(31 de março de 1945/29de julho de 2019) |
Poderia relembrar os anos de chumbo em que ele ficou preso no DOI-CODI da Rua Tutóia, no Paraíso em São Paulo, e algumas memórias sinistras que levou para o túmulo. Não foram detalhes indeléveis, foram marcas profundas pontuadas ao longo de toda sua profícua produção literária. Poderia elencar seus mais de 30 títulos, fazer citações que com faculdade cerzia as conversas de que tanto gostava.
Mas não é um obituário. E assim, talvez baste a leitura de cada palavra escrita, revelando um naco daquele homem cuja violência autoritária dos anos de chumbo não conseguiu despedaçar - nem suas crenças políticas tampouco sua esperança no bicho homem.
Emanuel era como um quebra-cabeça reconstruído em moto-contínuo através de sua literatura. Com uma produção diária descomunal, seu estilo acelerado traduzido em cada uma das palavras, em cada pausa, desvelava a expressão de um grito de dor, também um grito de esperança. Apesar de um traço amargo que tangenciou toda sua obra, meu querido Tadeu partiu sereno e, em paz e na nossa fé, quem sabe a gente se encontre do outro lado da ponte.
Fica a garra com que lutou até o fim pela VIDA, ficam nossas tertúlias à sombra das mangueiras brasilienses sob o testemunho de sua incansável Célia. Ficam as sombras e luzes do cerrado e dessa Brasília muito amada por ti e que nos ensinastes a ver com olhos de crítico amor - desde quando fui pela primeira vez em 1981, com seu Passat junto com meu 'velho' Paulo e, depois, nas dezenas e dezenas de vezes com que fui premiado por conversas 'exclusivas' sobre tudo - literatura, política, cinema... Ficam os muitos registros no CANGABLOG, cujo espaço que lhe era cedido penhoradamente agradecia ao jornalista Sergio Rubim. Fica minha saudade cheia de ótimas lembranças, de autores e livros que descobri em sua vasta biblioteca, dos tempos da Lagoa da Conceição, depois na casa da Lagoinha, da Chácara de Espanha, de uma Florianópolis que também desmedidamente amava.
Brasília hoje me deixou triste às 6 da tarde, a Hora do Angelus, da Anunciação, da Ave Maria - Emanuel cuja fé sincrética lhe assombrava e era um ponto inexplicável aos 'espíritos' materialistas amigos.
Emanuel, Emanuel!
Paulo Lehmkuhl Vieira
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