lustração: Pedro Matallo. |
Por
mais inacreditável que esta história pareça, todos os documentos
citados nesta reportagem, em mais de 6 mil páginas de processos, foram
verificados pelo BRIO.
Parte 2: Surras.
Às
oito horas de uma noite de outono de 1989, José Germano Neto, um
corpulento empresário do ramo de madeiras com 40 anos de idade, seria
surpreendido de maneira menos gentil do que na abordagem dos policiais
no hotel de luxo em Nova York nove anos depois. Ele tinha acabado de
chegar em casa, no bairro de Sepetiba, zona oeste do Rio de Janeiro,
naquela época ainda mais distante do charme da zona sul e sem nem sinal
de Parque Olímpico no horizonte.
A
campainha tocou e, apesar de ter estranhado o fato de alguém bater na
porta naquele horário, foi ver quem era. Dois carros o esperavam do lado
de fora. Em menos de dois minutos, Germano estaria estatelado no chão,
com um dedo e um nariz quebrado, um corte profundo na cabeça e vários
hematomas pelo corpo.
No
grupo de oito pessoas, Germano conhecia um deles. Um personagem até
hoje identificado apenas como “Cabo Lopes”. Era figura fácil no submundo
de Bangu naquele final de década perdida. Policial militar envolvido em
negociatas e que também atuava, supostamente, como matador de aluguel.
Também ganhava uns bons trocados como informante da Polícia Federal.
Circulava com desenvoltura em meio ao bando do então top traficante
carioca Celsinho da Vila Vintém, depois fundador da facção Amigos dos
Amigos (ADA). O primeiro encontro entre Germano e Cabo Lopes havia
acontecido algumas semanas antes.
A
história que baseia tudo o que acontecerá depois nesta reportagem é a
seguinte: no início de 1989, Germano comprou um Chevette usado de uma
mulher chamada Maria Inara Fontenelle. Fez um aparente bom negócio. Em
troca do veículo, contou depois para a polícia, cedeu materiais de
construção de sua loja em Campo Grande, no extremo oeste do Rio. Semanas
depois, mandou um amigo ao Detran legalizar o Chevette e descobriu que o
carro era roubado.
Germano
foi então à delegacia e, ao dar o nome da mulher de quem havia recebido
o carro, soube que também se tratava de uma figura fácil no mundo do
crime no Rio naquela época. Ex-tenista profissional, Fontenelle na
verdade era Inara Medeiros de Freitas. Ela era envolvida com o suíço
Michel Frank, acusado de homicídio em um crime que chocou o Brasil em
1977: o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, cujo corpo foi
encontrado nu, com um saco cheio de pedras amarrado no pescoço, nas
pedras que separam a Avenida Niemeyer do mar e por onde hoje passa a
ciclovia Tim Maia.
O
carro de Germano ficou apreendido na delegacia, mas a polícia não
trouxe nada de novo para esclarecer o caso. O empresário seguiu em
frente para recuperar o prejuízo. Tentou achar Inara, mas sem sucesso.
Ela já tinha ido embora do país. Meses depois de passar o Chevette para
Germano, Inara seria presa em um hotel de luxo em Zurique, onde
entregaria 32 quilos de cocaína para um contato. Isto posto, era uma
turma que não era exatamente flor a ser cheirada.
Leia a parte 2 inteira: Beba na fonte.
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