Por Emanuel Medeiros Vieira
“Uma vela não perde a sua luz só por compartilhar a sua luminosidade com outra”. (Autor desconhecido)A notícia passou um tanto desapercebida. Não deveria.
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) aprovou (em 27 de janeiro) o tombamento das antigas instalações do DOI-Codi, centro do de torturas do Exército que funcionou na rua Tutóia, 921, num bairro chamado Paraíso.
Foi o maior centro de torturas do Brasil. (Sim, ironicamente, o bairro chama-se Paraíso...). Creio que foi a maior sucursal do inferno que existiu neste país. Não digo isso por ouvir dizer.
Sem vitimização ou autopiedade, conheci por dentro o tenebroso centro de torturas. Estive lá dentro por um ideal. Mudar o Brasil. Eu tinha 25 anos.
Não é fácil escrever.
Lá fui torturado por várias equipes. Evito detalhes para evitar qualquer ideia de monumentalização do sofrimento. E outros sofreram mais.
Foi a minha “Temporada no Inferno”, lembrando o título da bela obra de Rimbaud. (No Brasil, creio que só o Cenimar, da Marinha, em atrocidades, deve ter chegado perto. Foi a nossa “Escola Mecânica da Armada”, o dantesco centro de torturas criado pela ditadura argentina.)
A “Operação Bandeirantes”abriga uma delegacia da Polícia Civil. Memória não é lamentação. É instrumento e justiça e de misericórdia. A impunidade do passado inspira e dá confiança ao torturador de hoje.
E os torturadores estão todos impunes.
A Argentina, o Chile e o Uruguai foram exemplares: puniram os seus carrascos. A Comissão Nacional da Verdade, apesar de sua (relativa) importância, não pode punir torturadores. Exorciza muitos males, memoriza muitas dores, mas não pode punir ninguém.
Para a História do Brasil, a impunidade prevalecerá. É doloroso e significa um triunfo dos torturadores. Para o Condephaat, o prédio “possui apelo estético particular e carrega uma difícil simbologia política”, tratando-se de “patrimônio material que evoca as memórias de um momento longo e sombrio de nossa história.”
O DOI-Codi de São Paulo fez centenas de vítimas (mortos e torturados). Ainda escuto, naquelas intermináveis dias, o grito e os gemidos dos torturados.
Lá foi assassinado o jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
O local deve virar um centro de memória da ditadura, como ocorreu com o prédio do DOPS – onde também passei meses.
É preciso lembrar para que as atrocidades não se repitam. Apesar de sabermos, que nas delegacias de todo o Brasil, as torturas continuam.
Não é fácil escrever.
Lá fui torturado por várias equipes. Evito detalhes para evitar qualquer ideia de monumentalização do sofrimento. E outros sofreram mais.
Foi a minha “Temporada no Inferno”, lembrando o título da bela obra de Rimbaud. (No Brasil, creio que só o Cenimar, da Marinha, em atrocidades, deve ter chegado perto. Foi a nossa “Escola Mecânica da Armada”, o dantesco centro de torturas criado pela ditadura argentina.)
A “Operação Bandeirantes”abriga uma delegacia da Polícia Civil. Memória não é lamentação. É instrumento e justiça e de misericórdia. A impunidade do passado inspira e dá confiança ao torturador de hoje.
E os torturadores estão todos impunes.
A Argentina, o Chile e o Uruguai foram exemplares: puniram os seus carrascos. A Comissão Nacional da Verdade, apesar de sua (relativa) importância, não pode punir torturadores. Exorciza muitos males, memoriza muitas dores, mas não pode punir ninguém.
Para a História do Brasil, a impunidade prevalecerá. É doloroso e significa um triunfo dos torturadores. Para o Condephaat, o prédio “possui apelo estético particular e carrega uma difícil simbologia política”, tratando-se de “patrimônio material que evoca as memórias de um momento longo e sombrio de nossa história.”
O DOI-Codi de São Paulo fez centenas de vítimas (mortos e torturados). Ainda escuto, naquelas intermináveis dias, o grito e os gemidos dos torturados.
Lá foi assassinado o jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
O local deve virar um centro de memória da ditadura, como ocorreu com o prédio do DOPS – onde também passei meses.
É preciso lembrar para que as atrocidades não se repitam. Apesar de sabermos, que nas delegacias de todo o Brasil, as torturas continuam.
(Brasília, fevereiro de 2014)
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