quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Pe. Quevedo e o despertar Alegre, Feliz e Contente...


   O anúncio da morte do famoso Padre Quevedo, parapsicólogo, me botou no Túnel do Tempo, e me fez reviver um história que aconteceu na minha infância, lá em Quaraí (RS).
   O jesuíta espanhol, conhecido por desmascarar charlatões e explicar fenômenos "sobrenaturais", percorreu o Brasil de ponta à ponta, apresentando-se em escolas do interior sempre desvendando fatos incomuns e demonstrando o que, como costumo falar: "não é truque nem magia, é pura habilidade manual".
   Na verdade o padre Quevedo pretendia diferenciar o que é truque e milagre, aí entra a ideologia religiosa ao afirmar que era para "estabelecer uma fé racional e madura".

Curso de Hipnose

   Assisti um show do Pe. Quevedo uma vez no colégio Dartagnan Tubino de Quaraí. Estava no primário, por volta dos 10,11 anos.
   Na noite desse mesmo dia, o Pe. Quevedo ministrou um curso de Hipnose, para adultos no Salão Paroquial. O pai, Waldemar Rubim, foi um dos inscritos. A mãe acompanhou-o desconfiada com o interesse do pai pela técnica de desvendar "mistério"...alheio, é claro.

   Feito o curso, com direito a certificado e tudo mais, lá se foi o pai praticar o aprendizado do Pe. Quevedo.

   Para desespero da mãe, eu e meu irmão, fomos as primeiras cobaias do hipnotizador W. Rubim, como aparecia no seu certificado.

   Fechados na sala - somente nós três - começam as primeiras instruções para relaxar, esvaziar a mente e, claro, ficar refém da sugestão paterna. Condições fundamentais para entrar em sono profundo e começar a falar bobagens e segredos de guri, escondidos bem lá no fundo do inconsciente.

   Cioso da sua nova habilidade, fruto de 100% de aproveitamento do curso do Pe. Quevedo, o pai começa a balançar um relógio pendurado em uma corrente, frente aos olhos esbugalhados e curiosos dos filhos à sua frente.

   Sentados em um sofá, na penumbra da sala provocada por um pano jogado em cima de um abajur, mãos entrelaçadas sobre a cabeça e ouvindo uma voz gutural que parecia não ser a do pai, ali estávamos nós, Sergio Antonio e Marco Aurélio, prontos para ingressar em uma nova dimensão. Em um mundo jamais imaginado e do qual, pelo que entendi, jamais saberíamos como era, pois estaríamos dormindo...e nos entregando. 

   Essa parte me incomodava. Mas curioso, fazia força para seguir os "comandos" e realizar uma experiência de sucesso. 

 Impossível!

 Uma mistura de medo e curiosidade acabaram me provocando o riso diante dos comandos 
- "vocês estão sentindo as pálpebras pesadas, estão sentindo uma leveza e se encaminhando para um sono profundo...depois acordarão alegres, felizes e contentes". Até aí sem novidades. Eu já era tudo isso!


   A primeira risada foi advertida, com a voz do pai mesmo: - Sérgio Antonio, tu não leva nada a sério?! te concentra por favor!

   Tinha o lance da respiração também. Respirei fundo, e retomei a tentativa de ser hipnotizado. Mas o riso depois de libertado, pode não aparecer de cara, mas fica ali escondidinho. A coisa já tinha desandado!

   Quando iniciávamos a segunda tentativa de dormir, silêncio e concentração total - até acho que ia dar certo - a porta se abre de repente e escutamos a voz da mãe:

- Rubim, quem sabe tu faz isso com os guris depois da janta. A mesa já está posta!

   Bah! O pai foi à loucura! Largou o relógio no chão, e saiu num rompante, praguejando.

   Sentados à mesa, comportados em silêncio, um prato de sopa quente com pão, vimos o sorriso cúmplice aliviado da mãe à frente.

   Anos depois ela nos confessou que tinha medo de que ele nos colocasse para dormir e a gente não acordasse mais!

   Nos salvou do misterioso mundo do Padre Quevedo! 
   
   Ufa! Vá saber!

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