segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Loco, pero no tonto!

   por Marcos Bayer
Antonio Mir era nascido em Lorca, na Espanha. Mir significa mundo na língua russa. E no mundo cabia toda a arte dele. Passou pelo metal, pelas telas, pelas esculturas. Eu o conheci no início dos anos 90, em Cabeçudas, onde trabalhava de frente para o mar.  Elisa, sua companheira, ajudava a organizar a vida e a obra que estava por vir. Do painel de metal na agência do Banco do Brasil em Madrid – A descoberta da América – até a Semente da Vida, um grão de soja, na sede da Ceval em Gaspar, suas obras estavam espalhadas por aí afora. Em 1992 Mir foi para a Espanha, Puebla Del Caraminal, na Galícia. 
Logo focou amigo de Manuel Fraga, o governador, e dos habitantes de seu novo povoado. Conseguiu uma parceria com a empresa de pescados Escuris e num galpão à beira d´água trabalhava diariamente. Macacão, mãos lambuzadas de tinta, mangueira e placas de metal espalhadas pelo chão formavam o cenário deste artesão que não precisou ir à escola. Fez a sua.
A aproximação de Santa Catarina com a Galícia, o intercâmbio na maricultura, tem o toque de Antonio Mir. No Palácio de Governo, há uma escultura do cajado e a concha, símbolos de Santiago de Compostela, de sua autoria. O cajado é a virilidade humana. A concha, a feminilidade. De lá foi para Puerto Mazzarón, na costa mediterrânea. Pintou as Tomateiras da Murcia como ninguém. Descobriu em frente à sua casa, afundadas no mar, um lote de Ânforas. Possivelmente restos da navegação grega ou romana. Surgiu uma nova coleção de pinturas. Inspirado nelas, vasilhames de barro que carregavam a vida (óleo de oliva) ou a morte (cinzas), Mir fez um trabalho memorável.
Estavam ali, embaixo da água, e ninguém havia pensado em pintá-las ainda. Depois, deslocou seu estúdio para Barcelona. No início do ano 2.000, fez duas exposições marcantes em sua carreira. Paris e Berlim. Como amigo, sua principal característica era a generosidade. Gostava de beber e comer todas as especiarias. Nas vésperas do réveillon de 1992 me levou a todos os botecos de Puebla Del Caraminal. Em cada um deles havia um quadro ou desenho seu. A via sacra terminou ao amanhecer. Outra feita, em Madrid, quando expôs na Casa de las Américas, Mir fez um “convênio” com o dono de um confortável hotel na região de Moncloa e hospedou todos os amigos por alguns dias à conta da exposição.
Às vezes ficava trinta horas sem dormir. Era movido por paixões. Era genial.
Tentou pintar os galpões do porto de São Francisco do Sul, com patrocínio de uma marca de tintas nacional. Mas, as autoridades instaladas não entenderam o alcance de sua ideia.
Projetou o Museu do Mar, uma esfera flutuante, amarrada por cabos de aço, para boiar na baía da cidade mais antiga de Santa Catarina. Também não entenderam a ideia. Pensam que museu deve ter em terra firme. Fazer o que, né?

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