do Estado, não é fácil!!!



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