terça-feira, 4 de dezembro de 2018

As elites

 
por Marcos Bayer

   Foi a burguesia que derrubou a monarquia francesa (1789), e com o passar do tempo, criou a categoria social elite para poder viver a vida da realeza, sem precisar da coroa, da hereditariedade ou da educação. O dinheiro compraria tudo isto, como de fato comprou.
   Olhando, mesmo que pela televisão, as sociedades inglesa e francesa, percebe-se o argumento.
   Os EEUU e o Brasil têm a mesma idade. Foram descobertos pelos navegadores europeus, nos 1.500, e por eles colonizados. Lá como cá havia índios e africanos foram introduzidos nas duas nações, pelos ingleses que descobriram o triangulo da fortuna. Traziam o negro da África, mandavam plantar cana nos trópicos e levavam o açúcar branco para a Europa. Isto aconteceu no nordeste brasileiro, nas ilhas do Caribe e sul dos Estados Unidos.
   Depois, quando os ingleses inventaram o tear mecânico, introduziram a plantação de algodão, no mesmo esquema e assim nasceu a indústria têxtil.
   A diferença entre os EEUU e o Brasil, afora o clima, claro, é que a Lei foi tábua de referência na organização social desde a edição de suas respectivas constituições. Lá, em 1787, foi promulgada por cidadãos livres e independentes. Aqui, em 1824, ela foi outorgada pelo Imperador Dom Pedro I que a encomendou a um grupo de pessoas ligadas à Corte.
   É aí que começa o atraso brasileiro. Enquanto os norte-americanos constroem uma sociedade baseada na legalidade e na democracia, nós vamos caminhando entre o favorecimento e a sonegação tributária.
   Quando Getúlio Vargas negocia com Roosevelt a posição brasileira na Segunda Guerra Mundial, os americanos já construíam automóveis, tanques de guerra, navios e aviões. Nós íamos aprender a fundir o ferro através da Companhia Siderúrgica Nacional.
   As elites americanas, educadas em diversas universidades, desenhavam uma nação baseada na ordem, na lei, na liberdade de imprensa e no mérito, inclusive e principalmente na atividade comercial.
   Gigantes industriais como a PAN AM (Pan America Airlines) e a TWA (Trans World Airlines) quebraram e o governo não interferiu. Aqui a VARIG e a TRANSBRASIL, como a VASP, muitos subsídios receberam do BNDES. Já a EMBRAER, talvez por estar diretamente ligada ao ITA - Instituto Tecnológico de Aviação - teve destino melhor.
   Mas, voltando às elites, lá na América, a livre iniciativa é para valer e a taxa de juro não é para matar a capacidade de empreender. Assim, como no serviço civil, a burocracia pública, há certa lógica de simetria entre os salários pagos aos servidores. Sejam professores, médicos, policiais, diplomatas, fiscais, juízes ou promotores, inclusive parlamentares.
   Aqui, o clube dos quarenta mil reais, que abrange a classe dirigente brasileira, a nossa elite, concede aumento salarial para si e dane-se o resto.
   A nossa elite política meteu a mão no baleiro, sem dó nem piedade. Salvo raras exceções de sempre, a direita política enriqueceu em parceria com setores empresariais já conhecidos na Operação Lava Jato e outros que estão por vir. A elite de esquerda, operária ou não, quando chegou ao poder fez igual.
   Vou pegar dois exemplos, objeto de discussão nacional, e demonstrar.
   A Lei do Registro Público garante a qualquer brasileiro ir ao Cartório do Registro de Imóveis e requerer certidão de propriedade sobre tal ou qual pessoa. A Lei Civil diz que só é proprietário, quem tem a matrícula em seu nome. Sem matrícula não há propriedade.
   O ex-presidente Lula, preso, responde a alguns processos por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Lula não tem apartamento em Paris na Avenue Foch, e me parece sensato. O que faria por lá?
   Museus, livrarias, cinemas, chablis com filet de truite aux amandes, caminhadas no Champs Elysees? No máximo um jogo de futebol aos domingos para ver o Paris Saint Germain.
   Fernando Henrique Cardoso, filho da classe média brasileira, que ascendeu à elite intelectual e política do país, não tem apartamento no Guarujá ou sítio em Atibaia. Faria o que? Caminhadas matinais de bermudão na orla paulista ou passeio de pedalinho no pequeno lago com a jovem namorada? Churrasco com caipirinha de cachaça na serra? Assistir ao Netflix nas tardes de domingo? Ou ir ao estádio de futebol ver o jogo do Corinthians?
   As elites brasileiras estão entaladas até a garganta com tanta corrupção. Os partidos políticos, quase todos, estão no rol dos suspeitos e culpados.
   Aqui em Santa Catarina, mesmo com dois candidatos pró Bolsonaro, acredite quem quiser, o eleitor deu 71% dos votos ao mais desconhecido porque sentia no ar cheiro de corrupção nas outras possibilidades. Na eleição ao senado, o mesmo cheiro derrubou outros tantos.
   O presidente eleito, Jair Bolsonaro, também membro do clube dos quarenta mil, ele e seus filhos são parlamentares, tem consciência destas coisas. O que ele não souber, tem a quem perguntar: Tanto ao economista Paulo Guedes, quanto ao Juiz Sérgio Moro. Além do vice-presidente eleito e outros militares, estudados e graduados que comporão o futuro governo.
   O Brasil tem uma chance, em boa hora, para acertar o caminho. Um detalhe que é preciso lembrar e corrigir: Juiz não tem prazo para julgar no Brasil. Basta uma emenda constitucional, dando prazo ao Juiz, como dá ao promotor e ao advogado, para uma boa arrancada. O general Hamilton Mourão que demonstra preocupação com a necessidade da cobrança de resultados do governo poderia abraçar a causa. Com um sistema judicial que ainda anda na velocidade das carroças e uma democracia instantânea de apuração eletrônica com campanha política pelo whattsapp não vamos muito longe.
   Democracia e justiça, ou andam juntas, ou não existem!
   Basta olhar para as elites de cima. Tanto na America como na Inglaterra, onde boa parte desta história toda começou...


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