Para três queridas irmãs
(Lourdes, Adélia e Gracinha),
“encantadas” em tão curto
espaço de tempo
“Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, consiste em um único instante: o momento em que o homem sabe para sempre quem é”
(Jorge Luis Borges)
O instante: outrora–agora.Imanência do passado no presente: um presépio, pai, trapiche, mar, mãe, pedaço de pão feito em casa, outro menino/velho enrugado.
O homem saberá para sempre quem é.
Quando (insisto)?
Foi ontem.
Ainda não aconteceu?
Ou já estava escrito na maternidade – ou antes: na barriga da mãe.
No grupo escolar, naquele beijo tão longínquo.
A memória de uma passeata em que o mundo seria mudado.
Uma enfermidade: ali ficou enraizada – tão bem colada na pele – a certeza da transitoriedade.
Apenas passamos: breve sopro.
Mas testemunho: houve uma celebração – olhando aquele bar que já não existe mais (o
“Miramar”. E nesta manhã (que pensei que não iria viver), contemplo o Farol da Barra.
Tudo foi aterrado – resta um pedaço de memória.
(Ela não é velharia inútil: pedaços de carne, olhos que sonharam com terras distantes, pés que pisaram neste quarto, bigodes, rostos, uma máquina de escrever, álbuns de fotografias que revisitamos em tardes chuvosas, e um guarda-chuva ao lado do guarda-roupa. E tanto mais.)
Outra memória: aquela fuga na boca da noite, o exílio.
E continuo (até quando?).
Já sei quem sou/já não sei.
Soube sempre: outrora/agora.
(Salvador, maio de 2015)
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