segunda-feira, 12 de setembro de 2016

(IN) CIVILIZAÇÃO


por Emanuel Medeiros Vieira
  
Em memória de Elke, lembrando "nossos anos jovens".
 O que a civilização suavizou em nós?" (Fiódor Dostoiévski, em “Memórias do Subsolo”)

   O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) anunciou que, ao menos, 50 milhões de crianças vivem “deslocadas” em diversas partes do mundo após abandonarem seus lares em consequência de guerras, violência e perseguição.
   “As imagens indeléveis das crianças vítimas – o pequeno corpo de Alan Kurdi encontrado em uma praia ou o olhar perdido no rosto ensanguentado de Omran Daqneesh, sentado em uma ambulância após a destruição de sua casa - sacudiram o mundo inteiro” disse Anthony LOake, direto-geral do UNICEF.
   E os outros? Cada foto, cada menina ou menino - como disse Lake - simbolizam milhões de crianças.
   Chegamos a altos patamares nos avanços tecnológicos (e melhoramos por dentro?) - e armas químicas estão sendo usadas na guerra da Síria, como foram jogadas pelos americanos no Vietnam. 
   É civilização? Aonde chegamos! O abutre esconde-se atrás do homem dito civilizado.
   Chego a lembrar de Millor, que dizia que o homem é um animal que deu errado.
   Tudo vira apenas estatística.
   Podemos nos comover com imagens tão cruéis, mas logo esquecemos.
   E as bombas continuam caindo. Tudo pelo poder. Camus dizia que no Século XX o poder era triste.
   Creio que não só naquele século, mas também neste no qual vivemos - e em todos os outros. O que vemos são muros, racismo, xenofobia. E mais horrores.
   Diante deste dantesco quadro, Anthony Lake conclamou as autoridades a acabar com a detenção de crianças imigrantes e de solicitantes do status de refugiados.
   É ainda possível fazer um apelo pela vida e contra a indústria armamentista?
   Não sei. Mas (como digo sempre), é a palavra que ficará. Não a omissão. 
(Brasília, setembro de 2016)

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