por Emanuel Medeiros Vieira
Minha África do lado
de cá: Bahia – eu queria te
entender.
Um Atlântico a nos separar (e agregar).
Ah, Bahia: não a estereotipada, de cartão postal, e shoppings, de alguns turistas que só
registram e não enxergam, dessacralizada e mundana.
Queria entender os teus mistérios, os teus santos, o teu
sincretismo, tuas lutas –
Bahia, também meu amor, o peixe, a pele, a moça morena no
Mercado Modelo,
Castro Alves e sua praça– declamo alguns poemas, contemplando o mar ao fundo.
E lembro-me de Gregório de Matos, Carlos Marighella,
Anísio Teixeira, Walter da Silveira, Glauber
Rocha, Jorge Amado, João Ubaldo, do mago
“Seu” Claudionor (“perdi” seu sobrenome), grande oráculo – todos encantados.
Queria “saber” o que mais fundo há no Pelourinho –, além da
beleza, do casario, das pedras, das “subidas”, dos sofrimentos dos escravos,
das revoltas populares.
(E os pés que hoje piso, guardam gemidos –
e o homem atento poderá escutá-los.)
Ainda e sempre o mar, a Bahia de Todos os Santos – tantos
sim.
A vista na Avenida Contorno, a Ponta do Humaitá, teus
oráculos, o Samba de Roda, a Ladeira da Barra, a Igreja de Santo Antônio, os
coqueirais, o Cemitério dos Ingleses – e assim caminho olhando teu casario
colonial (do que restou), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e de
São Francisco.
O pôr do sol na Ilha de Itaparica, os últimos raios
iluminando o mar, e a noite cai – atabaques,
tambores, não a Bahia estatutária – a terra da Fé, do sincretismo, da Colina Sagrada,
e todos os rituais.
Aquela missa no Pelourinho, com ritos católicos e das
religiões africanas, o Candomblé e a Consagração (somos todos assim, sincréticos, sempre à espera de algo que não vemos.)
( Lembro-me da Ilha
do meu nascer, mítica, da Bahia Sul,
onde uma vez minha mãe me levou para assistir a uma regata, e eu tinha sete
anos.)
Assim é: falando “Bahia” quando só escrevi sobre “Salvador”–,
era assim que Amado dizia (“Cidade da Bahia”) e também da Ilha, a outra, que
forjou o, meu barro.
E haverá cinza da matéria finita: poderia ser jogada em algum mar, não importa se de lá ou de cá,
ou ainda no Cerrado do meu coração – a primeira e a última capital deste país.
Cidadãos do mundo: assim somos, e poderia falar mais –, como
esta prosa fosse uma roda de conversa.
Falar ainda? Do belo amor da maturidade, também baiano,
assim seja, e posso dar – mesmo com a
escrita precária, dizendo muito menos do
que pretendia (assim é a sina da escrita
– sempre ficar aquém do que queremos)
– os trâmites por findos .
É apenas uma prosa nos
idos de março.
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