Caminhava atordoado em direção ao meu laboratório sociológico, o Duart's Restaurante, conhecido popularmente como Bar do Abel. Ía em busca de explicações e como "a voz do povo é a voz de Deus" fui lá encontrar essa voz.
Ela estava alta! Altíssima! A profusão de decibéis dobrava a esquina! O que era para ser uma discussão civilizada já havia virado gritaria, era um tal de todos gritam e ninguém se entende...as vozes alteradas se faziam ouvir à distância! Todos tinha uma tese. Todos tinham uma explicação. Só não tinham justificativas. O ambiente era de revolta e frustração!
Eu mesmo não conseguia entender o que havia acontecido com a nossa seleção, com o Felipão, com a "pátria de chuteiras", e mais um monte de babozadas que haviam nos incutido através da mídia e dos anúncios ufanistas do governo, da Fifa, dos bancos e das operadoras de telefonia. Só gente que ferra com a nossa gente! Misturavam jogo de futebol com Pátria. Uma verdadeira patriotada!
- Faltou técnico, futebol nós temos, dizia o Amauri.
Com um copo de cerveja na mão, a espuma seca já amarronzada debruando as bordas do vidro, o Ursinho Gami (nome carinhoso de um paulista petista que arribou pelo Campeche recentemente) caminha atônito pela nave principal do recinto. Tentava desesperadmente encontrar um interlocutor. Não encontrou. Todos conhecem o seu discurso petista e já não o levam mais em consideração.
- O Brasil não tem futebol! Gritou um recém chegado ao bar.
Silêncio total! Logo, gritos de impatriota e ignorante vieram da varanda onde um grupo mais concentrado tentava fechar todas as probabilidades de explicações possíveis para tamanha derrota.
- Não se pode culpar os meninos da seleção! A culpa é do técnico que deixou as grandes patrocinadoras escalar o time, disse Fernando, conseguindo alguns comentários de concordância.
A coisa já se encaminhava para a política! Para desatino do Ursinho Gami, entra um nativo, grandão, e grita:
- O grande vencedor desta copa é o Lula. Ele, a Fifa, a Odebrecht e as grandes empreiteiras que construiram os mega estádios superfaturados!
A pecha de ladrões carimbada no governo petista estava instalada e, a partir daí, a discussão se tornou mais violenta e ofensiva.
Arrisquei um palpite e levei um "gaúncho viado" pelos cornos! Me recolhi a minha insignificância futebolística e fiquei assisindo aquele teatro de celerados bebendo e gritando, era a nau dos desesperados!
Quando a coisa já estava tomando o rumo do descontrole, chegando naquele ponto sem retorno, o Abel se puso los pantalones, bateu no balcão com violência e conseguiu o silêncio total. Fez então a sua preleção:
- Não sou a psicóloga da seleção, mas estou percebendo que estamos todos tristes e desesperados. Buscamos uma explicação para o inexplicável. Não chegaremos a lugar nenhum assim. Portanto decreto aqui a reposta para a nossa ansiedade, espero que vocês a aceitem, acabem com essa discussão e voltem a ser pessoas normais:
"Foi tudo uma grande fatalidade!"
Enquanto ticos e tecos conversavam para entender a solução final do Abel, ambiente baixando a temperatura, os mais rápidos já começavam a ouvir e falar pausadamente, acontece o inusitado:
Cláudio, o nosso argentino, vaticina:
- Nada é tão ruim que não possa piorar. Só falta o Brasil conquistar o honroso quarto lugar perdendo para a Argentina!
O bar veio abaixo. Saí pela porta dos fundo e, no caminho para casa, ainda ouvia o grito dos traídos desesperados do Brasil!
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